Os líderes estudantis dos anos 50, trinta anos depois

Instalei um Picasa aqui no computador e ele juntou fotos e imagens de muitos anos. E aí encontrei a foto abaixo, que traz boas lembranças

Tinha algum tempo de Jornal da Tarde. Começara o movimento de democratização. Aí sugeri ao jornal um debate regado a muita bebida juntando os líderes estudantis de 30 anos antes revivendo as conversas quando disputavam as eleições na UNE (União Nacional dos Estudantes).

A ideia seria mostrar o que o golpe fez com a vida das pessoas. Lideranças que estavam do lado perdedor foram cassadas; do lado vitorioso até tornaram-se governadores.

O nome do regabofe seria “Trinta anos depois” e o local escolhido foi a Churrascaria Franciscano, na Consolação, berço das grandes discussões estudantis desde os anos 50.

Propus a participação de dois grupos. Do lado dos derrotados, Rogê Ferreira e Roberto Gusmão, que ocuparam cargos relevantes na UNE (União Nacional dos Estudantes) e Fernando Pedreira, que era intelectual de esquerda mas, àquela altura, redator-chefe do Estadão. Enrolou-se todo explicando para o Ruyzito seu passado esquerdista.

Rogê pediu levar seu amigo e antigo correligionário Raimundo Paschoal Barbosa, que se tornara grande criminalista. Foi candidato à presidência da UNE e se notabilizou na sessão do Congresso que decidiu pela saída de Jango endereçando uma cusparada certeira no presidente da mesa, senador Auro de Mora Andrade.

Roberto Gusmão foi um articulador político habilidosíssimo, autor da fórmula Jan-Jan que levou à eleição de Jânio e do vice João Goulart. Na época, tinha se tornado grande executivo da Antárctica Paulista,

Do lado vencedor, propus o ex-governador Paulo Egydio Martins. Ruyzito Mesquita indicou o pai, Ruy, que, embora não tivesse ocupado cargos, tivera participação ativa especialmente nos anos 40.

Do jornal, eu, o Ruyzito e o Fernando, principal repórter de política.

A conversa começou legal. E a bebida rolando.

Não havia disputa ideológica, mas camaradagem. Até levei uma aula de democracia do Ruy Mesquita quando manifestei minha preocupação com as manifestações de rua que começavam a pipocar e a falta de sensibilidade do governo militar.

–       Ora, é assim que se constrói a democracia, bradou Ruy.

E a bebida rolando.

Depois de rolar muita bebida, Paulo Egydio iniciou um discurso vibrante. Ele estava entre o dr. Ruy e eu. Pelas costas, resolvi caitituar uma reportagem que queria emplacar e não conseguia desde os tempos de Veja: a história do Comind.

Era uma história picante, contando como Paulo Egydio, Charlô Quartim Barbosa e Paulo Gavião Gonzaga passaram a perna em Antônio Ermírio de Moraes. E, depois, Charlô e Gonzaga em Paulo Egydio. Tinha todos os detalhes levantados em anos de reportagem.

Dr. Ruy recusava publicar por envolver muitos quatrocentões. Mas o argumento jornalístico é que não havia confirmações da minha história.

Ali, por trás do Paulo Egydio, cutuquei Ruy Mesquita:

–       Dr. Ruy, confirme com o Paulo Egydio a história do Comind.

E o ex-governador, embaladíssimo, continuou discursando mas mudou o tema e toca a lançar diatribes contra os críticos:

–       Desafio meus detratores a provar qualquer coisa contra mim. Não aceito insinuações, dizia, olhando para mim.

E eu, também chumbado e atrevido, resolvi desafiá-lo.

–       Não faço insinuações, tenho informações.

–       Não tenho nada a esconder, bradava ele.

–       Então me diga que é mentira que o Marcelo Amaral (irmão do presidente do banco Roberto Amaral) levantou empréstimos para comprar ações do banco para seu grupo.

E foi assim, em um crescendo. Ele berrando de um lado, eu do outro e o Ruyzito em pânico mandando desligar o gravador.

Ali, na noitada, não havia governador nem jornalista: eram todos irmãos de boemia danada da boa.

Nem sei como foi a saída da mesa para a rua. Só sei que, na calçada da Consolação, me vi frente a frente com Paulo Egydio. Achei que o bate-boca iria continuar, mas ele estava dando gargalhada da noitada. 

Luis Nassif

12 Comentários

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  1. O Picasa é bom por isso,

    O Picasa é bom por isso, quando você instala ele busca fotos que por muito tempo havia esquecido.

    Quem quiser organizar suas fotos e compartilhar, o Picasa é excelente.

    Segue o link https://picasa.google.com/

    //////

    Em relação ao post foi interessante a união entre “ganhadores e perdedores”.

     

  2. Não fotografamos

      Com a vida tão corrida de hj., com a bagunça institucionalizada, não gosto nem de relembrar tempos idos, do final dos anos 70 e inicio dos 80, quando ainda estava na faculdade, e me recordo dos “Curso de Férias do CA Leão XIII / Economia PUC-SP “, nos quais nossas “estrelas” – icones da “esquerda” estudantil – “Caminhando” – na época eram:

       Fernando Henrique ” Principe ” Cardoso, José Serra, Eduardinho Matarazzo Suplicy, o iniciante Luciano Coutinho, e uma unica vez a Prof. Maria da Conceição Tavares, alem de outros ( tenho até hj. um Certificado de Curso de Férias em Economia Agraria, assinado pelo Serra e FHC ) – lembro até, que um de nossos textos de referencia era de Pedro Malan, e um dos organizadores ( quem arrumava o pessoal para as palestras) era o Raymundo Pereira do “Movimento”, e papel/tinta para nossa gráfica, conseguimos uma vez na HidroBrasileira ( ficava na Rua Augusta ), com o Serjão ( Sérgio Motta ).

        Passou cara, são apenas memórias. 

    1. Lembro de uma palestra de

      Lembro de uma palestra de Conceição no Tuca na época. Falou da enorme dificuldade de resolvermos os problemas sociais, de alcançarmos os países desenvolvidos e de os economistas que lá estavam se formando nunca se esquecessem do compromisso com a população mais carente, pensar sempre do ponto de vista deles, como a dizer, a vida é um moedor de carnes, cuidado!

      Anos 80 Malan não era referência na PUCSP, do Serra lembro só de um texto sobre formação do capital fixo, muito debate sobre inflação e capitalismo tardio e com muita gente boa que deu aula lá, O fato é que a grande maioria teve que correr atrás de salário, de pagar suas contas. Muitos foram trabalhar em banco, fizeram carreira nestas instituilções e lá reformataram sua cabeça ao sabor da necessidade.

      Passou sim, mas tinha debate e se aprendia a pensar.

      1. Tuquinha ou hj. Tuca Arena

          Pelo que eu lembro a palestra da Conceição foi no Tuquinha, e ela estava junto com: Paul Singer , Pedro Calil Padiz e se não me engano, Otavio Ianni.

          Amigos daquela época, só para constar, um que foi do DCE-Livre da PUCSP e Diretor do Leão XIII, o Marco Antonio Villa.

          Faz tempo, tenho até um combativo colega da época, que trabalha no Banco Mundial, e vc. tem razão – infelizmente para nós – naquele tempo as faculdades davam vazão e cobravam que seus alunos pensassem, hj. como diz um outro amigo, professor desta instituição, é “dar tudo pronto + canudo + emprego ” – pensar para que ?

  3. Coréia do Sul

    Queria só entender por que, vivendo golpe militar e reabertura na mesma época, Brasil e Coréia do Sul são tão diferentes. Por que a Hyundai, KIA, Samsung e LG não são brasileiras??? Qual é o equivalente do PT na Coréia do Sul? 

    1. Educação

      Sou paulista estudei no Caetano de Campos , pergunte a  qualquer professor aqui e no Paraná . Prcura um professora como Suzana Rangel  Pestana ou  professor Bretas   e avalie o que a elite contribuiu para a implantação do plano golbery de dominação .

       

      1. “Quando Golbery pôs em

        “Quando Golbery pôs em prática seu plano de abertura política, a esquerda brasileira já tinha há algum tempo entrado em profundo processo de reformulação metodológica, cujo símbolo maior era a adoção da doutrina do italiano Antônio Gramsci.

        A doutrina gramsciana supunha que a sociedade capitalista contava com espaços que comportariam a militância revolucionária de esquerda, sem que esta tivesse de bater de frente com o sistema capitalista.

        Segundo Gramsci, o “Partido Príncipe” deveria paulatinamente criar as condições para sua ascensão final ao poder, crescendo dentro do sistema capitalista e democrático, até que, poderoso o suficiente, poderia dominá-lo completamente e transformá-lo em instrumento da revolução.

        Como condição prévia para a tomada de poder, portanto, seria preciso ocupar espaços, conquistar “corações e mentes” e preparar o ambiente cultural para a revolução comunista.

        Com a adoção do gramscismo, a esquerda revolucionária passou a ser sistêmica, frustrando as maquinações de Golbery.”

        É isto que você quis dizer?

    2. Coreia do Sul – razões – e o Brasil

      Uma mescla de tudo:

      1) Os Estados Unidos injetaram muita grana na Coréia do Sul, no contexto do pós-armístico do paralelo 38 e da guerra fria;

      2) “Serpenteamento” ao modelo empresarial japonês. Pragmaticamente diziam: para que inventar a roda se já se tem na Ásia um modelo de grande êxito. Tal perspectiva insere-se dentro contexto da formação dos chamados NICs (Países Recentemente Industrializados) ou “Tigres Asiáticos” na década de 1970;

      3) Sacrifício absoluto em nome da Educação. Alto índice de H.B.C. (bons alunos – não os baladeiros de sexta-feira – de universidades sabem o significado da sigla), sacrifício de uma geração de pais em nome da Educação dos filhos (a “vaca” da família para meu filho) e maciços investimentos  do governo para pós-graduação, specialmente em negócios e ciências exatas, na melhores universidades do mundo (nos moldes do nosso Ciências Sem Fronteira).

      4) Arrojados nos negócios. Aí se diferenciam dos nipônicos. Não se furtam em importar mão de obra de excelência e executivos de primeira. Como se a nossa antiga Gurgel de Rio Claro chamasse a equipe de design da Alfa Romeo para projetar novos carros. Foi o que fez, por exemplo a Kia, ao contratar nos anos 2000 o designer e projetor-chefe da Audi/VW, Peter Schreyer, para reprojetar os seus automóveis. O mesmo fez a Hyundai, ao contratar uma equipe de primeira da BMW.

      Um dado curioso: até da década de 1960-1970, dentre as três principais pautas de exportação da Coréia do Sul, destacava-se o produto “perucas de cabelo”.

      Por fim: vale ressaltar que o país que mais cresceu no século 20 entre 1900 até o 1o. Choque do Petróleo em 1973 foi o Brasil. 

       

       

  4. Mas hoje, 30 anos depois, o que sobre dos tais

    “vencedores”?

    O Estado de São Paulo está onde?

    Paulo Egydio Martins. está onde?

    R. Gusmão e a Antartica Paulista estão onde?

    E do Comind quem se lembra?

    Muita destruição do futuro para uma vitória tão amarga.

    E os netos querem repetir!

    Espero que não vamos deixar.

  5. Tenho a impressao de que ha

    Tenho a impressao de que ha um ar de saudades no texto de LN. Afinal, nada como um jornalao para exercitar a troca de ideias e a formaçaõ profissional e intelectual. Aprende-se muito com o ambiente fervilhante das redações. Porem, em outros textos de LN, percebe-se tambem  a mágoa que ele carrega. Acho que a experiencia como blogueiro o afastou dos grandes temas, relegando-o a uma posicao aquem de seu talento.

  6. CALDENSE X ATLÉTICO É HOJE!

    Caro Nassif.

     

    Basta um empate para ser campeão mineiro 2015.

     

    O Centenário de Juiz de Fora, Tupi F.C., apesar das cores do Galo, hoje é Caldense desde a década de 1910.

     

    Centenária neles!

     

    – O que você encontrou de diferente na Caldense que não teve durante suas passagens pelo Tupi?

    – Sempre cito que o Tupi, com pouco orçamento e estrutura que tem, realiza grandes campanhas. Às vezes, é até mais cobrado do que deveria ser, porque é uma dificuldade muito grande fazer futebol na cidade. A Caldense, em comparação ao Tupi, tem um centro de treinamento para trabalhar, o que é fundamental. Além disso, sua parte social é muito forte, com três mil sócios que pagam em dia. E parte deste orçamento é destinado ao futebol.

    http://www.tribunademinas.com.br/estou-no-melhor-momento-da-minha-carreira/

     

     

     

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