Lula defende Alckmin e alianças “mais ao centro e, se preciso, centro-direita”

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
[email protected]

Em entrevista à mídia independente, Lula fala de eleições, economia e se emociona ao abordar as dificuldades do povo brasileiro no governo Bolsonaro

Líder nas pesquisas de opinião, o ex-presidente Lula (PT) vê “contrariedade, mas não obstáculos” na possível aliança com Geraldo Alckmin (ex-PSDB) para disputar a Presidência em 2022. A possibilidade de Alckmin ser o vice de Lula foi o assunto mais comentado durante a coletiva de Lula à mídia independente na manhã desta quarta-feira (19), em São Paulo.

Lula foi cobrado sobre as críticas do PT ao passado de Alckmin enquanto governador de São Paulo, recheado de polêmicas que vão desde a desocupação violenta de Pinheirinho até o tratamento da polícia a professores grevistas. Além disso, Alckmin sempre defendeu uma política econômica neoliberal, mais alinhada aos interesses do mercado, em detrimento de uma maior participação do Estado.

Para Lula, o “ser humano é mutante” e Alckmin, ao sair do PSDB, em dezembro de 2021, mostrou que “se definiu por fazer uma oposição definitiva ao bolsonarismo e ao dorismo”.

“Eu não terei nenhum problema de fazer uma chapa com Alckmin para ganhar as eleições e governar o País”, disse Lula. “Vamos construir um programa e o povo será nossa prioridade. Espero que Alckmin esteja junto, sendo vice ou não. É preciso ele querer, ele definir para qual partido vai entrar, e o meu partido querer.

O desafio de 2022, segundo Lula, é construir alianças mais amplas que o PT, para além do campo da esquerda, que garanta não apenas a vitória, mas a governabilidade num momento em que o País está pior na economia, na política e nas questões sociais.

“Eu preciso construir uma aliança política mais ampla que o PT. Não à esquerda, mais ao centro e, se for preciso, mais ao centro-direita“, definiu. “Ganhar eleições é ainda mais fácil que governar. Para governar precisa conversar com as pessoas. Por isso precisamos de alianças e parceiras“, apontou.

Lula disse que não vai escolher um vice que seja “contrário” ao seu programa de governo, e que não trabalha com cenários pessimistas. “Não penso no pior.” Foi o que respondeu quando questionado por Luis Nassif sobre como imaginaria ser uma hipotética situação de estresse em que tivesse de deixar o comando no País nas mãos de um vice como Alckmin.

Para além de questões de saúde, por exemplo, Nassif apontou para o perigo de atentados por parte de milícias armadas. “Não me preocupo com isso. Nosso País não tem essa cultura. Nós temos é problemas com mentiras, fake news”, rebateu Lula. Ele também garantiu que “qualquer pessoa que vier a ser vice, vai construir” o “novo Brasil” que ele está desenhando.

Lula disse ainda que as alianças ainda estão em discussão. “Tenho conversado muito com o PSD do Kassab. É possível que a gente possa construir uma coisa juntos.”

Disputa em São Paulo

A expectativa é de que Alckmin se filie ao PSB e abra mão da disputa em São Paulo para ser vice de Lula. O ex-presidente disse na entrevista que o PT vai estudar quem tem mais chances de ganhar em São Paulo – se Márcio França, pelo PSB, ou Fernando Haddad, pelo PT – para chegar a um acordo. Mas diferente de outros estados – como Pernambuco, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo, onde o PT pode abrir mão de candidatos próprios para apoiar aliados – Lula frisou que o PT nunca esteve tão perto de conseguir ganhar a eleição para governador em São Paulo.

Aqui em São Paulo tem o Haddad e o França. Eu acho que tem que ver quem tem mais chance. Se o França tiver mais chance, vamos conversar. Mas acho que o PT nunca esteve mais próximo de ganhar o governo do Estado quanto agora.”

Ainda na entrevista, Lula falou de economia, criticou Jair Bolsonaro, comentou sobre o papel das Forças Armadas em seu futuro governo, falou de relações internacionais, meio ambiente, paridade de gênero e raça no governo, de políticas para enfrentar o genocídio negro e indígena, além de se emocionar ao abordar as dificuldades do povo no atual governo.

Assista à entrevista aqui:

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

4 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Eis aí o radical, o extremista, o personalista com vocação para a ditadura do proletariado e o totalitarismo comunista, o inimigo contumaz da democracia, dos valores cristãos e da família. Falando em aliança até com setores de centro-direita.
    Fala-se que Bolsonaro nunca enganou ninguém, ou seja, sempre deixou claro a todos que se tratava de um fascista, autoritário, fisiológico; e nem podia ser diferente, tendo passado 30 anos no Congresso vendendo o voto para quem pagasse mais. Mas, até hoje, em se tratando de Lula, a elite desse país, através da mídia corporativa, age da mesma forma: sabe o que ele é, e vende-o como ele não é. Sabe que Lula é um reformista social-democrata, conciliador, e que governa (e quer governar) com setores que lhe seriam, naturalmente, oposição; e mesmo diante das evidências, segue pintando-lhe a imagem como a de um ditador enrustido, esperando a ocasião de dar um golpe para impor o comunismo sanguinário e abolir a propriedade privada no país. Não o fez, nem nunca foi sua intenção fazê-lo, mesmo do alto de índices de popularidade elevados, nos anos em que o PT esteve no poder; mas isso é só um detalhe.
    Aliás, é triste que as forças tão terríveis e avassaladoras da elite desse país tenham sua origem nesse único e hoje tornado simplório aspecto da questão, a propriedade privada. Tudo no mundo pertence ao setor privado, amigos, seria preciso comunizar o mundo inteiro, da noite para o dia, que é o que esses idiotas imaginam que ocorreu na Rússia, em 1917 – mas esse é outro assunto. A elite criou para si o conto de fadas mais aterrorizante e eficaz da História.
    Vejam, da mesma forma que Bolsonaro, Lula nunca enganou ninguém. Talvez o PT, em seus primódios vestais e puro-sangue, merecesse a crítica de radicalismo – que, mesmo assim, seria injusta. Lula, o negociador, o sindicalista de resultados, sempre enfrentou, nas internas do PT, senão a oposição, pelo menos alguma resistência a essa sua tendência conciliadora. A partir da Carta ao Povo Brasileiro – que, apesar do nome, dirigia-se ao Mercado – essa resistência dissipou-se, com os insatisfeitos dissentindo, e partindo para outros rumos, inclusive fundar novos partidos. Lula aparou a barba, cortou o cabelo, vestiu ternos sóbrios e elegantes, e disse: Queremos (e não ‘quero’) governar este país.
    Mas, é claro, a Elite não engoliria esse truquezinho barato, não se deixaria enganar por um lobo em pele de cordeiro – sendo, ela própria, um. E Lula governou, sem dúvida, ainda que permanentemente tocaiado.
    Mas, não é por nada, não, mas circulam histórias que, questionado por líderes – inclusive, alguns militares – sobre as barbaridades e sandices que vomitava diariamente na imprensa, Bolsonaro teria dito, a um general, que aquilo era necessário, mas apenas para que ele se destacasse da legião de vendedores de votos de onde saíra, e despertasse a atenção e apreço dos setores da população anti-esquerdistas; aqueles mesmos que pensam que, com Lula, da noite para o dia, perderão suas propriedades, sejam elas mansões ou apartamentos de classe média.
    Pois é, amigos, ao que parece, o Bozo também teve sua Carta ao Povo Brasileiro. Como bom semianalfabeto, não a escreveu: apelou para o boca-a-boca.
    Tudo isso para dizer o seguinte: essa atitude de rejeição e demonização de Lula, gerada na Elite e veiculada pela grande mídia, mesmo sendo Lula um social-democrata reformista, legalista e democrático, expõe a verdadeira tragédia do Brasil: o pobre não tem lugar na História do Brasil. Imaginem se Lula chegasse ao poder em 1989, ainda não polido pelo jogo do poder, das negociações políticas, das necessárias concessões a quem é mais forte, ainda recendendo aos sonhos da esquerda progressista, aos ideais que, naquela época, não diferiam muito, em essência, daqueles que animavam sindicalistas, intelectuais e estudantes nos anos de chumbo, diferindo apenas nas formas de luta, imaginem tudo isso, a tentativa de implantar reformas de cima para baixo, muito mais abrangentes que programas sociais, de inclusão, de renda básica…todas essas coisas que não chegam a consumir um dígito do orçamento fiscal. Pois foi isso que ele fez, a partir de 2003: programas sociais, de renda básica, valorização do salário mínimo. Coisas que beneficiam o trabalhador, beneficiando ainda mais a elite desse país. A indústria, o comércio, os setores que produzem, e não apenas entesouram e emprestam, para entesourar ainda mais. E tivemos a reação que tivemos, a destruição de direitos legal e legitimamente conquistados, a revogação dos sonhos de tanta gente pobre, e com direito, ao promotor dessa infâmia, a uma temporada numa masmorra de Curitiba. Em 1989, mais jovem, mais ousado…

  2. Acho que dona Lindu não deu para o Lula foi vergonha na cara. Ele e o PT sinalizam que a patifaria vai continuar. O que importa é agradar ao mercado, às elites, que o Lula tanto “combatia”… será? É a velha e podre politicagem, é o poder a qualquer custo. Ou seja, o pré-sal, as refinarias, a Petrobrás distribuidora, Eletrobrás, reforma trabalhista de temer… tudo vai continuar como está.
    Caso Alckmin seja vice, Lula não terá meu voto, ele estará dando um golpe na militância que esteve com ele desde o início de sua trajetória política. Se transformará em um ladrão de esperanças.

  3. Como eleitor contumaz do PT tenho minhas ressalvas quanto a ter como vice alguém, seja ele quem for, ligado a direita.
    O PT parece não aprender com os erros do passado, e Lula está se julgando imortal, pois se alguma coisa acontecer com ele, e ainda mais tendo como vice alguém ligado a direita e ao conservadorismo, todo o trabalho cai no colo da direita outra vez.
    Foi assim com o golpista Temer, bastou uma fraquejada e o golpe se consolidou levando embora decadas de esforço.
    Lula ganhando e tendo como vice Alckimin, por exemplo, vai fazer os dedos da elite coçarem bastante. Acontecendo algo com LULA, a elite e a direita acabam ganhando mesmo tendo perdido.
    A se configurar tal desenho, meu voto certeiro vai ficar pendurado.
    Sei que a cantinela será: temos que derrotar Bolsonaro a qualquer custo. E temos mesmo que derrotá-lo mas a vitórias que podem se tornar em flagorosas derrotas , vide 2014 por exemplo.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador