Guerra na Ucrânia pode ser fator decisivo no segundo turno das eleições na França

Victor Farinelli
Victor Farinelli é jornalista residente no Chile, corinthiano e pai de um adolescente, já escreveu para meios como Opera Mundi, Carta Capital, Brasil de Fato e Revista Fórum, além do Jornal GGN
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A extremista Marine Le Pen prometeu retirar o país do comando militar integrado da OTAN, enquanto Emmanuel Macron acusa sua adversária de ser aliada de Putin

Neste domingo (24/4) acontecerá o segundo turno das eleições francesas, repetindo o mesmo cenário de cinco anos atrás, no qual se enfrentam o social liberal Emmanuel Macron, líder do partido República em Marcha, e a representante da extrema-direita, Marine Le Pen, do partido Reagrupamento Nacional.

Mas uma das questões centrais durante as duas semanas de campanha, desde o primeiro turno realizado em 10 de abril – quando Macron venceu com 27,84%, contra 23,15% de Le Pen – está fora das fronteiras francesas: a guerra na Ucrânia e as relações do país com os envolvidos nela, como a Rússia e a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte).

Apesar de estar atrás nas pesquisas, Marine Le Pen avançou alguns degraus com a promessa de retirar a França do comando militar integrado da OTAN, imitando o gesto feito em 1966 por Charles de Gaulle – o país só voltaria a esse lugar em 2009, por decisão de Nicolás Sarkosy.

Nos últimos dias, Le Pen tentou suavizar seu antigo discurso a favor do “Frexit” – a saída da França da União Europeia, como o Reino Unido fez no “Brexit”. A extremista assegura, agora, que seu eventual governo não defenderá essa proposta, mas sim uma reforma profunda dentro do bloco europeu. Alguns analistas políticos locais consideram que esta mudança tem a ver com um novo discurso em que a OTAN é apontada como seu principal inimigo.

No entanto, Macron usou esse argumento de sua adversária para acusá-la de ser uma aliada do presidente russo, Vladimir Putin. E não está longe da verdade: Le Pen defende que o Ocidente deve se aproximar da Rússia e até mesmo abrir as portas para a entrada daquele país na OTAN quando o conflito na Ucrânia terminar. Segundo ela, o maior inimigo geopolítico da atualidade é a China e seu modelo comunista, e o principal efeito colateral da guerra é a crescente aproximação entre Pequim e Moscou.

Por sua vez, Macron afirma que pretende viajar para Kiev após as eleições, para reforçar seu apoio a este país no conflito com a Rússia, declaração que foi acompanhado de um convite oficial do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, gerando acusações de Le Pen de intervencionismo eleitoral.

A candidata da extrema direita também acusou a União Europeia de intervenção, por supostamente adiar um novo incremento das medidas de embargo ao gás russo para depois do segundo turno, o que ajudaria Macron em sua reeleição – considerando que, se tal política fosse adotada durante a campanha, provocaria um aumento significativo no preço do combustível, o que poderia afetar a votação do atual presidente.

As pesquisas indicam que Macron é o favorito para vencer neste domingo, mas sua vantagem vem diminuindo nos últimos dias. As duas últimas medições, divulgadas no início desta semana, foram a da consultora Ipsos, onde Macron tem 56% e Le Pen 44%, e a da consultora Odoxa, que mostra uma diferença menor: Macron com 53% e Le Pen com 47%.

Se esses números estiverem corretos, Marine Le Pen teria que produzir uma grande reviravolta na reta final – o que não é impossível, mas parece difícil – enquanto Emmanuel Macron espera confirmar um pequeno favoritismo, que o levaria a uma vitória muito mais estreita que a de 2017, quando obteve 66% dos votos para derrotar a mesma adversária.

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Victor Farinelli é jornalista residente no Chile, corinthiano e pai de um adolescente, já escreveu para meios como Opera Mundi, Carta Capital, Brasil de Fato e Revista Fórum, além do Jornal GGN

1 Comentário

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  1. A França está numa sinuca de bico, tendo que escolher em o mau e o pior. Entre o mal porvir e o mal que já está, pela lógica, ela viveria um mal diferente votando em Marie Le Pen. Se a França tiver juízo vai optar pelo mal que já conhece.

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