Gilberto Maringoni
Gilberto Maringoni de Oliveira é um jornalista, cartunista e professor universitário brasileiro. É professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC, tendo lecionado também na Faculdade Cásper Líbero e na Universidade Federal de São Paulo.
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Onde está o centro? Tudo que é ar se desmancha no sólido, por Gilberto Maringoni

Onde está o centro? Tudo que é ar se desmancha no sólido

por Gilberto Maringoni

A nova pesquisa CNT/MDA confirma um quadro tendencial de mais de oito meses: Lula, mesmo preso, segue favorito, com 32,4% das preferências. Há um elemento a ser levado em conta: o petista está trancafiado na PF em Curitiba há quarenta dias. Ou seja, consolidou-se a ideia de que ele é um condenado da justiça. Mesmo assim, o eleitor não desiste de sua intenção. É algo inédito em campanhas presidenciais.

A mesma sondagem mostra que a credibilidade do judiciário roça o chão. Entre os consultados, 52,8,% consideram o poder judiciário pouco confiável; 36,5% nada confiável; e 6,4% muito confiável. Para 90,3% a Justiça brasileira não age de forma igual para todos. Ou seja, quem condena Lula não tem moral alguma para fazê-lo, diante da opinião pública.

Curioso o levantamento. De todos os 15 postulantes arrolados no cenário principal, apenas Lula, Ciro, Boulos e Manuela posicionaram-se firmemente contra o golpe. Os outros onze – Jair Bolsonaro, Marina Silva, Alckmin, Alvaro Dias, Collor, Temer, Amoedo, Flavio Rocha, Henrique Meirelles, Rodrigo Maia e Paulo Rabello de Castro – apoiaram o tapetão institucional. Ou seja, a direita toda está aí reunida.

ONZE EM CADA DEZ cientistas políticos entrevistados pela grande mídia costuma falar que o grande déficit democrático brasileiro é materializado pela explosão do que se convencionou chamar de “centro”, posição equidistante entre direita e esquerda. O centro seria representado pelo PMDB que, ao abraçar a tramoia de dois anos atrás, teria se deslocado para a direita, deixando um vácuo no meio do espectro político e tirando de cena quem fizesse o papel de ponto morto do câmbio; isto é, de quem transitasse entre todas as variáveis, construindo entendimentos, maiorias e até consensos, essenciais ao jogo democrático.

É muito difícil considerar o PMDB como centro, mesmo antes do impeachment. Basta acompanhar as votações e as causas que patrocinou para ver que a antiga agremiação do dr. Ulysses há muito bandeou-se para o conservadorismo aberto. Entre essas questões estão o Código Florestal, a oposição ao combate à homofobia, as políticas de Sérgio Cabral e companhia etc.

O CENTRO REAL, que cumpre as tarefas de intercomunicação entre todas as forças, é outro. Quem desempenhou tal papel, por suas posições ao longo de 13 anos, pela política econômica liberal e contracionista e pela política fiscal expansiva em alguns momentos, pelos freios colocados em agendas democratizantes, como mídia, lei de Anistia,combate à homofobia, por não ver nenhum problema em abraçar uma recessão destinada a deprimir o custo do trabalho quando julgou necessário, apesar de ter investido em sua expansão em tempos de vacas obesas, entre tantas outras variáveis, foi o PT.

No presidencialismo de coalizão – ou seja, na institucionalidade da Carta de 1988 – é o centro quem dá as cartas nas composições de maiorias congressuais. E não se governa com estabilidade sem a formação de maiorias.

O que Ciro tenta disputar com a agremiação lulista não é a esquerda, mas o centro. As candidaturas claramente à esquerda são as de Boulos, Manuela, além da indicação do PSTU.

O QUE ISSO SIGNIFICA? Que a direita não quer a emergência de uma força capaz de realizar uma nova pactuação interclasses. Para usar um linguajar mais ao rés-do-chão – próprio de setores ensandecidos da esquerda -, a direita não quer mais a conciliação de classes. (Já escrevi aqui que tal proposição só pode ser alcançada com algum tipo de ditadura. Se um partido de esquerda chega ao poder e não coÍbe imediatamente a propriedade privada – o maior interesse da burguesia – a conciliação está dada. O não à “conciliação de classes” também atende pelo nome de “negação da política”.

A direita não quer o centro, neste momento. E por que? Porque ali está a força – na visão da direita – que pode atrasar a implantação das reformas julgadas urgentes para a nova fase do capitalismo internacional, o da competição por empresas com uso intensivo de mão de obra. A teoria – deles – indica ser inviável buscar atrair para cá empresas de ponta, com o aumento da automação e da revolução robótica, que usam ao mínimo o trabalho humano. Nosso diferencial, na industrialização do século XX, foi oferecer força de trabalho barata e abundante – barata porque abundante – para a nata das empresas fordistas.

ESSA FASE ACABOU. O possível é trazer para cá empresas produtoras de mercadorias com baixo valor agregado – têxteis, materiais esportivos, maquiladoras -, voltadas ao extrativismo e ao agronegócio. Isso é para já, senão – em sua leitura – o país afunda. Assim, urge aprovar toda a pauta já em andamento,além da reforma trabalhista e da PEC do congelamento dos gastos. Falta a Previdência e a transformação final das forças armadas em órgão de repressão interna.

O centro não fará isso com a celeridade buscada pela direita. Daí o impedimento de Lula, que sempre negociou quase todas as pautas. Daí o não à conciliação com os trabalhadores, daí o veto às marolas.

No atual momento, a direita que se apresenta como centro elegeu o centro real como seu pior inimigo. Está tendo alguma dificuldade em se articular de forma eficaz para fazê-lo.

Os altos índices de intenção de voto de Lula não devem iludir os setores progressistas. Tratam-se de intenções de voto e não de intenção de rebelião. Não é força capaz de ir à rua, mas uma adesão passiva ao ex-presidente. A equação montada é até quando o contingente apoiador do ex-metalúrgico se manterá fiel a ele?

Difícil saber. O que se sabe é que o PT vai de Lula porque não tem alternativa até aqui.

Gilberto Maringoni

Gilberto Maringoni de Oliveira é um jornalista, cartunista e professor universitário brasileiro. É professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC, tendo lecionado também na Faculdade Cásper Líbero e na Universidade Federal de São Paulo.

14 Comentários

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  1. Quanto menor a quantidade de mão-de-obra, menos consumidores

    O maior problema do capitalismo não é a produção, mas a distribuição da riqueza, a qual encalha por falta de demanda efetiva. Como os consumidores dos produtos e serviços capitalistas são em sua maioria esmagadora da classe trabalhadora, isto quer dizer que quanto menos se utiliza mão-de-obra no processo de produção da riqueza, menor a demanda efetiva para os produtos e serviços da burguesia.

    No que diz respeito à transformação final das forças armadas em órgão de repressão interna, veja-se o que disse Paul Lafargue no década de 80 do século XIX:

    “Já não se podem ter ilusões sobre o caráter dos exércitos modernos, são mantidos em permanência apenas para reprimir “o inimigo interno”; e assim é que os fortes de Paris e de Lyon não foram construídos para defender a cidade contra o estrangeiro, mas para a esmagar no caso de revolta. E se fosse preciso um exemplo sem réplica, citemos o exército da Bélgica, desse país de Cocagne do capitalismo; a sua neutralidade é garantida pelas potências européias e, no entanto, o seu exército é um dos mais fortes em proporção da população. Os gloriosos campos de batalha do bravo exército belga são as planícies do Borinage e de Charleroi, é no sangue dos mineiros e dos operários desarmados que os oficiais belgas ensangüentam as suas espadas e ganham os seus galões. As nações européias não tem exércitos nacionais, mas sim exércitos mercenários, que protegem os capitalistas contra o furor popular que os queria condenar a dez horas de mina ou de fábrica de fiação”.

  2. receita para a destruição

    O CENTRO REAL, que cumpre as tarefas de intercomunicação entre todas as forças, é outro. Quem desempenhou tal papel, por suas posições ao longo de 13 anos, pela política econômica liberal e contracionista e pela política fiscal expansiva em alguns momentos, pelos freios colocados em agendas democratizantes, como mídia, lei de Anistia,combate à homofobia, por não ver nenhum problema em abraçar uma recessão destinada a deprimir o custo do trabalho quando julgou necessário, apesar de ter investido em sua expansão em tempos de vacas obesas, entre tantas outras variáveis, foi o PT.

    Esta ai , didaticamente explicado, como ao perder s sua origem, o PT se materializou nesta coisa amorfa, obesa e lenta.

    Como cereja do bolo teve uma presidenta que fez a política economica preconizada pelo seu adversário e dirigida pelos representantes do setor rentista e esqueceu , de forma oportunista daqueles que lhe deram outrora forma e um rumo.

    E viva o republicanismo caolho!

    1. Paulo ignora as classes sociais e a luta encarniçada entre elas

      O Paulo F. acha que o PT estava no poder, e não no governo. Ele confunde a parte com o todo. Acha que o poder executivo federal é o poder. Esqueces os poderes executivos estaduais e municipais, esquece os poderes legislativos federal e estaduais e esquece o judiciário, todos contra a melhoria de vida dos trabalhadores e a favor de que os ricos enriqueçam cada vez mais às custas do trabalho da classe operária.

      Em decorrência da confusão entre governo federal e poder, e em razão de esquecer que a sociedade é dividida em classes que lutam entre si encarniçadamente pelo poder econômico e político, que o Paulo F. afirma que:

      “Por não ver nenhum problema em abraçar uma recessão destinada a deprimir o custo do trabalho quando julgou necessário”.

      Para o referido comentarista, o fascismo triunfa não porque a classe que parasita os trabalhadores é mais forte e poderosa, mas por falta de vontade política dos governos. É um cabaço político.

      É claro que o PT poderia ter avançado um pouquinho mais do que avançou. Mas o Paulo acha que o PT poderia ter promovidos avanços sociais medidos em anos-luz.

      1. Rui Ribeiro ignora os 13 anos do PT

        O Rui Ribeiro esquece que, enquanto o PT foi governo, fez exatamente aquilo que criticava de seus adversários.

        Fez alianças políticas questionáveis, fez rentismo e política para um determinado grupo, assim como sempre culpou os outros, quando os problemas estouraram em suas mãos, não sendo capaz de reconhecer erros e propostas que poderiam atender a todos.

        Você é como muitos aqui, que apontam uma elite que quer a todo custo manter seu status quo e que vitimiza a esquerda, por não conseguir promover as mudanças exigidas, esquecendo que o mundo não se define a partir de uma ótica simplista marxista de Luta de Classes, um termo já ultrapassado, mas que ainda vigora na mente de muitos aqui.

        O mundo político e econômico é muito mais complexo do que dizer que “(…) poderes executivos estaduais e municipais, esquece os poderes legislativos federal e estaduais e esquece o judiciário, todos contra a melhoria de vida dos trabalhadores e a favor de que os ricos enriqueçam cada vez mais às custas do trabalho da classe operária.”

         

        1. Dionizio acha que era possível reverter 500 anos em 13 anos

          Então, Dionizio, você acha mesmo que era possível reverter 500 anos de atraso em 13 anos?

          Quer dizer que o rentismo e a política para um minúsculo grupo de privilegiados inexistiam antes do PT, tendo sido o PT que os deu à luz?

          Dionizio, você é outro cabaço político e muito pior do que o Paulo F. Você acha que o PT, que estava no governo e não no poder, não reverteu 500 anos de atraso em 13 anos, porque não quis, e não porque a classe parasita é que domina.

          Você acha que a sociedade NÃO está dividida em classes ou acha que ela é divida em classes mas que não há luta, mas fraternidade, entre elas?

        2. De fato, não existe luta de classes no Brasil

          De fato, o termo luta de classes perdeu sua atualidade no Brasil, pois aqui não há mais luta de classes, o que há, aqui, é o massacre da classe expropriada e, portanto, despossuída pela classe expropriadora e detentora dos meios de produção, isto é, pela burguesia.

      2. Caro Rui

        O sangue nos olhos turva a visão. E não é  desclassificando quem critica (procedimento eminentemente facista) que a questão se fecha.
        A afirmação não é minha é do autor do post, Gilberto Maringoni. Eu apenas concordei com a mesma e a achei muito didática.
        O PT esteve sentado no Planalto por 3 mandatos e meio. Tinha popularidade e boa base de apoio.  Assistiu de forma bovina a 470 e o processo contra Dilma.   Preferiu afagos à grande mídia  que uma posição assertiva em a regular.
        Paga o preço até hoje!
        Não acredito que a oposição feita  aqui em Pindorama seja menor do que a  que ocorre na Bolivia ou na Venezuela.  Mas  o que acontece aqui esta mais para o script de Honduras ou do Paraguai.   Somos um pais cindido.   
        O problema ´maior é que boa parte do restou do PT tem uma visão distorcida de sí mesmo e  almeja ter um protagonismo que não  possui mais e  recusa-se a  olhar em volta e reavaliar de forma realista, sem legitimar o seu algoz, preferindo  o desprezo aos que poderiam  ajudar a sair do marasmo em que ele mesmo se enfiou.. E muito mais fácil agir pelo sebastianismo e debitar a conta do fracasso nos outros…..

         

  3. Mas deixará de ser fiel a

    Mas deixará de ser fiel a ele, para ser fiel a quem? Pelo que vemos aos brancos e nulos. 

    A verdade é que o eleitor dele é fiel a si mesmo. Só em Lula vê alguém capaz de defender os interesses da maioria do povo.

  4. Eu acho engraçado como o

    Eu acho engraçado como o investimento interno e o mercado interno são sempre ignorados nessas patéticas avaliações econômicas dos “economistas” brasileiros, como se o Brasil fosse um imenso vazio que só empresas estrangeiras poderiam preencher com fábricas (investimentos) e pessoas (mercado consumidor).

    Ou o final do plano seria liquidar 90% da população brasileira e só deixar o mínimo necessário para cuidar das plantações?

  5. Parafraseando o Rui Costa

    Parafraseando o Rui Costa Pimenta, “é Lula ou nada”.

    Se o Lula não disputar o voto nulo deve vencer por uns 60%.

    O segundo colocado será o Bolsonaro que provavelmente será presidente com 20% dos votos válidos.

     

    1. Boa sorte votando nulo

      Acho engraçado estas justificativas, como se somente com Lula há democracia e uma eleição verdadeira.

      Desconsideram quem pode ser alternativa no próprio partido, para sustentar uma ilusão que se mostra cada vez mais distante.

       

  6. País de surdos em terra de blá-blá-blá
    Mais uma “sumidade intelectual” da “esquerda”…
    O golpe viu emergir não apenas a nata – ou seria a gosma? – da direita mas também de “novos-pensadores” e “jornalistas”, que se dizem à esquerda.
    Seria interessante saber se neste país sem pensamento político próprio nem coerente, quem fala de direita, esquerda e centro se refere a ideias ou pessoas, e de como estas ideias e pessoas e(in)voluem no tempo-espaço político e público.
    O que representa hoje ser de “esquerda” ou “direita”, no mundo e no Brasil?
    Ao invés de se basearem apenas em pesquisas eleitorais que acabam servindo à defesa de qualquer opinião, deviam tentar entender o país em que vivem, onde a maioria dos cidadãos não se define politicamente, sequer em termos de esquerda ou direita, e não tentar enfiá-los em suas definições petrificadas em momentos históricos e de outros povos, como se no Brasil de hoje fosse possível reviver uma esquerda lendária européia – traindo sua própria vitalidade como referencial histórico, construído porque atento às exigências e possibilidades de seu tempo, lugar e condições específicas -, por impossibilidade de reconhecer os desafios e possibilidades históricos de seu próprio país neste tempo-espaço.
    A configuração político-partidária brasileira não reflete seu povo, sequer a sociedade civil organizada em instituições e movimentos sociais: como fazer uma extrapolação de pesquisas eleitorais para fazer avaliações genéricas que não consideram todo o panorama? A presidenta eleita pelo voto popular, Dilma Rousseff, já analisou essa distorção ao falar da aparentemente incompreensível contradição em votar para progressistas no executivo e conservadores no legislativo. E não se pode desconsiderar que o país está em crise e sob golpe político-jurídico-midiático há 2 anos: ninguém se pergunta o efeito disso na opinião pública que é pesquisada?
    As pesquisas deveriam perguntar não só a intenção mas a motivação principal para o voto.
    Enquanto ninguém ouve o que o povo, a população, tem a dizer, multiplicam-se teorias e artigos para alimentar intriguinhas de aspirantes a “cientista político do momento”. Ah, terra de iluministas de lampião.

    A melhor banda de todos os tempos da última semana – Titãs

    [video:https://m.youtube.com/watch?v=jdSs3SymIok%5D

    https://m.youtube.com/watch?v=jdSs3SymIok

    Sampa/SP, 15/05/2018 – 13:16 (alterado às 13:20).

    1. Comentário perfeito.

      É o primeiro comentário coerente que vejo aqui, fugindo daquele velho estereótipo de esquerda boa x direita má, que chega até a ser massante, pois sempre é o mais do mesmo.

      Concordo plenamente contigo, independente de sua posição política ou ideológica.

      Como podemos debater sobre centro, se o povo não compreende quais políticos ou partidos representam seus ideais.

      Nós temos um povo que baseia seu voto no indivíduo, em quem possa representar os seus interesses, não na ideologia por trás de seus planos para um Brasil melhor, muito menos apontar os culpados por suas mazelas.

      Muitos intelectuais, tanto na esquerda como na direita, falam o mais do mesmo. De que o PT foi o culpado pela atual situação, enquanto que a esquerda culpa o atual governo de golpista e de promover uma crise, quando de fato, TODOS são culpados pela atual situação do Brasil.

      Será que o entendimento do povo sobre o que deseja para o futuro é o mesmo que se encontra nas ideologias? 

      Porque muitos “intelectuais” só sabem apontar quem é certo ou errado, mas são incapazes de debater sobre o que, de fato, o povo deseja?

      Porque insistem em uma ilusão, se prendem ao passado, se existem outros caminhos para buscar um futuro melhor?

      O brasileiro está preso a uma bolha ideológica, que molda o cidadão numa polarização intolerante, com uma visão de sociedade e de mundo tão distoricido, que já não é mais capaz de discernir do que é real ou do que é uma ilusão.

      Triste Brasil, de partidos e de “intelectuais” presos a sua hipocrisia e cegueira ideológica.

  7. O CENTRO VISTO POR MARANGONI
    EM BUSCA DO CENTROJPalmaJr O centro político é aquele que trabalha pela manutenção do status quo: a direita tenta ampliar a exploração dos trabalhadores pelo capital e a esquerda busca mais benefícios da relação de trabalho. A precarização do estado é a forma de deixar precária a vida do trabalhador para que aceite mais facilmente a exploração do capital. As melhorias em serviços do estado melhoram as condições de vida do trabalhador e fazem com que seja mais exigente na venda de sua mão de obra. Por isso a direita prega estado mínimo e precário para a diluição da capacidade do trabalhador em valorizar sua mão de obra. Classicamente no país o PMDB foi o centro. Fernando Henrique primeiro juntou-se à direita, o PFL, para seu projeto de governo. Seu governo pendeu para a direita. E como direita governou o Brasil. E assim, desequilibrou as relações com o trabalho, favorecendo o capital. No segundo governo, para enfrentar o crescimento do PFL e da capacidade do PMDB (que era oposição) representar a média da população insatisfeita, FHC se acertou com Renan e Cia e trouxe o centro ao seu governo. Como o PSDB guinou para a direita (à semelhança de FHC, que é a direita ”chic” brasileira) e seu governo já estava à direita com o PFL, a vinda do PMDB pouco levou o governo ao centro. E o que vem a ocorrer? A população dependente do trabalho é a maioria, e segue determinada forma de pensar na sua construção de mundo. Se as relações econômicas lhe ferem direitos, ela fere seu mundo e essa população sente a transformação, mas não a aceita: o governo pende para a direita, como por exemplo os governos de FHC, mas a população segue ao centro, porque centro é o mundo como a maioria vê. Não há como a população se encaminhar à direita: ela foi prejudicada economicamente, seu mundo se transformou para pior. Uns poucos foram favorecidos pelas mudanças econômicas, portanto a maioria da população não aceita o novo ambiente que se lhe apresenta. A população só pende para a direita se houver um surto de crescimento típico do imperialismo, onde todos enriquecem, mesmo que proporcionalmente de formas diferentes entre ricos e pobres. Como o trabalhador melhorou seu padrão de vida, ele pouco se importa com a guinada à direita. A precarização não ocorreu no seu país, mas no exterior. O trabalhador que ficou mais pobre é o da colônia, e não este que compõe o centro na potência central. É o que se vive nos Estados Unidos, onde os dois partidos de direita se revezam no poder. A direita é o centro nos Estados Unidos. Por que o centro é centro? Porque nele é acomodada a maior parte da população, isto é, o pensamento que gera o status quo é o da maioria. Nosso mundo é como a maioria o vê, e a partir dele é que são feitas as leis e costumes. Se é maioria, é o centro, com as posições laterais representando esquerda e direita. No entanto, todo partido tende a eleger mais representantes voltados do seu espectro para o centro político. Os radicais são sempre em menor número em qualquer partido. Porque não há como haver mais radicais com mandatos porque são radicais, e não o centro. E paulatinamente os centristas, mesmo nos partidos extremistas, tendem a dominar a estrutura burocrática do partido. Quando Lula mudou a concepção da política nacional, ele mudou o centro. O centro inicial de Lula, antes o acantonamento dos explorados, se tornou um ambiente da direita. E Lula criou um novo centro, de Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida, de carro novo e faculdade para os filhos do trabalhador. O mundo que Lula criou na mente da população trabalhadora foi outro. E se tornou o mundo a ser vivido e no qual se acomodaria o entendimento do trabalhador. Menos que isso seria injusto, mais que isso seria melhor. Então, o PMDB deixou de ser o centro político, quando sempre fora. O PMDB foi lançado, como elemento político, à direita e como a guinada do mundo transformado pelo governo Lula não foi extrema, o PMDB representava agora a centro-direita. Ao chegar ao governo através do golpe, já havia perdido suas qualidades de representante da moda da população, que realmente, como mostrou Maringoni em seu último texto, foi tomado pelo PT, mais precisamente por Lula. O centro, aquele espaço no mundo onde fica o lugar comum foi tomado por Lula e se tornou outro com ele. Por isso é impossível que a direita o tome, pois a exigência da população é que se volte a ele, é nele onde a população se acomodou, onde começou a viver durante os governos progressistas de Lula e no primeiro mandato de Dilma. Como o PMDB foi para a centro-direita, empurrou o PSDB para a direita. Como o PSDB gerou o extremismo contra os governos progressistas, fruto da não acomodação da direita com o novo mundo criado por Lula, gerou também Bolsonaro, que mais que Aécio e Alckmin, é o representante da direita desde sempre, de sua truculência e de sua exploração e precarização sobre a vida dos trabalhadores. Os maiores eleitores de Bolsonaro são do agronegócio. Essa é sua base, não do PSDB. O centro mudou, e por isso a direita e o antigo centro não conseguem se ajustar a ele. O centro é o mundo que Lula criou, por isso ele segue em primeiro lugar nas pesquisas. Embora o PSDB possa se movimentar para voltar ao centro que era centro esquerda antes de Lula e que já fora sua raiz, não há mais volta: não há como chegar lá, já que os trabalhadores sabem que o partido foi a antítese disso. E não há como ir para o centro sem que se saia da direita a que se dirigiu. O centro mudou, porque Lula o mudou de lugar, conforme mostrou Maringoni Gilberto. É a economia, estúpido!

     

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