As deficiências de flexibilização quantitativa na Europa, por Martin Feldstein

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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Jornal GGN – Existem alguns questionamentos sobre as diferenças de funcionamento entre as políticas de flexibilização adotadas nos Estados Unidos e na zona do euro, via Banco Central Europeu (BCE), que levaram a uma dúvida entre os economistas: será que o BCE não será capaz de traduzir a flexibilização quantitativa em um crescimento econômico mais forte e uma inflação mais elevada?

Em artigo publicado no site Project Syndicate, Martin Feldstein, professor de economia na Harvard University e presidente emérito do National Bureau of Economic Research nos Estados Unidos, explica que o Federal Reserve (o Banco Central norte-americano) introduziu seu processo de flexibilização quantitativa (via compra de grandes quantidades de títulos de longo prazo e prometendo manter as taxas de juros de curto reduzidas por um período prolongado de tempo) depois de concluir que a economia norte-americana não estava mais respondendo à política econômica tradicional e ao pacote de estímulos fiscais implantado em 2009.

“O presidente do Fed na época, Ben Bernanke, argumentou que a política monetária não convencional iria reduzir as taxas de longo prazo, induzindo os investidores a mudar de obrigações de elevada qualidade para ações e outros títulos de risco. Isso elevaria o valor desses ativos, aumentaria a riqueza das famílias e, portanto, os gastos dos consumidores”, pontua o articulista.

Tal plano funcionou bem: os preços das ações subiram 30% em 2013 e os preços das casas avançaram 13% no mesmo período. Como resultado, o patrimônio líquido das famílias aumentou em US$ 10 trilhões naquele ano. “O aumento da riqueza induzida consumidores para aumentar os gastos, que reiniciou o processo multiplicador expansionista de costume, com o PIB (Produto Interno Bruto) subindo a 2,5% em 2013 e a taxa de desemprego caindo de 8% para 6,7%. A expansão continuou nos anos seguintes, trazendo a taxa de desemprego atual para 5% – e a taxa de desemprego entre os diplomados universitários para apenas 2,5%”.

Na Europa, o BCE adotou estratégia semelhante de compra de ativos em larga escala e taxas extremamente baixas para os juros de curto prazo, mas o objetivo é bem diferente. “Como a Europa não possui uma propriedade de ações pulverizada, como acontece nos Estados Unidos, a flexibilização quantitativa não pode ser usada para estimular os gastos dos consumidores (…) Ao invés disso, o grande propósito da política de baixos juros pelo BCE tem sido estimular as exportações líquidas, pressionando o valor do euro. O BCE conseguiu isso, com o valor do euro caindo aproximadamente 25% – de US$ 1,40 no verão de 2014 a US$ 1,06 pela queda de 2015”.

Embora Feldstein se considere um defensor da redução do valor do euro por vários anos, ele explica que o impacto sobre as exportações dos membros do bloco e do PIB tem sido bastante limitada. “Uma razão para isso é que grande parte do comércio dos países da zona do euro é com outros países da zona do euro, que usam a mesma moeda. Além disso, as exportações para os Estados Unidos não se beneficiam muito com o declínio da taxa de câmbio euro-dólar. Os exportadores europeus faturam em geral as suas exportações em dólares e ajustam seus preços em dólar muito lentamente (…). Como resultado, as exportações líquidas totais da zona do euro subiu menos de 3 bilhões de euros entre setembro de 2014 e setembro 2015 – uma quantidade insignificante em uma economia de 11 trilhões de euros”.

O articulista diz que mais um ponto para as compras de títulos pelo BCE tem sido elevar a quantidade de dinheiro que os  bancos da zona do euro tem disponível para emprestar a empresas e famílias – mas essas linhas tem apresentado pouco avanço. Além disso, a autoridade monetária mostra alguma ansiedade para levar a taxa de inflação da região para o objetivo de 2%. “Nos Estados Unidos, a estratégia de flexibilização quantitativa elevou a inflação “core” – que exclui o efeito direto da queda dos preços de energia e alimentos – para 2,1% nos últimos 12 meses. (…) Esta estratégia é improvável que funcione na zona do euro, porque a taxa de desemprego ainda é de aproximadamente 12%, cerca de cinco pontos percentuais maior do que era antes do início da recessão”.

Segundo Feldman, “a política de flexibilização quantitativa do BCE provavelmente pode atingir uma inflação mais elevada apenas através do aumento dos preços de importação resultantes de uma queda do valor do euro. Este processo muito limitado ainda deixa o núcleo da inflação na zona do euro abaixo de 1%”.

Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

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