Jornal GGN – Professores e pesquisadores do trabalho que integram a Rede de Estudos e Monitoramento Interdisciplinar da Reforma Trabalhista (REMIR), repudiam atitude da Ford, de fechar suas fábricas e demitir milhares de trabalhadores diretos e indiretos.
No momento atual, tal decisão beira a desumanidade, um escárnio diante dos esforços mundiais para preservação de empregos e saúde. Não bastasse a decisão, causa espanto a maneira como foi feita, sem que trabalhadores e sindicatos fossem preparados.
Leia a nota a seguir.
O fechamento da FORD: expressão de uma diretriz desastrosa para os trabalhadores do Brasil
Nós, integrantes da Rede de Estudos e Monitoramento Interdisciplinar da Reforma Trabalhista (REMIR), que congrega professores e pesquisadores do trabalho, nas mais diversas áreas, além de representantes de instituições públicas do trabalho, estamos estarrecidos com a decisão da empresa FORD de fechar as suas fábricas e demitir milhares de trabalhadores (diretos e indiretos) no Brasil.
No atual contexto de pandemia, é decisão empresarial com fortes traços de desumanidade. Não deixa de ser um escárnio diante do esforço mundial de preservar empregos e a saúde dos que trabalham nos mais diversos países. Prevalece, mais uma vez, a lógica do acionista, desconsiderando vidas inteiras de operários dedicados ao trabalho e à empresa.
Estamos chocados também pela forma como a decisão foi anunciada, tomando os trabalhadores e sindicatos de surpresa. É passada a hora de a sociedade brasileira rejeitar esses ataques diretos à dignidade do trabalho, rejeitar a perseguição e o desrespeito às entidades de representação dos trabalhadores, rejeitar, enfim, políticas econômicas voltadas apenas aos interesses financeiros e empresariais de uma minoria.
É ultrajante a utilização de argumentos que já se mostraram ineficientes do ponto de vista econômico, com a defesa de novas rodadas de reformas (trabalhistas, tributária, previdenciária, o “custo brasil”, …). Desde os anos 1990, esse discurso se repete. São mudanças realizadas e defendidas como necessárias à redenção da economia e do emprego, que ao final se reduzem a promessas não cumpridas. Por exemplo, onde estão os 6 milhões de empregos formais prometidos com a aprovação da reforma trabalhista de 2017? As reformas, na verdade, servem para esconder a total ineficiência da atual política econômica para gerar empregos, enquanto permanecem as iniciativas para desmantelar direitos e proteções à população trabalhadora.
O problema do emprego é estrutural, e exige profunda reorientação no processo de desenvolvimento do país. Estamos correndo o risco de voltar a ser um país agrário exportador, gerando um mercado de trabalho incapaz de criar empregos de qualidade.
O que mais nos preocupa é o momento em que as demissões são feitas, pela falta de uma perspectiva de conseguir trabalho e renda para milhares de brasileiras e brasileiros. O problema do emprego se agrava a cada dia em nosso país, com milhões de pessoas desamparadas, e o desemprego anunciado pela Ford só vem aprofundar este quadro dramático.
Nós, da REMIR, com pesquisa e estudo sistemático sobre o trabalho, através desta nota, queremos manifestar nossa preocupação com os destinos dos que vivem do trabalho e defender a necessidade de o país construir uma alternativa ampla que garanta trabalho para todos e todas, trabalhos socialmente relevantes, com direitos e proteção social e com isso proporcionar melhores condições de vida para os cidadãos brasileiros.
Coordenação da REMIR
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