
Israel contra as Nações Unidas, por Luis Felipe Miguel
Desde o início da mais recente ofensiva, após o 7 de outubro de 2023, Israel tenta destruir a agência das Nações Unidas que acolhe os refugiados palestinos. Não apenas atacou suas instalações como lançou uma série de falsas acusações, para dar pretexto a que seus aliados interrompessem o financiamento da agência.
Foi o tipo de coisa que demonstrou, uma vez mais, que o objetivo dos sionistas é simplesmente o extermínio do povo palestino.
Agora, quando Israel ataca o Líbano, com bombardeios diários, indiscriminados e mortíferos, é atingida a missão de paz da ONU.
Praticamente todo dia há notícia de um novo ataque – violação da “linha azul”, fixada pela ONU; bombardeio de vários prédios da missão, incluindo seu quartel general; demolição de torres de observação. Já há casos de capacetes azuis (como são chamados os soldados das missões de paz) feridos em incursões israelenses.
De forma simbólica, o governo de Israel declarou que o secretário geral da ONU é persona non grata em seu território. Suas participações nos fóruns da entidade, por meio de diplomatas ou mesmo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, são um misto de agressividade e deboche, digno de um Nikolas Ferreira.
Do ponto de vista interno, Netanyahu deseja a guerra, cada vez mais alastrada (embora de preferência contida contra o Irã, um adversário há mais poderoso), como forma de prolongar seu governo desgastado por inúmeros escândalos de corrupção. Ele percebeu que o racismo contra os palestinos e o projeto colonial de limpeza étnica formam o coração daquilo que une os israelenses.
Do ponto de vista externo, conta com o apoio incondicional dos Estados Unidos (e de alguns de seus satélites, como a Alemanha e outros países da Europa), que continuam fornecendo os armamentos e usando seu peso internacional para garantir a continuidade do genocídio.
A proximidade das eleições presidenciais não preocupa. A força do lobby sionista na política estadunidense é tão grande que os dois candidatos competitivos, Donald Trump e Kamala Harris, rivalizam entre si e com o presidente Joe Biden para saber quem demonstra de forma mais acintosa seu desprezo pelas vidas palestinas.
O genocídio em curso mostra, em primeiro lugar, a falência da nossa humanidade comum. Mas mostra também a falência do sistema internacional e das Nações Unidas.
Israel é um Estado terrorista, que se orgulha de sê-lo e despreza solenemente as regras do direito internacional. Por muito menos, outros países, que não contam com o suporte de Washington, são rebaixados ao estatuto de “párias”.
O Brasil tradicionalmente busca ser uma voz em favor da paz, dos direitos e da solução pacífica para os conflitos. Mas, no caso, cada dia em que se mantém a ambiguidade em relação ao sionismo, em que as declarações do presidente Lula contra o genocídio são desmentidas por ações de setores do governo que querem continuar parceiros de Telavive, em que as relações diplomáticas não são cortadas – cada dia desses é um dia de cumplicidade com os crimes de Israel.
Luis Felipe Miguel é professor do Instituto de Ciência Política da UnB. Autor, entre outros livros, de O colapso da democracia no Brasil (Expressão Popular).
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