Antes de relatório oficial, secretário de Saúde responsabiliza gestor de Santa Casa

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
[email protected]

 
Jornal GGN – A auditoria nas contas da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo ainda não foi concluída. Mas o secretário de Saúde do Estado de São Paulo, David Uip, quis evitar consequências negativas na disputa eleitoral, faltando alguns dias para a população decidir nas urnas. Antecipou-se e anunciou o que seriam as conclusões da auditoria, responsabilizando unicamente o gestor da unidade, Kalil Rocha Abdalla, por esgotar os recursos da instituição.
 
“Trata-se de uma desnecessária e inoportuna politização do debate que em nada ajuda a buscar soluções adequadas para o atendimento à população”, disse o Ministério da Saúde, em nota oficial.
 
A pasta federal informou que as declarações de Uip “não refletem o consenso entre os membros da Comissão Técnica criada para avaliar a situação e gestão da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo”. E completou: “a pasta lamenta que a secretaria estadual esteja divulgando seu posicionamento institucional como conclusões da Comissão”.

 
O caso
 
A varredura para investigar o buraco nas contas da Santa Casa teve início em agosto e teria até 70 dias para descobrir porque o Estado de São Paulo não transferiu R$ 74 milhões destinados pelo Ministério à unidade. O maior hospital filantrópico da América Latina virou assunto de desentendimento entre o governo federal e o estadual, depois que o pronto socorro ficou fechado por 30 horas, devido a uma dívida com fornecedores de R$ 50 milhões.
 
O Ministério da Saúde resolveu, então, conferir as transferências. Comparou as portarias que a pasta autorizou o pagamento, os dados enviados pela secretaria estadual, com a confirmação da Santa Casa.
 
Uma carta enviada pelo ex-secretário executivo e secretário de Atenção à Saúde do Ministério, Fausto Pereira dos Santos, ao secretário David Uip, questiona a divergência dos valores. “Visando dar transparência dos recursos transferidos à Santa Casa, informo que no exercício de 2013 este Ministério identificou recursos financeiros de fonte federal no montante de R$ 293.954.752,20, e no exercício de 2014, no período de janeiro a maio, o valor de R$ 127.334.471,24. Estes valores se referem aos incentivos financeiros e produção do estabelecimento, conforme planilha anexa”.
 
Continua: “conforme dados informados por essa Secretaria [estadual], verificou-se que no exercício de 2013 foram transferidos recursos financeiros à Santa Casa no montante de R$ 414.238.822,84, sendo R$ 176.973.809 de fonte estadual e R$ 237.265.013,84 de fonte federal. No exercício de 2014, até a competência maio, foram transferidos recursos no montante de R$ 173.415.534,25, sendo R$ 67.653.600 de fonte estadual e R$ 105.761.934,25 de fonte federal”.
 
Por fim, compara ao montante verificado pela unidade hospitalar: “em conformidade com os dados enviados pela Santa Casa, no exercício de 2013, esta informa que recebeu recursos de fonte federal desse estado, no montante de R$ 241.360.565,83 e em 2014 recebeu o valor de R$ 106.076.077,80, da mesma fonte até a competência maio”.
 
Tornada pública a informação, David Uip justificou que a pasta federal contabilizou duas vezes um valor de incentivos não mais existentes e que o valor hoje está incorporado a outro tipo de repasse. O Ministério, mais uma vez, respondeu que independente de estar associada a outros repasses, essa quantia deveria ser constatada nas contas, o que nao ocorreu. 
 
Relatório da auditoria
 
“Em outras versões, a secretaria também informava que os incentivos federais Fideps, IntegraSUS e Expansão da Oferta foram incorporados à produção da Santa Casa de São Paulo. Assim como a própria secretaria de estado divulgou anteriormente à imprensa, a produção da Santa Casa tem se mantido estável ao longo dos últimos anos. Ou seja, caso esses recursos tivessem sido incorporados à produção, a ampliação da oferta deveria ser correspondente aos recursos repassados, o que não se observou efetivamente”, observou o Ministério da Saúde, na nota oficial desta segunda-feira (29).
 
Por essa razão, explica que o discurso de Uip “nem esclarece nem traz fato novo às explicações dadas pelo gestor estadual sobre o repasse financeiro”. 
 
As informações divulgadas como novidade pelo secretário são que Kalil Rocha Abdalla teria “praticamente” esgotado os recursos entre 2009 e 2013, caindo o patrimônio líquido de R$ 220 milhões para R$ 323 mil. Uip discursou que os números são “alarmantes” e que “os problemas de gestão são evidentes”. “Estamos muito preocupados”, concluiu.
 
Entretanto, em julho deste ano, quando foi levantada a possibilidade da auditoria, o provedor do hospital havia afirmado: “a porta está aberta, ele [governo de São Paulo] que traga elementos dele, da secretaria da saúde do município, elementos do ministério. Para mim será ótimo porque vou receber um atestado de idoneidade, atestado de capacidade. Não vai ser um problema de má gestão”.
 
Com a expectativa de ser concluída nesta quinta-feira (02), o relatório que também traz conclusões do Ministério da Saúde, representado por técnicos na auditoria, persiste que os repasses não foram integralmente destinados à entidade.
 
“A secretaria, novamente, ou demonstra desconhecimento e falta de preparo técnico ou busca iludir a opinião pública”, disse a pasta federal.
 

Leia também: O buraco nas contas da Santa Casa

 

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

5 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. É muito simples, basta o

    É muito simples, basta o secretário devolver a união os recursos não transferidos à Santa Casa pis se os recursos foram pagos em duplicidade caberia a secretaria devolvê-los a quem de direito.

  2. ABSURDO !

    O gestor tornou publico os recibos feitos pelo governo do estado ,o governo federal mostrou os repasses feitos ,só o governo do estado não mostrou publicamente o que recebeu e o que repassou ,,primeiro falou em defasagem das tabelas do Sus,depois alegou que o governo federal não ajudava as santa casas há muito tempo e que essas funcionavam graças a generosidade do governo estadual e por ultimo após o ministro da saúde divulgar o recibo dos repasses ,Uip veio a publico com uma salada de numeros .

    David Uip bateu o repasse e grita “pega ladrão”

  3. Não é ma gestão, é outra coisa.

    Fui procurar onde saiu esta noticia importante sobre os recursos publicos da Santa Casa de M. de SP e é matéria do GGN. Muito bem, mas e o Estadão, a Folha, a TV Globo sempre tão interessados na moralidade publica, parece que não não se interessam muito em saber onde esta o dinheiro da Santa Casa. 

  4. A Santa Casa do Rio de

    A Santa Casa do Rio de Janeiro teve gravissimos problemas de gestão com um Provedor que tinha um perfil muito parecido com o de São Paulo, até etnicamente. O Provedor carioca vendeu até tumulos as centenas e transferiu para a familia dele mais de 40 imoveis da Santa Casa.

    Na ultima eleição, realizada há 6 meses apresentou-se como candidato a Provedor em São Paulo um médico de altissima qualificação e reputação e que reve um bem sucedido projeto de recuperação de um Hospital Infantil.

    O candidato obvio pela bom curriculo perdeu a eleição e foi reeleito o atual, que no mesmo dia concorria a presidente de um clube de fuebol, mostrando-se polivalente em qualquer instituição

    de grande orçamento, tanto faz ser de futebol como ser de UTI.

    No Brasil tudo que não tem dono vira presa facil, é da cultura latino-americana.

    Fundações, associações beneficentes, Santas Casas, até a Cruz Vermelha Internacional foram saqueadas no Brasil. Nossa tradição é muito ruim nessa area. A venda da Antarticta pela Fundação Zerrener para a AMBEV foi emblematica, uma estoria de arrepiar.

    Esse é o pano de fundo.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador