Mais de 2 mil escolas estaduais de SP ficam de fora do Enem

Jornal GGN – 68% das escolas estaduais paulistas não aparecem na listas com as médias do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2014. 2,4 mil escolas não tiveram mais da metade de seus alunos no exame, requisito necessário para que o MEC divulga as médias dos colégios. Na capital paulista, o percentual é ainda maior: 79% estão fora do ranking.

Os números indicam a dificuldade da rede pública em estimular o aluno a fazer o exame. Francisco Soares, presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas (Inep), que organiza a prova, diz que o Ministério da Educação precisa ter uma maior articulação com as secretarias estaduais.

Do Estadão

68% das escolas estaduais paulistas ficam fora do Enem

Porcentual é ainda maior nas unidades da rede instaladas na capital: 79% estão fora do ranking; secretário reconhece dificuldades

SÃO PAULO – A maioria das escolas da rede estadual de São Paulo não aparece na lista com as médias do Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) 2014 divulgadas nesta quarta-feira, 5, pelo Ministério da Educação (MEC). Das 3,6 mil escolas de ensino médio da rede, 68%, ou 2,4 mil, não tiveram mais da metade de seus alunos no exame – e são, em geral, unidades com indicadores de qualidade mais baixo. Esse porcentual é ainda maior nas unidades da rede na capital paulista: 79% estão fora do ranking.

O MEC não divulga as médias de colégios em que menos da metade dos alunos fez a prova. O dado revela que a rede pública tem dificuldade de estimular o aluno a fazer o exame. O Enem é a porta de entrada para praticamente todas as universidades federais, em que 50% das vagas são reservadas para alunos de escola pública pela Lei de Cotas. É ainda critério para bolsas do ProUni e Financiamento Estudantil (Fies) em instituições privadas. Ele é gratuito para quem é da rede pública.

O ranking do Enem, em que figuram no topo as escolas particulares, não contempla 52% das escolas públicas brasileiras – por não terem metade dos alunos fazendo o exame (escolas com menos de dez participantes também não aparecem). A situação é totalmente oposta na rede privada: somente 24% das 8,1 mil escolas do País não tiveram os dados divulgados.

No Estado de São Paulo, que tem a maior rede pública e também privada do Brasil, a situação é mais extrema. As 68% das escolas com menos da metade dos alunos no Enem representam 2.450 unidades. Esse porcentual só é menor que Roraima, Maranhão, Bahia e Acre.

O Estado de Minas Gerais, com mais de 2,2 mil escolas, conseguiu que 54% dos colégios tivessem participação de mais da metade dos alunos no exame. A rede lidera a média do Enem entre os Estados, com 585,10 pontos.

Qualidade. A rede estadual paulista ficou com nota 496,69 – sem contar as escolas técnicas ligadas ao Centro Paula Souza. Cruzamento com o Índice de Desenvolvimento da Educação de São Paulo (Idesp) mostra que as escolas com mais da metade dos alunos participando do Enem têm Idesp 36% maior do que as escolas que não garantiram essa participação.

Há uma correlação significativa entre a nota do Idesp e as médias das escolas no Enem, considerando que os dois indicadores têm objetivos diferentes. Um aluno de uma escola com Idesp alto tem mais chances de ir bem no Enem, assim como ocorre no inverso. Isso indica que, caso houvesse a participação das demais escolas estaduais, a média da rede no Enem seria menor.

O economista Sérgio Custódio, do Movimento dos Sem Universidade (MSU), afirma que é comum os alunos de escolas públicas de São Paulo não saberem da existência dos institutos federais e da Lei de Cotas e não cogitarem fazer o Enem ou outro vestibular. “O aluno não pode ser responsabilizado, não existe autoexclusão. As autoridades educacionais têm de dar o caminho”, diz. “Já cobramos do governo federal um plano de comunicação eficiente. Era preciso que a informação da Lei de Cotas tivesse capilaridade no chão das escolas públicas. É assim que pode haver o efeito indutor positivo que se espera das cotas na qualidade das escolas”.

Aluna do 3.º ano do ensino médio da rede estadual paulista, Natália Campanhã já desistiu de fazer o Enem neste ano. “Por causa da greve, não tivemos o conteúdo direito. Senti que não teria base para fazer a prova”, diz ela, de 16 anos, que estuda em um colégio na zona norte da capital. E Natália não está sozinha. “Vários colegas meus também decidiram não fazer”, acrescenta.

Herman Voorwald, secretário de Educação do governo Geraldo Alckmin (PSDB), reconhece que há dificuldades em estimular alunos de níveis socioeconômicos mais baixos. “Se o pai é alfabetizado, tem formação técnica ou superior, a educação passa a ser um valor trabalhado em casa. Há um menino com outras perspectivas.”

Segundo a pasta, a secretaria incentiva a inscrição e oferece conteúdos online de preparação para o Enem. A rede possui, em média, 415 alunos por escola matriculados no ensino médio, sendo cerca de 200 escolas com mais de mil alunos.

Voorwald ressalta que, em São Paulo, há mais possibilidades aos jovens que saem do ensino médio. “É um Estado diferenciado no sentido da oferta de trabalho, formação no ensino técnico e uma rede de universidades que dá ao menino outras opções além do Enem.”

Apoio. No Ceará, por exemplo, há ações de incentivo para a participação na prova, como custeio de transporte e hospedagem para alunos que moram em regiões afastadas. “Com mais estudantes no Enem, ficamos atrás de outros Estados na média geral. Mas queremos crescer nos resultados também com inclusão”, explica Rogers Mendes, coordenador de avaliação e acompanhamento da Secretaria de Educação cearense. O Estado também decidiu substituir uma prova interna da rede pelo Enem para avaliar o 3º do ensino médio. Só 6% das escolas não estão na lista do Enem.

Para Francisco Soares, presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas (Inep), que organiza o exame, deve haver maior articulação entre o MEC e as secretarias estaduais de Educação. “O ensino médio não consegue acolher os alunos como devia, temos esse desafio”, diz ele, que ressalta ações de publicidade do governo em relação ao Enem e as oportunidades que ele possibilita.  “A gente tem um sistema de propagandas, usa os espaços que o governo pode ter nas redes de televisão, vê tudo isso como uma política importante.”

O presidente do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), Eduardo Deschamps, também reforça que a baixa participação desse grupo no exame reflete os problemas do ensino médio. “Da forma que o ensino médio é organizado, o aluno não consegue sentir que mais etapas educacionais vão dar resultados significativos”, diz ele. “Se tivermos um bom ensino médio, vai ser natural que todos façam o Enem.”

O MEC registrou uma queda no número de inscritos no Enem deste ano. Passou de 8,7 milhões em 2014 para 7,7 milhões. O número de candidatos isentos, que envolve concluintes de escola pública e candidatos carentes, também foi menor na comparação com o ano anterior. Neste ano, são 1,9 milhão de inscritos, contra 2,3 milhões no ano passado.

Os dados divulgados pelo Inep indicam que, entre o total de inscritos, 1,6 milhão estão no 3º ano do ensino médio. Mas o órgão não diferenciou quantos destes são de escola pública. Ao todo, o País tem cerca de 2,2 milhões de jovens no último ano do ensino médio.

Cerca de 1,6 milhão de jovens de 15 a 17 anos, que deveriam estar cursando o ensino médio, estão fora da escola. Somente 16,5% dos jovens brasileiros de 18 a 24 cursam ou já cursaram uma universidade. O Plano Nacional de Educação (PNE) tem como meta subir esse indicador a 33% em dez anos.

Redação

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