
Com informações de Mounia Daoudi, enviada especial da RFI a Bali, e agências
O presidente francês, Emmanuel Macron, e o chinês, Xi Jinping, se reuniram nesta terça-feira (15) à margem da cúpula do G20 na Indonésia. Os dois líderes confirmaram seus posicionamentos contra o uso de armas atômicas e aceitaram unir forças para acabar com a guerra na Ucrânia, em prol da estabilidade mundial.
Convém “unir nossas forças para responder (…) a crises internacionais como a guerra lançada pela Rússia na Ucrânia”, disse Macron antes de uma reunião bilateral com Xi Jinping. O presidente francês também enfatizou que é “do interesse da China e da França” alcançar uma “verdadeira estabilidade” internacional.
Xi Jinping não fez menção à guerra na Ucrânia em seu discurso inicial, limitando-se a defender que ambos os países “mantenham o espírito de independência, autonomia, abertura e cooperação”. Desde o início do conflito, o líder chinês jamais condenou a ofensiva russa.
Uma autoridade americana, no entanto, disse nesta terça-feira que os países integrantes do G20 poderiam emitir uma declaração na qual “a maioria” dos membros do grupo condenasse fortemente a ofensiva russa na Ucrânia.
Em comunicado divulgado após a reunião, a sede da presidência francesa afirmou que Macron “expressou sua forte preocupação diante da escolha da Rússia de continuar a guerra na Ucrânia”. “As consequências deste conflito transcendem fronteiras europeias, e devem ser superadas por uma estreita coordenação entre a França e a China”, reitera o documento.
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Guerra na Ucrânia no centro dos debates
O G20 não costuma tratar de questões de paz e segurança, e embora a guerra na Ucrânia não esteja oficialmente na agenda da cúpula, ela estará inegavelmente no centro dos debates. Os encontros do G20 são centrados sobretudo em reuniões sobre cooperação econômica entre países ricos e as grandes economias emergentes, ou seja, dois terços da população mundial. Países que sozinhos respondem por 80% da riqueza produzida no mundo e representam 75% do comércio internacional.
No entanto, a situação neste ano é complexa, já que a Rússia, membro do G20, invadiu a Ucrânia e provocou o conflito. Moscou é, portanto, a grande responsável pelo estado da economia mundial e não poderá escapar das críticas nos dias do evento em Bali.
O mundo mal teve tempo para se recuperar da pandemia de Covid-19 e volta a ser ameaçado por uma recessão econômica. Por isso, a primeira das preocupações do G20 em Bali é a insegurança alimentar, que atinge principalmente os países do sul, mais vulneráveis aos problemas de abastecimento de cereais.
A Rússia e a Ucrânia estão entre os principais produtores mundiais de trigo, milho e girassol e a guerra desencadeada em 24 de fevereiro por Vladimir Putin desestabilizou completamente esses mercados, aumentando consideravelmente os preços dessas matérias-primas agrícolas. A crise alimentar alimentou uma inflação que atualmente não poupa nenhum país.
Mas a insegurança alimentar é apenas uma crise entre muitas. Há também o problema da energia, da crise financeira, além das questões climáticas. O sucesso das negociações da COP27, que estão ocorrendo paralelamente no Egito, depende disso.
Putin: o grande ausente
O presidente russo, Vladimir Putin, anunciou poucos dias antes do início da cúpula que não iria a Bali. Ele é representado por seu fiel chefe da diplomacia, Sergei Lavrov, que usará todo o seu peso para evitar a condenação de seu país. Embora responsável pelas crises que atualmente abalam a economia mundial, a Rússia pode contar com o apoio do G20.
É o caso da China ou da Índia, que continua negociando com Moscou, apesar das sanções ocidentais. Por fim, outro grande apoio da Rússia é a Arábia Saudita, que se destacou pelas posições pró-Moscou na OPEP+ quando houve aumento dos preços do petróleo e acirramento crise energética.
A equação não é, portanto, simples para a presidência indonésia do evento, cuja prioridade será evitar que a cúpula amplie as divisões do mundo. A própria credibilidade do G20 está em jogo.
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