Michael Hudson e a decadência do dólar

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
[email protected]

Em entrevista, economista e historiador explica como país usa ouro e títulos de dívida para manter influência global

Foto: Kenny Eliason on Unsplash

A guerra entre Rússia e Ucrânia colocou ainda mais luz no debate em torno do uso de outras moedas para o comércio global em substituição ao dólar, que já vinha ganhando corpo nos últimos anos.

E o tema foi recorrente inclusive entre os estudiosos norte-americanos durante o mandato de Donald Trump, por conta do posicionamento do então presidente com relação a outros países.

Na ocasião, Michael Hudson, economista, analista financeiro e presidente do Institute for the Study of Long-Term Economic Trend, deu uma entrevista ao podcast From Guns and Butter onde explicou que a dominação norte-americana teve origem na sua posição de devedor.

A posição de credor dos EUA realmente começou após a Primeira Guerra Mundial, com base no dinheiro que emprestou aos Aliados antes de entrar na guerra”, diz Hudson.

No caso, os EUA “insistiram” que os países Aliados na Primeira Guerra pagassem ao país pelo apoio militar que foi vendido – o que levou os europeus a se voltarem para a Alemanha, fazendo com o que o país quase falisse para pagar a Inglaterra e a França.

E como os EUA não sofreram danos da guerra, eles foram capazes de acumular mais de 75% do ouro monetário global entre o fim da Segunda Guerra Mundial e 1950, quando eclodiu a Guerra na Coreia e o país registrou seu primeiro déficit na balança de pagamentos.

Guerras e títulos do Tesouro norte-americano

Contudo, com o apoio norte-americano ao colonialismo francês em países como Vietnã e Laos, o dólar estava com grandes déficits na balança de pagamentos e os EUA estavam perto de ficar sem ouro por conta dos gastos com guerras no exterior.

“Quando a América saiu do ouro, as pessoas começaram a se perguntar o que iria acontecer. Muitos previram um dia do juízo final econômico. Estava perdendo sua capacidade de governar o mundo através do ouro”, diz Hudson.

“Mas o que eu percebi (e fui o primeiro a publicar) foi que se os países não pudessem mais comprar e manter ouro em suas reservas internacionais, o que eles iriam manter? Havia apenas um ativo que eles podiam deter: títulos do governo dos EUA, ou seja, títulos do Tesouro”, diz Hudson.

Quando um banco estrangeiro compra títulos do Tesouro norte-americano, ele financia o déficit orçamentário norte-americano, gerando um “fluxo circular de gastos militares reciclados por bancos centrais estrangeiros”.

E países chegaram a ser ameaçados se não ajudassem os EUA. Nos anos 70, Hudson lembra que “os sauditas foram informados de que seria um ato de guerra se não reciclassem na economia americana os dólares que receberam por suas exportações de petróleo”.

“Os Estados Unidos mantinham seu próprio estoque de ouro, enquanto queriam que o resto do mundo mantivesse suas economias na forma de empréstimos aos Estados Unidos. Então o dólar não caiu”, diz o professor da Universidade de Missouri.

“Se você não reciclar seus recibos em dólares para a economia dos EUA, sua moeda vai subir. As entradas de dólares das vendas de exportação estão sendo convertidas em sua moeda, aumentando sua taxa de câmbio”, diz Hudson.

“Mas, ao comprar títulos ou ações dos EUA, faça um lance do preço dos dólares em relação à sua própria moeda. Assim, quando os Estados Unidos incorrem em déficit na balança de pagamentos sob condições em que outros países mantêm suas reservas estrangeiras em dólares, o efeito é que outros países mantêm as taxas de câmbio de suas moedas estáveis ​​– principalmente por meio de empréstimos ao governo dos EUA”.

Leia Também

Cúpula da Otan e desdobramentos da Reunião do G7, por Joaquim Pinto de Andrade

A montanha russa do preço da energia, por Kenneth Rogoff

Hong Kong, 25 anos depois, por Elias Jabbour

Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador