Economista alerta para “consenso artificial” do Federal Reserve

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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Em artigo, Mohamed A. El-Erian relembra que mercado foi pego de surpresa com dados econômicos e destacou perigo de um consenso inexistente

Federal Reserve, o Banco Central dos EUA. Foto: Flickr Federal Reserve

Os Bancos Centrais são induzidos a tomar decisões que busquem reduzir inflação, evitando assim os danos ao crescimento e aos empregos, mas a forma como essas medidas são tomadas podem, ou não, surtir o efeito esperado.

Um exemplo recente é o do Banco da Inglaterra, que reduziu sua taxa básica de juros em 25 pontos-base, em uma votação 5-4 que reflete a complexidade econômica subjacente. Por outro lado, o Federal Reserve dos Estados Unidos entregou um consenso e voto unânime que foi alvo de críticas do mercado e da imprensa.

“Grande parte da arquitetura financeira de hoje se baseia na suposição de que os bancos centrais estão comprometidos em manter a confiança pública em suas políticas. Afinal, uma meta de inflação deve ser confiável para ancorar as expectativas de inflação (…)”, explica Mohamed A. El-Erian, presidente do Queens’ College da Universidade de Cambridge, é professor na Wharton School da Universidade da Pensilvânia.

Em artigo publicado no Project Syndicate, El-Erian explica que confiança e credibilidade são apoiadas por uma transparência maior, via apresentação de dados à imprensa, transcrições de reuniões ou a divulgação de projeções para as principais políticas e métricas da economia.

Embora as duas autoridades monetárias possuam credibilidade pelos resultados apresentados, o economista destaca que existe uma divergência entre elas na maneira como sua decisão política é tomada.

Transparência de um lado, ‘consenso fabricado’ de outro

Na Inglaterra, a autoridade monetária integrou membros independentes e não hesita em mostrar as divisões existentes dentro dos respectivos colegiados.

Ao integrar membros independentes em seu Comitê de Política Monetária, o banco inglês não hesita em apontar divisões entre seus tomadores de decisão: a votação de 5 a 4 a favor de uma redução dos juros na última reunião seguiu uma votação de 7-2 pela manutenção das taxas em junho. E, em cada caso, todos os argumentos foram explicados nos dias subsequentes.

Como destaca El-Erian, apontar a gama de opiniões individuais é algo “essencialmente inédito” dentro do Federal Reserve nos Estados Unidos, que “está imerso na tomada de decisão por consenso” – tanto que, para se descobrir o que foi realmente dito em cada encontro, é preciso esperar pelas transcrições completas das atas, o que leva em torno de cinco anos.

Ao recusar a transparência oferecida pela Inglaterra, o Federal Reserve “inadvertidamente espelhou a complacência de um mercado que não havia considerado a possibilidade de uma desaceleração econômica mais rápida e ampla do que o previsto”.

“Há um valor em uma abordagem baseada em consenso que ajuda a reconciliar diferentes opiniões e análises. Mas um consenso fabricado — frequentemente buscado por razões políticas ou para salvar a face (supostamente) — tende a ofuscar e marginalizar pontos de vista que merecem consideração mais ampla”, destaca El-Erian.

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1 Comentário

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  1. E aqui no Brasil as divergências entre visões diferentes da economia são transformadas em Fla-Flu pela imprensalona… O “consenso” pró-juros é IMPOSTO via ameaças de queima na praça pública midiática.

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