O 7 de setembro não significou independência para todos os Estados

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Foi só 11 meses depois do grito do Ipiranga, após sangrentas batalhas pelos sertões, que uma junta militar oficializou a independência de Ceará, Piauí e Maranhão

Grito do Ipiranga, por François-René Moreaux

Grito do Ipiranga, por François-René Moreaux

Enviado por Jns

De OPovo

A independência chegou depois ao Ceará

Em várias partes do Brasil, a independência não chegou com o brado de dom Pedro I às margens de um rio em São Paulo. No Nordeste, o 7 de setembro de 1822 foi só o início de violentas batalhas. Para os exércitos guerrilheiros que combateram os portugueses pelos sertões, o lema “independência ou morte” foi muito além da retórica do primeiro imperador.

Munidos de foices e facões, vaqueiros, lavradores, fazendeiros, comerciantes, artesãos, escravos e militares formaram a coalizão que, sob comando cearense, travou o mais violento dos combates no País. Foi só depois de muita luta, 11 meses após do grito do Ipiranga, que a independência do Ceará e de mais dois estados foi oficializada.

O documento quase desconhecido foi encontrado no Arquivo Público do Piauí, durante pesquisas de doutorado de professora Claudete Maria Miranda Dias. Na coleção voltada à independência, entre correspondências, ofícios, relações de prisioneiros, a docente da

Universidade Federal do Piauí encontrou o ato assinado por uma junta militar composta por representantes piauienses, maranhenses e cearenses.

Ali era formalizado que as três antigas capitanias portuguesas não estavam mais sob a égide da ordem colonial.

“A historiografia não fala nisso. Encontrei, nas minhas pesquisas, o documento assinado por eles”, relata Dias ao O POVO. A tese de doutorado, que traz o registro da documentação, será publicada em 19 de outubro, com o título: O outro lado da independência do Brasil: aspirações, manifestações e formas de luta da população. De 1789 a 1850.

Guerrilha sertaneja

No Ceará, milícia sob comando do capitão-mor do Crato, José Pereira Filgueiras, destituiu a junta governativa leal a Lisboa.

No Piauí, em 8 de agosto de 1822, chegou a Oeiras o major João José da Cunha Fidié, veterano das guerras napoleônicas, enviado de Lisboa para garantir a lealdade a Portugal. Quando as vilas piauienses gradualmente se rebelaram e aderiram ao grito do Ipiranga, Fidié as reprimiu de forma brutal. Foi então que tropas cearenses seguiram para lá. Entre eles, Pereira Filgueiras, Tristão Gonçalves e João de Andrade Pessoa, o Pessoa Anta.

Apesar da derrota no maior e mais sangrento confronto da independência do Brasil – a Batalha do Jenipapo – a coalizão de piauienses, cearenses, maranhenses e baianos acabou prevalecendo sobre Fidié, recorrendo a táticas de guerrilha. 

O major se rendeu e foi enviado ao Rio de Janeiro. No dia em que deixou o Piauí, em 6 de agosto, o ato conjunto formalizou a independência dos três atuais estados. Levaria mais duas semanas até o último reduto português, em Belém, ser libertado.

Momentos Cruciais

Outubro
19
1822

Parnaíba (PI)
Autoridades aderem ao grito do Ipiranga e provocam reação de Fidié, deflagrando conflitos no Piauí

Janeiro
23
1823

Ceará
Pereira Filgueiras comanda tropas que destituem junta leal a Lisboa e assume governo do Ceará provisoriamente.

Março
13
1823

Jenipapo
Durante cinco horas, em Campo Maior (PI), é travado o mais violento combate da luta pela independência

Julho
2
1823

Bahia
Tropas portuguesas são expulsas de Salvador. Data é muito festejada na Bahia

Agosto
6
1823

Junta militar
Com a expulsão de Fidié, junta militar das três capitanias oficializa independência de Ceará, Piauí e Maranhão

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

11 Comentários

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  1. e a Cabanagem no Pará?
    15 de agosto de 1823 foi a data de assinatura da adesão do Pará à independência do Brasil, mas a distância aos centros administrativos Brasileiros e a grande colônia lusitana em terras Paraoaras ainda mantinha forte a ligação com Portugal.

    Mas a população pobre (ribeirinhos) vislumbrou uma possibilidade de mudança com a República e tomou o poder com a “Cabanagem” (1835), que só foi acabar com um sutil gesto do imperador brasileiro de queimar todos os revoltosos com Cal no porão da Nau “Brigue Palhaço”, após 5 anos de poder popular (em 1840).

    A cor vermelha representa o sangue do povo paraense, que lutou para a adesão da província à independência e à República. A faixa branca simboliza o Equador, e a estrela (Espiga) significa a capital mais ao norte do país, durante a proclamação da República e a elaboração da bandeira.

    1. Manuel Bandeira: Poesia

      Evocação do Recife

      Recife

      Não a Veneza americana

      Não a Mauritsstad dos armadores das Índias Ocidentais

      Não o Recife dos Mascates

      Nem mesmo o Recife que aprendi a amar depois

      – Recife das revoluções libertárias

      Mas o Recife sem história nem literatura

      Recife sem mais nada

      Recife da minha infância

      A rua da União onde eu brincava de chicote-queimado

      e partia as vidraças da casa de dona Aninha Viegas

      Totônio Rodrigues era muito velho e botava o pincenê

      na ponta do nariz

      Depois do jantar as famílias tomavam a calçada com cadeiras

      mexericos namoros risadas

      A gente brincava no meio da rua

      Os meninos gritavam:

      Coelho sai!

      Não sai!

       

      A distância as vozes macias das meninas politonavam:

      Roseira dá-me uma rosa

      Craveiro dá-me um botão

       

      (Dessas rosas muita rosa

      Terá morrido em botão…)

      De repente

      nos longos da noite

      um sino

      Uma pessoa grande dizia:

      Fogo em Santo Antônio!

      Outra contrariava: São José!

      Totônio Rodrigues achava sempre que era são José.

      Os homens punham o chapéu saíam fumando

      E eu tinha raiva de ser menino porque não podia ir ver o fogo.

       

      Rua da União…

      Como eram lindos os montes das ruas da minha infância

      Rua do Sol

      (Tenho medo que hoje se chame de dr. Fulano de Tal)

      Atrás de casa ficava a Rua da Saudade…

      …onde se ia fumar escondido

      Do lado de lá era o cais da Rua da Aurora…

      …onde se ia pescar escondido

      Capiberibe

      – Capiberibe

      Lá longe o sertãozinho de Caxangá

      Banheiros de palha

      Um dia eu vi uma moça nuinha no banho

      Fiquei parado o coração batendo

      Ela se riu

      Foi o meu primeiro alumbramento

      Cheia! As cheias! Barro boi morto árvores destroços redemoinho sumiu

      E nos pegões da ponte do trem de ferro

      os caboclos destemidos em jangadas de bananeiras

       

      Novenas

      Cavalhadas

      E eu me deitei no colo da menina e ela começou

      a passar a mão nos meus cabelos

      Capiberibe

      – Capiberibe

      Rua da União onde todas as tardes passava a preta das bananas

      Com o xale vistoso de pano da Costa

      E o vendedor de roletes de cana

      O de amendoim

      que se chamava midubim e não era torrado era cozido

      Me lembro de todos os pregões:

      Ovos frescos e baratos

      Dez ovos por uma pataca

      Foi há muito tempo…

      A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros

      Vinha da boca do povo na língua errada do povo

      Língua certa do povo

      Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil

      Ao passo que nós

      O que fazemos

      É macaquear

      A sintaxe lusíada

      A vida com uma porção de coisas que eu não entendia bem

      Terras que não sabia onde ficavam

      Recife…

      Rua da União…

      A casa de meu avô…

      Nunca pensei que ela acabasse!

      Tudo lá parecia impregnado de eternidade

      Recife…

      Meu avô morto.

      Recife morto, Recife bom, Recife brasileiro

      como a casa de meu avô.

      1. PS – Não sou bairrista, só pra lembrar independências (e …)

        ou tentativas importantes. Há outras Brasil afora.

        Infelizmente, Pernambuco já não é mais libertário, mas, a meu ver, é politicamente o mais importante do país.

        Sou por um governo mundial.  Sonhar é preciso. –

        E quem não tem suas crenças e esperanças?

        1. só por pequena ilustração das heranças estrangeiras e escravidão

          o Queijo doReino (PE é o que herdou por influência dos holandeses que encontraram num trecho em Minas Gerais um clima, uma pastagem, parecida com a dos Países Baixos). Parece como Queijo Edan. O Bolo de Noiva, por influência mais recente dos ingleses (minha mãe namorou um inglês): Pudim de Natal, hoje na Inglaterra. Escravidão: a mistura de escravos com as sinhás, sinhazinhas na cozinha inventando os mais diversos bolos,doces, comidas, por isso é em Pernambuco a mais diversificada e rica culinária do país (Açúcar- Gilberto Freire, p. ex.). O hábito maior de consumo do Whiskey, também influência inglesa. Além de franceses, a arquitetura, as pessoas mais brancas, de olhos azuis, com abrasileiramento de nomes holandeses.

          1. a igreja mais antiga do país – uma controvérsia

            em Igaraçu (ou Igarassu) ainda com vestígios da mais antiga igreja do país (a controvérsia é que a mais antiga está em São Paulo). Não na Bahia, como se possa imaginar. Não seie bem por quê, mas os governos baianos sempre foram ótimos divulgadores. Meu tio, já falecido, e que conheci, artista de obras sacras e outros artesanatos ele mandava pro Mercado Modelo artesanato, entalhes (talhas, como chamamos), e, no verso, “Lembranças de Salvador, Bahia) por ser mais viável o comércio em Salvador, turistas maravilhados pensando que estavam levando típico artesanato.. baiano. Claro que Bahia teve suas revoltas, o Brasil todo.

          2. Socialista Morena: Dependências diversas d q não nos damos conta

            Cito:”As úteis redes sociais,assim como a televisão,são uma forma de distrair a cabeça,mas também de não pensar.Compartilhar conhecimento é maravilhoso,mas até q ponto as pessoas de fato lêem os textos que distri- buem internet afora?Está provado q a maioria das pessoas não passa do título das matérias e,entre as q lêem o texto,apenas uma pequena parte chega ao final”.” Lembrando Ray Bradbury,quantos livros deixei de ler para estar nas redes sociais?Quantas caminhadas deixei de dar?Quanto tempo de convívio perdi c/ meus filhos e meu amor? Pratico’redução’de danos’:não possuo smartphone,portanto,sempre q estou fora do escritório do escritório estou offline.É um exercício libertador, pq me obriga a interegir c/o próximo e me coloca longe da tentação de ‘checar’ Facebook Twitter”

          3. “Admirável Distonia” , em Caros Amigos, nas bancas

            “(…)”Fora deles,eu olho para a natureza,observo meus semelhantes,e,sobretudo,penso”.” Olho para o lado. Na fila de bagagem no aeroporto , nas mesas dos restaurantes,nas paradas de ônibus, na sala de espera do medico, no metrô. De olho no visor, com o dedo deslizante sobre a tela, viramos um bando de autômootos, de zumbis tecnológicos ao redor, a não ser que seja algo interessante o suficiente para ser fotografado e… postado na internet. A egolatria é estimulada à exaustão: a pessoa viaja para outro país e não fotografa mais os lugares e sim a si próprio ” – Trechos de Cynara Menezes, “Admirável Distonia Nova”, no mensal Caros Amigos, nas bancas.

          4. mundo afora, hoje: “Podemos”, entrevista em Caros Amigos.

            PS – Imperdível, e serve pra gente aqui, jamais como cópia, que o líder adverte, uma longa entrevista imperdível com um dos líderes do espahol PODEMOS, claro que pode chocar alguns e ser uma grata surpresa pra outros que venham, por acaso, a lerem): Na mesma edição de Caros Amigos. Sugiro como uma das tentativas de emancipação democrática, Revolução Democrática, na atualidade, neste século. (Não sou muito apreciador dessa revista-jornal mensal, mas…)

        2. Nickname, e partir de onde

          Nickname, e partir de onde eventual troca – da Bélgica mesmo? – passaria a dar as ordens. Eles que são brancos , estão sugando os europeus do suL, imagine o quanto eles roubariam legalmente o sul para levar o seu (deles) norte, sobretudo de mostrou que não somos propriamente brancos.

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