Falta de infraestrutura logística mina as possibilidades de desenvolvimento da Amazônia

Camila Bezerra
Jornalista

Ao Nova Economia, especialistas falaram sobre os impactos da seca na região, além de desafios para impulsionar a indústria regional

Marcello Casal Jr – Agência Brasil

O Governo Federal anunciou, na última semana, que o período de estiagem da Amazônia este ano será o mais severo em duas décadas, além de aprovar o repasse de R$ 11,7 milhões para combater a seca que já dominou o noticiário ao longo da semana. Afinal, a seca de rios colocou 53 municípios em situação de emergência. 

O programa Nova Economia da última quinta-feira (22) contou com a participação de professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Augusto Rocha, e a ex-vice-presidente do Conselho Federal de Economia (Cofecon), Denise Kassama, para debater os impactos da seca na região, além de oportunidades desperdiçadas de desenvolvimento e desafios que a região apresenta.

Denise afirma que não se fala mais sobre um modelo que substitua a Zona Franca de Manaus, até porque as dificuldades do Amazonas agora estão mais expostas devido à questão da seca e não há estudos para reduzir a dependência do modelo econômico.

“A Zona Franca de Manaus, tendo como sua principal vertente o polo industrial de Manaus, ainda é a principal fonte de renda, desenvolvimento e arrecadação do estado, porque, muito embora ela esteja concentrada na cidade de Manaus, mesmo com incentivos, é uma arrecadação significativa, que proporciona o repasse para os municípios e consegue democratizar um pouco o processo de desenvolvimento”, afirma a presidente do Confecon.

Infraestrutura

A grande questão, na avaliação de Augusto Rocha, é a falta de infraestrutura sustentável para a integração regional, problema que resulta nos demais associados ao não desenvolvimento local. 

“No olhar nosso, o desafio é a falta da rodovia BR 319, é uma rodovia que passa no meio da Amazônia e está sendo destruída no entorno dela. Há uma falta de enfrentamento da questão ambiental na proteção da floresta. Temos negligenciado a Amazônia em todas as questões de desenvolvimento de infraestrutura, uma infraestrutura mais contemporânea, mais moderna, e não aquela infraestrutura dos erros da transamazônica”, pontua o docente.

Em relação aos rios, outro engano comum é o de que existe uma rede de hidrovias na região, tendo em vista que a sazonalidade impacta o volume de água dos rios e inviabiliza o transporte em épocas de secas, além do isolamento aéreo, tendo em vista o alto preço das passagens interestaduais. 

“Para vocês terem uma ideia, às vezes uma passagem aérea Porto Velho-Manaus-Porto Velho, que é do ladinho, chega a ser mais cara do que Manaus-Lisboa-Manaus. É inaceitável esse tipo de coisa, mas é o que acontece, é a realidade que nós vivemos aqui”, continua Rocha.

Mais um problema logístico: a falta de infraestrutura do aeroporto de Manaus, ainda que ele seja o terceiro maior aeroporto de cargas do país, atrás apenas de Guarulhos e Campinas, ambos em São Paulo. 

Consequentemente, segundo o professor, torna-se um desafio desenvolver a indústria local, que já arca com expressiva arrecadação tributária, além de ter de enfrentar o sobrepreço causado pelo custo do transporte da produção. 

Bioeconomia

De acordo com estimativas do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o mercado global de bioeconomia deverá atingir US$ 7,7 trilhões até 2030. Mas a Amazônia, que poderia responder por expressiva fatia deste mercado, até tem algumas iniciativas, porém que estão aquém da demanda global. 

A logística para a produção e transporte de produtos feitos no interior do estado segue despontando como um dos principais empecilhos, até porque mesmo a comercialização de mercadorias para cidades vizinhas representa uma viagem de dois dias de barco.

“Então, ainda não temos uma alternativa que gere empregos a um nível suficiente para suprir aqui a necessidade da região e, considerando assim o interior, né, ele é muito difícil a gente gerar adensamento de cadeias produtivas no interior devido a, principalmente, a questão logística”, explica Denise Kassama.

Augusto Rocha acrescenta ainda que faltam investimentos em pesquisa, apesar de a região contar com diversos centros de pesquisa e com a Rede Bionorte, que integra todas as universidades públicas da Amazônia Legal. 

“Para surgir o empreendimento, tem que ter um capital de inovação. De alguma maneira, o capital brasileiro está muito centrado no Sudeste. O capital de risco que está associado à inovação não está aqui na região. Tivemos um período desafiador há pouco tempo atrás, quando o orçamento para biotecnologia do Ministério da Ciência e Tecnologia do governo anterior era zero. Com orçamento zero, não há  política pública que se sustente”, continua o docente. 

Confira o programa completo na TVGGN:

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