Marcio Pochmann: Enquanto o IBGE leva 12 anos para fazer o Censo, plataformas digitais fazem um censo por dia

Pela soberania do país, o IBGE neste momento trabalha no desenvolvimento de um sistema nacional para centralizar dados estratégicos

Tânia Rêgo – Agência Brasil

A Live do Barão, que conta com a mídia independente, entre eles o GGN, recebeu o economista e presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Marcio Pochmann, que falou sobre a preocupação e os avanços do governo em relação ao uso de dados e da inteligência artificial para entender melhor o país e as demandas da população.

Pochmann comentou que até na Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal), o descompasso entre os avanços estatais em relação ao uso estratégico de dados da população em comparação às plataformas digitais, que reúnem bancos de dados atualizados diariamente sobre os cidadãos de todo o mundo, é um tema recorrente.

O presidente do IBGE comentou que há, inclusive, pensadores que acreditam que estamos prestes a entrar em uma nova Idade Média, período marcado pela desinformação, enquanto o conhecimento se concentra em grandes corporações transnacionais. 

“Elas, na verdade, vêm concentrando as informações e os dados, e estamos num momento em que essas grandes corporações têm mais informações que instituições como o IBGE, por exemplo, e mesmo que os governos, porque o IBGE leva 10 anos, no caso agora passado, levou 12 anos para fazer um Censo, visitar a casa de cada um dos brasileiros, num país de dimensão continental, com tantas desigualdades e diferenças regionais, e vai levar um ano, dois anos, até conseguir sistematizar todas as informações e disponibilizá-las à sociedade, ao governo, enfim. O que nós temos hoje é que praticamente a cada dia, essas corporações que comandam as redes sociais, elas têm uma espécie de censo diário, porque ao final do dia elas reúnem todas as nossas informações pessoais”, comentou Marcio Pochmann.

Para tentar garantir a soberania do país, o IBGE neste momento trabalha no desenvolvimento de um sistema nacional para centralizar dados estratégicos, o Singed.

“Então, me parece que essa é a questão que você levanta, o Estado voltou a ser fundamental nesse sentido, especialmente no que diz respeito à questão das informações e dados, que para muitos, inclusive, tem um papel tão importante como tiveram empresas da era industrial, como as montadoras de veículos, como as petroleiras, como as químicas, pois ninguém toma decisão sem ter tido a informação do dado”, emenda.

Outro grande desafio do setor público é o letramento digital. “A União Europeia, que está muito preocupada com isso, tem um plano de letramento de sua população, deseja chegar até 2030 com cerca de 30% dos europeus alfabetizados. O Brasil não tem um plano nesse sentido. Nós estamos aqui levantando essa necessidade, mas que me parece chave. Então, temos essa questão do letramento, a integração dos dados, a soberania das informações e tem um outro ponto que me parece importante, que está relacionado, que diz respeito ao equipamento, ao material produtor de tecnologia, porque nós somos um país que ingressou muito mal na era digital, do ponto de vista da divisão internacional do trabalho.”

O economista observa que, ainda que o Brasil seja o quarto maior mercado consumidor de bens e serviços digitais, o país é dependente de soluções estrangeiras e deixa de produzir empregos de qualidade. Os jovens, aptos para este novo mercado, acabam migrando.

“Precisamos rever a forma com que o Brasil hoje produz tecnologia e aí destaca o papel que vem tendo o presidente Lula, não apenas na questão da neoindustrialização, mas também esse projeto de inteligência artificial, porque é um ponto necessário pelo qual o Brasil não pode continuar dependendo fundamentalmente do exterior”, continuou Pochmann.

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