Poeira Cósmica: evocação de Stephen Hawking

Por Jean Pierre Chauvin
 
 

Imagem relacionadaApós algumas tentativas, finalmente comecei a ler Brief History of Time ontem. Arrisquei-me a fazê-lo em Inglês, como forma de ampliar meu parco vocabulário e me embrenhar um pouco melhor na mecânica dessa língua. Dois fatos de interesse: a primeira edição remonta a trinta anos (1988); a linguagem empregada pelo físico direciona-se ao grande público. É um ótimo exemplo do que se convencionou chamar obra de divulgação científica.*

 

Aristóteles, Ptolomeu, Galileu, Copérnico, Kepler, Newton, Einstein, Hubble e Popper (mas também, Santo Agostinho, Immanuel Kant e Charles Darwin) são alguns dentre os nomes evocados pelo autor. Da nossa perspectiva, isso permite posicioná-lo como um herdeiro do que outros supuseram, ao longo dos milênios. Da perspectiva de Hawking, a companhia dessas mentes privilegiadas implica discutir questões como o início arbitrário ou modelar do universo, supondo-se – como dissera Agostinho – que o tempo, como se conhecia no século V, também fosse criação de Deus (ou, pelo menos, que a cronologia humana tivesse nascido com a onipotência divina).**

A concepção aristotélica de que os corpos celestiais fossem fixos no espaço, dispostos esfericamente a intervalos regulares, tendo a Terra como ponto central; a hipótese kepleriana de que os astros se moveriam de forma elíptica; a teoria, proposta por Edwin Hubble, de que o universo continuava a se expandir – ao menos, até 1929 (1. sim, data em que se deu o crack na bolsa de NY, como aprendemos nas melhores escolas desta Neocolônia; 2. ano em que um grupo de jovens historiadores se agrupou em torno da Revue des Annales e ajudou a reformular a concepção de passado e, portanto, à sua maneira, interferiu na reescrita do tempo).

Situado entre a Teoria da Relatividade e a Mecânica Quântica, Stephen Hawking propunha-se a sintetizar ambas as teorias (necessariamente parciais), em busca e um terceiro modo de conceber o universo (ou multiversos). Um dos saldos da leitura está em testemunhar a humildade e o bom humor do cientista, ao discorrer sobre o que poucos entendem.

Sob essa perspectiva, talvez fosse leitura recomendável a todos os alunos e pesquisadores que costumam ter desmedido orgulho de suas teses, títulos e certificados e nem sempre reconhecem o papel de seus mestres, dentro e fora da sala de aula.

 

*Em 1993, Jean-Michel Jarre dedicou o álbum Chronologie a Stephen Hawking.

**”They would say that God, being omnipotent, could have started the universe off any way he wante. That may be só, but in that case he also could have made it develop in a completely arbitrary way. Yet it appears that be chose to make it evolve in a very regular way according to certain laws. It therefore seems equally reasonable to suppose that there are also laws governing the initial state” (Stephen Hawking, A Brief History of Time: from the big bang to black holes. 3rd ed. London: Bantam, 1996, p. 13).

 

Redação

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