Andre Motta Araujo
Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo
[email protected]

60 anos do ataque à memória de Stalin por Kruschev

Por André Araújo

SESSENTA ANOS DO ATAQUE À MEMÓRIA DE STALIN POR KRUSCHEV – Perante um auditório estarrecido de 1.500 delegados do Partido Comunista da União Soviética, o Primeiro Secretário Nikita Kruschev, que tinha assumido o poder três anos antes pela morte de Stalin, fez, em 25 de fevereiro de 1956, um discurso que mudou a história da URSS e do comunismo em nível mundial, redirecionando o modo como a URSS seria governada daí para frente.

O Primeiro Secretário desmontou o mito do “guia genial de todos os povos” cujo culto era uma religião na União Soviética.

O discurso focou em quatro pontos. O central e mais profundo foi a conta dos “Expurgos” que ocorreram entre 1937 e 1938, quando 1.500.000 pessoas foram presas e 690.000 executadas, incluindo praticamente todos os companheiros de Stalin na revolução de 1917, os “fundadores do comunismo soviético”. Kruschev disse que quase todas esses executados eram inocentes e só a paranoia de Stalin via nele inimigos da URSS.

O segundo ponto foram os imensos erros de Stalin na condução da Segunda Guerra, quando deixou a URSS despreparada, especialmente afetada pelos expurgos no Exército que eliminou 85% da cúpula e deixou a URSS com suas fronteiras desguarnecidas, confiando em Hitler, apesar de persistentes avisos de que a Alemanha atacaria. Esses “erros” de Stalin provocaram a imensa perda de vidas que poderia ter sido evitada, só nas primeiras duas semanas da invasão alemã de 21 de julho de 1941 a Wehrmacht fez seis milhões de prisioneiros, dos quais dois milhões pereceram em pouco tempo por maus tratos e execuções.
 
O terceiro ponto foram os erros de Stalin com a agricultura soviética, dizimando 10 milhões de camponeses para forçar a coletivização das fazendas, o que fez cair a produção de trigo e matou de fome outros tantos milhões. Kruschev era engenheiro agrônomo e sobre esse ponto estendeu-se com estatísticas aterradoras.
 
O quarto ponto foram erros de política externa que prejudicaram o nome e a influência da URSS em importantes áreas do mundo, especialmente nos EUA, que viveu a era do macartismo como reação à agressividade do estalinismo.
 
Os 1.500 delegados ouviram o discurso em profundo silêncio e não houve nenhum aplauso ao final, estavam todos chocados. Afinal, todos aqueles na plateia eram frutos do sistema estalinista e foram criados dentro dele.
 
O discurso de Kruschev teve imensa repercussão mundial e criou uma nova fase na governança da URSS, mais liberal e mais moderna, provocou desdobramentos nos partidos comunistas do ocidente, com cismas e deserções, criou um racha profundo com o Partido Comunista Chinês, Mao não digeriu o discurso de Kruschev, afinal seu modelo era baseado no estalinista e tinha suas mesmas características autoritárias.
 
Para seus detratores, Kruschev respondia que ele, como ninguém, conhecia o sistema estalinista pois conviveu intimamente com Stalin, era seu comensal à mesa dos famosos jantares na Dacha de Kuntsevo, de onde muitos saíam para a prisão de Lubyanka. Kruschev completou o desmonte do sistema estalinista que já tinha começado com a execução de Beria pelo Exército em dezembro de 1953 e pela instalação da troika da qual Kruschev fazia parte.
 
O discurso de Kruschev foi bem recebido no Ocidente, o que não se refletiu todavia numa mudança radical da política externa soviética, que continuou ativa como demonstrou-se na profunda influência política da URSS no Egito e Síria a partir de 1956 e depois com a instalação dos mísseis em Cuba em 1961, sendo a URSS a patrona do regime castrista que se implantou. No domínio soviético da Europa do Leste tampouco se viu afrouxamento como se mostrou com o esmagamento da Revolução Húngara no mesmo ano de 1956, com mais de 1.000 execuções inclusive do Primeiro Ministro Imre Nagy.
 
O discurso de Kruschev foi um dos maiores acontecimentos politicos da segunda metade do Século XX.
Andre Motta Araujo

Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo

21 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Lições da História

    Engraçado que o título parece um lamento ao ataque à memória de Stalin…

    Na sequência, os fatos e as teses.

    No fim, uma constatação óbvia, logo desnecessária.

    Stalin morreu há muito tempo. Seguidores de suas práticas encontramos por aí aos milhões. A maioria sem poder algum, outros com algum poder, nada comparável ao de um chefe de Estado do Século XX.

    Depois de ler um tanto de História, me convenço que mudam as tecnologias e as formas, mas a essência dos jogos de poder permanece a mesma desde do mais remoto governo instituído na Antiguidade. Melhores para os gregos, mas nem tanto; piores no Egito, mas nem tanto.

    E aqui chegamos, com o poder nas mãos dos financistas, protegidos pelo Judiciário, manipulando Legislativos.

    Ê mundo véio cheio de porteira!

  2. Ainda assim, Stalin deixou

    Ainda assim, Stalin deixou órfãos pelo mundo, ocidental e oriental. Kruchev,  participou  juntamente  ,com seus contemporâneos de decisões estratégicas que permitiram a URSS,  derrotar,ainda que  com  imensas perdas,o exército  nazista e contribuir para a  vitória aliada. Ao impasse ,nos anos trinta, sobre os rumos econômicos da URSS,  optar pela via industrial  ou a via agrícola, decidiu Stalin, por ambos,o que exigiu sacrifícios que atingiram a população,rural e o proletariado incipiente.

    Vale lembrar, que a jovem URSS,quando ainda não havia adotado essa denominação ,tampouco o formato político que daria feição à  nação, foi  fustigada  por potencias ocidentais ,e  sofrendo  ataques  via Ásia Central. Portanto, a situação de  Stalin,como líder  e dirigente de uma nação socialista emergente ,requeria  soluções   adequadas, não diferentes daquelas  que o imperialismo anglo-americano e os colonialistas europeus aplicavam  aos povos da periferia  dos seus domínios.

  3. O se…

    Se Lenin não tivesse morrido com apenas 54 anos, como teria sido a implantação da NPE e os desdobramentos futuros? (NEP é o escambau, por que usar siglas em inglês para termos em russo ou outro idioma qualquer?)

    Se Trotsky tivesse sido o vitorioso no que se transformaria a URSS?

    Em alguns momentos fico imaginando como seria o mundo atual se lideranças do passado tivessem sido trocadas ou a vitória e a derrota se invertessem…

  4. Relatório Khrushchev

    Desconfortável é constatar que foi necessário a divulgação do Relatório Khrushchev para que grande parte da esquerda ocidental reconhecesse publicamente as atrocidades do stalinismo.

    Sobre essa questão é bastante esclarecedora a parte dois de “Passado Imperfeito – um olhar crítico sobre a intelectualidade francesa no pós-guerra”, de Tony Judt.

  5. Será?

    O andré é praticante desta religião. Fã do Churchil que foi o grande e perseverante incentivador da primeira guerra e depois de um “acordo” pós guerra tão grotesco e cruel que deu origem a tudo que o Hitler fez. Churchil sim é o responsável por quase 100 milhões de mortos, inclusive uns quarenta milhões de russos mortos na guerra de seu país invadido.

    Porque esconder tanto que Stalin ganhou sozinho a segunda guerra mundial e transformou um país pauperrimo, onde a elite dominante falava francês para não se rebaixar a falar o russo, em uma potência que enfrentou a maior potência do planeta, entre outras dezenas de façanhas? Imagine os desafios que teve que ultrapassar? Toda a europa coroada contra ele, durante todo o tempo. Este idiota e paranoico que o aa aponta seria capaz disso? 

    Se o stalin não dixasse, por exemplo, o que deixou hoje a Russia não faria frente militar a quem destroi paises como se tirasse um picolé da boca de uma criança. 

    O pig já existe há muito tempo.

    1. H66, você fez um ótimo comentário, baseado em fatos e não em suposições, achismos.
      E com relação ao Relatório Secreto do sacripanta Kruschov é preciso chamá-lo pelo nome: traição à revolução de 1917. Ora, Kruschov participava de jantares na datcha de Stalin, de onde segundo ele, muitos saíam direto para a Lubianka. Isso, contra todas evidências. O que ocorreu em Moscou em 1956 foi um verdadeiro golpe de estado e os efeitos nefastos dele não demoraram a serem sentidos, com a URSS perdendo a liderança em muitos campos do desenvolvimento social, culminando com a dissolução do primeiro estado socialista da História, 34 anos após a felinos kruschoviana.

      Parabéns H66

  6. Os agricultores ricos os

    Os agricultores ricos os latifundiarios da epoca matavam o gado e queimavam a propria producao o que agravou a falta de comida. Os camponeses mais pobres recebiam de maneira mais positiva a coletivizacao baseada na modernizacao da agricultura, o trator era peca de propaganda para isso. A coletivizacao servia tambem para aumentar a mao de obra disponivel para as cidades num processo de industrializacao que era movida tambem por pao para os trabalhadores, na crise como o preco do trigo ficou muito alto foram atras dos estoques, e deu no que deu.

  7. Duas Histórias e uma farsa!

    O tal Relatório Secreto de Kruschev é uma farsa, conforme demonstrou mais recentemente, de forma detalhada,  o professor e pesquisador Grover Furr, em seu livro  khrushchev lied (Kruschev Mentiu – que pode ser encontrado, em inglês,  http://comunidadestalin.blogspot.com.br/2013/01/khrushchev-lied-completo-em-ingles.html), onde o mesmo demonstra que 60 das 61 acusações dele contra Stalin são falsas.

    De fato quando se vai pesquisar sobre a vida e a obra de Stálin, especialmente no período em que governou a URSS, os fatos colidem com as acusações lançadas por um dos maiores baba-ovo de Stálin (leia aqui o que dizia sobre o chefe: https://www.marxists.org/portugues/khrushchev/1952/10/informe.htm).,

    Na verdade, pelo que já apurar e deduzir, o cerne da questão que ensejou a manobra de Kruschev,  em conluio com a maioria do velho Politiburo, remonta ao 19º Congressso do PCUS, o último que Stalin participou, em 1952, um ano antes de sua morte. Nesse Congresso foram decidas várias modificações na estrutura do governo, do Estado e do Partido. Entre essas, uma que propunha a transição geracional do comando do Estado e do Partido, peremitindo a assenção de novos dirigentes com posterior afastamento dos quadros mais velhos (passagem do bastão). Tal resolução mexeu com o velho Politiburo, cujos membros, a maioria, não estavam interessados na perda do “status quo”.

    Dada a elevada moral e estatura politica de Stalin na URSS, só haveria uma forma de não prevalecer as decisões e resoluções aprovadas sob a liderança dele no referido Congresso; que era minar sua autoridade oral e política. O que de fato aconteceu após o XX Congresso, capitaneado pelo tal Discurso Secreto. Curiosamente o 19º Congresso foi renegado pelos sucessores de Stalin tendo inclusive seu conteudo censurado. Ao que parece até hoje suas Atas ainda não foram liberadas para conhecimento público.

    Kruschev e sua trupe foram tão infames, que não tiveram a honra de serem enterrados na Necrópole do Kremlim, para onde iam os líderes e dirigentes respeitados pelo povo e pelo Partido. E olha que ele ocupou por oito anos o cargo de mais alto dirigente da URSS.

    Na realidade, existem duas histórias sob Stalin. Uma antes e até pouco depois de sua morte e outra após o famigerado xx Congresso, que diga-se, acionou o detonador da URSS.

    A primeira História tem por base fontes primárias, Atas d,e Congressos do PCUS, Atos do governo Soviético, a Obra de Stalin, além dos registros e relatos de pessoas eminentes que visitaram, viveram nesse período e, inclusive, convivera com ele; entre os quais podemos citar Caio Prado Jr., G Well, Henry Barbusse, Emil Ludwing, Beatrice e Sidney Webbs, Josef Daves, Harry Hoopkins, Churchill,  Roosevelt, Pablo Neruda, Jorge Amado, Graciliano Ramos, ilya ehrenburg, gal Mharshall etc, etc,,,ec…Além de todos o Marechais, soldados e oficiais sovieticos que escreveram sobre ele.

    A segunda história, turbinada pela guerra fria e pela infâmia de Kruschev e seus asseclas, baseia-se e fontes secundárias, terciarias, quaternárias e até em sessões de Mesa-Branca, com reinterpretações e representações ideológicas profundamene desonestas e anticientificas a serviço do anticomunismo; chegando ao ponto de algumas formulações equipará-lo ao nazismo, e, Stalin a Hitler!….

     

     

  8. Suave foi nos EUA após 29

    A introdução da técnica no campo nos EUA pós 1929 foi suave!

    John Steinbeck, Jr.  escritor estadunidense , membro da Ordem DeMolay e Prêmio Nobel em 1962 retrata esta realidade em suas obras.

    Como a História construida pelos vitoriosos é virtuosa!

     

  9. “Acusações de Kruschev contra Stálin são falsas”

    A Verdade entrevistou Grover Furr, professor da Universidade de Montclair, no Estado de Nova Jersey, EUA, e autor do livroAntistalinskaia Podlost (“A infâmia antistalinista”), lançado recentemente em Moscou, na Rússia. Grover Furr é ph.D. em literatura comparada (medieval) pela Universidade de Princeton, e, desde 1970, ensina na Universidade de Montclair, sendo responsável pelos cursos de Guerra do Vietnã e Literatura de Protesto Social, entre outros. Suas principais áreas de pesquisa são o marxismo, a história da URSS e do movimento comunista internacional e os movimentos políticos e sociais. Nesta entrevista, o professor Grover fala de sua pesquisa e afirma que “60 de 61 acusações que  o primeiro-ministro Nikita Kruschev fez contra Stálin são comprovadamente falsas”.

    A Verdade – Recentemente, um grande número de livros tem sido publicado atacando a pessoa e a obra de Josef Stálin. Como o senhor explica a intensificação desse antistalinismo nos EUA e no mundo?

    Grover Furr – Desde o fim da década de 1920, Stálin tem sido o maior alvo do anticomunismo ideológico e acadêmico. Leon Trótsky atacava Stálin para justificar sua própria incapacidade de ganhar as massas trabalhadoras da União Soviética [URSS]. A verdadeira causa da derrota de Trótsky é que sua interpretação do marxismo – um tipo de determinismo econômico extremado – predizia que a revolução estava fadada ao fracasso a não ser que fosse seguida por outras revoluções nos países industrialmente avançados. Mas a liderança do Partido preferiu o plano de Stálin para primeiro construir o socialismo em um só país. As ideias de Trótsky tiveram (e ainda têm) uma grande influência sobre todos aqueles declaradamente capitalistas e anticomunistas. Os historiadores trotskistas são muito bem acolhidos pelos historiadores capitalistas. Pierre Broué e Vadim Rogovin, os mais proeminentes historiadores trotskistas das últimas décadas, já foram louvados e ainda são frequentemente citados por historiadores abertamente reacionários. Muitos na liderança do Partido em 1930 combateram Stálin quando este lutava por democracia interna no Partido e, especialmente, por eleições democráticas para os sovietes. As grandes conspirações da década de 1930 revelaram a existência de uma ampla corrente de oposição às políticas associadas a Stálin. Essas conspirações de fato existiam: os oposicionistas realmente estavam tentando derrubar o partido soviético e assassinar a liderança do governo, ou tomar o poder liderando uma revolta na retaguarda, em colaboração com os alemães e os japoneses. Nikolai Ezhov, líder da NKVD (o Comissariado do Povo para Assuntos Internos), tinha sua própria conspiração direitista, incluindo colaboração com o Eixo. Visando aos seus próprios fins; ele executou centenas de milhares de cidadãos soviéticos completamente inocentes para minar a confiança e a lealdade ao governo soviético. Quando Stálin morreu, Kruschev e muitos líderes do Partido viram que poderiam jogar a culpa por essas grandes repressões em cima de Stálin. Eles também inventaram muitas outras mentiras escancaradas sobre Stálin, Lavrentii Béria e pessoas próximas aos dois. Quando, bem mais tarde (1985), [Mikhail] Gorbachev assumiu o poder, ele também percebeu que as suas “reformas” capitalistas – o distanciamento do socialismo em direção a relações capitalistas de mercado– poderiam ser justificadas se sua campanha anticomunista fosse descrita como uma tentativa de “corrigir os crimes de Stálin”. Essas mentiras e histórias de horror permanecem como a principal forma de propaganda anticomunista, hoje, no mundo. A tendência é que elas se intensifiquem, pois os capitalistas estão diminuindo os salários e retirando benefícios sociais dos trabalhadores, caminhando em direção a um exacerbado nacionalismo, ao racismo e à guerra.

    A Verdade – O que o levou a se interessar pela história da URSS?

    Grover Furr – Quando estava na faculdade, de 1965 a 1969, eu fazia protestos contra a guerra dos EUA no Vietnã. Um dia, alguém me disse que os comunistas vietnamitas não poderiam ser “caras legais” porque eram todos “stalinistas”, e “Stálin tinha matado milhões de pessoas inocentes”. Isso ficou na minha cabeça. Foi provavelmente por isso que, no início da década de 1970, li a primeira edição do livro O grande terror, de Robert Conquest. Fiquei impressionado quando o li! Mas eu já tinha um certo domínio do russo e podia ler neste idioma, pois já vinha estudando literatura russa desde o ensino médio. Então examinei o livro de Robert Conquest com muito cuidado. Aparentemente ninguém ainda havia feito isso! Descobri, então. que Conquest fora desonesto no uso de suas fontes. Suas notas de rodapé não davam suporte a nenhuma de suas conclusões “anti-Stálin”. Ele basicamente fez uso de qualquer fonte que fosse hostil a Stálin, independentemente de se era confiável ou não. Decidi, então, escrever alguma coisa sobre o “grande terror”. Demorou um longo tempo, mas finalmente foi publicado em 1988. Durante este tempo estudei as pesquisas que estavam sendo feitas por novos historiadores da URSS, entre os quais Arch Getty, Robert Thurston e vários outros.

    A Verdade – Seu livro Antistalinskaia Podlost (“A infâmia anti-stalinista”) foi recentemente publicado em Moscou. Conte um pouco sobre ele.

    Grover Furr – Há aproximadamente uma década fiquei sabendo da grande quantidade de documentos que estavam sendo revelados dos antigos arquivos secretos soviéticos, e comecei a estudá-los. Li em algum lugar que uma ou duas das declarações de Kruschev em sua famosa “fala secreta”, de 1956, foram identificadas como falsas do início ao fim. Daí, pensei que poderia fazer algumas pesquisas e escrever um artigo apontando alguns outros erros de seu pronunciamento da “sessão secreta”. Nunca esperei descobrir que tudo o que Kruschev disse – 60 de 61 acusações que ele fez contra Stálin e Béria – eram comprovadamente falsas (não pude encontrar nada que comprovasse a 61ª)! Percebi que este fato mudava tudo, uma vez que praticamente toda a “história” anticomunista desde 1956 se baseia ou em Kruschev ou em escritores de sua época. Verifiquei que a história soviética do período de Stálin que todos aprendemos era completamente falsa. Não apenas “um erro aqui e outro ali”, mas fundamentalmente uma fraude gigantesca, a maior fraude histórica do século! E meus agradecimentos ao colega de Moscou Vladimir L. Bobrov, que foi o primeiro a me mostrar esses documentos, me deu inestimáveis conselhos, várias vezes, e fez um excelente trabalho de tradução de todo o livro. Sem o dedicado trabalho de Vladimir, nada disso teria acontecido.

    A Verdade – Em suas pesquisas o senhor teve acesso direto a arquivos soviéticos abertos recentemente.  O que esses documentos revelam sobre os “milhões de mortos” sob o socialismo, especificamente no período de Stálin?

    Grover Furr – Considerando que pessoas morrem a todo instante, eu suponho que você esteja falando de mortes “excedentes”. A Rússia e a Ucrânia sempre experimentaram fomes a cada três, quatro anos. A fome de 1932-33 ocorreu durante a coletivização. Sem dúvida, que um número maior de pessoas morreu do que teria morrido naturalmente. No entanto, muito mais pessoas iriam morrer em sucessivas fomes – a cada três, quatro anos, indefinidamente, no futuro – se não fosse feita a coletivização. A coletivização significou que a fome de 1932-33 foi a última, com exceção da grave fome de 1946-1947, que foi muito pior, mas isso devido à guerra. E, como mencionei anteriormente, Nikolai Ezhov deliberadamente matou milhares de pessoas inocentes. É interessante considerar o que poderia ter sucedido se a URSS não houvesse coletivizado a agricultura e não tivesse acelerado seu programa de industrialização, e se as conspirações da oposição nos anos 1930 não tivessem sido esmagadas. Se a URSS não tivesse feito a coletivização, os nazistas e os japoneses a teriam conquistado. Se o governo de Stálin não houvesse contido as conspirações direitistas, trotskistas, nacionalistas e militares, os japoneses e os alemães teriam conquistado o país. Em qualquer um desses casos, as vítimas entre os cidadãos soviéticos teriam sido muito, muito mais numerosas do que os 28 milhões mortos na guerra. Os nazistas teriam matado muito mais  eslavos ou  judeus do que mataram. Com os recursos, e talvez até mesmo com os exércitos da URSS do seu lado, os nazistas teriam sido muito, muito mais fortes contra a Inglaterra, a França e os EUA. Com os recursos soviéticos e o petróleo de Sakhalin, os japoneses teriam matado muito, muito mais americanos do que fizeram. O fato é que a URSS sob Stálin salvou o mundo do fascismo não apenas uma vez, durante a guerra, mas três vezes: pela coletivização; pelo desbaratamento das oposições direitista-trotskista-militares e também na guerra. Quantos milhões isso dá?

    A Verdade – Alguns autores vêm tentando encontrar semelhanças entre Stálin e Hitler, e alguns até chegam a afirmar que o suposto “stalinismo” foi “pior” que o nazismo. Existia realmente alguma ligação entre Stálin e Hitler? 

    Grover Furr – Os anticomunistas e os pró-capitalistas não discutem a luta de classes e a exploração. De fato, eles ou fingem que essas coisas não existem ou que não são importantes. Mas a luta de classes causada pela exploração é o motor da história. Então omitir isso significa falsificar a história. Hitler era um capitalista, um anticomunista autoritário de um tipo que é comum em vários países capitalistas. Stálin liderou o Partido Bolchevique e a URSS quando os comunistas em todo o mundo estavam lutando contra todo tipo de exploração capitalista. Sempre que dizemos “pior”, devemos sempre nos perguntar: “Pior para quem?” A URSS e o movimento comunista durante o período de Stálin foram definitivamente “piores que o nazismo”, para os capitalistas. Essa é a razão de os capitalistas odiarem tanto Stálin e o comunismo. O movimento comunista durante o período de Lênin e Stálin, e ainda por um bom tempo depois, foi a maior força de libertação humana da história. E novamente devemos nos perguntar: “Libertação de quem? Libertação do quê?” A resposta é: libertação da classe trabalhadora de todo o mundo, da exploração capitalista, da miséria e das guerras.

    A Verdade – Um dos ataques mais frequentes a Stálin é que ele seria responsável pela fome na Ucrânia, em 1932-1933, também chamada de Holodomor. Esta versão da história corresponde ao que realmente ocorreu?

    Grover Furr – O “Holodomor” é um mito. Nunca aconteceu. Esse mito foi inventado por ucranianos nacionalistas pró-fascistas, junto com os nazistas. Douglas Tottle comprovou isso em seu livro Fraud, Famine and Fascism(1988). Arch Getty, um dos melhores historiadores burgueses (isso é, não marxistas, não comunistas), também tem um bom artigo sobre isso. Até o próprio Robert Conquest deixou de defender sua antiga versão de que os soviéticos deliberadamente causaram a fome na Ucrânia. Nenhuma sombra de prova que poderia confirmar essa visão jamais veio à luz. O mito do “Holodomor” persiste porque ele é o “mito fundacional” do nacionalismo direitista ucraniano. Os nacionalistas ucranianos que invadiram a URSS juntamente com os nazistas mataram milhões de pessoas, incluindo muitos ucranianos. Sua única “desculpa” é propagandear a mentira de que eles “lutaram pela liberdade” contra os comunistas soviéticos, que eram “piores”.

    A Verdade – Deixe uma mensagem para os trabalhadores brasileiros.

    Grover Furr – Lutem pelo comunismo! Todo o poder à classe trabalhadora de todo o mundo!

    1. revisionísticas

      Então fica assim: os gulags, tanto quanto os campos de concentração e de extermínio nazistas, são intrigas da oposição.

      Koba sempre foi um bom paizinho. Depois que ele morreu inventaram um montão mentiras.

      “Nikolai Ezhov, líder da NKVD (o Comissariado do Povo para Assuntos Internos), tinha sua própria conspiração direitista”

      Yagoda também?

      Bukharin?

      Tomsk?

      Kamenev?

      Antonov-Ovseienko?

      Zinoviev?

      Tukhachevsky?

      Até o aparentemente inofensivo Isaac Babel – autor de “Cavalaria Vermelha” – também tava no rolo?

      Temos que reconhecer: Josef Vissarionovitch era foda; tinha uma capacidade de visão muito além de qualquer mortal…Tá na cara que o Complô dos Médicos deu cabo dele.

      Rapaz, você não sabe como é bom ter alguém para nos revisar a História.

      Por exemplo: até há algum tempo – veja só -, eu achava que o Golpe de 1964 fora urdido por uma associação entre blocos de poder capitalistas nacionais e grandes empresas estrangeiras – sobretudo estadunidenses – para consolidar sua hegemonia de classe.

      Agora já não sei.

      Vai que aparece um livro, escrito pelo  Marco Antonio Villa  – e prefaciado por Bolsonaro -, “provando” que, todo ano, o Partidão alegremente comemorava a Revolução de 1917 com churrasco de criancinha?

  10. Farsa escrita

    Nossa o pior absurdo nesse texto que parece produzido no departamento de estado dos eua é acusar o stalinismo de ter provocado o marcartismo porra vai ser vigarista lá longe, tu não tem vergonha na cara não sujeito? já descobrimos mais um infiltrado na esquerda. 

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador