Clã Bolsonaro migra para redes sociais mais tolerantes ao discurso de ódio e fake news

As eleições de 2022 estão logo ali e Bolsonaro migra cada vez mais para redes sociais alternativas. Mas qual a estratégia por atrás disso?

Jair Bolsonaro e seus filhos. Foto: Reprodução/redes sociais
Jair Bolsonaro e seus filhos. Foto: Reprodução/redes sociais

Por Isabella Galvão

A família Bolsonaro não para de propagar desinformação a respeito da Covid-19 nas redes sociais. Mais recentemente, a resposta de algumas delas, como Twitter e Facebook, tem sido deletar esses conteúdos. Isso intensifica um movimento de seguidores do presidente e seus filhos para redes alternativas, principalmente às vésperas da eleição de outubro de 2022.

Essa migração é natural e vem acontecendo desde 2018, quando grupos ligados à extrema-direita foram bloqueados no Whatsapp e Facebook, segundo Sérgio Lüdtke, editor do Projeto Comprova, coordenador do Atlas da Notícia (Projor) e de cursos da Abraji. Assim, eles procuram outras alternativas. 

As principais redes sociais buscadas pelo clã de Bolsonaro são Parler e Gettr, que seguem o mesmo estilo do Twitter, do Telegram – utilizado principalmente para divulgar notícias do governo para um público seleto – e YouTube. 

Tabela representando a quantidade de seguidores da família Bolsonaro em cada rede alternativa, em janeiro de 2021

A volta do Parler

Com o slogan “fale e se expresse livremente”, o Parler voltou ao ar no meio de 2021, após ser excluído de lojas de aplicativos da Apple e do Google em janeiro, quando usuários investiram na plataforma para organizar a invasão do Capitólio, nos Estados Unidos. 

Para ser aceito de novo pelas plataformas digitais, o aplicativo diz conseguir se certificar de identificar qualquer discurso de ódio e incitação. Mas essa regra só se verifica para usuários de iOS. Isso porque as versões Android e web entregam conteúdos que não são permitidos no sistema operacional de iPhones, de acordo com o CEO interino Mark Meckler.

Segundo o advogado e cientista social Caio Machado, essas redes sociais possuem mais tolerância a respeito de conteúdos falsos e discursos de ódio. “Eles defendem uma visão extrema da liberdade de expressão. O próprio modelo da plataforma diz que eles não vão remover o conteúdo por ele ser falso. Eles colocam a liberdade de expressão como algo ilimitado, o que juridicamente ela não é.”

Gettr como alternativa para fugir do Twitter

O Gettr segue a mesma lógica. Ele foi criado em 2021 por um ex-assessor de Donald Trump e promete “independência de pensamentos, rejeitando a censura política e a cultura do cancelamento”

O público de ultradireita é o que mais utiliza a rede. Um dia após o 7 de setembro, o Gettr comemorou 50 mil downloads de brasileiros em 24 horas, o maior número de inscrições desde seu lançamento. 

A família Bolsonaro encontrou nessas redes sociais território fértil para propagar suas ideias incoerentes e conteúdos falsos. O presidente reúne mais de 400 mil seguidores no Gettr e 100 mil no Parler. Já seus filhos, contam com mais de 100 mil seguidores em cada rede. Eles utilizam principalmente o Twitter para convocar seus milhões de seguidores para essas redes. 

Perfil de Eduardo Bolsonaro no Parler conta com mais de 2 milhões de seguidores

A dupla do momento

A dupla queridinha dos seguidores de Bolsonaro é o YouTube e o Telegram. Segundo uma pesquisa feita por três pesquisadores da área, o aplicativo de mensagens serve como um propulsor de canais bolsonaristas no Youtube, onde eles conseguem se remunerar. 

A estratégia é publicar vídeos no YouTube em formato privado (“não listado” é o termo técnico) e enviar esse link nos grupos do Telegram, que aceitam até 200 mil pessoas. Somente quem recebe o link pode assistir ao vídeo, que não está público para qualquer pessoa ver. Dessa forma, a plataforma fica impossibilitada de retirar o conteúdo do ar, já que apenas pessoas com o link conseguem acessar, e eles continuam recebendo remuneração. 

Print de postagem de Jair Bolsonaro no Twitter, convocando seus seguidores para o Telegram

Descontrole

O principal objetivo dessa migração é ocupar um espaço em que esse grupo pode divulgar qualquer tipo de conteúdo, desde notícias do governo até fake news. Isso é benéfico para Bolsonaro, já que fica livre para seguir com sua campanha eleitoral nessas redes e repetir o que aconteceu em 2018. 

Segundo Caio Machado, é mais difícil para a justiça brasileira controlar o que acontece nessas redes por dois motivos. O primeiro é o fato do Telegram contar com a criptografia ponta a ponta, o que impossibilita a empresa de fornecer seus dados. O segundo é a dificuldade da justiça de impor suas regras a essas empresas, já que elas não possuem sede no Brasil. 

Disparo de conteúdo em massa

Em dezembro de 2021, o Tribunal Superior Eleitoral vedou a realização de propaganda por meio de disparo em massa de mensagens instantâneas sem consentimento da pessoa destinatária ou em desacordo com os termos de uso da plataforma. É a primeira vez que a questão é tratada no TSE. 

Porém, Sérgio Lüdtke expressa preocupação a respeito das eleições de 2022, já que essas redes que estão em ascensão não possuem parceria com agências de checagem, o que acontece com o Facebook e Twitter.  

“O trabalho de monitoramento começa a ficar mais complexo porque algumas redes são melhor monitoradas do que outras, já que algumas são mais fechadas.”

Mais do que “dancinhas”

Na tentativa de atrair o público jovem, outro espaço em que cresce a presença bolsonarista é o TikTok. O presidente conta com mais de 200 mil seguidores na rede e seu perfil é repleto de vídeos com caráter de propaganda, com músicas emotivas e imagens de Jair com a população.

Perfil de Renan Bolsonaro no TikTok conta com mais de 400 mil seguidores e parceria com influenciadores

Seu filho, Renan Bolsonaro, foi quem mais cresceu na rede, atingindo mais de 400 mil seguidores em um curto período de tempo.

Renan publica vídeos de “dancinhas” virais no aplicativo, inclusive com influenciadores famosos da rede. Nos comentários, encontramos pessoas aprovando o conteúdo e compartilhando com amigos em forma de “piada”, um fenômeno parecido ao que aconteceu com seu pai em outras redes. 

Isabella Galvão

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