Andre Motta Araujo
Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo
[email protected]

Zaharoff, o rei das armas, por André Araújo

Por André Araújo

O fascinante personagem conhecido como o Mercador da Morte, Sir Basileos Zacharias Zaharoff, conhecido como Basil Zaharoff foi o maior comerciante de armas no período de 1875 a 1918. De famíla grega russificada, estabelecida em Constantinopla, antes de 1914 mais de um milhão e meio de gregos moravam no Império Otomano, na costa da Anatolia, tendo como centro a grande cidade portuária de Smyrna, com 600 mil gregos  lá establecidos há milênios. Zaharoff começou como guia turístico, teve vários problemas com a justiça por furtos e desfalques, por uma série de acasos conheceu um dos inventores da metralhadora, o sueco Nordenfelt, do qual passou a ser vendedor entrando então no fechado mundo dos negociantes de armamentos. Depois conheceu Hiram Maxim, outro inventor de metralhadora, americano, juntou os dois e formou uma só sociedade dessa nova e potenta arma de guerra, a Sociedade Maxim Nordenfelt, tudo isso em meio a tramas para provocar conflitos e vender para todos os lados de uma guerra. Seus grandes clientes eram a Rússia, o Império Austro Húngaro, o Império Otomano e a Espanha.
 
Zaharoff era um mestre da corrupção, sabia “engraxar” os funcionários dos governos que compravam suas armas, esteve envolvido em todos os conflitos regionais anteriores à Grande Guerra de 1914, quando chegou a seu apogeu.

 
Além do desenvolvimento do mercado para metralhadoras, esteve profundamente envolvido no desenvolvimento do primeiro submarino, uma invenção do oficial da Marinha espanhola Isaac Pearl, no desenvolvimento dos torpedos, pela Sociedade Whitehead de Triestre. Pouco antes da Grande Guerra vendeu a Sociedade Maxim Nordenfelt para a Vickers inglesa que pagou em ações, Zaharoff passou a ser o segundo maior acionista do gigante de armamentos da Inglaterra, a Vickers durante a Grande Guerra fabricou mais de 20 navios para Marinha britânica, 63 submarinos, milhares de canhões e 100.000 metralhadoras. A Vickers também tinha subsidiárias na Alemanha que foram vendidas pouco antes do início do conflito. Por vias indiretas, o controlador ficou sendo Zaharoff, que assim fornecia para os dois lados da guerra.
 
Ao acabar a Grande Guerra, Zaharoff era um dos homens mais ricos do mundo, morava no Chateau de Balincourt em Arronville, perto de Paris. Com sua fortuna e contatos incentivou a Grécia a entrar em guerra com a Turquia, um desastre para os gregos, que perderam Smyrna e todas suas colônias em território turco, mais de um milhão de gregos tiveram que fugir para não serem assassinados, resgatados por navios de guerra ingleses, franceses e americanos.
 
Solteirão, casou já maduro com a viúva Duquesa de Villafranca, nobre espanhola e comprou do Príncipe de Mônaco o controle da Societé des Bains de Mer, dona do célebre Casino de Montecarlo e dos hotéis de Paris e Hermitage, que depois foi parar nas mãos de outro grego nascido também na Turquia, Aristotele Onassis.
 
Zaharoff tinha fascinio pela aviação, foi grande incentivador da Vickers entrar nesse setor, tonando-se a maior fabricante de aviões da Inglaterra durante a Grande Guerra, depois a Vickers entrou na aviação civil e fabricou os famosos Viscount, que faziam a ponte aérea Rio-São Paulo.
 
Por causa desse interesse na aviação, Zaharoff financiou cadeiras de aviação em seis universidades, a primeira das quais no Imperial College de Londres, escola para a qual legou vastas somas de dinheiro.
 
Morreu em 1937 sem deixar herdeiros, sua imensa fortuna foi legada a causas filantrópicas e de pesquisa.
 
Um dos seus muito biógrafos foi Richard Lewinsohn, importante intelectual francês que se refugiou no Brasil em 1940 e criou boa parte do que é hoje a Fundação Getulio Vargas, inclusive sua revista Conjuntura Econômica. Esse biografia foi editada no Brasil no começo dos anos 40, tenho comigo um dos raros exemplares, comprei há mais de 50 anos.
 
A vida de Zaharoff é muito mais complexa do que apenas por alto narrei aqui, suas maquinações, golpes, trapaças e jogo politico para vender armas parecem um filme de ação de Hollywood dos velhos tempos.
Andre Motta Araujo

Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo

13 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Quase homônimo no Brasil
    VENCEDOR DO PRÊMIO QUALIDADE BRASIL

    Por estar focado em oferecer produtos de alta qualidade que atendam às necessidades e expectativas de seus clientes, Zakharov atraiu diversos segmentos, como: restaurantes e churrascarias de luxo, chefs de cozinha, colecionadores, indústrias, unidades de elite do Exército, Marinha, Aeronáutica, Polícias Federais, Civis e Militares tornando-se referência no mercado cuteleiro mundial e recebendo todo mérito e reconhecimento.

    Zakharov é o nome da família e também a marca registrada das facas por nós produzidas.
    Somos uma empresa familiar, de tradição russa na arte de confeccionar facas que atua no Brasil desde 1965.
    Nossa proposta é confeccionar produtos de alta qualidade que atendam as necessidades e expectativas de nossos clientes. Para tanto, utilizamos conhecimentos antigos herdados de nossos antepassados, verdadeiros artistas que dominavam com maestria a arte de fazer facas. Atualmente com o avanço da tecnologia, dispomos de processos que facilitam a elaboração de nossos produtos, porém sem perder a nossa proposta inicial de confeccionar facas duráveis, funcionais, verdadeiros objetos de arte, mantendo a tradição.
    Por mantermos firmemente nossa proposta, atraímos clientes de vários segmentos, como: chefs de cozinha, restaurantes e churrascarias de luxo, colecionadores, indústrias, unidades de elite do Exército, Marinha, Aeronáutica e Polícias Federais, Civis e Militares, nos tornando referência no mercado cuteleiro mundial.

     

    São mais de 90 modelos de facas para: CHURRASCO, COZINHA, COZINHA ORIENTAL, PESCA, CAMPING, DEFESA, MILITARES, CIRÚRGICAS, ESPADAS, BRINDES, COLECIONADORES e também para finalidades novas na ciência e tecnologia.
    As facas ZAKHAROV também já têm lendas no Brasil, sendo do nosso conhecimento que muitos possuidores afirmam, entre outras coisas, que as mesmas NUNCA PRECISAM SER AFIADAS, CORTAM PREGOS, SÃO IMPORTADAS, SÃO ETERNAS, etc. Isso não corresponde aos fatos, é lenda. A verdade é que as facas ZAKHAROV permanecem afiadas por muito mais tempo que as mais famosas e algumas cortam arames, chapas de ferro e até outras facas.
    São criadas – não imitadas – para cortar com mais eficiência e economia.

    http://www.zakharov.com.br/Quem-Somos.aspx

     

    1. Ka-Bar and Bowie

         A “Arkhip” ( Zakharov nos Estados Unidos ), a “1213”, uma “ka-bar” é utilizada pelo USMC/SEALs, não como “regular”, de “equipamento”, mas adquirida em substituição pessoal, já as “4257/7060 “, exportadas daqui, são parte do equipamento, tanto da swat/NY como dos bombeiros de nova york, assim como de varias outras unidades especiais norte americanas, assim como, a Zakharov IRÁ NEGAR, muitas foram negociadas, recentemente com a Ucrania, e varios outros paises.

  2. Comercio Internacional de Armas

    El comercio irresponsable de armas

    © Crispin Hughes/Oxfam

    © Crispin Hughes/Oxfam

    Cada minuto muere una persona como consecuencia de la violencia armada, y miles de personas más sufren heridas y abusos cada día. Desde 1989, 131 conflictos armados han causado la muerte de, al menos, 250.000 personas cada año. Y cientos de miles más son desplazadas, heridas, lisiadas o pierden sus medios de vida. Extremadamente preocupante es el uso de forma activa por parte de fuerzas gubernamentales o grupos armados no estatales de niños y niñas soldados en países en conflicto.

    El mercado armamentístico supuso un gasto de 310.000 millones de euros en 2011, mueve 640 millones de armas y 12.000 millones de balas en el mundo al año –dos por cada habitante del planeta–. En más del 60% de las violaciones de derechos humanos documentadas por Amnistía Internacional en una década, se utilizaron armas pequeñas y ligeras. En muchos casos, por disparos del fusil de asalto AK-47, más conocido por el nombre de su inventor, Kalashnikov. 

    https://www.es.amnesty.org/temas/armas/

  3. Suspeito na foto

    Muito interessante a história do Zackaroff. Mas há um detalhe curioso: na foto que acompanha o post. Caminhando a uma distância segura, vê-se um homem de chapéu, sobretudo e bengala que guarda incrível semelhança com o poeta Fernando Pessoa. Seria possível? De onde é a foto? Ou talvez apenas um heterônimo se fazendo de detetive?

    1. Aparenta ser um passante

      Aparenta ser um passante comum com a indumentaria comum da época, não há razão para ser Fernando Pessoa, Zaharoff não circulava por Portugal e sim pela Esapña, onde morava sua amante e suas presumidas tres filhas.

    1. Outro

      Nadja, a família ZAKHAROV que faz facas, fundadora de uma cutelaria é radicada no Brasil, as facas são brasileiras. Trata-se de outra família.

       

  4. o mais  cruel e que

    o mais  cruel e que caracteriza esses armamentistas,

    é que eles vendem armas para todos os lados da guerra, como infrmou oandré….

    são capazes de criar uma arma de ataque vendida para um país

    que quer atacar determinada nação e, para esta última, fabricar

    um armamento de defesa.

     talvez ao mesmo tempo….

    os armamentista dominam parte do mundo…

    e perovavelmente  seus governos..

    será que john  lennon foi morto por causa disso?

    viver e defender a paz é muito perigoso,

    parafraseando guimarães rosa..

  5. http://www.lifo.gr/uploads/im

    http://www.lifo.gr/uploads/image/387125/maria_del_pilar_1.jpg

    Há uma sequencia paralela nessa historia, Zaharoff foi por muitos anos amante da Duquesa de Villafranca de los Caballeros, cujo marido era um doente mental e passou decadas internado, sem vida marital com a esposa, que teve tres filhas,  Elena,

    Maria Cristina e Maria de los Angeles. O marido, Francisco Maria de Borbon era da familia real de España. Quando Don Francisco, que era Duque de Marchena, morreu, a filha Elena já tinha falecido, Zaharoff adotou legalmente as outras duas que ao que tudo indica eram filhas biologicas dele, segundo toda sociedade da época acreditava mas as moças continuaram a usar o sobrenome Borbon. Provavelmente herdaram parte da fortuna dele e tambem do avô Conde de Mugiro, pai da mãe, era tambem riquissimo. As duas moças tiveram descendencia e o fato de serem filhas de Zaharoff nunca foi assumido oficialmente na fechada aristocracia esponhola da época, era tipo do assunto que se falava mas não se escrevia.

     

  6. Mr. Zed Zed, um icone do ramo

        Deixou “herdeiros” , muito menos capazes do que ele, como Sam Cummings ( que adquiriu uma mansão próxima a de Mr. Zed Zed em Monte Carlo ), o alemão sócio de Cummings, porem ligado a serviços de informação ocidentais: Gerhard Mertins, e o grande “rei” dos armamentos dos anos 70/80 Adnam Khassoghi, ou o folclórico Viktor Bout ( origem da personagem de Nicolas Cage em o ” Senhor das Armas ” ).

         A “tese” de Sir Basil Zaharoff ( Knight of Bath Order – KB ) a Lloyd George : ” A exportação de armas contribui para a prosperidade nacional e a Nação que as vende a outras nações, fica mais a par da situação militar e naval dos paises compradores “.

         Mr. Zed Zed é bem atual, como comerciante de armas, pois atua-se como dantes, um mercado oligopsonico, poucos compradores, no qual a ação governamental direta ou na maior parte das vezes somada a operações “indiretas e heterodoxas” ( entendam como quiserem ), faz parte do negócio, como o apoio de midia ( Mr. Zed Zed financiou um dos primeiros jornais ilustrados franceses ” Le Excelsior ” ).

          AA, vc que adora o FPCA oriundo do caso Loockheed / Japão nos anos 70, deve conhecer o escandalo que a este antecedeu, no mesmo País, entre a Vickers e Mitsui, de 1910, referente ao Encouraçado “Kongo”.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador