A irracionalidade da Selic para conter a inflação

Inflação não tem nada a ver com demanda, com Selic, com PIB potencial. São choques de oferta, em função de questões sazonais ou demanda

Acompanhe o raciocínio.

O IPCA-15 de janeiro foi de 0,11%. Alimentos e Bebidas subiram 0,23%.

Sem Alimentos e Bebidas, o IPCA-15 teria sido de -0,15%. Ressalte-se o fato de que um fato novo – ligado à energia de Itaipu – derrubou a conta de luz, ajudando a derrubar o IPCA15.

Tirando a queda na conta de luz, o IPCA15 subiria para 0,75%.

Mas vamos voltar ao grupo Alimentação e Bebidas. A tabela abaixo mostra a variação de cada produto. Não leve muito em conta, porque muitos desses produtos têm um peso ínfimo na cesta de produtos do IPCA-15.

Melhor é analisar os subgrupos, devidamente ponderados (isto é, calculando a variação de preço e o peso no bolso do consumidor). Alimentação e Bebidas pesaram 0,23 pontos no IPCA-15 de janeiro. Desse total, as maiores pressões vieram do grupo Carns (+0,05 ponto) e Óleos e Gorduras (0,01 ponto).

Ambos enfrentaram problemas semelhantes, de safras menores devido a problemas climáticos. Além disso, houve um aumento na demanda por óleos devido ao consumo de etanol nos veículos. Portanto, nada a ver com aumento de renda ou de demanda.

Mas há uma comparação interessante.

Na próxima tabela, há a variação dos grupos de Alimentação que mais subiram e mais caíram, no acumulado de diversos períodos.

Mas, se calcularmos as taxas mensais de cada grupo, há conclusões interessante. Por exemplo, nos últimos 12 meses, a carne subiu o equivalente a 1,6% ao mês. Em 6 meses, foi o equivalente a 3,2% ao mês. E, em três meses, em 4,1% ao mês. No entanto, no último mês, o índice foi de apenas 0,6%. Há um problema de sazonalidade (variação de consumo de acordo com o mês).  Mas se percebe que os dois principais itens de Alimentação – carnes e óleos – há um arrefecimento em janeiro.

Obviamente, não há nada a ver com demanda, com Selic, com PIB potencial. São choques de oferta, em função de questões sazonais ou de mudança na demanda.

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36 Comentários

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  1. O erro seminal é chamar choque de oferta, e o consequente aumento de preços, de inflação.

    Inflação é, por definição, perda do valor de face do padrão de troca por aumento da liquidez desse meio circulante (moeda).

    Daí o nome, inflação vem de inflar a base monetária, e um dos motivos é a escalada de preços, em cadeia, que leva o governo a emitir mais moeda e tentar corrigir ou correr atrás dos preços, e pior, da expectativa futura de reajustes.

    Essa medição de índices é uma fraude colossal (não a estatística, mas a decisão de fazer os índices como parâmetro).

    O que temos não é inflação (como a definição ensina) mas um jogo de extorsão dedicado a aumentar a dívida pública, o déficit fiscal e a dependência química do governo em emitir títulos.

    Antes o governo emitia moeda, e colocava em risco os investimentos, porque a chance de default era recorrente, apesar das ferramentas de proteção, como “overnight” e etc.

    Agora o risco é quase zero.

    1. Algumas discordâncias. Sim, a inflação é a disparada de preços, o movimento. Os índices são os marcos indicativos do movimento inflacionário, a subida dos preços. Claro que a deterioração do poder de compra é, também, um marco indicativo, o resultado dos aumentos e suas implicações no índice inflacionário que, s.m.j., seria o balanceamento dos aumentos e peso de cada item no cálculo. As causas da inflação são variadas, choques de oferta, consumo, moeda, entre outros possíveis, creio eu. Não sou economista, apenas um curioso. Posso, seguramente estar errado, mas é como vejo.

      1. Inflação não é aumento de preços.

        Os aumentos são parte da inflação.

        Inflação é inflar a base monetária pela emissão, que decirte da indexação geral da economia.

        É esse aumento de liquidez, por emissão, ou por outra causa, como a diminuição de juros ou dos depósitos compulsórios, por exemplo, é que está na raiz inflacionária.

        Ah, mas aí você vai perguntar:

        Então o BACEN está certo em comprimir a base monetária com juros.

        Não, nesse caso não, porque é está elevação dos juros, sem um risco inflacionário real, ou seja, um evento artificial e provocado, que aumenta a inflação, pois, como eu disse, não há choque de oferta de produtos, carência.

        Aí você pergunta de novo:

        Uai, mas os juros não trazem mais dólares e isso não baixa o câmbio e valoriza a moeda e o poder de compra?

        Não, novamente.

        Seria essa a ideia, mas o governo tem que aumentar a cotação do câmbio para não quebrar a balança comercial e de pagamentos, já que nossa pauta de exportação é de “pau-brasil”, que além do mais, pouco ou nada revertem em tributos (lei Kandir), o que explode ainda mais a pressão sobre as contas públicas de todos entes federados.

        Em resumo:

        Perdemos impostos para pagar juros e para equilibrar o câmbio.

        Resultado, cambio de 5 a 6 reais, inflação inercial de 4%, aproximados.

        Joga uma meta irreal, justifica o pânico, e vai mais dinheiro para a banca e mercado de câmbio.

        1. Quer dizer que a única causa da inflação é a emissão de moedas sem a elevação proporcional da produção de bens e serviços? Havendo uma grande seca que afete negativamente a produção de café, por exemplo, mantendo-se constante a demanda pelo mencionado produto, se não houver emissão de moeda, não haverá inflação?

          1. Haverá aumento de preços.

            Agora, se este evento contaminar toda a economia por uma indexação generalizada, aí vira inflação, porque o governo vai ter que aumentar o meio circulante para as pessoas comprarem bens e serviços, assim como corrigir os salários.

            Por isso é tão grave chamar aumentos setoriais de inflação, porque dá um aspecto geral a um evento particular.

            Não sou economista, portanto, é uma opinião.

        2. A alta taxa de juros prejudica o capital produtivo (e o consumo), impactando negativamente a produção e consequentemente a oferta de bens e serviços, encarecendo seus preços. Ou não? O choque de oferta é efeito da alta taxa de juros.

          1. Pode ser, mas no nosso caso, não há pressão na demanda, nem diminuição de oferta.

            Boa parte do descontrole inflacionário se deu em duas áreas onde o governo poderia ter agido:

            Preços administrados, luz, água, passagens aéreas, etc.

            E comida.

            Não agiu para impedir o aumento desmedido da plantação de comoditties (porque precisa da balança comercial), e não age como regulador de segurança alimentar

          2. Douglas da Mata, treplico o seu comentário das 6:31 am, de hoje, 3 de fevereiro de 2025:

            Ocorrido o descontrole inflacionário, do qual boa parte poderia ter sido amenizada pelo governo, ele vai ter que aumentar o meio circulante para as pessoas comprarem bens e serviços, assim como para corrigir os salários?
            Ou enquanto o governo não aumentar o meio circulante não haverá inflação?

            Você fala que não há pressão na demanda, mas não se esqueça de levar em conta que há uma demanda reprimida que aquece a economia por meio da distribuição de bolsas pelo governo.

          3. Rui, em resposta a sua tréplica.

            Eu não neguei que haverá ou poderá haver aumento de preços, mas eu advogo a tese de que inflação é um processo geral que implica em aumento de preços, indexação da economia e pior, indexação futura, e emissão de moeda ou aumento da liquidez.

            É isso.

          4. A demanda por injeção de recursos de proteção social não podem ser considerados como fatores relevantes no aumento de demanda, como um todo, apesar de importantes.

            Por isso citei a inércia do governo como possível causa do aumento do preço da comida (principal item adquirido pelo beneficiário), quando deixou de regular a segurança alimentar.

            Ou seja, o governo deu dinheiro para comer, e retirou parte por causa de sua incapacidade de regular a oferta de comida, pois deixou a tarefa para o mercado.

            Chamo isso de “tributo” da inércia ou ineficiência.

  2. O aumento da gasolina nos últimos anos se deu pela inflação ou pela ganância dos acionistas da Petrobras?

    As tarifas de energia subiram de preço por causa da falta de chuvas ou por causa da busca incessante de lucros dos atuais donos privados de um bem público?

    1. Nassif, claro, inflação nada tem a ver com demanda, assim como a taxa Selic só tem a ver com o interesse escuso, criminoso do pessoal do mercado, obedecido pelos safados do Branco Central. Sai o, geneticamente cretino do Roberto Campos, entra o obediente Gallipolo, com seus miquinhos amestrados, como dizia o saudoso Paulo H. Amorim.

  3. Irracionalidade é achar que eles usam a Selic para conter inflação.
    Eles usam a Selic para amelhar dinheiro sem ética nenhuma;
    Se é que se possa medir isso na esfera da moralidade ou da ética;
    Isso daí é puramente um engodo para sugar dinheiro público.
    É incrível, aonde eles tiram a cara-de-pau para fazer isso.

  4. A sociedade que tem um Banco Central desse não precisa de inimigo. Até a Argentina que está com uma inflação de 117% a.a tem uma taxa de juros menor. Cada 1% de juros na Selic representa aumento da dívida pública de mais de 50 bilhões de reais. Como o governo vai ter controle fiscal? É uma excrescência essa Selic nesse patamar está matando nossa economia. Os banqueiros agradecem. Enfim, saiu o campeando juros e chegou o galopando juros. Estamos ferrados.

  5. Não vou passar pano pro governo ,pra mim o Copon errou muito ao fixar a meta da inflamação em 3% tanto a de 2024 como a de 2025 essa sendo um erro mais grosseiro,pra perseguir essa meta irreal ficam subindo a Celic,quando deveriam estar baixando . O Lula só vez barulho ,mas não fez nada pra realmente baixar a Celic.Essa especulação do dólar no final do ano passado e começo desse ano mostrou que definitivamente não tem como compactuar com o tal mercado

  6. A SELIC atua esfriando a demanda, via crédito mais caro, mas também aborta a expansão da oferta, via seleção de investimentos. Por que investir na economia produtiva se dá para usufruir do rentismo? Isso é claro e cristalino, mas segue a manipulação do debate público.

  7. Fica óbvio que a decisão da taxa fica por conta das pressões da midia PIG e seus patrocinadores, os bancos.
    Qualquer ganho auferido pelo governo é imediatamente apropriado por essa gente.
    Um dia o povo pobre vai cansar.

  8. Líderes mundiais!Cuidado ao participar de reuniões com americanos…
    Um toalete com um dispositivo radioativo controlado remotamente… câncer!!! lembra do câncer do Chaves e do Lula?

  9. Não ajudaria ao Banco Central recorrer ao aumento do recolhimento compulsório dos bancos, ao ficar insistindo no aumento do SELIC?
    Assim reduziria naturalmente o acesso ao credito do mercado sem afetar o SELIC

  10. É ingenuidade pensar que o aumento dos juros tem por finalidade combater a inflação, ele visa primordialmente remunerar em dose cavalar o capital improdutivo. Claro que se os juros forem demasiadamente altos, o impacto será desastroso para economia, pois acarretará a desaceleração da economia, que diga-se de passagem, é um dos objetivos do mercado financeiro, que não tem nenhum interesse no desenvlvimento da economia, pois esto acarreta perda de poder relativo dos gigolôs financeiros. Não se esqueçam que o Brasil vive numa USUROCRACIA.

  11. Momento de investir

    Com juros e inflação em alta, veja boas oportunidades em renda fixa

    https://g1.globo.com/economia/educacao-financeira/noticia/2025/02/03/renda-fixa-veja-quais-sao-as-boas-oportunidades-em-2025-com-juros-e-inflacao-em-alta.ghtml

    Se taxas de juros e índices de inflação são inversamente proporcionais, como juros e inflação podem estar em alta?

    Ora, só poder ser em razão de apenas a inflação alta não ser suficiente para a maioria esmagadora da população brasileira, sendo necessário também elevar a taxa de juros prá estratosfera.

  12. Notícia de hoje:

    “Dólar opera em alta e Ibovespa cai com tarifas de Trump; bolsas pelo mundo vivem dia de queda

    Na última sexta-feira, a moeda norte-americana teve queda de 0,25%, cotada a R$ 5,8372. Já o Ibovespa, principal índice acionário da bolsa de valores brasileira, teve um recuo de 0,61%, aos 126.135 pontos”.

    https://g1.globo.com/economia/noticia/2025/02/03/dolar-ibovespa.ghtml

    De acordo com a notícia acima, “se a inflação voltar a subir muito acima da meta do Fed, a instituição pode promover novas altas nos juros do país. Juros maiores tornam a tomada de crédito pela população e empresas mais caro e, por isso, o consumo tende a reduzir, tirando a pressão sobre a inflação”.

    Esqueceu de complementar que a redução do consumo arrefece a economia, gerando menos negócios, fechando empresas e causando desemprego.

  13. Rui, amigo Rui.

    Obrigado pelo instigante debate.

    Vou me alongar mais um pouco, porque os espaços para réplicas nos comentários são pequenos.

    Vamos lá.

    O governo está em um beco sem saída, o qual ele mesmo escolheu.

    Não te ocorreu ainda que é o próprio governo que precisa subir o câmbio para impedir o déficit na balança comercial, já que com juros a 13, 14 ou 15% (8% reais) a entrada de dólar derrubaria o câmbio, e aumenta importações e deprecia nosso pau-brasil?

    Ahhhh, mas se aumentar as importações há chance de descer a inflação por causa do barramento do dólar e valorização do real.

    Nem sempre, os preços de alimentos cotados em dólar nem sempre acompanham a valorização do real.

    Às vezes os preços sobem e engolem essa valorização.

    Exemplo?

    Café.

    Se hoje o câmbio mandasse a gente comprar café com real valorizado, essa “vantagem” iria para o ralo da crise de oferta do produto no mercado internacional.

    E tem mais, com nossa regressão a pré revolução industrial, a maioria dos insumos usados para plantar e exportar pau-brasil é importada.

    Esse é outro gargalo.

    A conta do latifúndio exportador é negativa, na balança comercial, cambial e fiscal, por causa da isenção da lei Kandir.

    Bilhões que o governo poderia usar para alimentar a população, fixar gente em pequena e média propriedade e aumentar a base tributária de arrecadação de toda essa cadeia produtiva capilar.

    Sobrariam outros tantos bilhões para investir em pesquisa e inovação de vários setores, inclusive no setor agrário.

    Agora a outra face do problema.

    O simples movimento de valorização de moeda e aumento de importações sinaliza para o mercado de câmbio que haverá uso das reservas, o que, pressiona o câmbio, a despeito dos juros.

    Ou seja, esse modelo não se sustenta, em nenhuma frente ou variável.

    Se tenta abaixar o câmbio e valorizar a moeda, tem que comprar mais de fora, usa reserva, e aumenta o câmbio, e os preços não cedem.

    Caminhamos para uma estagflação em breve.

    Aumento de preços e estagnação econômica.

    Não se combate aumento de preços e risco de inflação com retração da demanda, mas com aumento sustentado de oferta.

    Isso não deveria ser difícil para um país como o nosso, né?

    1. “Não te ocorreu ainda que é o próprio governo que precisa subir o câmbio para impedir o déficit na balança comercial, já que com juros a 13, 14 ou 15% (8% reais) a entrada de dólar derrubaria o câmbio, e aumenta importações e deprecia nosso pau-brasil?”

      E qual seria a vantagem de manter superávit na balança comercial, já que tal superávit implica na da desvalorização do real frente ao dólar, a qual, por seu turno, acarreta a elevação da inflação em decorrência das importações ficarem mais caras, a e essa inflação, por sua vez, dispara as taxas de juros estratosféricas?

      1. Esse ambiente hostil, de quebra, altera as condições do mercado de oferta de alimentos que garantem nossa segurança alimentar, porque há uma depreciação do real e seu valor de compra, JUSTAMENTE PELA MANIPULAÇÃO CAMBIAL QUE FAVORECE A EXPORTAÇÃO DOS PRODUTOS DAS TERRAS DESSES FUNDOS, QUE AINDA TÊM ISENÇÃO FISCAL ESTADUAL (LEI KANDIR).

        https://jornalggn.com.br/economia/agricultura/combinacao-fatores-pressiona-inflacao-alimentos/

  14. Os grandes empresários se dizem patriotas, mas ,na hora de vender a produção, o patriotismo fica atrás do dólar e da ideologia de extrema direita….e preferem os dólares da China mesmo comunista….canalhas

  15. Sugiro aos nobres colegas que dizem não ter sentido a SELIC estar tão alta que comprem os títulos emitidos pelo governo com taxas menores. Sem dúvidas isso ajudaria muito e vocês poderiam provar suas teorias.

    Não permitam que outros cobrem essas taxas ditas absurdas.

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