Blog: Democracia e Economia
Impactos do conflito Rússia-Ucrânia para a hegemonia do dólar
por Júlia Leal e Luiz Fernando de Paula
Os Estados Unidos detêm o predomínio militar, cultural e financeiro sobre o resto do mundo. Como resultado, conseguem formular políticas de acordo com os objetivos domésticos e suas ações reverberam sobre as demais nações, se aproveitando do fato de ser emissor de uma moeda de aceitação internacional, naquilo que ficou conhecido como “privilégio exorbitante”. Por outro lado, a China, enquanto segunda maior economia mundial, possui um papel crucial nos fluxos de comércio e vem aumentando cada vez mais sua relevância nos mercados financeiros. Após a crise financeira de 2008, o governo chinês decidiu impulsionar a internacionalização de sua moeda. Renminbi (‘a moeda do povo’) é o nome oficial da moeda da China, enquanto o iuane é a sua unidade de conta. Existia a estratégia de estabelecer gradualmente uma outra moeda de reserva, que pudesse competir com o dólar e reestruturar o Sistema Monetário Internacional (SMI). Assim, a instabilidade sistêmica provocada pela crise financeira iniciada nos Estados Unidos em 2007/08 foi a engrenagem necessária para expandir o uso do renminbi (RMB).
O atual conflito entre Rússia e Ucrânia parece ser mais um impasse entre Casa Branca e Kremlin. Desde o início da invasão das tropas russas ao território ucraniano, Joe Biden vem liderando uma série de sanções, com impactos econômicos observados não só na Rússia, mas como em toda a economia global. Entre as sanções econômicas adotadas pelos Estados Unidos contra a Rússia, estão o congelamento de parte das reservas cambiais (cerca de US$ 300 bilhões dos US$ 630 bilhões das reservas do país) e a exclusão dos bancos russos do SWIFT, sistema de pagamentos entre instituições financeiras coordenados pelos bancos centrais das dez maiores economias do mundo. Apenas nos dias 28/2/22 e 01/03/22, o rublo desvalorizou cerca de 30%, obrigando o banco central russo a elevar sua taxa de juros de 9,5% para 20% a.a[1].
A China possui estreitas relações com a Rússia, em particular no que se refere a adoção de uma postura antagônica em relação aos Estados Unidos. Em termos do comércio exterior, a China se consolidou como o principal destino para as exportações (cerca de 15% em 2019), sendo a Rússia a segunda mais importante fonte de petróleo para a China. Dentre as parcerias entre esses dois países, pode-se destacar a Organização para Cooperação de Xangai (OCX), que foi criada em 2001 com o objetivo de fortalecer a integração regional entre os países membros (China, Rússia, Cazaquistão, Quirguistão, Tajiquistão e Uzbequistão), promovendo uma cooperação política, econômica, comercial, tecnológica e cultural. Além disso, a organização busca estabelecer uma nova ordem política e econômica internacional.[2] Com efeito, a OCX representa uma proteção contra a influência norte-americana.
Vale destacar que alguns movimentos importantes estão ocorrendo. A Arábia Saudita está em um processo de negociação com a China para fixar parte das vendas de petróleo em iuane, a unidade de conta da moeda chinesa. Nesse sentido, contratos futuros de petróleo poderão ser denominados em iuane.[3] Esta é uma clara tentativa de reduzir a predominância do dólar no mercado petrolífero, uma vez que a Arábia Saudita – maior exportadora de petróleo para China – não está satisfeita com a geopolítica adotada pelos norte-americanos. A efetivação dessa iniciativa poderá aprofundar o maior uso da moeda chinesa e será mais um espaço de concorrência direta com o dólar. No entanto, esta aproximação ainda estará longe de derrubar o favoritismo do dólar nas negociações globais. Além disso, como resposta às sanções impostas à Rússia, Vladimir Putin decidiu não aceitar pagamentos em dólar ou euro pelo fornecimento de petróleo e gás aos EUA e aos países membros da União Europeia, esses bastante dependentes da Rússia no fornecimento de gás.
De fato, apesar de ser uma boa aposta para se consolidar como uma moeda internacional, o RMB ainda possui um papel limitado. O paradoxo da internacionalização do RMB caracteriza-se pelo fato de a China adotar medidas para aumentar o uso internacional de sua moeda ao mesmo tempo que mantém controle de capitais e um sistema financeiro ainda pouco desenvolvido e controlado pelo governo. O RMB vem sendo bastante utilizado em transações internacionais, a despeito da política de controle de capitais, mas a economia chinesa possui alguns entraves para consolidar a internacionalização, como a estrutura de seu sistema financeiro e a política de controle da conta capital, que impõe restrições à entrada e saída de fluxos financeiros externos. Portanto, a moeda chinesa poderá ser capaz de desbancar outras como libra e iene, mas o dólar ainda será, pelo menos no futuro próximo, a moeda dominante do atual sistema monetário e financeiro internacional.
Assim, o mundo parece caminhar a longo prazo para uma “nova ordem mundial financeira”, com Estados Unidos e China disputando, lado a lado, sua hegemonia monetária. Para avançar na internacionalização de sua moeda, a China precisa flexibilizar ainda mais suas normas sobre controle de capitais, intensificar a regulamentação das instituições financeiras, revisão da política cambial, entre outras medidas. Ainda há um longo caminho a ser percorrido!
Júlia Leal – Doutoranda em Economia pela UFRJ e pesquisadora associada ao Finde/UFF
Luiz Fernando de Paula – Professor de Economia do IE/UFRJ, coordenador do GEEP/IESP-UERJ e pesquisador associado ao Finde/UFF
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O Grupo de Pesquisa em Financeirização e Desenvolvimento (FINDE) congrega pesquisadores de universidades e de outras instituições de pesquisa e ensino, interessados em discutir questões acadêmicas relacionadas ao avanço do processo de financeirização e seus impactos sobre o desenvolvimento socioeconômico das economias modernas. Twitter: @Finde_UFF
O Grupo de Estudos de Economia e Política (GEEP) do IESP/UERJ é formado por cientistas políticos e economistas. O grupo objetiva estimular o diálogo e interação entre Economia e Política, tanto na formulação teórica quanto na análise da realidade do Brasil e de outros países. Twitter: @Geep_iesp
O Núcleo de Estudos em Economia e Sociedade Brasileira (NEB) desenvolve estudos e pesquisas sobre economia brasileira, em seus diversos aspectos (histórico, político, macroeconômico, setorial, regional e internacional), sob a perspectiva da heterodoxia. O NEB compreende como heterodoxas as abordagens que rejeitam a hipótese segundo a qual o livre mercado proporciona a melhor forma possível de organização da economia e da sociedade.
[1] https://agenciabrasil.ebc.com.br/internacional/noticia/2022-03/congelamento-de-reservas-externas-ameaca-economia-russa
[2] http://eng.sectsco.org/about_sco/
[3]https://valor.globo.com/mundo/noticia/2022/03/16/em-guinada-historica-sauditas-avaliam-vender-petroleo-em-yuan-a-china.ghtml
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Eu imagino (sonhar não custa nada) que o Partido Democrata americano já percebeu o blefe que Joe Biden deu no partido e nos eleitores ameru anos, ao se vender como uma pessoa competente, centrada e de boa índole. Mas, de tão decepcionados que estão, eu penso que para não causar um desastre ainda maior ao já bastante partido Partido Democrata, eles ressuscitaram as guerras “sem nenhum sentido” apenas para não serem um eterno Partido derrotado por seu adversário e rival, o Partido Republicano. Creio que planejaram essa grande provocação que fizeram a Rússia para camuflar o desastre governamental de Joe Biden e do Partido Democrata. Lembrando que conseguiram o desastre de conquistarem a maior inflação, entre todos os governos anteriores; conseguiram depreciar e desvalorizar não apenas a fortaleza do dólar como moeda universal, mas causar pânico nas finanças do mundo por conta da instabilidade e insegurança que a moeda hoje representa. Daí para provocar uma cortina de fumaça que desviasse os olhos do mundo sobre a imensa incompetência do governo de Joe Biden, também ressuscitaram a velha rixa contra a Rússia, através da carona que utilizaram na campanha de Joe Biden contra Donald Trump, em que acusam os russos de ajudarem Trump a vencer Hillary Clinton, por conta de uma reação surpreendente e muito duvidosa. Avalio que precisavam ter uma avaliação atualizada sobre o poder bélico e principalmente sobre o poder de reação da Rússia, e para isso teriam que escolher um chefe de nação ambicioso e que além de ser uma marionete deslumbrada pelos EEUU e o suposto 1º mundo, ainda teria que ter a coragem de provocar a Rússia com gravidade e de forma intensa. Então, usaram o hoje famoso Zé Lensky como isca, para alimentar o suposto interesse da Ucrânia em se associar à OTAN. Assim feito, eu avalio, aos democratas só restava colocar lenha e gás na fogueira acesa, mas cula calor maior iria arder no centro do Circo dos palhaços da Europa, que como viciados dependentes das benesses e da suposta segurança do Xerife norte americano, se ajoelham a tudo que lhes são ordenado. Com todas informações coletadas, esmiuçadas e transformadas em estratégias, eu acho que o partido começa a assumir o poder que seria do grande blefe, Joe Biden. Portanto, se a Rússia mostrou tudo de seu poder bélico, de sua capacidade de reação e do uso das suas estratégias certamente não estará em bons lençóis, mas se já perceberam as intenções amadoras e infantis do fracassado governo de Joe Biden e resolveram brincar com a ingenuidade democrata americana, o sonho americano será um grande pesadelo a ser detonado como resposta pela Rússia. Rezemos para que oundo caia na real e abandone Joe Biden e a ganância americana na beira da praia.