Combinação de fatores pressiona inflação de alimentos

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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Mudanças climáticas, alta do dólar e estoques reguladores em baixa afetaram itens fundamentais na cesta de preços, diz economista

Mudanças climáticas afetaram produção de arroz e, com isso, fizeram o preço subir. Foto de Pixabay

O preço dos alimentos tem sido tema de debate nas redes sociais e sendo usado como fator político para que o governo seja criticado, mas o contexto em torno dos preços exige uma análise mais aprofundada.

Uma série de fatores combinados acabaram por influenciar os preços ao longo dos últimos meses, dentre eles as mudanças climáticas em regiões agrícolas, aumento da demanda internacional e a cotação do dólar, o que leva produtores a direcionarem parte de sua produção para ganhar mais com a moeda norte-americana.

“A inflação dos alimentos tem a ver com o que aconteceu na safra do ano passado”, explica Lucy Aparecida de Sousa, conselheira do Corecon-SP (Conselho Regional de Economia do Estado de São Paulo).

A economista cita a quebra da 2024 por conta das enchentes ocorridas no Rio Grande do Sul, onde mais da metade da produção nacional de arroz foi afetada, enquanto os incêndios vistos na região Sudeste atingiram regiões tradicionalmente produtoras de café.

Efeito do clima sobre a produção

Dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) projetaram uma produção de 298,41 milhões de toneladas de grãos na safra 2023/2024, uma redução de 21,4 milhões de toneladas em relação ao volume obtido no ciclo anterior.

“A diminuição observada se deve, principalmente, à demora na regularização de chuvas no início da janela de plantio, aliada às baixas precipitações durante parte do ciclo das lavouras nos estados da região Centro-Oeste, do Matopiba, em São Paulo e no Paraná e pelo excesso de precipitação registrado no Rio Grande do Sul, sobretudo nas lavouras de primeira safra”, disse a Conab na ocasião.

“Este ano, já se espera que a safra seja recorde, mais de commodities que exportam, mas parte das commodities também se come aqui dentro – como soja, que é consumido pela população do mercado interno; café idem; e isso contamina”, ressalta Lucy.

Contudo, as mudanças climáticas vão penalizar cada vez mais países e produtos, trazendo seca e chuva em excesso, e isso já está afetando a performance agrícola de muitos mercados.

“A expectativa é que a safra em geral seja recorde, mas é expectativa – esperemos que nenhum desastre climático afete, com isso a oferta vai aumentar e pressionar os preços para baixo”, explica a economista.

Quanto ao efeito do dólar, a conselheira do Corecon-SP ressalta a especulação com relação ao dólar que levou ao aumento da cotação, e desta forma o exportador do agribusiness prioriza quem dá mais renda para ele.

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Estoques reguladores em queda

Um ponto citado pela economista com relação à inflação envolve o desmantelamento dos estoques regulatórios, normalmente usados tanto para regular o abastecimento interno, como para atenuar as oscilações de preço.

Como lembra Lucy Aparecida de Sousa, os estoques estabilizadores “praticamente não tinham o volume necessário, e os produtos sobem imediatamente – não tem colchão”.

O gráfico abaixo, elaborado pela Conab, mostra a série histórica por vínculo do arroz, onde é possível perceber que o estoque zerou no ano de 2016 – coincidentemente, o ano em que Michel Temer tomou o poder após o impeachment de Dilma Rousseff.

Os últimos dados disponíveis sobre os estoques públicos são referentes a dezembro de 2024, e podem ser vistos na íntegra clicando aqui

Um ponto em especial precisa ser lembrado: os estoques reguladores foram praticamente zerados nos governos anteriores, e são justamente os políticos que integram a oposição ao atual governo federal – em sua maioria, apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) inclusive dentro do agronegócio – que clamam pela ‘comida barata novamente’ depois de zerarem os estoques no período em que ocuparam o poder.

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7 Comentários

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  1. Com certeza o desgoverno do ladrão de joias foi ruim em todos, ou quase isso, os setores. Mas examinando as tabelas disponibilizadas também nos anos 2022 a 2024, em algumas até bem antes, os estoques estavam zerados. Se expressam a real situação o governo federal falhou em constituir e regularizar a formação e uso dos estoques reguladores.

  2. Não é só isso, eu vou repetir:

    A diminuição das áreas plantadas com itens da alimentação brasileira, e o aumento de áreas de monocultura ou de comoditties é resultado do Financial Land Grabbing, ou grilagem financeiro de terras.

    Os fundos têm adquirido vastas porções de terra, através da execução de dívidas de créditos concedidos aos latifundiários, e passam a operar nesse setor.

    Como são eles que determinam as variáveis que acabam em aumento de juros, como no caso brasileiro, que tem um governo frouxo e cúmplice da banca, é unir a fome e a vontade de comer.

    Ganham na especulação de mercados futuros das comoditties, ganham com as parcelas de amortização do capital tomado em empréstimo, e no fim, tomam as terras.

    Esse ambiente hostil, de quebra, altera as condições do mercado de oferta de alimentos que garantem nossa segurança alimentar, porque há uma depreciação do real e seu valor de compra, justamente pela manipulação cambial que favorece a exportação dod produtos das terras desses fundos, que ainda têm isenção fiscal estadual (lei Kandir).

    1. De novo, escreve um livro. A forma como vc escreve e muito chata de ler. Paragrafo mto longo, muitas idas e vindas e um monte de opinião disfarçada de informação.
      Dito isso, quero saber se vc conseguiu ler o texto. Acho que nem passou perto. Foi direto pros comentários com a cabeçakjá feita
      Se quer votar no Bozo e batwr no Lula, faz isso com mais inteligencia. Por tudo na conta do Lula e passar o pano no Bozo e pra maluco. Logo a pergunta é obvia: tomou a medicação hj?
      Sobre agricultura vc so deu prova de não entender PN. PN mesmo. Muito preconseito de classe.
      A maior parte do alimento que a gente come vem de pequenos produtores. Os grandes produzem pra vender naquele dolar que o Campos deixou ir pra outra galaxia.
      E agora vc fala de juros. Só agora? Ano passado a politica monetaria tava certta. Agora , 51 dias depois da posse do Galipolo, ta td errado. Legal. tenta outra.
      Mito preocupado com a segurança alimnMas asssume teu lado. Deixa de “tentar” ser analista independente. Vc depende, basicamente, da desinformação os outros e da má-fé.
      E , pra terminar com uma piada, comovente tua preocupação com a segurança alimentar. Comovente. Pergunta: quantas refeições vc fez ontem?

      1. Hehehehe, eu confesso que já tive raiva de você…

        Depois passei a ter pena.

        Agora eu acho engraçado….

        Sim, você é uma figura totalmente imbecilizada, mas tem sua graça.

      1. Solle,

        Podemos começar por uma política de segurança alimentar, com o fortalecimento dos estoques reguladores, e recriação da Conab, porque isso aí nem.existe.

        Rediscutir a lei Kandir (é interesse dos estados, que perdem arrecadação) para tributar as exportações de comoditties, que só sugam nossa água e a exportam de graça, impactam o ambiente e dependem de um ambiente cambial que aumenta a inflação interna, como Real desvalorizado.

        Atuarial no CMN, conselho monetário nacional, e acabava com essa loucura de sistemas de metas de inflação.

        Se o mercado quer juros, ok, aumenta alíquotas de todas operações financeiras, porque para imposto já existente, não precisa de lei, nem congresso, é só canetar.

        Limitaria a presença do setor financeiro no campo, impedindo o Land Grabbing.

        Fim do câmbio livre, etc, etc, etc.

  3. Se em um dos maiores produtores de café do mundo o preço do mencionado produto tá nas alturas, imagine como deveria estar o preço do aludido produto nos mercados que o importam. Mas vai ver que, no final das contas, a nossa população tá pagando mais caro por um café de pior qualidade, já que o melhor café é para exportação, do que a população dos países importadores de café.

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