Percival Maricato
Percival Maricato é sócio do Maricato Advogados e membro da Coordenação do PNBE – Pensamento Nacional das Bases Empresariais
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A morte de Zagallo e os meninos da Copinha, por Percival Maricato

Luto nacional de três dias parece exagerado, mas reverência é justa; meninos tentam ascensão social por meio do futebol

Foto de Travel Nomades na Unsplash

Esporte Bretão

Percival Maricato*

ZAGALLO, TÉCNICO COMPETENTE MAS QUE GANHOU O CARGO GRAÇAS A ANTIPATIA DOS  GENERAIS DA DITADURA POR JOÃO SALDANHA

O alagoano Zagallo, que ganhou quatro copas do mundo, faleceu aos 92 anos. Lula decretou três dias de luto no país, o que nos parece exagerado.

Zagallo foi muito questionado inicialmente por substituir João Saldanha, que seria simpatizante do PCB, fato inadmissível em tempos da ditadura militar, o extremista Médici era o general nomeado pelos colegas para ser Presidente da República. Os jornais, censurados (um exagero, pois eram todos favoráveis a ditadura) tentavam explicar que a troca se dava porque  Saldanha deixara este ou aquele jogador fora da convocação.  Um dos jornais tentou justificar: seria por Saldanha não escalar Pelé em um jogo contra o Chile, Tudo para tentar agradar a ditadura que dessa forma estava tomando a decisão por ter Saldanha desatendido uma preferência popular.

Há que se lembrar ainda muito ciúme despertado nos paulistas, cujo futebol já ia superando o carioca, sem que no entanto houvesse a correspondente ocupação de cargos hierárquicos na CBF  ou até na lista de jogadores convocados. Feola, o são-paulino que liderou a  delegação à Suécia, foi uma exceção. O bairrismo falava alto.

Mas o fato é que Zagallo deu conta do recado, acomodou egos, manteve certa independência,  acertou na escalação e trouxe o caneco. Justo que seja reverenciado.  Um senão teria sido o fato de Zagallo ter assumido a paternidade de colocar Rivelino como falso ponta esquerda, alteração decisiva. Há quem defenda que a mudança já fora introduzida por João Saldanha.

DORIVAL JR ASSUME A SELEÇÃO

Fernando Diniz foi demitido, provavelmente pelo que fez ou deixou de fazer no conflito de cartolas pelo controle da CBF. Para seu lugar foi indicado o técnico do São Paulo, Dorival Jr. Sem ser grande estrela, ele é razoável conhecedor de futebol e tem outros pontos fortes: sensatez e humildade. Melhor mesmo seria Abel Ferreira, mas nessas nomeações sempre entra o insondável. Há poucas edições atrás esta coluna já questionava se havia mesmo algum compromisso sério com Ancelloti, e como se vê fomos enganados.

COPINHA : MAIS DE MIL GAROTOS POBRES TENTAM A ASCENSÃO SOCIAL VIA FUTEBOL

Poucos conseguirão, mas tão logo ascendam, esquecerão dos deserdados

iniciou-se, com jogos em todo o Estado de São Paulo, a Copa São Paulo de Futebol Junior, popularmente chamada de Copinha. 128 times, vindos de cidades de quase todos os estados do país  levarão a campo mais de mil garotos em busca de  um lugar ao sol. Mais de 95% deles são humildes e veem no futebol sua única oportunidade de ascensão social .

A Copinha tem servido para descobrir  tanto talentos de primeira linha como carregadores de bola, trabalhadores que de forma mais humilde jogarão no futebol profissional.  Pena que em se destacando, eles vão esquecer as origens, os que não passarão de uma breve aparição e depois voltarão ao anonimato para tentar sobreviver e sustentar suas famílias. Alguns, como Neymar, poderão separar algumas migalhas, coisa de 1/10000 do que ganham por ano para abrir uma casa para que cuidará de algumas crianças pobres. O objetivo é sustentar a imagem de atleta que tem preocupação social

Pode ser que tenhamos surpresas, como em anos anteriores, mas tão só o esforço da garotada justifica a atenção nesse torneio. Repita-se: são 128 times e mais de mil garotos para prestarmos atenção.

* Percival Maricato é advogado

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