Com Milton Ribeiro, reitores interventores criam associação de oposição à Andifes

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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GGN apurou que todos reitores da Associação não venceram as eleições de suas Universidades, mas foram nomeados por Bolsonaro

Foto: MEC

Reitores que não venceram as eleições internas de suas Universidades, mas foram nomeados por Jair Bolsonaro, criaram com o ministro da Educação, Milton Ribeiro, uma associação de reitores contrária à Andifes, principal entidade brasileira que representa os dirigentes universitários.

Na agenda do MEC desta quinta-feira (03), constava o encontro com os reitores não eleitos, mas empossados por Bolsonaro para dirigir as Universidades brasileiras, para a “apresentação da nova Associação de Reitores”.

A criação da AFEBRAS (Associação dos Reitores das Universidades do Brasil) ocorre após cinco dos reitores nomeados por Bolsonaro pedirem a desfiliação da Andifes, principal entidade que representa os acadêmicos do país, em julho do ano passado.

O GGN apurou que todos os reitores membros desta nova associação não ganharam as eleições internas junto aos estudantes, professores e funcionários de suas respectivas Universidades.

O Presidente

José Candido Lustosa Bittencourt de Albuquerque com Milton Ribeiro – Foto: MEC

Para presidir essa entidade, o grupo escolheu José Candido Lustosa Bittencourt de Albuquerque, da Universidade Federal do Ceará. Ele foi nomeado por Bolsonaro para comandar a instituição em agosto de 2019.

Na eleição interna, a sua chapa perdeu e tinha obtido somente 4,61% dos votos, de um total de mais de 12 mil eleitores, incluindo alunos, professores e técnicos. O primeiro colocado, professor Custódio Luís Silva de Almeida, havia garantido 56,4% dos votos, mas não foi nomeado por Bolsonaro.

A Secretária-executiva

Ludimilla Oliveira com Milton Ribeiro – Foto: MEC

Para o segundo posto mais importante dessa nova instituição foi escolhida Ludimila Serafim, reitora da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA). Em junho de 2020, a chapa que foi a grande vencedora das eleições internas, comandada pelo professor Rodrigo Codes, foi ignorada pelo presidente da República.

No seu lugar, foi nomeada Ludimilla Oliveira, que havia ficado na terceira posição, com somente 18,33% dos votos de mais de 5.700 pessoas. “É uma entidade que surge para somar”, disse Ludimilla sobre a criação da AFEBRAS.

Demais integrantes

Mais três reitores que foram nomeados por Jair Bolsonaro também participaram da criação da nova instituição, nesta quinta, no gabinete de Milton Ribeiro e irão compor o Conselho Fiscal da entidade.

No ano passado, foi mantida a prática de eleger interventores – acadêmicos que não venceram as eleições internas – nas reitorias das Universidades. Um delas foi a professora Herdjania Veras de Lima, para comandar a Universidade Federal Rural do Pará (Ufra). Filiada ao PSL, ela tinha perdido a eleição para a professora Janae Gonçalves.

Herdjania Veras de Lima e Milton Ribeiro – Foto: MEC

Em Diamantina, Minas Gerais, a Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) não teve destino diferente, em agosto de 2019. Surpreendendo os estudantes e professores, Bolsonaro nomeou o professor Janir Alves Soares, terceiro colocado nas eleições internas, e que conseguiu somente 8% dos votos.

No final de 2020, os estudantes da Universidade Federal de Itajubá (Unifei) fizeram uma manifestação para rebater a nomeação de Édson da Costa Bortoni como reitor. Ele era o segundo colocado da votação interna, com 22,68% dos votos, contra a ampla maioria de 53,24% do primeiro colocado, professor Marcel da Costa Parentoni.

Naquele mesmo ano, na Universidade do Vale do São Francisco foi eleito reitor um professor que sequer havia participado das eleições internas. Paulo César Fagundes Neves foi escolhido pelo então ministro Abraham Weintraub.

As fotos do próprio MEC registraram abraços estusiasmados desses reitores a Milton Ribeiro. De forma direta, a assembleia que votou por unanimidade a constituição da nova Associação ocorreu dentro do gabinete do ministro da Educação.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

2 Comentários

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  1. Nada mais coerente do que esta atitude de formar uma associação de derrotados. É a prática do “governo” desse “mau militar”, como afirmou o ditador Geisel. A Afebras (Afe, que escolha!!!) vai representar uma parcela ínfima das aspirações democráticas de alunos, funcionários e professores das instituições atingidas pela intervenção.
    Exemplo: na Universidade Federal do Ceará, o presidente dessa Afe! Bras, recebeu apenas 610 votos dos 11.997 votantes. Entre os estudantes, dos 8.707 votantes o nomeado conseguiu minguados 345 votos. Dos docentes que votaram (1668) ele obteve 115 votos. Mas esses poucos votos representaram a possibilidade do nomeado ter os 4,61% pois o voto dos professores têm peso de 70%. Se a eleição fosse paritária essa porcentagem seria menor ainda.
    Os docentes também aceitam esse peso diferenciado (70%) para seus votos. Devem achar que sua escolha tem mais racionalidade e valor. Funcionários e estudantes são seres “inferiores”. No meu tempo de universidade lutei muito ao lado de funcionários e alunos para que isso se modificasse. Mas a casta é forte. Era consideravam traidor da classe.
    Sou professor universitário (federal) aposentado.

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