Para entender as razões de Dallagnol, por Luis Nassif

Poderiam investigar o que se levantou sobre a Unimed, ou sobre o unicórnio de bigdatas para o qual Dallagnol não apenas fez palestra bem remunerada, como gravou um depoimento comercial e ainda tentou trazer para a própria Lava Jato o sistema da empresa. Pouco tempo depois, a empresa foi acusada de subornar um funcionário da… da.. Isso, da Petrobras.

Nos últimos anos, o procurador Deltan Dallagnol apresentou evolução patrimonial incompatível com seus ganhos como procurador. Adquiriu dois apartamentos, um por andar, em edifício nobre de Curitiba; adquiriu uma franquia de loja para sua esposa. Tudo isso provavelmente à custa das palestras que proferiu, montando no rabo de cometa da Lava Jato. Mesmo assim, patrimônio não significa renda. Consta que apenas em condomínios, nosso Dartagnan pagaria ao menos R$ 5 mil mensais.

Há algumas dúvidas significativas para sua decisão de abandonar a carreira no Ministério Público. Nenhuma dúvida sobre a leitmotiv: foi um chamado de Jesus. Mas qual a motivação de Jesus? Provavelmente foi atendendo a um chamado de Savanolara, o anjo da guarda dos carrascos e executores de infiéis, inquilino do 8o inferno de Dante, ao lado de Mr. Guilhotin, percebendo o iceberg a caminho do transatlântico de Dallagnol.

Correm processos contra Dallagnol no Conselho Nacional do Ministério Público. Agora, sua evolução patrimonial entrou no meio da parada. Enquanto moeda sonante, era apenas uma conta em algum fundo da XP, BTG ou outro patrocinador. Tornando-se patrimônio imobiliário, não teria como ser ignorado.

Há origem pública para seu patrimônio: as palestras altamente bem remuneradas. Qualquer organização pública, por mais mequetrefe que fosse, teria um código de ética para impedir enriquecimento à custa do trabalho efetuado no serviço público. Mas o MPF acha que Código de Ética atropela o direito do procurador de prestar contas de seu enriquecimento pessoal, ainda que colocando em dúvida a idoneidade da corporação.

Lembro-me até hoje de uma conversa com uma pessoa da XP, que participou das negociações para contratar uma palestra de Dallagnol, surpresa com sua ambição.

Ocorre que a Lava Jato Curitiba criou uma jurisprudência para julgar Lula: qualquer cachê por palestras significa lavagem de dinheiro. Faziam o seguinte: quem contratou palestra de Lula? Empresa tal. Aí levantavam se, em algum momento, a empresa teve algum negócio com o governo, um financiamento do BNDES, um contrato com agente público. Era o que bastava para estabelecer uma correlação de causa e efeito. E, olha!, que Lula saiu do governo como o mais prestigiado político do planeta e um dos mais requisitados palestrantes, a ponto de ser contratado até pelas Organizações Globo.

No caso de Dallagnol, bastaria ao CNMP seguir um roteiro bem simples:

  1. 1. Levantar a lista de patrocinadores das palestras pagas.
  2. 2. Conferir o tal fundo anti-corrupção onde, segundo Dallagnol, seria depositada a maior parte das palestras. A constatação óbvia será a de que esse fundo jamais existiu. Logo, Dallagnol criou falsas explicações para justificar o recebimento do dinheiro.
  3. 3. Finalmente, um pente fino na Lava Jato Curitiba para as ações inconclusivas, tipo aquelas que sempre pouparam o doleiro Dario Messer. Poderiam investigar o que se levantou sobre a Unimed, ou sobre o unicórnio de bigdatas para o qual Dallagnol não apenas fez palestra bem remunerada, como gravou um depoimento comercial e ainda tentou trazer para a própria Lava Jato o sistema da empresa. Pouco tempo depois, a empresa foi acusada de subornar um funcionário da… da.. Isso, da Petrobras.

Dallagnol escaparia de uma investigação com esse grau de minúcias? Ainda mais de um CNMP sob pressão total do Congresso.

A segunda dúvida é: como Dallagnol sobreviverá para pagar seus condomínios e outras despesas, sem as rendas da Lava Jato? Outro bom tema para investigações.

Luis Nassif

8 Comentários

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  1. Nassif, não sei como evoluiu esse caso, mas aquelas denúncias de Tacla Duran com o primeiro amigo de Sérgio Moro, fazia menção a “DD” e ainda apresentou a proposta de acordo assinado pelo Roberson Pozzobon, num acordo que garantiria 5 milhões de reais para “facilitar a negociação.” Essa história dos acordos de delação firmados ainda está para ser contada. O enriquecimento de advogados amigos e sem destaque anterior (Só a obscura Cata Petra fugiu do Brasil com mais de 20 milhões), incluindo o irmão do Diogo Castor, coloca a questão das relações com os procuradores.
    Eu continuo achando que Moro e Dallagnol fizeram um bom pé de meia que lhes garantiria uma confortável sobrevivência financeira fora dos biombos da magistratura e do MP. Só isso me explica esses ousados passos de ambos, em particular de Dallagnol, que sempre se mostrou um extraordinário e midiático medroso.
    São questões que me intrigam aqui do meu cantinho.

    1. Tanto quanto sei “DD” é um código para “Duís Dinácio Dula Da Dilva”… Vi o Merval e mais 178 especialistas ilibados do Instituto Millenium provarem isso na GROBONIUS!!!!… (Terei errado?)

  2. Bom, dizem que o crime não compensa.
    Mas, se for no Brasil, e mesmo que no curto e médio prazo, ser um picareta (e de 5ª categoria, como SM e DD) até que rende seus bons momentos.
    E, no fim, a falta de memória do povo, e o invencível corporativismo estamental brasileiro, fazem a amortização e quitação do que se pôde arrebanhar durante os atos picaretais.
    A falta de memória do povo…deixa pra lá. É um assunto muito deprimente.
    Quanto ao corporativismo estamental brasileiro, é mais fácil de explicar; mantenham-se os meios de burlar a lei, pois um dia eu mesmo dele me aproveitarei para, digamos, evoluir meu patrimônio. E que não os condenem, basta uma singela advertência para que “não tornem a cometer delitos”, como disse SM ao Youssef.
    No mais, surpreso de ver o Nassif usar de tanta mordacidade, inclusive em relação ao Nome Santo.
    De qualquer forma, SM e DD merecem esse castigo, embora não leiam o GGN, e ainda que provavelmente não sejam capazes de entender a estocada de ironia.
    Savonarola entenderia.

  3. O Nassif parece um sujeito inocente.
    Ele acredita que o delagnol terá alguma preocupação futura com pagamento de contas. quá, quá, quá….
    Nassif, o joaquim barbosa, o moro, o delagnol e muitos outros da lava jato não precisarão mais se preocupar com o futuro financeiro.
    Quanto acha que estes e outros acima deles receberam para dar suporte ao golpe?
    Seria aquele fundo bilionário que o delagnol tentou se apoderar sozinho?

  4. Dizem, há tempos, que se utilizassem o Código penal do Russo e as táticas da turminha Delta, Robito, Tamis, o do bigodinho branco etc, o japonês da federal já teria batido às portas da turminha há tempos. Sorte deles que uma operação sem controles só foi possível no governo do PT, nem quando o Russo foi ministro de primeira hora do bolsonarismo isso seria possível

  5. Aquela velha história de medir o outro com a própria régua… DD certamente viu nas palestras de LILS aquilo que desejava; pior, em suas conversas com o espelho, devia se perguntar como um ex-metalúrgico podia ganhar tantos K. Lavagem, claro! Robito!!!!!

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