Inteligência artificial, autonomia intelectual e o futuro do trabalho

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

Em artigo, professor da NYU-Stern traça histórico de debates nos EUA e o impacto do avanço tecnológico sobre os arranjos produtivos

Foto de Igor Omilaev na Unsplash

Os novos modelos de trabalho têm levado economias ao redor do mundo a estudar maneiras de garantir a segurança social desses profissionais, como também o impacto do avanço de tecnologias como a inteligência artificial na formulação dos novos arranjos produtivos.

Os Estados Unidos começaram a debater essas mudanças em 2015, por conta da explosão do chamado empreendedorismo de plataforma, freelancers e o avanço de novas formas de trabalho, para assim projetar uma rede de segurança social mais inclusiva dentro do sistema existente, atualmente financiado apenas pelos empregos regulares.

“Agora, ao entrarmos em uma era de incerteza no trabalho catalisada pela explosão da inteligência artificial (IA), dois novos desafios assumem o centro do palco”, explica o acadêmico Arun Sundararajan, professor da NYU Stern School of Business.

Em artigo publicado no site da Aspen Institute, Sundararajan diz que é preciso “redefinir os limites da autonomia intelectual para preservar os retornos econômicos das pessoas de seus investimentos em capital humano”.

Diante disso, o articulista diz que a lei deve ser remodelada para responder a um único questionamento: “quais facetas do ‘capital humano’ devem ser de propriedade dos humanos? E à medida que a IA altera rapidamente a mistura do que humanos e máquinas fazem, devemos investir em infraestrutura nacional de alta qualidade para transição ocupacional de meio de carreira com dignidade”.

Um exemplo citado foi o avanço apresentado pelo machine learning (aprendizado de máquina), que começa a ficar intrinsecamente ligado a uma percepção de que uma coleção de “obras” humanas não é apenas a produção desse artista, mas o projeto para uma IA capaz de replicar partes do processo criativo, talento ou capital humano de quem alimentou a IA.

Essa e outras possibilidades trazem implicações consideráveis tanto para os níveis de empregabilidade como para a humanidade como um todo uma vez que, segundo Sundararajan, “sociedades projetadas para descentralizar a propriedade do capital têm menor desigualdade econômica e, embora as plataformas pressagiassem a possibilidade de propriedade de capital distribuída por meio do capitalismo baseado em multidões, esse resultado não era garantido”.

Correspondentemente, as tecnologias de IA de hoje poderiam descentralizar a disponibilidade de uma série de habilidades e capacidades produtivas, capacitando milhões a seguir um caminho empreendedor enquanto catalisam o surgimento de uma geração inteiramente nova de profissionais habilitados para IA, de educadores e provedores de saúde a consultores de investimento e cientistas de dados.

“No entanto, se uma pessoa não for capaz de afirmar algum nível de propriedade sobre o projeto de seu próprio processo generativo individual, talento ou expertise, corremos o risco de um futuro em que a inteligência e as habilidades são comoditizadas e centralizadas excessivamente, deixando os humanos incapazes de aproveitar os retornos econômicos de seus próprios investimentos em capital humano”, pontua.

Qual é a solução? Abordar o desafio que a IA generativa representa para a autonomia intelectual humana é complexo. “A transição da força de trabalho alimentada por IA apenas começou. A IA generativa ainda está em sua infância e ainda não está profundamente inserida na economia, em nosso local de trabalho ou em nossas vidas diárias. É crucial olhar para frente e agir agora”, alerta o articulista.

1 Comentário

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  1. A maior ou talvez única ambição dos capitalistas é produzir e se apropriar da maior taxa de lucro possível com menor custo
    num curto periodo de tempo. Tudo mais (a saude e o bem estar dos empregados, a preservação da natureza, o pagamento de impostos, etc…) é considerado irrelevante ou um entrave a ser superado ou minimizado de alguma maneira. O capitalismo nunca se importou em produzir lixo social. De fato ele faz isso com grande frequência desde que surgiu. No passado as guerras limpavam o lixo social indesejado de duas maneiras: morte no campo de batalha ou imigração forçada pelo medo do conflito. Na fase atual, o tráfico de drogas se encarrega de inutilizar o lixo social acelerando a morte das pessoas inuteis de uma maneira ou de outra. Acreditar que os Estados ou as empresas cuidarão das pessoas desempregadadas estruturalmente por causa da automação da robotização do trabalho é uma ilusão. O mais provável é que elas afundem na miséria, na depressão e nas drogas antes de caírem mortas nas ruas. Isso já está acontecendo nos EUA, Canadá e Inglaterra. Só não vê quem não quer.

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