Garantia da paz é efeito da paridade, não do desarmamento, por J. Carlos de Assis

Garantia da paz é efeito da paridade, não do desarmamento

por J. Carlos de Assis

Os neoconservadores norte-americanos, embora privados recentemente de seu principal formulador belicista, Zbigniew Brzezinski, devem estar se divertindo com a assinatura do tratado para banir armas nucleares anunciado ontem. É um compromisso juramentado de centenas de países, inclusive o Brasil de Temer, que partilham entre si uma única característica comum, a saber, não ter armas nucleares nem intenção aparente de fabricá-las.

É muito conveniente para os neoconservadores norte-americanos desarmar os outros países enquanto entopem de bombas nucleares e de hidrogênio seus arsenais estratégicos, que a qualquer momento podem ser usados contra países não nuclearizados. Em face do tratado assinado ontem, não houve sequer um gesto simbólico dos Estados Unidos de se comprometerem a não usar armas atômicas contra países que não as tem.

Não fosse o arsenal da Rússia e da China, o mundo estaria escravizado de forma absoluta pelos norte-americanos. Verificou-se, no reinado de Hillary Clinton, a ampla difusão da chamada primavera árabe pela África e Oriente Médio, impulsionada por ONGs estimuladas pelo Departamento de Estado. A Síria teria o mesmo destino da Líbia, dividida entre centenas de milícias, não fora a intervenção da Rússia, uma superpotência nuclear, em favor de Assad.  

Paradoxalmente, a única situação em quem o armamento nuclear é nocivo ocorre quando é a expressão de um poder unilateral. Por exemplo, quando do lançamento da bomba em Hiroshima e Nagasaki, com o Japão não podendo reagir na mesma moeda. Ali houve alguma justificativa pois as Forças Armadas japonesas se recusavam terminantemente a capitular.  Desde então, graças ao cavaleiro Stalin, não houve guerra entre as superpotências.

Um aspecto particular do poder atômico é que ele é basicamente qualitativo. Ter uma bomba ou cinco, ter cinco bombas ou cinqüenta, ter 8 mil como parece ter os Estados Unidos tem uma efeito dissuasório semelhante. Daí o incômodo provocado pela Coréia do Norte: quantas bombas, quantos foguetes tem? Na dúvida seria melhor negociar. Mas Donald Trump certamente procurará seguir a linha dos neoconservadores, querendo o impossível – a saber, a destruição da Coréia do Norte sem retaliação chinesa ou russa.

A paridade atômica qualitativa é a única situação que permite ao mundo respirar, livre dos tentáculos de poder econômico, financeiro, e político norte-americana, sob seu guarda chuva nuclear. Não é uma questão de teoria, mas de realpolitik. Muitos dos eventos de grande risco para a humanidade ocorridos ao longo do século XX se resolveram sem guerras, graças à paridade nuclear das forças oponentes.

Sem armas nucleares do lado russo, os Estados Unidos teriam bombardeado e destruído Cuba no início dos 60 e entrado em guerra contra Moscou;

Sem armas nucleares do lado russo e sem o apoio chinês, os Estados Unidos teriam destruído a Coréia do Norte no início dos 50;

Sem armas nucleares do lado russo, os Estados Unidos teriam invadido e subjugado o Vietnã do Norte;

Sem armas nucleares dos dois lados, Índia e Paquistão já teriam ido para sua quarta guerra de fronteiras;

Sem arma nuclear, Israel poderia ser submetido a uma quarta guerra com os árabes, o que, infelizmente, lhe dá o monopólio do poder na região ao ponto de pressionar ferozmente os Estados Unidos para romper o acordo nuclear com o Irã.

Diante desse quadro, é mais justo do ponto de vista político ampliar o espectro de países nuclearizados do que fazer um tratado de banimento que só serve para quem não tem a arma. Ademais, diante da hipótese remota de banimento total das armas nucleares, o que seria feito das outras armas? Acaso são menos catastróficas as armas eletrônicas, químicas, sônicas, as grandes esquadrilhas de supersônicos, os submarinos nucleares, os grandes porta-aviões, hoje felizmente equilibrados entre Estados Unidos, Rússia e China? O dirigente de Pyongyang, que se revela um  louco com suas bravatas, seria mais louco que Trump, com as suas?

 

Redação

7 Comentários

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  1. Perfeito!

    Junto com a privataria, a assinatura do TNP pelo boquirroto foi O MAIOR CRIME DE LESA-PÁTRIA da nossa história.

    O que o Brasil ganhou com isso? PORRA NENHUMA.

    Não assinar o TNP não significa que o país imediatamente faria uma bomba. Simplesmente permitiria que o país pudesse fazer isso quando e onde isso fosse de seu interesse e necessidade. O nome disso é SOBERANIA.

    Quem tiver oportunidade, assista às entrevistas que o Oliver Stone fez com o Putin. Num dos episódios (terceiro), Putin fala sobre SOBERANIA. Resumidamente, eis o que ele diz: “São poucos os países do mundo que podem ser verdadeiramente SOBERANOS. Alguns ESCOLHEM se submeter a outros. Ninguém os obriga a isso.”

  2. Muito se fala sobre os menos

    Muito se fala sobre os menos de 100 mil pessoas que morreram horrendamente nas bombas lançadas no Japao, ao final da Se6unda guerra, mas as pessoas tiram isto do contexto histórico da 6uerra -se é que elas se deram o trabalho de conhecer esse contexto em algum momento:

     

    https://en.wikipedia.org/wiki/Strategic_bombing_during_World_War_II     O contexto consiste em um período em que se bombardeava cidades inteiras para destruir a “moral” dos cidadaos – na verdade, matar a força de trabalho das indústrias  

     

    Somente na Alemanha, morreram várias vezes mais civis que no bomberdeio atomico realizado no Japao.

     

    Nos bombardeios atomicos, dezenas de milhares morreram instantaneamente, outras dezenas de milhares ficaram horas va6ando pela cidade com a pele dos braços mais-ou-menos solta devido ao calor das bombas até finalmente morrer e mais outras milhares de pessoas sofreram com a radiaçao – um horror digno de um inferno. 

    Na Alemanha, In6laterra e outros países que passaram por campan4as similares, centenas de milhares de pessoas morreram queimadas, carbonizadas e soterradas ao longo de horas de sofrimento; outras milhares ficaram aleijadas e sem casas – se tornaram mendigos a passar forme em cidades desprovidas de infraestrutura básica, uma vez que era justamente esta a intençao do strategic bombing.- de novo, um horror digno de um inferno. 

     

    Só existe um modo de evitar o 4orror: dissuadir potencias rivais de entrar em guerra e a ausencia de bombas atomicas nunca realizou essa tarefa e nem acabou com os horrores da morte de inocentes. 

    Kennedy, logo antes de se assinado, discursou em defesa de um programa de desarmarmento completo das naçoes – somente isto faz sentido. Eliminar bombas atomicas sem eliminar outros tipos de armas apenas atende aos interesses de quem já é potencia nuclear e dá maior margem de manobra pra essas potencias – leia-se, irao estimular mais golpes ao redor do mundo e radicalizar seus sistemas de exploraçao sobre os outros países, incluindo os mecanismos de controle psicoló6ico que torna as populaçoes incapazes de entender as origens de sua desgraça e que reduzem a capacidade de cooperaçao que é necessária para reverter esses sistemas de exploraçao – isto também é digno de um inferno..  

     

    De fato, os neoconservadores devem estar achando isto tudo muito en6raçado, uma vez que o Nobel desenvolvia armas, como o dinamite, na esperança de que, quando a tecnologia bélica estivesse avançada o suficiente, as pessoas ricas e poderosas que lucram com as guerras nao iriam mais se sentir seguras com políticas que colocam seus países na direçao dos conflitos. Ele apenas nao levou em conta que essas pessoas ricas e poderosas iriam, um dia, se valer de pacificistas para proteger seus investimentos. 

     

  3. Muito bom o artigo. Fazendo

    Muito bom o artigo. Fazendo uma analogia com o mesmo, o Brasil nunca terá paz com o arsenal midiático tupiniquim (domado, aliás, pelos EUA) atirando tão-somente nos políticos de esquerda e blindando os aliados da direita. O domínio midiático e seu monólogo ideológico, frise-se, afeta corações e mentes dentro do Judiciário. Consigo imaginar a presidenta do STF calçando suas pantufas ligadinha no Bom Dia Brasil e depois Globo News; e dirigindo seu carro (dizem q ela dispensa o motorista oficial) ouvindo a CBN. Isto para ficar só num exemplo.

  4. mmmm

    Copiando FHC o usurpador sócio do Joesley tem como alvo a destruiçao da Soberania Nacional e a Síndrome de Vira-Latas.

    O  primeiro, sem mesóclises, anunciou (eu VI) que não sabenos fazer nada direito e DEVEMOS chamar os sábios gringos.

  5. Muito bom artigo, so discordo

    Muito bom artigo, so discordo do penúltimo parágrafo sobre Israel. “Sem arma nuclear, Israel poderia ser submetido a uma quarta guerra com os árabes, o que, infelizmente, lhe dá o monopólio do poder na região ao ponto de pressionar ferozmente os Estados Unidos para romper o acordo nuclear com o Irã.” Israel é resultado de uma guerra ilícita onde sionistas roubaram terras palestinas matando seus habitantes e expulsando os que sobreviveram, cujo governo age com impunidade utilizando mesmas armas que os EUA, invadindo saqueando matando o povo palestino que luta contra esse agressor que tem aval norte americano, e o resultado é esse terrorismo que vemos no Oriente Medio que afeta toda a Europa conivente com esses crimes!

  6. “Paradoxalmente, a única
    “Paradoxalmente, a única situação em quem o armamento nuclear é nocivo ocorre quando é a expressão de um poder unilateral”
    Se houvesse um poder unilateral as armas nucleares seriam desnecessárias. A lógica da corrida armamentista é justamente a de que se nós não desenvolvermos certo armamento outros o farão e nós perderemos nossa vantagem diferencial. Além disso sabemos que existe todo um complexo sistema industrial por trás dessa corrida. É big business.
    A Coreia do Norte não faz parte do sistema de equilíbrio nuclear global e mesmo com armas nucleares continuará não sendo. Ao contrário, ela desestabiliza o sistema mas não tem suficiente peso relativo para se incorporar a ele.

  7. Bomba A ou H X Arma Nuclear

        Artigos politicos são uteis até certo ponto, principalmente para diplomatas e jornalistas, só que a realidade é MUITO diferente, pois quem esta no “ramo” sabe que este simulacro de Tratado não serve para nada, é somente um TNP “bombado”, um motivo para que em NY na UN, diplomatas se refestelem em coquetéis, procedam a animadas assinaturas, na real : Ficarem bem na foto.

         Arma nuclear, tipo um artefato A, é facil de fazer – tecnologia dos anos 40 – reduzir seu peso é tecnologia dos anos 50/60, o problema que “pega” é torna-la operacional e efetiva ( causar medo ), pendura-la em uma aeronave é ridiculo há mais de 40 anos, portanto se querem discutir ou avaliar de como este “mundo” funciona, os acordos/tratados que devem ser analisados são : MTCR/INF e ITAR ( Missile Technology Control Regime ) e ( International Traffic Arms Regulations ).

         Exemplo :  O Missil russo “9k720 Iskander ” ( SS-26 Nato ) quando utilizado pela Russia possui alcance de até 600 Km e ogiva nuclear ( 100 – 150 kt ) com direcionamento Glonass e Tercom, mas quando vendido pela Rosoboronexport a outros paises é limitado no alcance de 280 Km e ogiva de no maximo 480 Kg de HE, e caso se deseje modifica-lo, desista é impossivel ele morre quando “aberto”, pois é obrigatório pelo protocolo MTCR/INF esta garantia de “inutilização”.

         O problema de “nuclearizar” uma Nação, não é a “bomba”, mas sim com entrega-la em um alvo, de area (estratégico) ou objetivo ( tático ), o que se trata de um longo caminho, pois detonar um artefato em um buraco ou no oceano,até a Africa do Sul realizou nos anos 70 ( com colaboração israelense ), mas tornar este artefato operacional, são outros 500.

          Exemplo 2 : Israel começou com artefatos nos anos 60, os tornou viaveis nos anos 70/80 (ogivas ), mas operacionais a partir dos anos 2000 com os misseis IRBM/ICBMs Jerichó, e os misseis cruise Delliah/Popeye ER.

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