Questionamento da tese da Academia ser o único paradigma do saber, por Jorge Alberto Benitz

O rigor acadêmico pode contribuir como filtro para desautorizar obras e ideias, mas a academia não é infalível nem o único caminho do saber

Imagem de Lubos Houska por Pixabay

Questionamento da Tese da Academia Ser o Único Paradigma do Saber
Por Jorge Alberto Benitz*


A professora de Sociologia da USP, Angela Alonso, a quem respeito, ao criticar Olavo de Carvalho no artigo intitulado “O Anti-Intelectual” defendeu o cânone acadêmico como o único meio capaz de legitimar o saber. Fora dele, a julgar sua “opinião”, só se produz opinião não conhecimento.

Posso estar forçando a barra, pois sua reflexão no artigo é totalmente voltada para analisar o papel de Olavo de Carvalho que se autodenominou filósofo. Só que com Freud aprendemos que os atos falhos, os tiques, e mesmo as opiniões externadas, podem revelar outros sentidos.

No caso ouso dizer – corro o risco de estar enganado – que ela pode ter “atirado no padre e acertado na igreja”, isto é, desqualificou a todos que não passam pelo crivo do método acadêmico considerado o único caminho do saber sério, responsável e dotado de rigor cientifico capaz de sanciona-lo como conhecimento e não mera opinião de não acadêmicos.

Realmente, no caso de Olavo de Carvalho, ela acerta ao apontar que suas pretensas reflexões filosóficas não passam de maniqueísmo ideológico. Entendo que Olavo de Carvalho se enquadra mais como propagandista ideológico, como já disse no artigo “Olavo de Carvalho, Steve Bannon, propagandistas ideológicos apenas”,  publicado no Jornal GGN: “O negócio deles não é do terreno da razão. É totalmente voltado para a manipulação de emoções através da deturpação de fatos, difamação, desinformação e mentiras em benefício de suas convicções ideológicas. Se algum argumento racional for por ventura utilizado é mais por oportunismo do que por busca da verdade via razão. . Para eles serve como uma luva a acusação de Sócrates aos sofistas: O trabalho deles é do terreno da persuasão e não da razão”.

Com certeza, o rigor acadêmico contribui como importante filtro para desautorizar obras e ideias desqualificadas. Não me incluo entre os inimigos da Academia. Ao contrário, sou leitor de obras, inclusive teses, acadêmicas que considero terem sido e continuam sendo fundamentais na minha formação intelectual e cultural.

No entanto, depreendo que a academia não é infalível nem o único caminho do saber. Aliás, muitos seguidores de Olavo de Carvalho e de Bolsonaro, por tabela – da área das ciências humanas, inclusive -, tem diploma de doutor, pós-doutor e para isso, defenderam teses acadêmicas. Com o máximo rigor, suponho.

*Jorge Alberto Benitz é engenheiro e escritor.

Este texto não expressa necessariamente a opinião do Jornal GGN

Redação

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  1. Anotações sobre estufas, teoria e prática, vida

    Nas estufas, pássaros pipilam e fazem seus cocozinhos no canto adequado.

    Sinos bimbalham nas estufas e são lindos os sons dos sinos.

    E vicejam as teorias floridas e as consignas descoladas.

    Tudo sob controle: temperatura e umidade, insolação e aeração, em níveis sempre adequados.

    Não há erros nas estufas, teorias e consignas estão sempre cheirosas, limpas e apresentáveis, e como são revolucionárias!

    Logo ali adiante, nas quebradas, cimento sujo, esgoto a céu aberto, telhas quebradas, o vento uivando, o pó entrando.

    As teorias floridas e as consignas descoladas, antes tão cheirosas, empacam seus costados na aridez da realidade, na sordidez da realidade, na fedorenta realidade.

    Passam fome as teorias floridas e as consignas descoladas, a água é turva e a comida é meio rala e, no mais da vezes, morrem de espanto.

    Há quem aprenda com a sujeira dos erros, com o fedor dos recuos, com a aspereza da vida, e permita que as teorias perfeitas e as consignas sedutoras sejam, afinal, contaminadas pela vida.

    Teorias devem ver-se assim, ou deveriam ver-se assim e há quem permita que teorias perfeitas sejam lambuzadas pela porra da vida.

    Mas há quem insista em viver debaixo de estufas.

    Eis-me aqui admitindo meus erros, eis-me aqui vivo, cabeça erguida, eis-me aqui encarando, olho no olho, meus filhos e netos.

    Não é muita coisa minha modesta militância, mas é o que tenho, e os que vivem nas estufas terão sempre acolhida aqui em casa, mesmo que não me queiram nas suas.

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