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O Papel Crucial dos Bancos Públicos na Transição Verde Sustentável, por Fernanda Feil

Eles inauguram novas direções de engajamento e direcionam o fluxo de crédito, atuando como catalisadores no processo de transição.

Reprodução Fenaserhtt

O Papel Crucial dos Bancos Públicos na Transição Verde Sustentável[1]

por Fernanda Feil

Os serviços financeiros são essenciais para fornecer liquidez à economia, apoiar transações de mercado e financiar investimentos que impulsionam a expansão econômica. A transição verde sustentável, vital para enfrentar a crise ambiental, social e climática, depende de um sistema financeiro avançado capaz de direcionar fundos para novas atividades sustentáveis. São as instituições financeiras determinam o volume e a direção dos investimentos. No entanto, sua natureza instável e o foco no lucro de curto prazo podem limitar o crescimento sustentável. Isso é especialmente evidente quando as instituições hesitam em financiar setores com grande potencial socioambiental, revelando uma lacuna significativa no financiamento a áreas críticas para a transição verde sustentável.

Nesse contexto, os bancos públicos e, particularmente, os bancos de desenvolvimento, desempenham um papel crucial na reformulação do sistema financeiro. Eles inauguram novas direções de engajamento e direcionam o fluxo de crédito, atuando como catalisadores no processo de transição. Bancos públicos devem oferecer produtos que diferem dos do setor privado em termos de custo, prazo e operacionalidade, agindo como braços de política pública e financiadores da transição verde sustentável. Sua missão vai além de corrigir falhas de mercado, criando demanda ao financiar novas tecnologias e promovendo a transição. O desenvolvimento econômico e o crescimento de longo prazo dependem de sistemas financeiros complexos que direcionem recursos para investimentos produtivos, condição essencial para o sucesso no desenvolvimento.

Ações diretas do governo, por meio de bancos públicos, aumentam a disponibilidade de crédito para setores e regiões estratégicas que, apesar de sua capacidade de promover a transição verde sustentável, enfrentam escassez de crédito quando o risco e retorno são considerados exclusivamente sob ótica privada.

Bancos públicos devem estar coordenados com políticas macroeconômicas para atuar efetivamente como braços de política pública, facilitando mudanças estruturais em direção a transição verde sustentável. Nesse sentido, bancos de desenvolvimento devem ser considerados membros do “Big Government“, conforme a interpretação de Minsky, que enfatiza o desenvolvimento de recursos ao criar e fortalecer instituições estabilizadoras que sustentam a demanda agregada.

Bancos de desenvolvimento podem reduzir problemas de informação e fomentar a confiança que amplia a oferta de liquidez. Essa expansão reforça ciclos virtuosos de crescimento econômico sustentável. Para realizar seu potencial, os bancos de desenvolvimento devem articular-se com o Estado em vários níveis (federal e regional), necessitando de diretrizes claras que os coloquem no centro da política de desenvolvimento, planejamento e execução.

Uma abordagem inovadora de posicionar bancos de desenvolvimento no núcleo da política de desenvolvimento sustentável é essencial para a implementação rápida e eficaz da transição verde sustentável. Para garantir seu sucesso, é fundamental que esses bancos estejam envolvidos no centro decisório do planejamento estatal, promovendo a transição em todos os seus estágios, desde o planejamento até o monitoramento. Isso os torna não apenas financiadores, mas também planejadores estratégicos, alinhando investimentos a projetos que mitiguem mudanças climáticas e promovam crescimento sustentável. Ao integrar a liderança desses bancos ao núcleo decisório do governo, seu papel central na transição verde sustentável é reforçado, influenciando convenções econômicas e direcionando o setor privado para investimentos verdes.

Nessa articulação, bancos de desenvolvimento não só financiam a transição verde sustentável, mas também exploram as complementaridades entre mercado e Estado, moderando ambos os agentes.

Portanto, bancos de desenvolvimento transcendem a noção de serem “segunda melhor opção” para corrigir falhas de mercado; são catalisadores de mudanças estruturais mais eficazes e eficientes que instituições privadas, especialmente na transição verde sustentável. Eles permitem que governos naveguem pela reduzida manobrabilidade da política macroeconômica, preenchendo lacunas estratégicas com recursos de longo prazo para o crescimento sustentável.

Os bancos de desenvolvimento são instrumentos indispensáveis para acelerar a recuperação econômica do Brasil, agora em novas bases, promovendo a transição verde sustentável, alinhando-se com os objetivos do Estado. Essa evolução é crucial para conectar objetivos políticos a resultados econômicos práticos, garantindo que não apenas apoiem, mas conduzam a agenda estratégica para um crescimento sustentável e inclusivo.

Fernanda Feil – Professora colaboradora no Programa de Pós-graduação em economia (PPGE) da UFF e pesquisadora do Finde/UFF e do Geep/Iesp

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[1] Uma versão ampliada desse artigo foi publicada no Jornal dos Economistas do Corecon RJ, edição de junho de 2024.

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