Inglaterra, Austrália, União Europeia: Musk acumula conflitos em diversos países

Bilionário rejeita práticas de censura e confronta autoridades locais, mas quando se trata de aliados da extrema-direita, acata ordens sem hesitar

James Duncan Davidson – Creative Commons

Enquanto o bilionário e dono da rede social X, antigo Twitter, afaga publicamente líderes da extrema-direita a fim de garantir benesses (a exemplo do acesso facilitado às reservas de lítio na Argentina), em outros países são comuns as afrontas às instituições, além de suspensões, multas e banimentos. 

O modus operandi de Musk é sempre o mesmo: ao descumprir a legislação local e ser retaliado por autoridades, ameaça “expor a verdade para o povo”

Após a suspensão da plataforma do Brasil, a mando do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, o magnata prometeu expor supostas ilegalidades cometidas pelo ministro. 

“Vamos começar a publicar amanhã [1º] a longa lista de crimes de Alexandre de Moraes, juntamente com as leis brasileiras específicas que ele violou”, twittou o bilionário no último sábado (31). “Obviamente, ele não precisa seguir as leis dos EUA, mas precisa seguir a legislação de seu próprio país. Ele é um ditador e uma fraude, e não a Justiça”, acrescentou. 

Apesar do discurso de “injustiçado e perseguido”, Musk enfrenta situação bastante similar na Europa. Ao violar a Lei dos Serviços Digitais (DSA) do bloco econômico, que acusa a plataforma de praticar padrões obscuros, faltar com a transparência da publicidade e negar acesso de dados aos investigadores da Comissão Europeia, Musk pode sofrer mais um banimento além do Brasil.

Uma das práticas questionadas pela Comissão é a venda da verificação azul do X, que não deixa claro os perfis que são realmente verificados daqueles que pagaram para parecer verídicos. 

“Na nossa opinião, o X não cumpre o DSA em áreas-chave de transparência”, escreveu Margrethe Vestager, a vice-presidente executiva cessante da Comissão Europeia e Comissária para a Concorrência.

“A Comissão Europeia ofereceu ao X um acordo secreto ilegal: se nós silenciosamente censurássemos o discurso, não nos multariam”, respondeu o bilionário em 12 de julho. 

Além da resposta, a já rotineira ameaça: Elon Musk prometeu levar o caso ao tribunal em decorrência das acusações da Comissão. 

Austrália

Um “bilionário arrogante, que pensa que está acima da lei”. Esta foi a descrição usada pelo primeiro-ministro australiano Anthony Albanese, que criticou Elon Musk após descumprimento de decisões judiciais para remover conteúdos considerados violentos e extremistas. 

Uma das decisões ordenava que o X retirasse do ar um vídeo em que um bispo sofre um atentado à faca. Para as autoridades do país, este conteúdo fomentava a violência e o ódio no país. 

Mas Musk, novamente, adotou o discurso de que estaria sendo censurado. “O comissário de censura australiano está exigindo proibições globais de conteúdo”, disse o bilionário.

Inglaterra

O bilionário arranjou conflitos também com as autoridades inglesas, depois de dizer que “uma guerra civil é inevitável” na Inglaterra tendo em vista os protestos de extremistas que atacaram residências e comércios de imigrantes. 

À Reuters, o ministro da Justiça do Reino Unido, Heidi Alexander, teceu críticas a Musk. Para ele, os comentários do magnata são inaceitáveis, o que justificaria novos debates sobre a aplicação de regras nas plataformas digitais.

Contraditório e conveniente

Ainda que se venda como um paladino da liberdade de expressão, contrário a qualquer tipo de censura, Musk não hesita em retirar conteúdos do ar e respeitar a legislação local quando o teor político da censura interessa aos seus negócios. 

Próximo de Narendra Modi, primeiro-ministro da Índia, Musk acompanhou a censura a um documentário da BBC sobre o líder extremista indiano, que acusou a emissora britânica de difamação.

“As regras na Índia sobre o que pode aparecer nas redes sociais são muito estritas e nós não podemos violar as leis do país”, justificou o bilionário.

Musk também se comporta bem na Turquia, tendo em vista o interesse na reeleição do presidente Recep Tayyip Erdogan. Para tanto, ele removeu conteúdos e perfis em 2023 a pedido das autoridades turcas sem reclamar de censura.

“Em resposta ao processo legal e para garantir que o Twitter continue disponível para o povo da Turquia, tomamos medidas para restringir o acesso a alguns conteúdos na Turquia hoje”, informou o X.

*Com informações da Agência Brasil e Euronews.

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5 Comentários

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  1. Apenas para falar entre os mais recentes, os Fernandos Collor e Cardoso, Temer e Bolsonaro (sem falar da ditadura e da míRdia), não é difícil desrespeitar o braZil é considerá-lo apenas como um “cool de mother Joanne”. Não é culpa dos estrangeiros mas nossa, de não conseguirmos nos desvencilhar de nossos capatazes e corretores pátrios. Em breve as top 3 economias do pódio mundial serão China, EUA e India. Nós que poderíamos estar lá ou pelo menos em quarto, continuamos presos em discussões cloroquínicas e intensas políticas bo-çais…

  2. O Sulla moderno, e sem patente militar: minando o sistema, a democracia, que permitiu a ele se tornar pretenso rei do universo.
    Não lembro onde li; mas jamais esqueço as advertências de Eisenhower, ao deixar a Casa Branca, mais ou menos sobre o que vem acontecendo desde 1972, com o agigantamentos de Estados privados dentro dos Estados, a começar pelos Estados Unidos, onde Elon Musk e comparsas são somente o prego do caixão do sistema, que, bem ou mal nos trouxe à exuberância atual. Que os devotos de Ayn Rand estão destruindo.
    Em tempo: Roma de Sulla contou com a genialidade do Augustulus Otávio, que deu sobrevida ao sistema, por mais três séculos. E agora, no Ocidente?

  3. Elon Musk é um personagem típico, desses que aparecem de tempos em tempos, para lembrar quem é que manda no capitalismo.

    Rothschild, Rockfeller, Ford, Soros, bilionários árabes, e outros indivíduos PIB, que são aqueles que reuniram uma riqueza tamanha, que eram maiores que países, sempre enfrentaram as chamadas “soberanias”.

    Uns com mais, outros com menos discrição, esse é um evento recorrente.

    Querem um exemplo? Olhem para o Banco Central do país…a instituição cafetã da orgia rentista.

    Assim, a justiça eleitoral brasileira, ou melhor dizendo, o Poder Judiciário brasileiro chegou ao estado da arte.

    Ele cria os problemas, e depois aparece como solução.

    Ele chancela a apadrinha golpes, e depois promove a festa de redemocratização!

    A justiça eleitoral é uma aberração dramática.

    Celebrada como “guardiã” da democracia (eu nunca vi uma democracia ser tutelada por uma justiça que “legisla”), o TSE, com a cumplicidade de toda sociedade e de seus representantes políticos, confinaram as eleições em um quartinho escuro, sob o argumento de que o faziam para salvar a democracia.

    Salvar de quem? Talvez de nós mesmos?

    Assim criaram uma democracia sem povo, restrita aos que têm grana, mesmo com a falácia do financiamento público que, ao contrário do que diz ser, acabou por privatizar ainda mais as eleições, já que não oferecem condições equilibradas a todos, aumentando a verticalização da representatividade, em um perigoso círculo.

    Há estudo em andamento na academia sobre esse tema, quem achar que deve, leia:

    https://www.academia.edu/123249539/Impactos_limitados_do_financiamento_p%C3%BAblico_sobre_a_redu%C3%A7%C3%A3o_da_desigualdade_em_campanhas_eleitorais?email_work_card=view-paper

    Ao mesmo tempo, a justiça eleitoral entregou a campanha da TV à redes sociais, quando limitou o tempo a um quantitativo tão exíguo, que os conteúdos da TV parecem mais vídeos de plataformas digitais.

    Quando impedem a doação de brindes, ou de shows com artistas, dizendo que isso é para resguardar a vontade do eleitor, o TSE e o Congresso impedem, por exemplo, que artistas doem seu tempo e seu talento, de forma gratuita, para candidatos mais pobres, ou para esquerda, como era comum.

    Ao impedirem a distribuição de camisas, canetas e toda sorte de quinquilharias, afastam o candidato que só tem grana para tais adereços de campanha.

    Qual o resultado?

    Vai ganhar a eleição os que detêm mandatos e estão no uso das máquinas administrativas, com a distribuição de favores durante todo o exercício anterior às eleições.

    Assim como terão mais chances os que têm mais recursos, sejam dos fundos públicos destinados ao partidos mais poderosos, sejam panfletando dinheiro mesmo na boca de urna, como é de conhecimento até das palmeiras imperiais do Jardim Botânico.

    Virou um grande mercadão eleitoral, onde o balcão de varejo mais simples, aquele que dava alguma chance ao candidato se posses, foi totalmente interditado, levando a representação a níveis nunca antes vistos, isto é:

    O Congresso é composto por 60, 70, 80% de milionários, ou seus representantes.

    É o “crime” perfeito.

    Nesse ambiente, Musk é só mais um mero detalhe, elevado à categoria de vilão para dar ao Poder Judiciário o protagonismo necessário para encurralar os demais poderes e atores políticos.

    Agora, se eu sei desconfio disso tudo, como é que Lula e seu pessoal sequer olham nessa direção?

    Pecunia non olet?

  4. Camila não sou bilionário mimado mas eu quero eu quero e eu quero escrever palavrão aqui e se vc na5 me deixar eu compro o ggn afinal compro tudo q o dinheiro possa comprar mas tudo mesmo entendeu Camila?Não tenho limites sou o Reizão !!!

  5. Melon Eusk prometeu sequestrar ativos do Brasil por causa da decisão do #STF de bloquear o Twitter-X. Isso ele não está em condições de fazer. Mas o CEO da SpaceX tem condições econômicas e tecnológicas para mandar um foguete pousar no teto do STF no dia 07/09/2024. Isso humilharia muito o Tribunal?

    Melon Eusk pode muito bem encomendar um excepcional deep fake vídeo do SpaceX Falcon 9 pousando no teto do STF e hasteando sua bandeira pirata. Mas o efeito teatral e histórico do versão real do pouso seria muito maior. A reação histérica dos Ministros do STF seria a mesma nos dois casos?

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