Três armações midiáticas e uma análise

 
Sugerido de Edivaldo Dias Oliveira 
 
Armações ilimitadas. Prepare-se para as armações ilimitadas da mídia contra o PT, nesta última semana. Seja forte. Isso vem desde de 1989 quando Lula concorreu pela primeira vez. Retrospectiva: 
 
Rede Brasil Atual
Em 1989, sequestro de Abílio Diniz foi relacionado ao PT e desmentido logo após eleições, mostra pesquisa
Investigação apontou que não houve envolvimento do Partido dos Trabalhadores no sequestro de Diniz. Envolvidos acusaram polícia de obrigá-los a vestir camisa da campanha de Lula. Clique aqui.
 
Teoria e Debate 
2002: Lula derrota a velha mídia
Apesar de simular neutralidade, como mostramos no artigo anterior, depois de ajudar a eliminar Roseana Sarney e afastar Ciro Gomes, o partido midiático coloca toda a sua artilharia contra o inimigo principal, Lula, até porque sua possibilidade de vitória era real, e esse risco a mídia não queria correr. Mas Lula, no segundo turno, no dia 27 de outubro, obteve mais de 61% dos votos válidos, contra pouco mais de 38% para Serra. Clique aqui.
 
Carta Capital
Aloprados e aloprados
Em 2006, jornalista contou a araponga de Cachoeira como escândalo da mala de dinheiro foi usado para prejudicar campanha petista. Clique aqui.
 
JORNAL DE DEBATES
 
Os escândalos políticos midiáticos
 
Por Venício A. de Lima 
 
Tão logo as pesquisas revelaram que uma das candidatas à presidência da República havia atingido índices de intenção de voto difíceis de serem revertidos, e que os resultados indicavam a possibilidade de decisão ainda no primeiro turno, a grande mídia e seus “formadores de opinião” reagiram prontamente. Insistiram eles que fatos novos poderiam ocorrer e que ainda era muito cedo para cantar vitória.
 
Um exemplo: sob o título “Festa na véspera”, a principal colunista de economia do jornal O Globo escreveu em sua coluna “Panorama Econômico” do dia 31 de agosto:
 
“Então é isso? Uma eleição cuja campanha começou antes da hora acabou antes que os votos sejam depositados na urna? (…) Fala-se do futuro como inexorável. O quadro está amplamente favorável a Dilma Rousseff, mas é preciso ter respeito pelo processo eleitoral. Se pesquisa fosse voto, era bem mais simples e barato escolher o governante.”
 
Simultaneamente, a poucas semanas do primeiro turno das eleições, os jornalões, a principal revista semanal e a principal rede de televisão abriram fartos espaços para a divulgação de “escândalos” com a óbvia intenção de atingir a reputação pública da candidata favorita.
 
O primeiro, diz respeito a vazamento de informações sigilosas da Receita Federal ocorridos em setembro de 2009 [antes, portanto, da escolha oficial dos candidatos e do início da campanha eleitoral]. O “escândalo” foi imediatamente comparado com o caso Watergate, que levou à renúncia o presidente dos EUA Richard Nixon, em 1974, e também à prisão de integrantes do PT em hotel de São Paulo, em 2006. A narrativa midiática logo passou a referir-se a ele como “Aloprados II” e/ou “Receitagate”.
 
O segundo, que surge tão logo o primeiro parece não ter atingido os objetivos esperados, faz um incrível malabarismo ao tentar incriminar a candidata favorita através de ações de lobby e tráfico de influência atribuídos ao filho de sua ex-auxiliar. Um exemplo: a manchete de primeira página da Folha de S.Paulo de domingo (12/9): “Filho do braço direito de Dilma atua como lobista”.
 
O que estaria acontecendo na grande mídia brasileira?
 
Controle e dinâmica
 
Em abril de 2006, no correr da “crise do mensalão”, escrevi neste Observatório [ver “Escândalos midiáticos no tempo e no espaço”] sobre o conceito de “escândalo político midiático” (EPM) desenvolvido pelo professor da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, John B. Thompson, em seu aclamado O escândalo político – Poder e visibilidade na era da mídia (Vozes, 1ª edição, 2002).
 
O momento é oportuno para retomar os ensinamentos de Thompson.
 
Os EPM surgem historicamente no contexto do chamado jornalismo investigativo, combinado com o crescimento da mídia de massa e a disseminação das tecnologias de informação e comunicação. E, sobretudo, no quadro das profundas transformações que ocorreram na natureza do processo político, ainda dependente, em grande parte, da mídia tradicional. Envolve indivíduos ou ações situados dentro de um campo ligado à aquisição e ao exercício do poder político através do uso, dentre outros, do poder simbólico. Fundamentalmente, o exercício do poder político depende do uso do poder simbólico para cultivar e sustentar a crença na legitimidade.
 
O poder simbólico, por sua vez, refere-se à capacidade de intervir no curso dos acontecimentos, de influenciar as ações e crenças de outros e também de criar acontecimentos, através da produção e transmissão de formas simbólicas. Para exercer esse poder, é necessário a utilização de vários tipos de recursos, mas, basicamente, usar a grande mídia, que produz e transmite capital simbólico – vale dizer, controla a visibilidade pública. A reputação, por exemplo, é um aspecto do capital simbólico, atributo de um indivíduo ou de uma instituição. O que está em jogo, portanto, num EPM é o capital simbólico do político, sobretudo sua reputação.
 
Como a grande mídia se tornou a principal arena em que as relações do campo político são criadas, sustentadas e, ocasionalmente, destruídas, a apresentação e repercussão dos EPM não são características secundárias ou acidentais. Ao contrário, são partes constitutivas dos próprios EPM.
 
Escândalo político midiático, portanto, é o evento que implica a revelação, através da mídia, de atividades previamente ocultadas e moralmente desonrosas, desencadeando uma seqüência de ocorrências posteriores. O controle e a dinâmica de todo o processo deslocam-se dos atores inicialmente envolvidos para os jornalistas e para a mídia.
 
Jogo de poder
 
Na verdade, a grande mídia ainda detém um enorme poder de legitimar a esfera propriamente política através do tipo de visibilidade pública que a ela oferece. Os atores da esfera política dependem de visibilidade na esfera midiática para se elegerem e/ou se manterem no poder. Através desse poder, próprio da esfera midiática, a grande mídia tenta submeter e controlar o processo político, em particular os processos eleitorais. É aí que surgem os EPM.
 
Não seria exatamente a tentativa de controlar a esfera propriamente política o último recurso que a grande mídia – declaradamente oposicionista pela voz da presidente da ANJ – estaria a exercer na construção de EPM a poucas semanas das eleições?
 
Será que o Brasil de 2010 é o mesmo de 2006, quando tentativa semelhante levou as eleições presidenciais para o segundo turno?
 
O que está realmente em jogo é o poder da mídia tradicional – e, por óbvio, dos grupos dominantes do setor – em tempos de profundas transformações nas comunicações. Em tempos de internet.
 
Quem viver verá.
Redação

12 Comentários

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  1.  
    mais um excelente artigo do

     

    mais um excelente artigo do professor venício.

    é cada vez menor o poder da

    grande mídia, com o advento da internet e

    a conscientização popular de

    que essa grande mídia age como partido político.

    e as agressões da grande mídia

    (contra o partido trabalhista que

    transformou o país com a inclusão social)

    serão cada vez mais acentuadas.

    talvez pelo desespero de perderem

    mais um embate eleitoral.

    o que denotaria fragilidde, já

    que historicamente detonaram

    governos como os de getúlio, jango e o de collor.

    daí esse ódio insano contra o pt e os movimento populares.

    1. Recordar para resistir e tambemnão esquecer.

      Quanto a Dilma e ao PT, não tenho dúvidas. Pensei no texto para os jovens petistas que ainda não vivenciaram as falcatruas midiáticas.

  2. Ajeitadinha

    Obrigado Nassif e equipe pela “ajeitadinha”.

    Era tudo o que eu queria fazer e não tive competencia. Quem viu o amontoado de textos no “Fora de pauta” sabe do que tô falando e por que tô agradecendo. Minha amiga petista Karina Lopes está pondo os bofes prá fora com a quantidade de armações contra a nossa campanha e me liga tres vezes por dia ou mais, quando lhe tranquilizo sobre esses factóides. Na verdade ela já não sabe se fica mais nervosa com os factóides ou com a minha tranquilidade em relação a eles, mas quem já tem 25 anos de estrada ou mais sabe do que estou falando, mas como tem muitos jovens ainda, resolvi juntar esses fatos lamentavéis do passado para lhes mostrar o nosso poder de superação . É nóis no primeiro, copiem e compartilhem muito. 

  3. A Internet tem um poder que a mídia não alcança!

    Senhores, estes factóides de véspera de eleição muitas vezes o tiro sai pela culatra.

    Num caso sério, como o atentado em 11 de março de 2004 na Espanha que vitimou 191 pessoas e feriu mais de 1700, o governo conservador e sua imprensa quizeram lançar a conta sobre a oposição, pois a eleição era no dia 14. nas primeiras investigações já havia indícios que era a Al Qaeda a responsável, usando a rede foi denunciada a manipulação e o eleitor indeciso votou em massa contra o governo.

    Logo, não acreditando que a oposição chegue a este ponto, mas que tentativas de manipulação de última hora podem ser tentadas.

    Todos devem ficar alerta, mas manobras deste tipo pegam muito mal junto ao eleitorado, logo se alguém for burro que tente!

    1. paises diferentes

      Na espanha estão mergulhados na rebordosa do liberalismo de Felipe Gozales, o FHC deles,aprenderam na carne em quem não se deve acreditar cegamente ,agora analise no contexto atual da nossa realidade social e politica ,aonde a influencia dessa midia é maior, São Paulo  privatizaram tudo sem mostrar a contrapartida de beneficios para a população o candiato Alckmin ganhará no primeiro turno com o slogan  “aqui é são paulo” graças a blindagem que a midia lhe dá enquanto o senador Suplicy corre o risco de não ser eleito por ser do PT.

      Em tempo ;o sistema de trilhos de SP vem sofrendo de panes há pelo menos quatro anos e nas duas últimas eleições quando o assunto chegou a midia  foi aventada que era sabotagem do PT ,quem se lembra da frase da Soninha” metro é sussa” tabem foi desmascarada na rede !

      1. Ataíde, grande parte dos

        Ataíde, grande parte dos indecisos são jovens e se vê pelas últimas pesquisas que eles estão se movimentando rapidamente para fora da campanha de Marina, principalmente porque eles estão se informando na Internet, logo o que é necessario agora é a colocação de textos claros, sem falácias e sem preconceitos.

        Uma geração que se criou lendo na Internet, rapidamente descobre o que é fake!

    2. Por isto, no mundo inteiro tentaram amordaçar a Internet.

      No mundo inteiro, inclusive na ONU o Lob tentou através de várias leis, amordaçar a Internet. É que eles não estão dando conta de controla-la.

      Mas, felizmente, todas as tentativas falharam, a não ser em países como a China e o Irã. Houve uma reação massiva dos usuários, graças o papel de organizações como a Avazz a Anistia Internacional entre outras do gênero.

      Um grande abraço a todos.

  4. O PiG vai atacar Dilma e o PT com baixaria em nível máximo!

    O objetivo do PiG é impedir a derrota antecipada de aécio e marina já no primeiro turno.

  5. Sãoimorais, nada mais…………….

    Mais um excelente artigo do Professor Venício!! O que devemos fazer, nós que frequentamos e postamos nos chamados por eles de “blogs sujos”, é neste final de campanha, fazer a diferença!

    Digo fazer a diferença, e de forma contundente, pois sinto que virão com tudo, como vieram nas eleições angteriores!

    O artigo faz um alerta bem apropriado, e repito, cabe a nós fazermos a diferença, e mandar mais uma vez os opositores e esta midia vendida para as galés, !!!!, como fizemos nas três ultimas eleições!!!!!

    Iremos vencer mais uma vez, não só os opositores, mas esta midia vendida e entreguista!!!!!!!!!!!!!!!!

    S,ó espero que no segundo mandato da Dilma, ela tome a decisão de implantar o que está escrito na CF, com relação às mídias neste país, e acabar de uma vez por todas com esta imoralidade!!!!!!!!!!!!!!!!! 

  6. Voto de conhecidos

    O importante é que os mineiros que conhecem o Aécio votam em Dilma. E Dilma será reeleita em primeiro turno,  no próximo dia 5 de outubro.

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