Por Marco Antonio L.
De O Outro Lado da Notícia
Nouriel Roubini: a Espanha no beco sem saída
Na opinião de Roubini, “agora que as incertezas sobre o que iria fazer o BCE e sobre a posição do Tribunal Constitucionalalemão se dissiparam, as razões do governo espanhol para atrasar uma decisão [de pedido de ajuda] desapareceram e podemos esperar que, nas próximas semanas, Espanha inicie o processo de negociação para o resgate”.
Mas o economista não se refere a um resgate total. Refere-se, sim, “ao programa de condições para a compra de obrigações, mas sem financiamento do FMI”. “Assim, os fundos de estabilidade financeira – primeiro o FEEF e depois o MEE – poderão comprar obrigações no mercado primário e no secundário, e o BCE também poderá intervir”.
Questionado sobre se a actual acalmia dos mercados – o prémio de risco tem estado sob menos pressão e a bolsa madrilena tem tido um melhor desempenho – pode levar o governo espanhol a recuar num pedido de resgate, Roubini é peremptório: “acho que o governo vai pedi-lo, de qualquer das formas”.
“Há quem diga que deveria fazê-lo já, porque há elevados vencimentos de dívida em Outubro, mas também é um mês de fortes receitas e Espanha tem ainda acesso aos mercados, pelo que o governo diz que não terá problemas em fazer frente a essa factura”, acrescentou.
Na sua opinião, os 100.000 milhões atribuídos ao sector bancário – recorde-se que no passado dia 9 de Junho oEurogrupo anunciou que poria à disposição de Espanha uma linha de crédito até 100.000 milhões de euros para ajudar a recapitalizar o sector financeiro do país – em princípio serão suficientes. “Representa quase 10% do PIB espanhol e até mesmo o governo diz que não será necessário utilizar todo o dinheiro disponível. Ser ou não suficiente dependerá do que suceda com a economia, se a queda se prolongará e se acelerará. Mas esse não é o meu cenário de base. Creio que a economia continuará em recessão e isso levará as perdas do sector para perto de 100.000 milhões, que é algo mais do que os 60.000 milhões previstos pelo governo”.
“Vejo a saída da Grécia do euro no próximo ano, por esta altura”
Relativamente ao risco de desmoronamento do euro, para o qual Roubini tem alertado, o economista diz que não sabe se é elevado, mas que vê a saída da Grécia do euro no próximo ano, por esta altura. “Talvez se o fizer com alguns dos países mais pequenos e actualmente em dificuldades, isso seja exequível. Mas os elefantes na sala são Itáliae Espanha”, salienta o economista, que é chamado de “Profeta da Desgraça”.
No seu entender, Itália parece estar em melhor situação do que Espanha, se bem que o nível de dívida face ao PIB seja muito maior e se bem que tenha um problema, desde há mais de 10 anos, de baixa produtividade e crescimento. “Assim, Itália tem problemas estruturais mais profundos em termos de competitividade, pelo que não me atreveria a dizer qual dos dois está pior”.
“Aconteça o que acontecer, será em câmara lenta. Não vejo que em seis meses o euro colapse ou tenha uma recuperação imediata. Mas ambas as situações podem ocorrer”, disse.
“Digamos que antes do Verão via uma probabilidade de ruptura do euro de 50% e agora talvez de 40%. Mas prevejo dificuldades severas em muitos destes países, dificuldades financeiras e muitas limitações políticas”, acrescentou.
Recorde-se que Roubini previu a bolha nos preços das casas nos EUA antes do pico neste mercado em 2006. Mas as suas previsões nem sempre foram certeiras, como sublinhou recentemente a Bloomberg, lembrando que quando o índice S&P 500 caiu para um mínimo de 12 anos a 9 de Março de 2009, Roubini disse que provavelmente o índice cairia para 600 pontos ou menos até ao final do ano. Em vez disso, o Standard & Poor’s 500 ganhou 65% no resto de 2009.
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