Finalmente EUA verbaliza uso político de Gaza por Netanyahu

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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"Há todos os motivos para as pessoas tirarem essa conclusão", disse Joe Biden; primeiro-ministro é acusado de corrupção e abuso de poder

Foto: Kobi Gideon / GPO – via Fotos Públicas

O presidente dos Estados Unidos Joe Biden insinuou nesta terça-feira (04/06) a possibilidade de a guerra contra o Hamas ser propositalmente estendida pelo primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, como forma de travar investigações de corrupção e abuso de poder.

“Há todos os motivos para as pessoas tirarem essa conclusão”, afirmou Biden em entrevista publicada na revista Time nesta terça-feira.

“A sua decisão de descrever o plano israelita em público pareceu ser um esforço claro para barrar Netanyahu, que não revelou publicamente os detalhes e pareceu recuar em alguns deles após a declaração de Biden na sexta-feira passada”, de acordo com o The New York Times.

A mesma entrevista foi repercutida na Europa: segundo o jornal britânico The Guardian, Netanyahu vem enfrentando “uma pressão crescente interna e internacionalmente para que apoie um novo plano de cessar-fogo para Gaza, uma medida a qual resiste por receio de que seu governo colapse”.

“Membros da extrema-direita da coalizão governista ameaçaram abandonar a coligação caso Israel ‘se renda’ antes de uma ‘vitória total’ sobre o Hamas, enquanto seu principal rival, o centrista Benny Gantz, disse que vai renunciar ao governo de coalizão emergencial caso Netanyahu não se comprometa com um acordo e um plano ‘day after’ para Gaza até o dia 08 de junho”, diz o jornal inglês.

Finalmente, a imprensa ocidental começou a veicular algo que os veículos de mídia árabe veiculam há algum tempo: Netanyahu tem total consciência de que o fim da guerra levaria à sua destituição do cargo.

Uso do cargo para barrar investigações

Além das investigações em torno de abuso de poder e corrupção (a polícia de Israel já recomendava o indiciamento de Netanyahu em 2018), o primeiro-ministro ignorou por completo evidências relacionadas ao ataque realizado em 07 de outubro de 2023 que matou quase 1,2 mil pessoas e a lentidão na resposta pelas forças de segurança, o que levou a novos protestos.

Vale lembrar que Netanyahu já foi alvo de fortes críticas pela opinião pública por conta do projeto em que queria reformular o Poder Judiciário por completo – em janeiro de 2023, a coalizão de extrema-direita apresentou um plano onde o Parlamento teria o poder de invalidar as decisões da Suprema Corte com a maioria dos votos de seus 120 membros.

Tal proposta, que foi barrada por oito votos a sete, aumentaria a influência dos políticos e do governo na escolha dos membros do tribunal e permitiria que os membros do gabinete nomeassem seus próprios assessores jurídicos no lugar dos profissionais do serviço público.

“Permanecer no cargo é a melhor hipótese de Netanyahu escapar a processos por corrupção, acusações às quais ele nega. Porém, o líder israelense de longa data foi encurralado na sexta-feira, quando Joe Biden revelou uma nova trégua e um plano de libertação de reféns, que ele disse ser uma proposta israelense”, destaca o Guardian.

Em entrevista à TV GGN em outubro de 2023, o jornalista, pesquisador acadêmico e mestre em Relações Internacionais Bruno Huberman já afirmava que a insistência do israelense na guerra contra o Hamas se justifica a partir da necessidade da própria manutenção no poder.

“Hoje em dia, Israel está tendo muita oposição ao Benjamin Netanyahu e membros do seu partido. Ele só está se sustentando enquanto estiver movendo a guerra, acho que é uma das razões por trás do prolongamento da guerra. Ele está falando de uma guerra longa. Enquanto a guerra durar, ele dura. Assim que a guerra acabar, ele cai. Já havia uma rejeição desde antes do conflito”, afirmou Huberman na ocasião.

Em abril de 2019, Huberman publicou com Arturo Hartmann um artigo onde destacou um dos objetivos de Netanyahu caso saísse vencedor na eleição realizada em 2019: ampliar a presença de Israel sobre o Território Ocupado Palestino da Cisjordânia, de forma a abranger todos os assentamentos judeus.

1 Comentário

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  1. É muito pouco atribuir essa guerra à ambição pessoal de Netanyahu de querer continuar no poder ou medo de cair. A base dessa guerra é o expansionismo e a ambição colonialista de Israel desde quando o país foi fundado

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