Maira Vasconcelos
Maíra Mateus de Vasconcelos - jornalista, de Belo Horizonte, mora há anos em Buenos Aires. Publica matérias e artigos sobre política argentina no Jornal GGN, cobriu algumas eleições presidenciais na América Latina. Também escreve crônicas para o GGN. Tem uma plaqueta e dois livros de poesia publicados, sendo o último “Algumas ideias para filmes de terror” (editora 7Letras, 2022).
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Itaipu no Paraguai: o que pensa o diretor Franklin Baccio

Por Maíra Vasconcelos, de Assunção, especial para o blog.

Os planos de gestão do novo diretor da Binacional Itaipu, no Paraguai, o engenheiro Franklin Boccia, são de aumentar a participação do país na utilização das turbinas hidrelétricas em poder do Estado, que hoje devolvem ao país apenas cerca de 6% a 7% do total de energia gerada, sendo o restante vendido ao Brasil. A alternativa dada por Boccia, para recuperar o capital perdido com a possível diminuição das vendas ao Brasil, seria que empresários brasileiros investissem no país, ao estilo do que fazem os chamados brasiguaios, grandes proprietários de terras do setor agropecuário, instalados na fronteira entre os dois países.

“Eu prefiro (perder o capital que provinha da venda de energia ao Brasil), e importar cem industriais brasileiros, que venham ao país utilizar a energia, a água, a mão de obra mais barata que temos aqui, e fazer uso do sistema de impostos que é mais barato que no Brasil. Ou seja, ao Paraguai o que lhe convém é que venham empresários brasileiros ao país”, pontuou. 

A afirmação foi feita por Franklin Boccia, atual diretor da Itaipu, durante a posse do novo presidente da Administração Nacional de Eletricidade (Ande), o engenheiro e ex-gerente comercial do órgão, Carlos Heisele. Também a nomeação de Boccia, ocorrida na última segunda-feira, 25 de junho, decidida pelo governo de Federico Franco, após destituição do ex-presidente Fernando Lugo.

No segundo piso do prédio da Ande, no auditório repleto por funcionários que aplaudiram o discurso de Carlos Heisele, Boccia fez alusão aos brasiguaios para explicar como o Paraguai supostamente reverteria os investimentos ás turbinas pertencentes ao Estado, ao atrair “empresários brasileiros”.

“Há muitos (brasiguaios) que vieram e aqui estão trabalhando, quando uma vez era o Paraguai um país quase virgem, e foi autorizado o ingresso de agricultores brasileiros. Esse país lhes deu casa, terreno, e é a produção de soja um dos principais produtos de exportação do Paraguai”, afirmou Boccia. Durante os anos de 2010 e 2011, com protestos nas estradas que interligam os municípios do interior do Paraguai, os brasiguaios se alinharam e pressionaram a oposição para reprimir o ex- governo de Fernando Lugo, ao criticar o apoio do mesmo aos campesinos sem-terra. O Paraguai tem 85% das terras em mãos de 2% de proprietários.

Segundo Baccio, a falta de estrutura das redes hidrelétricas e a economia paraguaia, nunca permitiram que o país utilizasse mais do que essa “pequeníssima” parte da energia disponível em Itaipu.

“Nesse caso, o monstro gigantesco industrial que é o Brasil, tem mais possibilidades de usar a energia que, por muitos anos, por falta de instalações e abandono do sistema hidrelétrico paraguaio, o país não pode utilizar”, disse Boccia. Os cinco maiores produtores de energia hidrelétrica no mundo são Canadá, China, Brasil, Estados Unidos e Rússia.

O diretor paraguaio de Itaipu, explicou que a hidrelétrica conta com 20 unidades geradoras de energia, sendo dez turbinas pertencentes a cada um dos países, e duas que são destinadas como reserva.

“Toda a energia gerada pelas turbinas brasileiras vai para o Brasil. A energia gerada pelas turbinas, entre aspas do Paraguai, uma parte da energia vem ao país e a maioria é destinada ao Brasil”, ressaltou Baccio, que acrescentou o fato de que o Paraguai passou a vender a energia ao Brasil, por um preço mais justo, após acordo com governo do ex-presidente Lula da Silva. 

Na posse

Em discurso durante a posse do novo presidente da Ande, Baccio usou de certa ironia para aclarar sua opinião de que Fernando Lugo não sofreu um golpe de Estado, e que “Federico Lugo não se equivocou”, o que provocou risadas na plateia. “Foi um processo absolutamente legal, e muitos advogados aqui presentes podem certificar”.

A qualidade de vida no Brasil e nos Estados Unidos foi citada, por Franklin, como modelos que o Paraguai deseja alcançar durante o governo de Federico Franco. “Não em tamanho, mas em qualidade de vida, estar igual a Brasil e aos Estados Unidos, isso é de nosso direito”, exclamou o diretor de Itaipu.

Mercosul

 Sobre a possibilidade de exclusão do Paraguai do Mercosul, o que poderia ser decidido pelos países-membros, na cumbre que será realizada na próxima sexta-feira, 29 de junho,  na cidade de Mendoza, na Argentina, o presidente da Ande preferiu usar da cautela e esperar que os responsáveis possam decidir. 

“É um tema político por excelência e estou voltado para os assuntos técnicos, deixamos que os políticos que entendam essa situação a definam. Espero que seja para o bem do nosso povo”.

Já o diretor da Itaipu, Franklin Baccio, recorreu a Deus como forma de pedir aos políticos presentes a cumbre, que tenham “inteligência” na hora da decisão. “Peço a Deus que vistam a camisa paraguaia. Peço a Deus que ilumine a inteligência e a capacidade dos governantes pelo interesse no Paraguai”, afirmou Baccio, em momentos, com as mãos ao alto, e a consequente aprovação dos presentes que ao lado esperavam para felicitar-lhe.

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