Ataques de hackers são ameaça maior do que atentados nos EUA

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Sugerido por Romério Romulo

Da Folha de S. Paulo
 
 

Para agências de inteligência, ciberataques podem causar mais dano que atentados, relata jornalista Shane Harris

Autor acha possível que EUA tenham derrubado internet norte-coreana; país gasta US$ 13 bi com ciberdefesa neste ano

RAUL JUSTE LORESDE WASHINGTON

Ataques de hackers aos EUA podem causar muito mais pânico que qualquer grande atentado terrorista. São a “maior ameaça à segurança nacional americana”, segundo as 17 agências de inteligência do país em relatório ao Congresso neste ano.

É o que relata Shane Harris, jornalista e pesquisador da New America Foundation, um centro de estudos, em seu livro “At War “”The Rise of the Military-Internet Complex” [Em Guerra “”O Crescimento do Complexo da Internet Militar], lançado em novembro.

Em tempos em que a Coreia do Norte é acusada de constranger o estúdio de cinema Sony, vazando centenas de e-mails pessoais e ameaçando a estreia de um filme (“A Entrevista”) que zomba de seu ditador, Harris explica os diversos temores com ataques como esse.

“Em vez de roubar informação de um computador, eles podem destruir o próprio computador, derrubar redes que operam o controle de tráfego aéreo ou o sistema de eletricidade, deixando cidades às escuras”, conta Harris àFolha. “Também podem apagar ou corromper informação de dados bancários.”

Ele acha “tecnicamente possível” que o governo americano tenha conduzido o ataque que derrubou a internet da Coreia do Norte na segunda (22). “O país tem muito poucas conexões à rede –poucas e vulneráveis. Seria relativamente fácil até para um grupo sem muita capacidade derrubar seu sistema.”

Para o pesquisador, seria bem mais difícil fazer isso contra um país maior, com várias conexões à web.

No livro, Harris relata diversos episódios que comprovam que a guerra digital “já chegou”. Os EUA, por exemplo, ainda no governo Bush, infiltraram um supervírus chamado Stuxnet que destruiu mil centrífugas do programa nuclear do Irã, forçando-as a uma velocidade muito maior que a programada.

A China conseguiu invadir os servidores americanos e roubar dados sobre os caças F-35. Em viagem a Pequim, o então secretário de Defesa, Robert Gates, teve seu laptop “grampeado”. Os emails de Gates foram hackeados.

Harris, que há dez anos escreve sobre o tema, afirma que ainda há pouco diálogo sobre um possível “código de conduta” digital, que definisse algumas áreas intocáveis, como a operação de satélites.

“Os EUA abriram para os chineses recentemente a lista de ações no espaço digital que seriam consideradas hostis ou agressivas. Mas não houve reciprocidade do lado chinês. Então, não temos ainda um bom senso das regras do ciberespaço com a China nem com a Rússia”, diz.

O livro informa que, só neste ano, o governo americano gastou US$ 13 bilhões em programas de ciberdefesa (equivalentes a R$ 34 bilhões –mais que todo o orçamento do Exército brasileiro, de R$ 29 bilhões em 2014, incluindo despesas de pessoal).

NSA E INSEGURANÇA

“Os EUA estão entre um punhado de países cuja política assumida é a de dominar o ciberespaço como um campo de batalha. E têm os meios para fazê-lo”, diz o autor.

“As ações agressivas dos EUA mudam a internet de modo fundamental, nem sempre para melhor. Em seu zelo para proteger o espaço digital, o governo e as corporações o deixam mais vulnerável.”

Ele culpa a NSA, a famosa Agência Nacional de Segurança, por essa debilitação. “A NSA tem inserido falhas e debilidades na tecnologia de criptografia, que são adotadas no mercado comercial. Isso enfraquece a segurança.”

À Folha Harris diz que especialistas, parlamentares e gente da indústria reclamam que as redes dos EUA ainda são bem pouco protegidas. “A resposta típica da NSA é que ela precisa de mais acesso às redes particulares para monitorar esses ataques.”

O especialista diz que já há compartilhamento com o governo de muitos dados sobre ameaças específicas contra Wall Street e o Vale do Silício. Mas os bancos, em particular, resistem às tentativas da NSA de entrar em suas redes.

Harris não vê Edward Snowden como herói das denúncias nem como traidor da pátria. “Justamente a agência que protegeria todas as redes não conseguiu evitar que um funcionário terceirizado de 29 anos revelasse as impressões digitais de seu programa global”, escreve.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

4 Comentários

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  1. é como eu costumo dizer, se quer economizar terceirize serviços

    “Justamente a agência que protegeria todas as redes não conseguiu evitar que um funcionário terceirizado de 29 anos revelasse as impressões digitais de seu programa global”

    se quiser qualidade e compromisso, contrate funcionários!!

  2. Hackers do outro lado.

    Os amricanos inventaram a brincadeira – os outros aprenderam a brincar também.

    Tarde demais para dizer – “Não quero mais brincar!”

    Como disse uma dona de casa alemã sobre os bombardeios das cidades alemães – “Meu filho,jogamos tantas bombas nas cidades dos outros e agora é a nossa vez” frase real!!!

    EUA – BOMBAS QUE EXPLODEM LÀ,EXPLODEM CÁ TAMBÉM!!!

     

  3. A reportagem é 100%
    A reportagem é 100% desinformação.

    Os EUA inventaram a internet, protocolos de conexão… Enfim, tudo.

    Eles é que são ameaça ao mundo e não o inverso.

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