
O efeito Madonna nas exportações de bens e serviços
por Mario Cordeiro de Carvalho Junior
No dia seguinte ao apoteótico e histórico evento “Madonna in Rio” (www.madonnainrio.com), patrocinadores privados postaram nas redes sociais e na mídia digital o seguinte dizer: Madonna: Fizemos História! De fato, a praia de Copacabana; a cidade do Rio de Janeiro, e o Brasil mostra que a cada década consegue que sua(s) imagem(s), marca(s) e soft power renasçam como uma fênix ao conseguirem através de uma ação local atuar e impactar globalmente via mídia impressa, social e televisa. Isso ocorreu num baile show com bastante gente que afluíram à Zona Sul da Cidade Maravilhosa sem medo de serem felizes e de preocupação de estimativa de público.
O evento deveria ser um exemplo de exercício para o incentivo e apoio às indústrias criativas – localizadas no Rio de Janeiro – típico de um mindset de “think globally, act locally” passível de ser usado por patrocinadores do tipo banco, cervejaria, ou televisão que têm interesses comerciais além das fronteiras do Brasil, e, sobretudo por gestores de política pública dos governos federal, estadual e municipal para criar uma imagem de soft power e/ou produzir um “country of origin effect” associados às vendas externas de bens e serviços.
Ainda que só recursos públicos do município e do estado do Rio de Janeiro foram diretamente usados no show, os tribunais de contas de todas as esferas governamentais (TCM, TCE, e TCU) deveriam refletir sobre como auditar esse dispêndio de recursos públicos com base em método de evidências empíricas e qualitativas para incentivar à indústria criativa nacional.
Cabe observar que incentivar o soft power ou marca Brasil no cenário global passa por mostrar a criatividade, a ginga, a sensibilidade, a alegria de ser, e de ter um espirito carioca (e brasileiro) de envolver e absorver a cultura estrangeira num processo de antropofagia cultural à la Oswald de Andrade. Isso é que torna o brasileiro(a) e sua cultura singular, impar, afável e acolhedora como um fator de alegria e de país de futuro com paz no atual ambiente de policrises mundial.
À bem da verdade histórica, isso se expressa no calor humano e na quase obsessão dos(as) fans brasileiros(as) que sitiaram o Hotel Copacabana Palace por quase uma semana. No fundo dos seus corações, eles estavam à espera que Madonna fosse à uma sacada daquele palacete arquitetônico do inicio do século XX para mostrar seu semblante como o fez anos atrás ao vir à passeio como a garota de Ipanema e ao ficar hospedada num moderno hotel daquela praia, e acenar para os seus fans. Em Copacabana, talvez, numa ousadia musical, Madonna poderia fazer com que os fans cantassem o seu sucesso “Don’t cry for me Argentina”( https://www.youtube.com/watch?v=KD_1Z8iUDho)
para mostrar a cultura de paz do brasileiro(a), sobretudo face a rivalidade observada no passado nas esferas social, econômica e militar; e, hoje, após o tortuoso e inacabado processo de integração do Mercosul, restrito às partidas de futebol.
Mesmo que esse experimento de “soft power” não tenha ocorrido, a permanência, o fervor, e a interação dos fans antes, durante e depois do evento mostram dois fatores do exercício do soft power e da competitividade da indústria criativa carioca/brasileira. O primeiro decorre do fato direto dos fans nacionais que aqui gorjeiam, o fazem mais e em melhor som e imagem que as “armyes” do K-pop coreano. E, o segundo fato – mais importante para o momento presente – é que os fans ao acompanharem, dançarem e cantarem em língua estrangeira os sucessos de seu ídolo tornam o processo de UD( user design)/ UE ( user experience ) de interação plateia e cantor(a) única e singular no dia do evento, seja este presencial ou hibrido.
Esse movimento e processo datam, no Brasil, desde o primeiro Rock in Rio – show privado – em meados dos anos oitenta (1985), época do inicio do processo de redemocratização da nação brasileira. Rod Stewart, que participou desse evento, lembra que nunca havia feito um show – fora da Inglaterra ou dos países da Commonwealth – em que a plateia cantava junto com ele Da Ya Think I’m sexy do seu álbum “blondes have more fun” de 1978 (https://www.youtube.com/watch?v=OExyKL3YBgQ). Esse mesmo movimento irá ocorrer no show público dele em 1994 agora em Copacabana ao invés da Barra (https://www.youtube.com/watch?v=2anvX7wW_WA). Em 2006, os Rollings Stone comentam a mesma singularidade da sintonia da plateia ao cantarem uníssonos “Satisfation” and “It is only rock and roll” (https://www.youtube.com/watch?v=pt-TXDHQN1E).
Para relacionar o incentivo dado e os resultados obtidos com o aporte de recursos públicos no show recente da Madonna para realizar uma auditoria com base em método de evidências empíricas e qualitativas se têm que decompor os impactos diretos e indiretos de três formas, a saber. A primeira é identificar como o ícone Madonna de forma espontânea ou induzida produz ao longo do tempo um “country of origin effect” associados às vendas externas de bens e serviços em indústrias criativas, e verificar como esse efeito poderia ser hoje mais potencializado pelos fazedores de politica de promoção ás exportações. A segunda é compreender como o processo de afirmação e construção do soft power para a Marca Brasil pode ser associado a marca Madonna ( ou outro artista “global” brasileiro ou estrangeiro). A terceira é perceber a janela de oportunidade aberta pela revolução digital no mundo dos negócios de musica e do show business para potencializar as exportações de serviços associado à essa indústria criativa num mundo volátil, ambíguo, complexo, e incerto.
Essa análise deve ser holística e nesse sentido podemos iniciar essa narrativa a partir do bloco de abertura semanas atrás do show da Madonna como um círculo, representado pela tiara usada por ela ao cantar “nothing really matters” (https://www.youtube.com/watch?v=cAVx9RKaLPU). Aqui importa lembrar o verso: “nada realmente importa, o amor é tudo do que precisamos, tudo que dou, tudo volta para mim”. Com base nesse principio devemos relembrar o período 1998-2003 para analisar o primeiro “country of origin effect” causado pela Marca Madonna sobre as exportações de jeans e lingerie, notadamente do Rio de Janeiro.
É fato que não se pode dizer que em algum momento histórico o jeans ficou fora de moda. Mas, naquela época, se viveu uma “febre de jeans” em que este ganhou mais foco na estética, no estilo das peças, do look e das formas de vestir. Madonna contribuiu para esse movimento com um total denim no clipe “Ray of ligth” (1998) (https://www.youtube.com/watch?v=x3ov9USxVxY), e, dois anos depois, usa um jeans mais saliente, com apliques de patchwork e camisete de cintura baixa de proporção reduzida que pode ser visto no vídeo “american pie” (https://www.youtube.com/whatch?v=AsgO_DuAIYE).
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Ainda que o paragrafo acima possa parecer texto de moda, importa observar que aquele jeans do vídeo de “American Pie” foi comprado num Mart Center tipo https://www.miamimerchandisemart.com/, em Miami, nos Estados Unidos. Neste país, esse centro é um ponto para a exposição de bens importados ou produzidos localmente por empresas manufatureiras ou atacadistas para ser revendida para os lojistas. Por isso, para entrar, expor e abrir o mercado norte americano para depois vender de forma perene bens de consumo final naquele país, os exportadores de todo o mundo buscam se inserir nesse nódulo do canal de distribuição, seja nomeando agentes, distribuidores, ou até mesmo abrindo lojas próprias. Em linhas gerais, nos EUA, esses centros são localizados em prédios em Nova York, Chicago, San Francisco, Atlanta, e Miami. E, só os compradores pequenos, médios e grandes lojistas norte-americanos localizados num raio de um círculo de 1.500 km em torno de cada cidade é que têm acesso a essas lojas. Estes, por sua vez, fazem compras de volume ou atacado, exceto o de Miami – que por causa da presença latina – rola (va) uma forma de “atacarejo”.
De fato, reza a lenda que Madonna estava passeando num mart, em Miami, com o agora famoso artista Jean Paul Bosquet, viu o look do jeans e numa compra de impulso o adquiriu, e o usou no vídeo. Este era produzido no Rio de Janeiro, e, comercializado principalmente em alguns shoppings da zona norte da Cidade Maravilhosa para as musas cantadas na prosa e nos versos da música do Bonde de Tigrão (https://www.youtube.com/watch?v=cXdY66lEgS4).
Aquela época – anos noventa -, no Rio de Janeiro, foi um período de desindustrialização no setor produtor e exportador de jeans, e, de mudança social nas comunidades devido ao surgimento e difusão da cultura dos bailes Funk. De fato, desde a abertura econômica do Governo Collor quase todas as fábricas orientadas para a exportação de jeans localizadas no RJ foram à falência em função da valorização cambial, da falta de financiamento às exportações, dos créditos acumulados de ICMS nas exportações e da concorrência chinesa.
Data daquela época, a decisão de dois grupos varejistas cariocas especializados em ofertar – um com presença nos shoppings e outro com lojas em ruas de bairros – roupas e acessórios para os consumidores “bottom of the pyramid” a partir da montagem de forma independente de uma rede de facção de tecidos e costura para focar as suas compras de jeans (e de outras peças) em novos fornecedores cariocas ou nacionais. Isso gerou economias de escalas nos fornecedores que muitas vezes adquiriram as máquinas das massas falidas, e, abriu espaço para que houvesse economia de escopo em que um entre esses fornecedores diferenciasse o jeans de modo a atender aos anseios de uma consumidora sensual carioca que pagava cerca de R$ 150,00 por uma calça jeans para desfilar e dançar no fim de semana nos bailes das comunidades.
Foi esse produto diferenciado que Madonna comprou, e divulgou no clipe. A consequência foi uma explosão da demanda nos Estados Unidos por esse bem. Houve casos que diretores de colégios do ensino médio nos EUA à época proibiram que as meninas fossem vestidas com esse modelo. Aquele foi o período de febre do jeans, sendo que a calça era vendida a U$ 250,00 no ponto de venda de Miami. Vale lembrar que a promoção do jeans dada por Madonna foi gratuita, e as exportações do Rio para os Estados Unidos deste bem se elevaram muito durante quase dois anos. Isso mostra o efeito positivo direto do “country of origin effect” que o Rio de Janeiro (e a empresa aqui localizada) obteve ao ter um produto local associado à marca Madonna.
O Rio de Janeiro se beneficiou de forma indireta ainda com o fato de que Madonna lança e populariza uma tendência sensual de corset “luxo” no vídeo Vogue (https://www.youtube.com/watch?v=GuJQSAiODqI. Naquela época, o corset chamou muita atenção ao ser usado de forma exuberante e esplendorosa por Nicole Kidman no filme “Moulin Rouge” ( https://www.youtube.com/watch?v=pgzMGx_ECdw).
Vale lembrar que, durante o mesmo período, a região serrana de Nova Friburgo no Rio de Janeiro, vinha também de um período de fragmentação de uma grande empresa multinacional produtora de lingerie que resultou numa desindustrialização inicial. Este processo foi revertido pelo fato de que as trabalhadoras que foram dispensadas por essa fábrica tinham um conhecimento tático para lidar com materiais de têxtil, o que as levou a abrirem suas fábricas de lingerie numa espécie de empreendedorismo por necessidade. De fato, elas gerenciavam o desenvolvimento do produto, a produção, a expedição, e a venda. Por sua vez, os maridos cuidavam do dinheiro, das obrigações fiscais, de falar de futebol e de defender os interesses do setor e fazer política nas esferas local, e estadual.
Importa ressaltar que essas empreendedoras não tinham conhecimento codificado sobre a história e o uso do corset, nem como fabricá-lo. E, a consumidora brasileira não apreciava o produto, e nem o demandava. Mas, havia uma possibilidade de fabricar esse bem na região, e expor aos compradores internacionais e exportar. Com esse propósito, a equipe do então centro internacional de negócios da Firjan arrumou amostras das peças comercializadas nos EUA, e realizou reuniões com os produtores da região. Na ocasião, foram mostrados vídeos da Madonna, da Nicole Kidman, e da evolução do uso do corset desde à época do filme “ o vento levou “ (https://www.youtube.com/watch?v=KUDutVJLe48) até os dias atuais.
A partir de uma análise de uma “engenharia reversa” do corset se verificou que a espátula de plástico era o único insumo que não se dispunha na região. Ao se obter um insumo nacional compatível, a equipe incentivou que uma coleção de corset fosse produzida por um produtor local que aceitou o desafio de começar a costurar um produto inovador na região. E, o CIN/FIRJAN com o apoio da Apex, na época, realizou um projeto comprador, em Nova Friburgo, na feira Fevest. O alvo era entrar no mercado europeu e dos EUA, e houve o cuidado de identificar e convidar agentes e distribuidores norte americanos que estavam localizados nos mart centers das cidades apontadas acima. Um distribuidor de Atlanta aceitou o convite dos patrocinadores, veio ao Rio, visitou a Feira e assim se estruturou um canal de distribuição para se produzir e vender corset de Nova Friburgo para os Estados Unidos.
Imagina hoje, em 2024, depois da “canja free” dada por Madonna ao usar um corset com as cores verde e amarela ao lado de Anitta usando outro corset ( https://www.youtube.com/watch?v=nqAnluCn_qM&t=73s), o que se poderia fazer para atrair clientes estrangeiros para virem à Fevest ou à região Serrana, e viabilizar exportações? Sem dúvida, seria a hora com poucos recursos associar via plataforma na internet essa imagem com a produção de corset, mesclando cores do Brasil com cada país exposto na escadaria Selarón – tudo com imagem Rio de Janeiro. A escolha da escadaria decorre do fato desta ser o terceiro local mais buscado no google sobre o RJ, perdendo apenas para o Corcovado e o Pão de Açúcar. Procedendo dessa forma se firmaria o “country of origin effect”, tanto no mundo de bens, quanto no de turismo receptivo em prol do Estado do Rio de Janeiro.
Contudo, esse potencial não pode ser explorado, hoje, porque desenvolver e apoiar ações de promoção ás exportações que deram certo no passado – como projeto comprador – não faz parte da prioridade da APEX, em especial, para o setor têxtil. Isso mostra que o efeito do “country of origin effect” que o Rio de Janeiro poderia obter com um produto exportável local associado à marca Madonna não ocorrerá por falta de visão dos policy makers do Governo Federal.
Apesar do problema apontado acima, os gestores públicos municipais estaduais, e federais poderiam ter trabalhado de forma subliminar outras formas de associar a imagem de produtos e serviços brasileiros à marca Madonna antes, durante e após o show. Isso foi feito, no passado, em eventos como o Fashion Rio. Logo, esse trabalho seria um bom exercício de criatividade de comunicação e marketing internacional, principalmente por se saber que Madonna ficaria “prisioneira” por quase uma semana num andar do Copacabana Palace.
Vale lembrar que nesse Hotel, as divas, os atores, os artistas, os políticos, e gente endinheirada sempre deram chiliques, pitis, e “causaram”. Logo, Madonna reclamar do calor e do stress dos paparrazi era previsível. Assim, para hidratar a diva pop alguém deveria lembrar que ela é apreciadora de água de coco. Por isso, caberia ter folder e vídeo mostrando as boas práticas de cultivo, coleta, transporte, manuseio em packing house, e processamento industrial desde os coqueirais existentes na costa brasileira até a exportação como coco verde selado por cera de carnaúba; como agua de coco congelada em tambor de 180 kg, ou envasado congelado em embalagem plástica ou cartonada.
Amostras deveriam estar disponíveis para o público em geral dentro do Hotel para mostrar e difundir a variedade desses bens exportados pelo país, lembrando que Madonna conhece e consome regularmente o produto nacional. Reza a lenda que ela participa de um venture capital dos Estados Unidos que criou uma empresa preponderantemente exportadora no nordeste do Brasil (https://zico.com/) para viabilizar a oferta perene de agua de coco com qualidade e sustentável para um consumidor norte americano e europeu sofisticado. Por ter uma orientação externa para vender e escoar a sua produção, a empresa “sofre” com acúmulos de icms na exportação, dificuldade de acesso para financiamento de pré-embarque às exportações, e, após o container ser embarcado em um porto nordestino, este cofre de carga “para” na terra de Bob Marley (Jamaica) aonde há um transbordo para seguir para algum Porto na California ou para Algecirras (Espanha/Europa), ou segue viagem para o Porto de Nova York ou Baltimore. Isso mostra um interesse de Madonna pelo Brasil, e um efeito nas exportações nordestinas via investimento externo dela.
Folders e amostras das demais frutas tropicais e subtropicais brasileiras in natura, em suco ou preparadas sob geleias e doces (diet ou não),e inclusive nossas flores; cacau e chocolate e suas preparações; assim como os nossos vegetais legumes, cereais deveriam estar expostos antes, durante e posterior ao evento. Isso seria feito para mostrar o sistema agroalimentar brasileiro orgânico, sustentável e passível de ser ofertado para exportação. Importante seria também expor as joias produzidas no Rio de Janeiro, e, sobretudo, as roupas da Farm e da Reserva, além de moda praia e fitness de Nova Friburgo. Cabe lembrar, que se deveria também adicionar folders e amostras de bens de consumo e itens de artes e filmes nacionais que estão sendo apoiados nos programas setoriais da Apex, com vistas a expor uma imagem de Brasil.
Em termos físicos, se teria de convidar designers como Gilson Martins para criar um espaço funcional que refletisse traços genuínos e singulares da nossa brasilidade. Esse espaço deveria ser multifuncional, e se deveria agregar uma visita técnica da equipe de som imagem do Pretinho da Serrinha, da Aniita e da Pablo Vittar para conhecer os equipamentos usados no show da Madonna. Também seria importante criar uma oficina de apresentação de dança de zouk, reggae, e samba. Todo esse material poderia ser usado depois no G20, lembrando que no último evento do G-20, na India, os representantes dos países estrangeiros foram recebidos em espaços para a prática de ioga. De fato, um cenário com esse corte de brasilidade pura encantaria tanto a Madonna, quanto aos sisudos oficiais governamentais e a imprensa estrangeira que afluirá ao G 20, mostrando nosso soft power porque o havaí é a aqui ( https://www.youtube.com/watch?v=cS5L_-Z_Bnc) por causa da graça e da beleza do(a) menino(a) do Rio!
Essa é uma possibilidade que ainda pode ser aproveitada para o G-20. Mas, ainda haveria (e há) outras formas para se trabalhar de forma subliminar ou mais explicita para associar a imagem de produtos e serviços brasileiros à marca Madonna antes, durante e após o show. De fato, com relação a afastar o fastio acerca do assédio dos paparrazi é uma pena que Madonna não pudesse fazer como Bridgitte Bardot fez, em 1964. Naquela época, a atriz francesa deu uma coletiva à imprensa na pérgula do Hotel Copacabana Palace em função do assédio dos papparazi, e partiu com o namorado brasileiro para Armação de Búzios. Hoje, lá tem orla Bardot, e a cidade virou point de badalação nacional e internacional após a ida dela. Hoje, em 2024, praia deserta no Rio de Janeiro, só na Restinga da Marambaia, controlada pela Marinha, o que torna qualquer ideia criativa envolvendo Madonna contraproducente.
A saída desse impasse seria lembrar e se inspirar na visita ao Brasil de Walt Disney, em 1941. E, sua estadia no Copacabana Palace, quando um cartunista carioca ofereceu-lhe um desenho em que o Pato Donald estava abraçado com um Papagaio (https://www.youtube.com/watch?v=RdY-lhyzs04). Considerando que filme e quadrinhos era à época uma indústria criativa, e os brasileiros ainda não tinham acesso a essa tecnologia; então, esse encontro de culturas distintas é um bom exemplo para ser usado hoje, em 2024, para como envolver, absorver e inserir elementos da cultura brasileira à estrangeira na indústria criativa de música num processo de antropofagia cultural como o personagem de Macunaíma de Oswald de Andrade.
De fato, durante o show da Madonna se observa esse movimento em dois momentos de brasilidade, a saber. O primeiro é a participação artística de Rita Weiner que fez um quadro sobre Maddona, e sua difusão em termos digitais. E, o segundo ocorre desde a preparação e durante o show na performance da canção music ( https://www.youtube.com/watch?v=Ddq2OYwiZ7g). Temos, de um lado, o trabalho de “samba remix” dessa música, com traços de sonoridade e tons brasileiros feitos pelo Pretinho da Serrinha, acompanhando por ritmistas mirins brasileiros ( https://www.youtube.com/watch?v=hK2Gsokfmd8). De outro lado, temos a performance do corpo dos dançarinos(as) brasileiros visível na música. E, à parte, há a interação e a conexão entre Pablo Vittar e Madonna que faz a bandeira e a brasilidade tremular em mares globais nunca antes navegados. Essa celebração não foi oriunda de uma conquista de copa do mundo de futebol, e sim um manifesto antropofágico, poético, e cheio de sensualidade digno de Oswald de Andrade, e, observada no palco ao vivo e transmitida a cores para todo o mundo.
Em outras palavras, a comunicação e a mensagem obtida e difundida na performance da canção “music” no show da madonna mostra a afirmação e construção de uma “Marca Brasil” associada à marca Madonna. O dispêndio de recursos municipais e estaduais podem ser justificados sob o argumento de atividade de difusão de “soft power” nacional. Na análise holística que estamos tentando fazer ao longo desse texto mostramos que o “country of origing effect e o de soft power se encontram implícitos à decisão tomada pelos governos municipais e estadual. Logo, apoiar o show da madonna é correta e justificada.
Faltaria discorrer apenas sobre o efeito da vinda de turistas estrangeiros,e o seu dispêndio no Brasil. Dada a ausência de dados sobre esses assuntos, e , sobretudo devido ao fato de que o Siscoserv – sistema federal que coletava dados de exportação e importação de serviços – foi desconectado pelo Governo Federal, as estimativas e as aproximações feitas pelos gestores municipais e estaduais são plausíveis, e, até bastante conservadora. Isso corrobora a decisão de apoiar o show é economicamente correta, ao trazer benefícios à sociedade carioca e fluminense. Inclusive isso atenderia ao verso da canção da Madonna exposto acima onde “ tudo que dou, tudo volta para mim”.
O fato mais importante do show – reflexo da participação de Anitta, Plabo Vittar, Pretinho da Serrinha, Rita Weiner, e os dançarinos e os percursionistas – é a janela de oportunidade aberta pela revolução digital como forma de potencializar as exportações de serviços dessa indústria criativa.
Com relação à internacionalização da dança, cumpre destacar que seja para o G 20 ou para a COP 30 é hora da agência de promoção do Governo Federal começar expor o Zouk como uma indústria criativa nascente a ser mais difundida no mundo como produto/serviço de exportação. De forma natural, e boca a boca, já há grupos espalhados pelos quatro cantos do mundo que realizam encontros e competições mesclando brasileiros e estrangeiros. A vantagem é que o estilo zouk é nitidamente nacional, mas ele tem uma característica plástica singular – ele se modela e cria liga com qualquer musica internacional. E, por se dançar em par, os movimentos do casal criam uma aura de sensibilidade e sensualidade cativante para quem dança e para quem observa o “quase balé” do zouk. Essa singularidade é que deveria ser o fator determinante para se realizar apresentações paralelas ao G-20, a Cop 30 e em festivais associados a venda de pacotes de regiões turísticas brasileiras, notadamente do Nordeste, em especial, do Ceará.
Por sua vez, no tocante à tecnologia é preciso distinguir que Pretinho da Serrinha contou com acesso a equipamento importado para retirar o fundo musical da canção original e adicionar a sonoridade brasileira. Cabe ressaltar que é fácil escrever para tentar explicar isso nesse texto, mas difícil é fazer na prática. Isso por que não há ainda aqui no Brasil equipamento e studio para fazer um moderno processo de captura de imagem, som e vídeo.
Para se mover nessa fronteira tecnológica se deveria olhar e assistir com cuidado os seguintes vídeos, a saber:
b) Cold Play e BTS (https://www.youtube.com/watch?v=ug8PVp1Y7ps);e
c) Anitta (https://www.youtube.com/watch?v=PkzJgGZBFDg.
De fato, se pode observar a partir desses vídeos três tipos principais de sistemas de música computacional baseados em sistemas de composição, na improvisação e em sistemas de performance. A prática de fazer música desde há muito envolve instrumentos e – de forma mais geral – tecnologia. Como tal, os avanços na tecnologia podem ter um efeito profundamente transformador na prática musical. Esse efeito é testemunhado pelos papéis que a eletrônica analógica e, mais tarde, a eletrônica digital desempenharam na música, na forma de sintetizadores, samplers, equipamentos de efeitos sonoros e estações de trabalho de áudio digital.
Mais recentemente, a combinação de realidade virtual, computação e inteligência artificial (IA) tem encontrado cada vez mais aplicação na produção musical. Embora, sem dúvida, o uso da tecnologia envolvendo esses três pontos de forma convergente para a produção musical ainda seja em grande parte experimental, não parece absurdo que esta tecnologia acabe por ter um efeito duradouro na produção musical. A versatilidade dessa nova tecnologia permite uma ampla variedade de aplicações musicais, que apenas começaram a ser exploradas. As aplicações atuais incluem síntese de sons musicais individuais, “pintura musical”, interpolação entre material musical ou síntese de faixas de áudio multiinstrumentais completas.
Comparando os vídeos do ABBA, Cold Play e Bts e da Anitta sob o ponto de vista de tecnologia se pode ver que há necessidade de um catching up para mover os vídeos “nacionais de Anitta” e qualquer outro de música nacional para a fronteira internacional. Isso requer pessoas e maquinas, e que estas possam interagir entre si. No Rio de Janeiro, não há maquinas para que os jovens das comunidades de Honório Gurgel, Vaz Lobo e Madureira no Rio de Janeiro – área de onde saiu Anitta e Pretinho da Serrinha – possam desenvolver suas habilidades e competências para em pouco tempo produzir vídeos nacionais próximos à fronteira tecnológica mundial.
De fato, só se precisaria que os fazedores de política municipal, estadual e federal ligados a promoção de exportação de serviços da indústria criativa conversassem com a Aniita, com Pretinho da Serrinha, com Pablo Vittar, e de quebra se ouviria Seu Jorge e Zeca Pagodinho sobre som, imagem e composição musical e, sobretudo, conhecessem a fundo o Paisley Park ( https://www.paisleypark.com/). Este é um lugar onde a arte, a música, a moda e a cultura são celebradas, energizadas e inspiradas pelo espírito criativo visionário de Prince – homenageado no show da madonna no Rio de Janeiro.
A partir de um dialogo com esses ícones culturais nacionais se poderá estabelecer uma parceria de força pública-privada para propor a criação de uma parque tecnológico para a indústria criativa de composição musical no Rio de Janeiro, orientado para atender ao maxi mercado de serviços musicais, interno e externo. Área física na zona norte do Rio não falta. Por exemplo, a UERJ tem um prédio fechado em Vaz Lobo que seria mais eficaz, efetivo e eficiente para ser utilizado para um projeto de pesquisa e extensão dessa natureza, que para dar aula de administração ou contabilidade e ensinar como fazer imposto de renda para comunidade. Recursos financeiros não faltam!
Esses poderiam ser obtidos elaborando um projeto para o programa BNDES Periferias, desde que os analistas do BNDES saíssem da frente dos computadores na avenida Chile, no centro do Rio, para irem sem medo e sem receio à periferia da Zona Norte da cidade para estruturarem de fato projeto social. Com esse propósito, esses técnicos estariam realizando concretamente o S da marca BNDES. Como garantias e contrapartidas são exigidas por esse Banco nos projetos de impacto, a contrapartida financeira exigida banco poderia ser obtida com a renda de um ou dois sorteios da loterj, desde que se dissesse ao publico fluminense e brasileiro a destinação social desse sorteio.
Mas, fundamental é ter um projeto de promoção de exportação de serviços de composição musical de modo a estabelecer parceria, capacitação e tecnologia para viabilizar o processo de catching up tecnológico na área de composição musical. Isso significaria que os fazedores de política de promoção de serviços de exportação precisam entender o que é serviço e o que é indústria criativa. De fato, se deveria realizar uma missão out técnica composta pelos membros da equipe de som, imagem e vídeo do Pretinho da Serrinha, Aniita, Pablo Vittar, Seu Jorge , e Zeca Pagadinho junto como os fazedores de política de promoção ás exportações federal para conhecer o ecossistema de inovação, negócios e exportação da Inglaterra. Visitas e reuniões deveriam ser agendadas e realizadas com o https://councilmusicmakers.org/; https://www.artscouncil.org.uk/;https://www.helpmusicians.org.uk/https://www.artscouncil.org.uk/; https://soundandmusic.org/; https://musiciansunion.org.uk/; https://www.musiceducationcouncil.org.uk.
Considerando que os fazedores de política da agência de promoção às exportações de Brasília só conhecem música londrina por ter ouvido estórias sobre https://www.abbeyroad.com/ e https://abbeyroadinstitute.co.uk/, pois ainda estão no tempo dos Beatles, seria importante que viessem ao Rio de Janeiro e dialogar com o pessoal da https://casafirjan.com.br e do https://music.britishcouncil.org – ambos localizados em Botafogo – com o intuito de adquirir um mindset de “think globally, act locally” para a exportação da indústria criativa de composição musical incentivando a criação de uma empresa de proposito especifico inova simples para composição musical do tipo https://www.musicexportacademy.com/.
Adquirir uma visão global em serviços de exportação, em geral, e, em particular, em composição musical requer como condição necessária se abrir ao dialogo com as forças produtivas vivas e reais para superar a limitação de ver o mundo a partir da cognição de que o centro do mundo é o Acre! Desenvolver um projeto de alto impacto de composição musical para atender ao mercado interno e de exportação em um área carente da Cidade Maravilhosa que poderia ter como madrinha e padrinho musicais Anitta, Seu Jorge, Zeca Pagodinho, Pablo Vittar e Pretinho da Serrinha é possível, e é viável!.
Contudo, essa sugestão para exportar como as demais apontadas ao longo desse texto não sairão do papel. A razão é simples e já foi asseverado no passado pelo então Ministro da Fazenda Delfim Netto: o brasileiro não gosta de penetrar no mercado externo. Isso foi dito há mais de quarenta anos e continua ainda válido e atual por que ainda não há uma cultura exportadora na sociedade brasileira, e, sobretudo entre os responsáveis federais pela gestão da promoção comercial das exportações.
O problema atual usando a metáfora do sábio Ministro Delfim Netto é que em pleno século XXI e com movimentação da fronteira tecnológica internacional de bens e serviços – inclusive de composição musical é que tanto os policy makers federais responsáveis pela promoção de exportação, quanto os exportadores nacionais de bens, serviços e inclusive composição musical estarão a levar bolas nas costas como o Belo está levando nos últimos tempos! Isso doí muito por não se usar KY, mas é a realidade desse Triste Trópico, chamado Brasil! E, assim não potencializamos as oportunidades de exportação abertas pela vinda de Madonna ao Rio, pois não conseguimos romper com o dilema existencialista sartreano exposto na peça Huis Clos de que o inferno do viés anti-exportador está em nós. Romper isso requer uma cultura de exportação.
Cabe ressaltar que desde julho do ano passado, o atual o atual governo editou o Decreto no 11.593 que instituiu, de acordo com seu art. 1o, “a Política Nacional de Cultura Exportadora [PNCE], com a finalidade de difundir a cultura exportadora e ampliar o número de exportadores brasileiros, especialmente entre as micro, pequenas e médias empresas”. Agora Cultura Exportadora é uma Política de Estado! As sugestões e propostas aqui elencadas e outras oriundas do setor privado deveriam ser apreciadas e diretrizes deveriam ser estabelecidas pelo Conselho Estratégico da Camex. Não se recomenda continuar com o processo decisório atual em que a decisão cabe a um simples departamento de promoção das exportações, cultura exportadora e facilitação de comércio da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. Hoje, qualquer recomendação sugerida à agencia de promoção de exportação não é levada em consideração. Esta segue interesses que divergem dos objetivos tanto do governo federal, quanto do setor privado. Para mudar esse estado de coisas, se recomenda que seja iniciado o mesmo procedimento adotado no caso da Petrobrás para o bem do setor exportador nacional.
Mario Cordeiro de Carvalho Junior – Professor da FAF/UERJ.
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Um textão.
Um amontoado de loas a versão capitalismo de eventos.
Dados?
Só os favoráveis.
Desde sempre, nunca houve qualquer comparação analítica entre os chamados aumentos de receitas tributárias com os gastos astronômicos dos serviços públicos empregados nesses mega eventos.
Coleta de lixo, organização de trânsito, transportes públicos, segurança, hospitais, etc
Vou dar um exemplo:
A secretaria de segurança, através da secretaria de policía civil do RJ, alocou 1000 vagas de RAS, regime adicional de serviço, ou horas extras, para as delegacias da capital que foram impactadas com o aumento de demanda.
Ok. Tudo ótimo.
Esse mês subsequente foram cortadas todas as horas extras de delegacias do interior, e algumas tiveram redução de 80% das vagas.
Cobertor curto né?
Então vamos cobrir a diversão e as ações de marketing do Itaú.
E quando eu falo de delegacias do interior, não me refiro a unidades longínquas ou de baixa demanda.
Todas de porte grande e extra grande, com algo entre 30 a 50 registros/dia foram atingidas.
Não sei o impacto da polícia militar, mas o saldo deve ser parecido.
Dane-se o servidor, que já trabalha em sobrecarga de uma instituição que tem 7000 servidores ativos onde deveriam haver 20000.
Dane-se o contribuinte, que vai obter um serviço ainda pior, com mais e mais espera.
Viva Madona…
É, senhores e senhoras, é muita cara de pau, para não ser mais deselegante.
“…os tribunais de contas de todas as esferas governamentais (TCM, TCE, e TCU) deveriam refletir sobre como auditar esse dispêndio de recursos públicos()”
É DO AGRO! Então “é tudo suspeito, para ficar no mínimo. O Brasil foi ideologizado geral pelo pensamento texano-raiz (bem além do americano de direita).
O carinha sabe muito da cultura do Rio- (sazonal, frágil, provisória) mas está rezando para o santo errado. Vejamos que no governo anterior nem ministério da cultura tínhamos. Então, é conversar com a Margareth Menezes, explicar tudo o que ele sabe sobre a cultura carioca, desde biquinis, tangas, sungas e jeans até as musiquinhas “borbulejantes” para promover o desenvolvimento da nossa criatividade ostensiva. Duro é ver o brasileiro ser definido lá fora pela personalidade carioca.