Quem pode nos livrar de Bolsonaro, por Antonio Martins

Ana Gabriela Sales
Repórter do GGN há 8 anos. Graduada em Jornalismo pela Universidade de Santo Amaro. Especializada em produção de conteúdo para as redes sociais.
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do Outras Palavras 

Quem pode nos livrar de Bolsonaro

por Antonio Martins 

É tolo olhar com ufanismo para a pesquisa do Ibope. Ela revela, junto com salto de Haddad, crescimento e consolidação da ameaça fascista. Para afastá-la, será preciso repolitizar as eleições – não insistir no jogo de torcidas

A nova pesquisa Ibope, divulgada nesta terça-feira (18/9) fez surgir, entre a maior parte dos apoiadores do PT e o PCdoB, uma enorme onda de otimismo. Eles viram o crescimento notável de Fernando Haddad (de 8% das intenções de voto há uma semana para 19% agora) como a consolidação da ultrapassagem sobre Ciro Gomes (que permanece com 11%). Também rejubilaram-se com o que seria a confirmação do gênio de Lula – capaz de, do cárcere, de comandar as eleições. Dois anos depois do golpe, a vitória e a volta ao governo estariam à vista. Esta visão contém elementos de verdade – e no entanto é parcial, comodista e perigosa. Em especial, porque sugere um caminho (a aposta na polarização petismo x antipetismo) despolitizante, que amplia ao máximo o risco de um resultado devastador. Há, ainda, a chance de evitá-lo.

A ilusão com os números é mais grave porque, na aparência, eles confirmam o script desenhado pelos apoiadores de Haddad. Numa primeira etapa, que parece cumprida, o candidato de Lula viveria um grande salto, beneficiado pela transferência de votos de seu patrono. A partir de então, afastados os adversários no “campo progressista”, bastaria contar com a atração, por gravidade política, da imensa parcela da sociedade que se coloca, desde 2002, contra o domínio secular das elites. Restaria aos demais candidatos de esquerda e centro-esquerda, e ao setor democráticos que restam entre os eleitores de Marina e Alckmin, alinhar-se à hegemonia petista. O pulo de Haddad, graficamente expresso abaixo, é a expressão imagética desta ideia.

Contudo, o Ibope mostra também dois outros fatos imensamente relevantes, que talvez o entusiasmo ofusque. Primeiro: uma impressionante ampliação das chances de Bolsonaro no segundo turno. Há duas semanas (pesquisa de 4/9), o candidato fascista era praticamente um pária: surrado na disputa final por Ciro Gomes (44% x 33%), Marina (43% x 33%), Alckmin (41% x 32%), acima apenas de Fernando Haddad (36% x 37%). Em pouco tempo, as previsões se reverteram. Agora, Bolsonaro vence com folgas Marina (41% x 36%), empata com Alckmin (38% x 38%) e Haddad (40% x 40%) e perde apenas para Ciro, porém na margem de erro (40% x 41%).

 

 

A mudança dramática, expressa nos gráficos acima, sugere a normalização do fascismo. Está provavelmente relacionada ao atentado contra Bolsonaro, que o vitimizou. Porém, testemunha igualmente um fenômeno social e político muito mais largo. A extrema direita está se consolidando como tendência política principal do capitalismo, agora também no Brasil. As relações de Bolsonaro com o mercado financeiro são um sinal. Suas reuniões com banqueiros, investidores e corretoras tornaram-se constantes. Há semanas, a bolsa e o dólar oscilam a partir de suas intenções de voto, registrada nas pesquisas. A sobreposição é clara e incontroversa: a cada sinal de força do candidato fascista corresponde um impulso de otimosmo nos índices. Mas o Ibope revela que este movimento, restrito em condições normais às elites, tem profundidade social e eleitoral. O que era antes abjeto está se convertendo em normal. Votar numa chapa cujos integrantes defendem o estupro, e querem uma Constituição escrita por “notáveis” (evidentemente alinhados a suas ideias), já não é anátema – nem para um executivo financeiro, nem para um morador desempregado da periferia que optou, em falta de alternativas, por uberizar-se.

O segundo fato revelado pelo Ibope é ainda mais surpreendente, para as análises convencionais. A pesquisa mostra que, embora cada vez mais polarizadas, as eleições de 2018, continuam, essencialmente, despolitizadas. Há um nítido descolamento entre as tendências hoje majoritárias na sociedade e as opções pelos candidatos. Esta ruptura, fruto de uma disputa rasa (petismo x antipetismo), favorece a direita.

Do ponto de vista socieconômico, o golpe de 2016 está em frangalhos. Michel Temer, o político que o expressa, tem no máximo 5% de apoio popular. Uma série de enquetes demonstrou, nos últimos meses, a rejeição da sociedade a todas as políticas cruciais adotadas nos últimos – privatizações (70% contrários), contrarreformas Trabalhista (72%) e da Previdência (85%), terceirização selvagem. No entanto, repare: esta notável rebeldia não está expressa nas tendências eleitorais. Faça uma conta simples. Compare as intenções de votos nos candidatos favoráveis ao golpe (Bolsonaro, Alckmin, Amoedo, Álvaro Dias e Henrique Meirelles) com as destinadas a quem resiste (Haddad e Ciro). O resultado, visível no gráfico abaixo, é bastante estranho: 42% x 30%, a favor do golpe.

A discrepância é clara, mas é preciso enunciar seu significado com todas as letras: a polaridade petismo x antipetismo não expressa a tensão política real em curso na sociedade brasileira. Ao contrário: falseia-a; e – muito pior – abre um espaço inesperado para a direita, agora representada por sua fração extrema. Em termos concretos, significa que dezenas de milhões de brasileiros contrários à agenda de retrocessos imposta nos últimos dois anos estão sendo levados a defendê-la. Fazem-no porque, no momento, veem o PT como inimigo principal a ser batido.

É possível questionar o que leva a esta distorção. O massacre evidente que a midia promove contra o partido é um fator. A vocação hegemonista do PT – com a qual nos deparamos, a cada instante, todos os que queremos superar o capitalismo – não pode ser desconsiderada. No momento, o menos relevante é estabelecer a culpa. O que importa é enfrentar um problema crucial. Há enorme risco de termos, em vinte dias, eleições que, além de consolidarem o golpe de 2016, levarão a seu aprofundamento trágico.

A esta altura, quando faltam menos de três semanas para as eleições, uma questão parece clara. Fernando Haddad tornou-se o único candidato capaz de vencer Bolsonaro. Ficarão para outro tempo (sabe-se lá em que circunstâncias…) as avaliações sobre por quê chegamos a isso. Mas como vencer, com Haddad e nas condições que temos, a ameaça fascista? Há dois caminhos claramente definidos.

O primeiro é apostar em mais do mesmo. Implica insistir na polarização entre petismo x antipetismo. Inclui fechar-se a negociações com Ciro, esperando que seja obrigado, por gravidade, a apoiar Haddad no segundo turno. Envolve esperar no segundo turno, além das alianças já estabelecidas com o PMDB, as que previsíveis – com o PSDB e “os mercados”. Uma disputa de segundo turno, entre Haddad e Bolsonaro, será dificílima. Além da oligarquia financeira – e toda sua cadeia de influências –, o candidato fascista terá o previsível apoio da velha mídia, e metade do tempo de TV. Estará na reta final da convalescença. Estas circunstâncias anormais, e facilmente manipuláveis, exigirão uma frente vasta para combatê-lo. A que preço Fernando Henrique Cardoso ou José Serra e um ou outro banqueiro entrarão no barco de Haddad?

Há um caminho alternativo – mas exige pensar outra política. Significa desfazer a polarização que tem como centro o petismo. Implica trocá-la por outra, de fato politizadora, que colocará em confronto o que realmente importa. De um lado, os que nos opomos ao golpe e suas medidas.. De outro, os que querem aprofundá-lo. Esta polarização permite pensar no resgate dos direitos e num novo projeto de país. E extremamente viável, do ponto de vista eleitoral.

Porém, exige mexer um ponto crucial. O petismo (ao qual o PCdoB associa-se cada vez mais) estará disposto a abdicar de sua tentação hegemonista? Saberá enxergar que se tornou uma parte – e não o centro – da luta para superar o capitalismo brasileiro, em sua versão cada vez mais financeiraizada e submissa? Aceitará acenar a algo como uma “Geringonça Brasileira” – um governo de que participem Ciro, Boulos e o vasto leque de movimentos que resistem à agenda de retrocessos? Ou preferirá, como tantas vezes, postar-se ao trono e esperar a adesão por gravidade?

Os cenários e desafios de 2018 são certamente inéditos. Lula é um gênio político – mas não alguém capaz de enfrentar sozinho desafios desta monta. Saberemos, juntos, corresponder ao que temos pela frente?

Ana Gabriela Sales

Repórter do GGN há 8 anos. Graduada em Jornalismo pela Universidade de Santo Amaro. Especializada em produção de conteúdo para as redes sociais.

12 Comentários

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  1. Uma notícia boa

    Detalhamento da pesquisa Ibope, divulgada nessa terça-feira, 18, mostra que o candidato do PT a presidente, Fernando Haddad, obteve um crescimento de 137,5% entre o eleitorado feminino em relação ao levantamento anterior, divulgado no dia 11; aumento na intenção de votos saltou de 8% para 19% entre as mulheres

     

    https://www.brasil247.com/pt/247/brasil/369314/Em-uma-semana-Haddad-cresce-1375-entre-mulheres-diz-Ibope.htm

     

     

    1. Vejo que estou no local certo

      Estou no local correto, no redulto do Petismo.
      serei bastante direto por quem sempre gostou muito de matemática, estatisticas e porcentagem coisa não muito forte entre os amantes das ciências humanas, ou seja, aqui.
      Com Haddad vcs perderão essas eleições facilmente porque o Antipetismo, os votos dos jovens esmagadoramente pro bolsonaro, esses 7% pró PSDB jamais migrarão para o PT, repito , Jamais !!!
      Haddad chegará no máximo onde Lula estava com pouco menos de votos e com rejeição beirando 40%.
      lembrando que na última eleição mesmo com a maquina pública quase perderam pro Aécio Neves.
      A esquerda só terá chances com Ciro Gomes , candidato que votarei, e mesmo assim com apoio de vocês, porém com vcs longem, muito longe do candidato Ciro.
      Só assim vcs vencerão Bolsonaro.
      e tem mais deem print nisso que escrevi e guardem !!!

      depois eu volto aqui ..
      Vcs estão dando a presidência para um Lunático apenas pelo bem prazer de elevarem o nome do Lula.
      vcs estão comentando o maior erro político, esquecendo que partidos, PT, Lula e todo o resto é menor …muito menor que o país.
      vcs ficaram loucos tamanho o fanatismo político e vejo com graça vcs apontarem o lado de lá como fanáticos tb … um louco reparando a loucura do outro …
      kakakakakakak

      Abraços e voltarei aqui …

        

  2. De fato a recusa do PT em

    De fato a recusa do PT em apoiar o Ciro e insistir no Haddad, motivado de forma egoísta na concentração do poder em si, vai levar o haddad ao 2º turno, mesmo com maior risco de derrota para a esquerda. Risco que seria menor com o Ciro no 2º turno, já que o PDTista revela, nas pesquisas, um melhor desempenho no 2º turno em comparação ao atual candidato petista.

    Sem dúvida o “massacre evidente que a mídia promove contra o partido é um fator” que contribui para o antipetismo, mas é preciso reconhecer que a insistência do PT em defender alguns de seus membros que inegavelmente cometaram erros e ilícitos, apoiando-os e não os condenando, fere a credibilidade do partido para com alguns cidadãos mais atentos a congruência dos posicionamentos históricos. A carência brasileira de ética e sanções às infrações é que tem fortalecido pessoas como Amôedo. 

  3. Esse efeito da transmissão

    Esse efeito da transmissão quase imediata de votos do Lula para Haddad parece estranho. Pelo que conheço da metodologia de pesquisas eleitorais e do seu nível de erros nos últimos anos não duvidaria nada de algo proposital. O problema é que falsa ou não, essa pesquisa descarta Ciro e Marina e joga Bolsonaro contra o melhor adversário que ele gostaria de ter.

  4. Perfeita a análise.

    A ampla maioria da população brasileira é contra o golpe (arrocho, desemprego, reforma da previdência, etc.).

    Grande parcela dessa “ampla maioria” apoia Bolsonaro.

    Bolsonaro é o candidato do golpe e a favor do sistema atual, se fazendo passar por oposição ao establishment.

    A campanha dos progressistas e democratas, hoje representada pelo Haddad, precisa apontar essa contradição do Bolsonaro e passar uma mensagem contra o golpe e o sistema, nele incluido o mercado financeiro, rede globo, políticos tradicionais, etc.

    Do contrário, isto é, ao se aproximar do “sistema atual golpista” (mercado e cia) pode passar a imagem, para a ampla maioria da população de “mais do mesmo”. Quando na verdade essa figura hoje é o Bolsonaro.

     

  5. Eu assino embaixo

    Lula a Mourão: não julgue mães e avós pelo seu conceito medíocre!

    “Eu e sete irmãos fomos criados por uma mulher analfabeta!”

     

    Sem Título-4.jpg

    (Charge: Gilmar)

    Do site do Presidente Lula:

    Carta de Lula ao General Mourão

    Curitiba, 19 de setembro de 2018

    “General Mourão, não julgue avós e mães pobres pelo seu conceito medíocre sobre a espécie humana. Se o senhor já pensava assim não deveria ter chegado a general e muito menos querer ser vice-presidente. 

    Eu e sete irmãos fomos criados por uma mulher analfabeta chamada Dona Lindu e duvido que exista alguém na sociedade brasileira que educou os filhos melhor do que ela. Pode ter igual, melhor nunca. 

    General, um conselho, faça um curso sobre o Humanismo.”

    Lula

     

  6. A aposta do PT beneficia a quem ?

    Até a última pesquisa, Ciro é o único que vence o fascista no segundo turno. Ciro vence por seus próprios méritos.

    Haddad precisa da transferência de votos do Lula para ir ao segundo turno e, desesperadamente, do Voto Útil para vencer o fascista. Reconheçamos: Haddad é o cara certo na hora errada !!!

    O boicote do PT à Frente Democrática, uma posição política egoísta e sectária, agora apela para nossa piedade colocando a opção Democracia x Ditadura. Foi o PT que acolheu, por interesses egoistas, essa polarização odiosa, que na verdade é Petismo x Antipetismo.

     

     

  7. O qie quer dizwr essa tal
    O que quer dizer essa tal “tentaçao hegemoista”? Disputar o poder é “tentaçao hegemonista”? Buscar ter uma maior votação e “tentaçao hegemonista”? Adquirir e exercer o poder por dentro das regras institucionais é “tentaçao hegemonista”?

    Já não basta a direita acusando, como se isso fosse xingamento, de “hegemonico” um partido que jamais teve sequer 1/6 do Legislativo e com uma maquina de propaganda na grande imprensa toda contra? Tonha que ser menor e insignificante, é isso? Pra direita é obvio que a resposta é sim.

    “Partiram pra cima” do PT, PT, PT pura e simplesmente porque é o maior partido do campo da esquerda. Felizmente nem todos na esquerda nanica se cegaram para o fato.

    Já passou da hora de pararem de ficar fazendo critica e autocritica na esquerda e enfrentarem a direita que só cresce.

  8. Como falar tanto para dizer

    Como falar tanto para dizer besteiras. Em primeiro lugar, a pesquisa ao mostrar o crescimento vertiginoso de Haddad em apenas sete dias, mais de 1,5% ao dia, perfazendo 11%, indica também que Bolsonora não cresceu, variou dentro da margem de erro de 2%, indo de 24% para 26%. No segundo turno, nessa mesma pesquisa, seu melhor comportamento deve-se ao rearranjo dos votos, exatamente pela ascenção de Haddad, que não se sustenta, mais à frente, só ver que brancos e nulos reduziram. Que interesse impõe essa distorção sem sentido? Claro, que não é para os apoiadores de Haddad chorarem, mas realmente, nada de ufanismo. Antes de tudo, Lula continua preso, mas o resultado da pesquisa mostra que como já visto pela Vox Populli, no dia 13/09, Haddad já pontuava 22% e Bolsonaro 18%. O Ibope e o DataFolha, velhos conhecidos e instrumentos da Globo & cia., tudo indica estão fazendo política com os números, mais a indicação, basta ver a inclinações das curvas, não demora, esses resultados da Vox serão atingidos e ultrapassados. Dependendo da velocidade de crescimento e se for antecipado o voto útil, grandes chances de tudo se resolver no primeiro turno. 

  9. Manchetes e estratégia

    A F de SP na manchete: “Ciro lidera no 2º turno”, segue o jogo comentado ontem aqui de tentar dividir o voto útil da esquerda e frear a explosão de votos em Haddad, provavelmente com algum apoio da própria “Data-falha”, instituto que “errou” em 63% das predições em 2014. Ciro está no seu direito de lutar pela vaga, mas, ao receber apoio da mídia para isso parece-me que o sistema procura um plano B do B. A conferir.

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