O governo deveria estar preocupado com a falta de representatividade

Por chris

Comentário ao post “a visão de mestre Wanderley sobre o novo e as manifestações de junho”

Foi sim, Nassif, como você diz, uma “manifestação difusa de insatisfação como sinal de esgotamento dos canais convencionais”. Ficar insistindo na afirmação de que foi uma tentativa de golpe e manipulação da mídia é querer tampar o sol com a peneira por despreparo de lidar com essa realidade. Não conseguem analisar o fenômeno, logo assimilam a teoria da conspiração como fato e, o pior, não se preparam para o que está por vir.

A tentativa de manipulação aconteceu sim, mas foi depois, basta ver a mudança no tom dos noticiários bem no início das manifestações, em que, repentinamente, o termo “vândalo” foi substituído por “manifestante”. Agora, é óbvio que daqui em diante não perderão a oportunidade de usar todos os meios de manipular… mas o foco não é esse e, para quem não quizer perder o bonde da história, o foco deve ser a origem da insatisfação, não as tentativas do uso politiqueiro dela. Vocês viram as propagandas recentes da Globo sobre a credibilidade das notícias? Pois é, eles perceberam o ponto fraco e já partiram para a ação. Vence quem se prepara melhor, definindo e executando uma estratégia.

O governo deveria estar mais preocupado com o “esgotamento dos canais convencionais”. Falta de representatividade (e é essa a questão) é perigoso, dá margem ao surgimento dos “salvadores da pátria”. Essa insatisfação silenciosa não é coisa nova, vide a expresiva votação de Marina Silva no primeiro turno das últimas eleições. O que quer quem votou em Marina? Se iria conseguir são outros quinhentos….  Agredir e desfiar um rosário de acusações contra Marina não irá suprir a lacuna de expectativas de quem vota nela, muito pelo contrário, só a argumentação em bom nível pode combater – argumentar, ouvir, ceder, compor ao invés da agressão burra e surda.

Os “clientes” de Dilma deveriam estar satisfeitos com o pleno emprego, não é? Então, pensando como os Titãs vocês deveriam perguntar  “Vocês tem fome de quê? Vocês tem sede de quê?”

Luis Nassif

8 Comentários

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  1. Confusão conceitual.

    Prezados, 

    Este debate é como um vício. Não dá para parar de pensar temas tão desafiadores.

    Vejamos o que coloca a Chris:

    O governo deveria estar mais preocupado com o “esgotamento dos canais convencionais”. Falta de representatividade (e é essa a questão) é perigoso, dá margem ao surgimento dos “salvadores da pátria”. Essa insatisfação silenciosa não é coisa nova, vide a expresiva votação de Marina Silva no primeiro turno das últimas eleições. O que quer quem votou em Marina? Se iria conseguir são outros quinhentos….  Agredir e desfiar um rosário de acusações contra Marina não irá suprir a lacuna de expectativas de quem vota nela, muito pelo contrário, só a argumentação em bom nível pode combater – argumentar, ouvir, ceder, compor ao invés da agressão burra e surda.

    É engraçado que há uma oscilação conceitual no que defende a Chris, e outros como, o próprio editor do blog.

    Ora eles nos dizem que o ativismo digital, a fluidez informacional, enfim, o ambiente “novo” traz novos desafios ao governo e as formas arcaicas de luta e repercussão política.

    Ora eles afirmam que o governo não sabe identificar estas novas formas, e interage mal com elas, e que a prova disto é a perplexidade do governo (mas não foi de todos nós?) frente as manifestações de junho de 2013.

    Por fim, mesmo sem saberem definir bem o fenômeno, já o colocam de antemão como uma ameaça ao capital político do governo e das forças tradicionais de representação.

    Um governo com índices de aprovação altos, com sua presidenta como franca favorita nas próximas eleições e com seu partido como o mais admirado pelos eleitores (37%), e que tem ex-presidente com a popularidade de Lula, todos eles (governo, Dila e Lula) acossados por ataques diários da mídia pode ser questionado em que aspecto da manutenção de sua representatividade ou sua comunicação social?

    É certo que tem que se preocupar com toda manifestação, é verdade, mas onde está o fim do mundo?

    Creio que o pessoal está confundindo apoio popular, base social com carneirismo. Não é bom que parte (ainda que minoritária, branca e coxinha) da sociedade se mexa e reclame?

    Em que isto ameaça o governo?

    No caso da Marina (que eu não sei onde entrou neste post), a Chris mistura um fenômeno permanente, uma lacuna histórica do eleitorado brasileiro e força a barra para reificá-lo na Marina. Ora, tanto para Marina, Garotinho, Ciro, tantas outras eleições mantiveram um espaço do centro, para corresponder a estratos médios da sociedade brasileira.

    A resposta para a sua pergunta (“o que quer quem votou em Marina?”) eu ouso responder: Não quer nada, quer a anti-política, simplesmente porque a ausência nela (Marina) de qualquer substrato político, além dos slogans de higienismo moralista, revela que o seu eleitor busca um mundo onde o confronto ideológico não exista, algo messiânico e que reflete a imagem que a moça faz de si mesma.

    Assim como foi Garotinho, e de certa forma fazia o Ciro, com muito mais estofo é verdade.

    Voltemos ao tema da Chris.

    O governo deve estar preocupado com o esgotamento dos canais, mas o que temos que saber é que a ação de governo tem LIMITES, inclusive para destravar estes canais, porque é a ação de forças políticas que os entopem, e não (só) a omissão governista ou a providência divina.

    A insatisfação generalizada, seja mais a esquerda, seja mais a direita, seja querendo se dizer neutra, é fruto do funcionamento de uma instância que os governos, sejam aqui ou em Washignton, não controlam.

    Este campo político amorfo ideologicamente que vaga pelas ruas está em disputa, e não será o governo que dará conta de fazê-lo, até porque, a seu lado, o governo já conta com a representatividade que lhe satisfaz, ou seja, entre 55 a 60% dos votos que lhe confere a maioria necessária para continuar seu trabalho.

    Este é um trabalho dos PARTIDOS e do MOVIMENTO SOCIAL.

    O tom catastrofista não repercute a realidade orgânica, pois estratos silenciosos e muito mais numerosos ainda se reconhecem no governo e nos partidos de sua base, o que não quer dizer que o governo deva esquecer sua interlocução com as ruas.

    Mas para haver interlocução, o que está na rua tem que se apresentar de alguma forma, e não como uma turba instável e incontrolável.

    Governos não interecedem junto a turbas, a não ser para rerpimí-las, caso seja preciso.

    Chamar de “clientes” os partidários do governo ou beneficiários de algum programa do governo, ainda que entre aspas, já revela um traço de preconceito no debate.

    Os “clientes” da Dilma não querem só água e comida, e estes “clientes” que não estão nas ruas, nem por aqui, em blogs, estão satisfeitos não só com empregos, mas com escolas, universidades, saneamento, transposição do São Francisco, bolsas no exterior, aumento real de salários e renda, casa própria, vale cultura, Mais Médicos, e até a “desprezível” Copa do Mundo, porque afiinal, um poquinho de “circo” também conta, ou não?

    Saudações. 

    1. Prezado Obelix,
      Eu não vejo

      Prezado Obelix,

      Eu não vejo nada de novo nessas manifestações, foi só mais um modismo oriundo do estrangeiro: marcar manifestação pelo facebook. Tanto que já se esgotou. Conheço muita gente que foi nessa só por modinha.

      Também deve-se reconhecer que nunca faltou esse anseio por salvadores da pátria na história brasileira. Hermes da Fonseca, Jânio Quadros, Collor, Marina são figuras recorrentes na Democracia brasileira, resultado da fragilidade das instituições que não permitem ao eleitor instrumentalizar sua vontade.

      O voto Marina, menos que o voto de protesto, é o voto de quem deseja lavar as mãos. Ninguém votou em Marina achando que ela fosse ser eleita, votaram pra dizer que não apoiavam nem o PT, nem o PSDB.

      Mas, no questio insatisfação, acho que se deve a dois motivos principais:

      1) O eleitor tradicional do PSDB finalmente está acordando para a incompetência desse partido, cujo único discurso é a pregação do ódio ao PT(lembrando que, mesmo com tudo isso, Alckmin tem 47% das intenções de votos em SP, o que denota a resistência incompreensível do eleitor tucano, assim como é incompreensível que Maluf continue sendo eleito em SP);

      2)A insatisfação do petista militante com o pragmatismo adotado pelo governo, seja em termos de bandeira, seja em termos do mero oportunismo de políticos oportunistas, como Paloccis, Mentores, Mercadantes, Suplicys da vida. Vi poucos petistas com mandatos denunciando as arbitrariedades cometidas pela AP 470, mas já vi muitos desses petistas entrando no embalo da mídia e atacando aliados e mesmo outros petistas(Marta Suplicy nem se manifestou sobre os descalabros da AP 470, mas rapidamente chamou de tolo os autores do desabafo contra Eduardo Campos).

  2. “A tentativa de manipulação

    “A tentativa de manipulação aconteceu sim, mas foi depois”

    O autor do texto nunca deve ter sido sindico de um prédio ou diretor de alguma associação de moradores.

    Caso contrario saberia como é dificil convocar a presença de pessoas, mesmo para se manifestar por assuntos que lhes afetem diretamente.

    As “revelações” do Snowden vão mais longe que denuncias sobre escutas telefonicas.

    Apontam como as novas ferramentas virtuais são capazes de provocar “primaveras” inesperadas, pelos quatro cantos do mundo, enfraquecendo e derrubando governos inconvenientes..

    Insatisfação é o que não falta numa sociedade, sobretudo,  como a brasileira.

    Ate os ricos reclamam.

    Agora, essa historia de que milhões de pessoas sairam, “espontaneamente”, na mesma hora, as ruas é mais improvavel que encontrar um bilhete da mega sena premiado na mesa de um bar.

    1. Estatística?

      E desde quando estatística prova alguma coisa? As pessoas não saíram espontaneamente, elas foram inicialmente convocadas via face pelo tal movimento passe livre. Tudo facilmente rastreável pela PF, duvido que não tenham investigado. Se há crime (incitação ao golpe), há culpados, indícios, provas, processo… dê nome aos bois!

      Meu filho participou de algumas manifestações aqui no Rio, conheço pessoas que participaram. Cada um tinha seu motivo. Mesmo se houvesse incitação, ela só funcionaria se as pessoas já estivessem previamente insatisfeitas. Não está no nosso alcance coibir as tentativas do governo norte americano de se meter nos nossos assuntos, mas podemos ser pró ativos e encarar toda essa insatisfação antes dela ser usada contra nós. Não adivinhem, perguntem, façam uma pesquisa nas universidades, nas escolas, para saber o que levam as pessoas para rua e quais as propostas que elas podem oferecer. As pessoas que foram, adoraram participar, e isso tem que ser incentivado, não temido. Está faltando capilaridade.

      1. 1.”As pessoas não saíram

        1.”As pessoas não saíram espontaneamente, elas foram inicialmente convocadas via face pelo tal movimento passe livre.”

        Que uma centena de pessoas foi convocada “pelo face” pelo movimento passe livre todo mundo sabe.

        O que não se conhece foi como milhares de outras também “saíram as ruas”, a mesma hora, no mesmo local, para protestar “contra tudo e contra  todos”. 

         

        2.”Tudo facilmente rastreável pela PF, duvido que não tenham investigado. Se há crime (incitação ao golpe), há culpados, indícios, provas, processo… dê nome aos bois!”.

        Os nossos sistemas de segurança não conseguem “rastrear” nem a espionagem no telefone do presidente da Republica.

        “Dar nomes aos bois”?

        Quem sou eu para isso, quando nem nossos ministros o fizeram.

        O máximo que posso fazer é ler com atenção e estranhar que milhares de egípcios foram “convocados pelo face” para “sair as ruas” e derrubar um presidente.

        Derrubaram o presidente, elegeram outro, logo derrubado por militares.

        E o “face” parou de “convocar”.

         

        3.”Mesmo se houvesse incitação, ela só funcionaria se as pessoas já estivessem previamente insatisfeitas.”

        Em relação a isso estamos de acordo.

        Essas novas ferramentas virtuais ainda não são capazes de fazer as pessoas sairem como sonâmbulos as ruas. Chegara esse dia.

        No momento precisam de uma “insatisfação”.

        E no Brasil, ate rico esta “insatisfeito”. Não pode acelerar a sua Ferrari, porque o congestionamento não deixa.

        4.”Não está no nosso alcance coibir as tentativas do governo norte americano de se meter nos nossos assuntos, mas podemos ser pró ativos e encarar toda essa insatisfação antes dela ser usada contra nós.”

        “Coibir” as ações de um pais capaz de espionar os telefonemas e emails de bilhões de pessoas pelo mundo não deve ser mesmo muito facil.

        Mas não custa nada observar com atenção que o “face” esta sempre “convocando” em determinadas situações. Em outras não. E o que não falta é “insatisfeito” pelos quatro cantos do planeta.

  3. Existe sim o pensamento de derrubada das urnas, não nas urnas

    Não se trata de ficar insistindo. O sentimento de algo deve ser “feito” para impedir a vitória de Dilma não é uma balela e tive hoje, durante um almoço intragável, coisas do tipo: “Lula é Diabólico”, “Existe um movimento para transformar o Brasil em Venezuela e Argentina”, “O filho do Lula é o sexto homem mais rico do mundo..sai na Forbes”, “O lula foi condenado em Portugal a devolver 3 milhões de reis aos cofres públicos”, “O lula é bilionário”, “Esses dias o Lula comprou um jatinho”…E assim foi minha gente. Mas eu tenho que dizer, minha esposa teve orgulho de mim, que me contive e ainda concordei com o representante do mais puro ódio. Ele babava ao falar da esquerda. Direitos humanos? Tudo coisa da esquerda quer é “ajudar cracudo”. Gente. foi duro, foi duro demais ouvir aquelas coisas parcialmente calado. Eu percebia que não dava para dialogar. O ódio era tanto que até as outras pessoas da mesa perceberam os impropérios, ninguém deu bola. O mais interessante que ao ser questionado sobre onde ele tinha lido as noticias sobre Lula, e olha que nem foi eu quem o questionou, o senhor desviou o assunto dizendo que leu em “algum site”. As afirmações dele era que o Brasil está esquerdizando: rolezinho etc. Que estava dando emprego pra “cracudo” em SP. Segundo ele só havia um jeito: “Queimar tudo e partir para a violência”. Só assim, começando do “zero” é que o Brasil pode resolver. Cara foi duro pessoal. Foi duro, parecia uma experiência de combinação genética netre Rodrigo Constantino, Mainardi, Reinaldo Azevedo, Olavo de Carvalho, Lobão, e Jabor.

    Em todo momento, minha esposa me olhou segurou na minha mão e me apertou. Aquele aperto foi de: se segura porque não vale a pena. Sinceramente, ele não é o único que tem esse pensamento. Logo a “paranoia petista” de golpe faz todo o sentido uma vez que as urnas estão sendo questionas em uma Democracia..faz sentido?

    1. O mesmo ocorre aqui no sul

       

      É isto Francy,

      Sem remover uma vírgula do seu texto, posso transportá-lo e aplicá-lo para quaisquer casas, empresas, igrejas, bares ou restaurantes aqui de Santa Catarina.

      Sinto que o governo Lula/Dilma fizeram muito por este país, mas os brasileiros não sabem disto… pelo menos os sulistas. Os petistas, que eram para defender o governo com faca na boca, sumiram. Não estão nos blogs, no Face, nas ruas… sei lá. Claro que não vamos esperar nada dos PMDBistas, pois para estes, qualquer partido que vencer as eleições, eles “estão dentro”.

       

       

  4. “Vocês tem fome de quê? Vocês tem sede de quê?”

     

    “Vocês tem fome de quê? Vocês tem sede de quê?”

     

    Tenho fome e sede de justiça, uma das bem-aventuranças do Evangelho, o que muiiito mais do que minha casa, meu carro ou minha bolsa familia.

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