
O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, respondeu de forma direta à ofensiva dos Estados Unidos contra imigrantes, na noite deste domingo (26).
Em nota publicada nas redes sociais, o colombiano bateu de frente com o unilateralismo do novo presidente dos EUA, Donald Trump, prometendo taxar todos os produtos dos EUA que entrassem no território. A ação levou o republicano a recuar. Confira a carta na íntegra:
“Trump, eu não gosto de viajar aos EUA. É entediante, mas confesso que há coisas admiráveis. Gosto de ir aos bairros negros de Washington. Lá vi uma luta inteira na capital dos EUA entre negros e latinos com barricadas, o que me pareceu uma idiotice, pois eles deveriam se unir. Confesso que gosto de Walt Whitman, Paul Simon, Noam Chomsky e Miller.
Confesso que Sacco e Vanzetti, que possuem o mesmo sangue que eu, são memoráveis na história dos EUA. Eles foram assassinados na cadeira elétrica por serem líderes operários, pelos fascistas que estão tanto dentro dos EUA quanto no meu país.
Não gosto do seu petróleo, Trump. Ele vai acabar com a espécie humana por causa da sua ganância. Talvez, em algum dia, com um copo de Whisky, apesar da minha gastrite, possamos falar sobre o tema. Mas é difícil, porque você me considera de uma raça inferior. Não sou. E nenhum colombiano é. Se você conhece alguém teimoso, sou eu. Pode, com sua força econômica e soberba, tentar dar um golpe de Estado, como fizeram em Allende. Mas eu morro na minha lei. Resistirei à tortura e resistirei a você.
Não quero escravistas na Colômbia, já tivemos muito e nos libertamos. O que eu quero ao lado da Colômbia são amantes da liberdade. Se você não pode nos acompanhar, buscarei outros caminhos. A Colômbia é o coração do mundo, e você não entende isso. Esta é a terra das borboletas amarelas, da beleza de Remedios, mas também dos coronéis Aurelianos Buendía, dos quais sou um – e talvez o último.
Você pode me matar, mas eu sobreviverei na minha cidade que é anterior à sua, nas Américas. Somos pessoas dos ventos, das montanhas, do Mar do Caribe e da liberdade.
Você não gosta da nossa liberdade, ok. Eu não aperto a mão de escravocratas brancos. Aperto a mão dos herdeiros libertários brancos, de Lincoln e dos meninos camponeses negros e brancos dos Estados Unidos, em cujos túmulos chorei e rezei num campo de batalha, ao qual cheguei, depois de caminhar pelas montanhas da Toscana italiana e sobreviver à Covid-19.
Eles são os Estados Unidos e diante deles eu me ajoelho, diante de mais ninguém.
Derrube-me, presidente, e as Américas e a humanidade responderão.
A Colômbia agora deixa de olhar para o norte, olha para o mundo, o nosso sangue vem do sangue do Califado de Córdoba, da civilização daquela época, dos romanos latinos do Mediterrâneo, da civilização daquela época, que fundou a república, a democracia em Atenas. Nosso sangue tem os negros resistentes transformados em escravos por você. Na Colômbia está o primeiro território livre da América, antes de Washington, em toda a América, w lá me refugio nas suas canções africanas.
A minha terra é da ourivesaria existente na época dos faraós egípcios, e dos primeiros artistas do mundo em Chiribiquete.
Você nunca nos dominará. O guerreiro que cavalgou nossas terras, gritando liberdade e cujo nome é Bolívar, se opõe.
Nosso povo é temeroso, um tanto tímido, é ingênuo e gentil, amoroso, mas saberá conquistar o Canal do Panamá, que você nos tirou com violência. Duzentos heróis de toda a América Latina jazem em Bocas del Toro, atual Panamá, antiga Colômbia, que você assassinou.
Eu levanto uma bandeira e como disse Gaitán, “mesmo que fique sozinho, ela continuará a ser hasteada com a dignidade latino-americana que é a dignidade da América”, que o seu bisavô não conhecia, e o meu sim, Senhor Presidente, um imigrante nos Estados Unidos.
Seu bloqueio não me assusta; porque a Colômbia, além de ser o país da beleza, é o coração do mundo. Eu sei que você ama a beleza como eu, não a desrespeite e ela lhe dará sua doçura.
A COLÔMBIA ESTÁ ABERTA AO MUNDO TODO A PARTIR DE HOJE, DE BRAÇOS ABERTOS, SOMOS CONSTRUTORES DE LIBERDADE, VIDA E HUMANIDADE.
Me informaram que vocês colocaram uma tarifa de 50% sobre o fruto do nosso trabalho humano para entrar nos EUA, e eu faço o mesmo. Que nosso povo plante o milho que foi descoberto na Colômbia e alimente o mundo.”
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Trump não sabe quem é Walt Whitman. Não sabe quem é Paul Simon, Noam Chomsky, e nem o Miller, seja este o Arthur, ou o Henry.
Quando digo que não sabe, quero dizer, não sabe quem são e o que escreveram e fizeram, e muito menos o que representam.
Trump só sabe de Trump.
Seu recorte de realidade não vai além do Elon Musk, e suas edificantes realizações.
Trump não sabe quem são Sacco e Vanzetti, e quanto algum assessor não obtuso (se algum houver) esclarecer quem são, vai comemorar e ter orgasmos múltiplos ao saber.
Petróleo e Whisky, Trump sabe o que são. Salvador Allende, não. E quando algum assessor não obtuso…etc.
Aureliano Buendía, Petro? Tá de sacanagem? Trump não sabe o que é solidão, e provavelmente não sabe contar até 100, como vai saber algo sobre o coronel perdedor? “You’re fired, loser!”
Não sei o que Trump pensa a respeito de Lincoln. Não sei se ele entende o mecanismo real que levou à abolição da escravatura, por lá. Não alcança essas sutilezas. Deve pensar que seu compatriota era apenas um humanista, ou coisa que o valha; os EUA são fundados sobre essa espécie de presunção de ser a Virtuosa, a Terra Eleita de Deus.
Henry Kissinger limitava seu interesse pelo mundo ali pelos Pireneus. Trump só vai até Mar-a-lago.
Trump não sabe o que é a Colômbia, não sabe o que é o Brasil. Não sabe o que é Beleza.
Os Estados Unidos criaram o Panamá. O Panamá, para Trump, existe. O resto…
Há quem diga: serão só quatro anos. Para mim, já são quase 150.
Se contarmos o período anterior de supremacia inglesa, já estamos chegando perto de 300.
Em sua autobiografia, o poeta Pablo Neruda relata uma conversa que teve com Che Guevara, na qual tentou convencê-lo de que havia uma face boa, nos Estados Unidos, referindo-se provavelmente ao partido Democrata; o Che respondeu: “Não, a face é uma só, e é má”.
Neruda era um socialista, progressista, e latino-americano.
Entende-se.
Até hoje pensamos assim, Petro; sua carta é muito bonita, e lava a alma, mas o destinatário não está nem aí.
Não estão em aí, desde sempre. “Eles precisam de nós, nós não precisamos deles.”
Seria melhor ter escrito, simplesmente: ‘Stuff it!”.
Ou, VTNC.
Algum assessor não obtuso…etc.
Bravatas de um tiranete inculto, que não sabe que Lincoln era racista, que Atenas não é na Itália, e finge não saber que os romanos eram imperialistas e que espanhóis destruíram as civilizações inca e asteca.
Se fosse o Milei no lugar do Petro, ele baixaria a calça e ficaria arregaçado, de 4, esperando o ferrão do Trump.