Desconexão democrata impulsionou Trump, diz Nobel de Economia

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

Em artigo, professor do MIT alerta que a democracia vai sofrer se a centro-esquerda não se tornar mais favorável ao trabalhador

Donald Trump durante campanha a presidencia dos EUA na cidade de Atlanta. Foto: RS/via Fotos Publicas

O Partido Democrata venceu algumas eleições nos Estados Unidos com o apoio do Vale do Silício e de minorias, sindicatos e profissionais em grandes cidades, mas o partido se tornou desconectado justamente dos eleitores que precisa conquistar: os trabalhadores.

Em artigo publicado no site Project Syndicate, o professor do MIT e vencedor do Nobel de Economia Daron Acemoglu afirma que a última eleição para a presidência dos Estados Unidos “foi mais uma derrota democrata do que um triunfo de Donald Trump”.

Para Acemoglu, um dos principais fatores que levaram a vice-presidente Kamala Harris a perder a disputa para Donald Trump é a perda do apoio dos trabalhadores norte-americanos, por conta de seu apoio à disrupção digital, globalização, grandes fluxos de imigrantes e ideias “woke”.

“Hoje em dia, aqueles com maior probabilidade de votar nos democratas são os altamente educados, não os trabalhadores manuais. Nos Estados Unidos, como em outros lugares, a democracia sofrerá se a centro-esquerda não se tornar mais pró-trabalhador”, pontua o articulista.

A coalizão que ajudou os democratas a ganharem disputas nos últimos anos “está alienando os trabalhadores e a classe média em grande parte do país, especialmente em cidades menores e no Sul”, diz Acemoglu, lembrando a estratégia industrial pró-trabalhador adotada por Joe Biden em 2020.

Entretanto, o chamado ‘establishment’ democrata (especialmente ativistas concentrados em cidades costeiras) nunca internalizou as preocupações dos trabalhadores.

“Aqui está meu próprio teste para entender a relação entre os democratas e os trabalhadores americanos: se um membro da elite democrata ficasse preso em uma cidade desconhecida, ele preferiria passar as próximas quatro horas conversando com um trabalhador americano do Centro-Oeste com diploma de ensino médio ou com um profissional com pós-graduação do México, China ou Indonésia? Sempre que faço essa pergunta a colegas e amigos, todos eles presumem que é o último”.

No final das contas, as mensagens sobre oportunidades e empregos transmitidas pelos democratas não vão se traduzir em agenda pró-trabalhador real caso elas não se distanciem da elite tecnológica e empresarial global.

Entretanto, “um redirecionamento será difícil agora que o Partido Republicano de Trump e J.D. Vance se tornou o principal lar dos trabalhadores — especialmente aqueles na indústria e cidades menores — e agora que as elites democratas estão tão desconectadas culturalmente dos trabalhadores e de grande parte da classe média”.

Na visão do articulista, as políticas do próximo governo “quase certamente apoiarão os plutocratas”, embora a política de Biden tenha começado a apresentar resultados sutis para os trabalhadores. “Altas tarifas sobre importações da China não trarão de volta os empregos que deixaram o país e certamente não ajudarão a manter a inflação sob controle (…) se Trump pressionar o Fed por mais cortes de taxas (para aumentar sua própria popularidade), a inflação pode retornar”.

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