A Ucrania e o renascimento da história 4

Por Fábio de Oliveira Ribeiro

A dramaticidade do conflito na Ucrania está crescendo diariamente. Tudo parece evoluir para um ponto sem retorno em que a guerra será uma consequencia necessária.

Hoje, apesar da imprensa noticiar que foi a oposição ao governo constitucional ucraniano que contratou os atiradores que mataram dezenas de pessoas pouco antes do golpe de estado, a Casa Branca reafirmou sua intensão de impor sanções à Rússia por causa da invasão da Criméia. Os legisladores daquela região, por sua vez, decidiram realizar um referendo popular para decidir qual será o destino daquele ex-território ucraniano. O resultado desta votação popular é previsível. A esmagadora maioria dos ucranianos da Criméia tem demonstrado apoio à invasão realizada pela Rússia em resposta ao caos e ao golpe de estado consolidado em Kiev por nazistas com ajuda dos EUA e UE.

A partilha da Ucrania parece inevitável, mas esta solução pode despertar a furia assassina de uns e outros. Os ucranianos que controlam Kiev parecem estar dispostos à submeter pela força a metade do país onde predomina o idioma russo. A Rússia certamente não deixará de defender a região e certamente intensificará as ações militares se suas tropas forem atacadas. Caso isto ocorra os norte-americanos e ingleses socorrerão seus aliados nazistas?

O nível de tensão aumentou hoje, pois um barco de guerra norte-americano penetrou no Mar Negro com permissão da Turquia. A Rússia, em represália, despachou uma frota para o Oceano Atlantico.

As ações de uns e outros estão em rota de colisão e nenhuma das partes parece querer recuar. Há quase dois séculos os Estados modernos ensinam aos seus militares a obra de Carl von Clausewitz, militar prussiano que defendeu a tese de que a guerra é a continuação da Política por outros meios. O fato dos militares norte-americanos, ucranianos e russos compartilharem esta mesma ideologia é preocupante.

A Política, segundo Hannah Arendt, só pode existir no espaço consensualmente construído por pessoas diferentes para que elas possam viver em paz. Sendo assim, ao contrário do que disse Carl von Clausewitz a guerra não é e não pode ser considerada uma continuação da Política. Na verdade a guerra é a negação da Política, pois nada há de consensual ou pacífico entre exércitos antagônicos que se destroem mutuamente até esgotarem seus recursos ou os recursos dos seus respectivos países.

Se a Guerra da Ucrania começar, nós brasileiros teremos que decidir o que faremos. De minha parte, creio que o nosso país deve ficar em paz. Não temos interesse na região conflituosa, não somos nem iguais nem servos dos norte-americanos. Não precisamos acreditar e não devemos referendar ou repetir as bobagens que o governo norte-americano tem dito para justificar, perante sua população, uma inócua agressão militar que somente produzirá destruição, morte e mutilação de inocentes.

 

 

Fábio de Oliveira Ribeiro

12 Comentários

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  1. Eu achei este texto do

    Eu achei este texto do Counterpunch muito interessante (http://www.counterpunch.org/2014/03/05/ukraine-and-the-great-asian-enclosure/), pois analisa toda a questão do ponto de vista do xadrez global.

    Na Ásia Central, tanto Rússia quanto China possuem projetos relacionados a energia (gasodutos/oleodutos), o que torna imprescindível para ambos os países a hegemonia russa, ou pelo menos a não interferência ocidental, sobre a região.

    No caso, a Rússia domina o Mar Cáspio diretamente, e o Mar Negro e o Mar Mediterrâneo indiretamente, através respectivamente da Crimeia e da Síria. O fato das potências ocidentais terem inflamado separatistas da Chechênia (região do Már Cáspio), ultranacionalistas na Ucrânia e ameaçado intervir militarmente na Síria, tem relação direta com esta disputa por recursos naturais.

    Não é a toa que a China também foi parte importante para demover os Estados Unidos da ideia de invadir a Síria, e no conflito atual tenha se manifestado contrariamente a sanções contra Moscou. Além de tentar minar o poder regional russo, a China é o grande sujeito oculto nesta história, já que detém diversos projetos de energia na região.

    Assim, ao investir contra os países satélites russos, as potências ocidentais não visam apenas desativar bases militares de Moscou e substituí-las por estadunidenses/da Otan, mas também disputar com a China os fartos recursos naturais da região.

    O problema é que Ásia Central não é América Latina ou Central e, ao buscar hegemonia no quintal alheio, inicia-se uma corrida perigosíssima, que pode trazer consequências nefastas para todos os lados.

    Fala-se em liberdade, valores, democracia, mas a raiz do conflito é a mesma de sempre: disputa dos recursos naturais da Ásia Central pela EUA e UE de um lado, Rússia e China de outro.

    1. Excelente comentário, mas é

      Excelente comentário, mas é preciso lembrar uma coisa importante. A lógica da geopolítica sempre produziu a mesma coisa: conflito diplomático exacerbado pela impossibilidade de recuos que desemboca em guerra. Foi o que ocorreu na I e na II Guerra Mundiais e em todos os conflitos lutados por procuração durante a Guerra Fria. 

  2. Política & Geopolítica

    Caro Fábio de Oliveira Ribeiro,

    1) Se a política serve apenas para manter as disputas sociais em termos pacíficos e civilizados, ela não passaria de instrumento para a manutenção do status quo.

    Como bem sabemos, a história está pontuada de momentos de grandes impasses, momentos esses em que a violência se impõe como a forma de luta. É quando a política encontra seu auge,  resolvendo ou mantendo as grandes contradições. Essa realidade independe de nossos prurídos civilizatórios.

    2) Apesar do acordo Gorbachov/Bush pai,com o fim da Guerra Fria, a OTAN foi engolindo todos os países do antigo Pacto de Varsóvia, com a Rússia esboçando apenas reações protocolares. A partir dos anos 2000, o país foi recuperando gradativamente sua capacidade de projetar poder além de suas fronteiras. O marco inicial desse retorno dos russos ao grande jogo internacional foi a surra aplicada na Georgia, que o Ocidente, sobretdo os EUA, deveria ter entendido o recardo: A RÚSSIA NÃO ACEiTARÁ MAIS HUMILHAÇÕES E PROVOCAÇÕES.

    Essa volta da Rússia ao grande jogo internacional  e a manutenção da política expansionista da OTAN estão criando perigosos impasses entre as principais potenciais militares do mundio. Não apenas na Europa Oriental, mas também na Asia e Oriente Médio.

    Estamos numa fase de transição para um sistema intrnacional mais multilaeral, convivendo com instituições ultrapassadas, criadas pós 1945. Que não dão conta da cada vez mais complexa nova corelação de forças internacionais.

    O Brasil está inserido nessa realidade, e com papel de destaque, tendo em vista a nossa condição de grande estado periférico e líder regional. A nós interessa a renovação, o fortalecimento e a democratização das instituições internacionais, com o objetvo de pelo menos colocarmos limites a essa politica do mais forte, que interessa apenas as potenciais militares.

    1. O espaço em que a Política

      O espaço em que a Política existe pode ser ampliado ou reduzido pacificamente, mas também ser complemente destruído pela guerra. É por isto que a guerra não é uma continuação da Política de acordo com Hannah Arendt. Pelo tom do seu comentário percebi que você não está muito familiarizado com a obra da filosofa e parece mais inclinado a acreditar na pseudo verdade divulgada por  Carl von Clausewitz.

       

      Ao final do seu comentário você disse que:

       

      “A nós interessa a renovação, o fortalecimento e a democratização das instituições internacionais, com o objetvo de pelo menos colocarmos limites a essa politica do mais forte, que interessa apenas as potenciais militares.”

       

      Posso perfeitamente concordar com isto, mas há um problema. A guerra não acarreta o fortalecimento e a democratização das instituições internacionais nem as destroe, a guerra apenas consolida um fato considerado inexorável pelos contendores antes e depois do primeiro tiro: o de que não há espaço internacional em que a Política possa ser feita. Não é possível construir a Política flertando com a guerra, pois como disse Nietzsche:

       

      “Wer mit Ungeheuern kämpft, mag zusehn, dass er nicht dabei zum Ungeheuer wird. Und wenn du lange in einen Abgrund blickst, blickt der Abgrund auch in dich hinein.”*

       

      Seu comentário, de qualquer maneira, foi muito interessante. Grato. 

       

      *Aquele que luta com monstros deve acautelar-se para não tornar-se também um monstro. Quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para você.

  3. Não estou familiarizado com

    Não estou familiarizado com todos os dados, mas penso que os norte americanos, ao seguir a desvairada política geoestratégica de Zbnieg Brzezinsk, acabaram perdendo totalmente a noção da realidade.  Se tem uma coisa que a história mostra é que os russo não constumam deixar barato quando a questão envolve sua sobrevivência.

  4. Parece um tanto equivocada a

    Parece um tanto equivocada a análise, notadamente no que diz respeito à possibilidade ou mesmo iminência de guerra.

     

    Se fosse seguro que uma guerra se limitasse às armas convencionais, seria certa sua eclosão. Essas guerras são negócios esplêndidos, rendem muito a quem as financia e dão ocasião de mandar para a morte grandes contingentes de pobres de todas as nacionalidades.

     

    Todavia, nenhum Rothshild está disposto a respirar ar radiativo e nada leva a crer que estes ares não cheguem à Riviera. Portanto, acho bastante improvável que haja guerra, porque há muitas bombinhas de fissão e de fusão disponíveis. 

    1. Well… em se tratando de

      Well… em se tratando de História, meu caro, o improvável as vezes ocorre. Se existe uma coisa que a História nos ensina é justamente isto: as ações quase sempre saem do controle dos homens. 

      1. Bem, tratando-se de qualquer

        Bem, tratando-se de qualquer coisa, o improvável às vezes ocorre, claro. Senão, seria o impossível e não o improvável.

  5. As primeiras medidas

    As primeiras medidas geoeconômicas tomadas pelos naziocidentais, para que recebam os

    emprestimos do ocidente; diminuir à metade a aposentadoria, privatizar, diminuir fundos para

    a educação e assistência social e principalmente, abrir seu território para as armas da OTAN.

     

    E lá vem o FMI.

    1. A Rússia não aceitou bases da

      A Rússia não aceitou bases da OTAN na Polônia e certamente não aceitará bases da OTAN na Ucrania. Talvez até aceite uma base da OTAN na metade nazista do país, desde que os EUA e UE respeitem a autonomia política da região da Criméia se isto for aprovado na votação popular que será realizada.

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