Líderes da extrema direita e ditadores comemoram a vitória de Trump

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Erdogan, Salvini, Netanyahu, Orbán, Meloni, Bukele, Farage, Bolsonaro. Os maiores líderes da extrema direita comemoram vitória de "amigo"

Donald Trump é para o ditador turco Erdogan um “amigo”, assim como o é para Benjamin Netanyahu e Jair Bolsonaro. Para o extremista italiano Matteo Salvini, “o senso comum venceu” nos EUA, e para um dos principais líderes da ultradireita, o húngaro Orbán, esta é “uma vitória muito necessária para o mundo”. “O maior retorno da história”, disse o líder mais linha dura dos últimos tempos Netanyahu, referindo-se a Trump como “um grande amigo” seu.

Responsável pelo genocídio palestino, e impopular até entre representantes da direita, o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu foi o primeiro a comemorar a vitória de Donald Trump, na madrugada desta quarta (06), quando os números ainda sequer eram garantidos.

“Histórica volta à Casa Branca” e “um novo começo para a América”, descreveu Netanyahu, além de se referir à vitória como “um poderoso compromisso renovado” do que chamou de “grande aliança entre Israel e a América”.

O ditador turco, com mais de 20 anos no poder, Recep Tayyip Erdogan também chamou Trump de “amigo” e celebrou sua vitória:

“Espero que a relação entre Turquia e os Estados Unidos se fortaleça e que as crises e guerras globais e regionais acabem, em particular a questão palestina e a guerra entre Rússia e Ucrânia”, disse.

Um dos políticos mais radicais da extrema-direita, Matteo Salvini, hoje vice-primeiro ministro da Itália, já acusado de crimes contra imigrantes resgatados no Mediterrâneo, disse que “o senso comum venceu nos Estados Unidos”.

E foi o combate à imigração, uma de suas bandeiras políticas, a introdução da sua mensagem de comemoração à Trump, além de defender, abertamente, a impunidade de políticos:

“À luta contra a imigração ilegal e ao corte dos impostos, às raízes cristãs e ao retorno da paz, à liberdade de pensamento e ao não julgamento de políticos”, comemorou o líder do partido da Liga.

“Vitória histórica, não só para os Estados Unidos, mas para todo o Ocidente. O regresso à paz será um grande bem para nós e para os nossos filhos. Bom trabalho, Presidente Trump”, completou.

Também da Itália, a representante da extrema-direita e atual primeira-ministra do país Giorgia Meloni comemorou e também disse contar com uma “aliança estratégica” entre os países, ambos agora governados pela extrema-direita:

“A Itália e os Estados Unidos são nações ‘irmãs’, ligadas por uma aliança inabalável, valores comuns e uma amizade histórica. É uma aliança estratégica, que estou certa que iremos agora reforçar ainda mais.”

O também considerado ditador e líder da extrema direita mundial, o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, disse ser este “o maior retorno da história política dos EUA” e “uma vitória muito necessária para o mundo”.

O líder da extrema direita da Holanda, chamado de “Trump holandês” e populista anti-islã, Geert Wilders, presidente da Câmara dos Deputados dos Países Baixos e do Partido pela Liberdade (PVV), não conteve a emoção com a vitória de Trump:

O presidente autoritário de ultradireita de El Salvador, Nayib Bukele, com poder quase absoluto e sem oposição, e considerado seu discípulo no país, também foi um dos primeiros a parabenizar a vitória:

Não só amigo próximo, como também constantemente homenageado nos discursos da campanha de Trump, o ultraconservador britânico Nigel Farage e hoje deputado do Reino Unido foi convidado para a festa particular de comemoração do americano, no condomínio de luxo em Mar-a-Lago, Palm Beach, Flórida.

No dia das eleições, 5 de novembro, Farage recebeu, inclusive, uma menção especial de Trump, agradecendo a sua presença no pleito norte-americano e chamando-o de “amigo”.

Na mesma festa, esteve presente o milionário dono da Tesla, da SpaceX e do X, Elon Musk, e o filho de Jair Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro.

O filho do ex-mandatário e líder da extrema direita no Brasil aparece em foto ao lado do filho de Trump, Donald Trump Jr.

No continente, Javier Milei deu o recado: “Você sabe que pode contar com a Argentina”: “Parabéns por sua formidável vitória. Faça a América grande de novo. Você sabe que pode contar com a Argentina para a realização de suas tarefas”.

E, como não poderia faltar, o ex-mandatário brasileiro Jair Bolsonaro também celebrou o resultado nos EUA, em um claro apelo à disputa brasileira de 2026: “Que a vitória de Trump inspire o Brasil a seguir o mesmo caminho”.

Alvo de acusações na Justiça, Trump não foi impedido de disputar as eleições nos Estados Unidos. Em sua mensagem, Bolsonaro já deixou claro que contará com o apoio de Trump para tentar o mesmo no Brasil: “Talvez em breve Deus também nos conceda a chance de concluir nossa missão com dignidade e nos devolva tudo o que foi tirado de nós. Talvez tenhamos uma nova oportunidade de restaurar o Brasil como uma terra de liberdade.”

1 Comentário

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  1. Trump presidente:
    Os EUA em sua versão original ou o Momento Waldo!

    Uma das grandes sacadas das elites brasileiras, e também das elites internacionais, foi vender a ideia de que os EUA são o “role model” da democracia mundial.

    Essa narrativa ganhou corpo desde o fim da Segunda Guerra Mundial.

    Era necessário, primeiro, apagar o peso e importância histórica da URSS na vitória, cujo esforço e 20 milhões de mortos foram imprescindíveis para a derrubada de Hitler, Mussolini, e depois, deixar os EUA livres para derrotarem o Japão.

    Sem a frente oriental soviética, talvez o mundo falasse alemão hoje, e, por certo, Israel não existisse.

    Bem, a partir do fim do conflito, a campanha de marketing para convencer a todos de que os EUA eram os mocinhos teve início, misturando cultura e geopolítica, economia e intervenções (golpes), patrocinados pelo Departamento de Estado dos EUA, sem o menor pudor.

    Talvez isso ajude a explicar o fascínio brasileiro pela ideia de que os EUA são uma democracia quase perfeita, e que devemos seguir seu exemplo, desde como lidar com mídia, bancos, minorias, e tudo o mais, ainda que (e porque) sejamos uma cópia mal feita do capitalismo praticado por lá.

    É bom que se diga que os EUA trataram os negros como gente de segunda classe até o fim da década de 60 do Século XX, não muito diferente de nós, mas o fizeram sem salamaleques, com cassetete nas mãos, segregação oficial com estrutura legal e tudo mais.

    O tratamento dado aos latinos não é muito diferente, e oscila entre mais ou menos aceitação, dependendo da demanda de mão-de-obra barata.

    A ilegalidade dos imigrantes é um negócio, como qualquer outro nos EUA (na Europa, justiça seja feita, também).

    Enfim, por onde quer que se olhe, os EUA não chegam nem perto da definição clássica de democracia, inclusive porque seu sistema eleitoral federalizado, onde os estados determinam as regras, permitem que a forma, os locais e os eleitores sejam deslocados de um lugar para outro (distritos), e essa manipulação descarada, feita com maiorias parlamentares estaduais, o “gerrymandering”, permite alterar o resultado das eleições.

    É mais ou menos como se a ALERJ aprovasse leis que alterassem os locais de votação, colocando, por exemplo, os eleitores da 129ª zona eleitoral em Campos dos Goytacazes para voltarem na 98ª, ou dispersar esses eleitores em várias zonas e seções.

    Em um país onde o voto não é obrigatório, como os EUA, não há feriado para votar, e em algumas cidades, negros não frequentem certos bairros, seja por questões étnicas ou por ausência de transporte público, essa interferência faz toda diferença.

    Por isso tudo eu não entendo muito esse deslumbramento do brasileiro com os EUA.

    Também faço aqui uma ressalva, não é democracia, mas para eles funciona, e ponto final.

    Hoje, já li e ouvi muita gente boa repercutindo a vitória de Trump, uns lamentando, outros comemorando, como se fosse fazer alguma diferença para nós.

    Bem, tudo isso diz muito mais sobre nós do que sobre os EUA, é verdade.
    Nossa posição relativa no mundo estará intacta: quintal dos EUA, seja lá quem for o presidente de plantão.

    Direita e esquerda brasileiras parecem vira-latas, os primeiros felizes, abanando o rabo para a troca de dono, os últimos rosnando, mas ambos estão na coleira desde e para sempre.

    Já em relação à surpresa de alguns com o retorno de Trump, eu sugiro assistir um episódio da série Black Mirror, na Netflix.

    Alguns dizem que a série é visionária, e antecipa um bocado de coisa, principalmente em relação à tecnologia, sociedade e política.

    Sei lá, mas no caso das eleições, me parece que eles acertaram em cheio quando criaram o episódio Momento Waldo, que em resumo, é um boneco manipulado por um comediante frustrado, que alcança enorme sucesso.

    Os desdobramentos eu não vou antecipar, mas digo que vale à pena.

    Enfim, com Trump, Kamala, Obama, Bush, o certo é que temos que trabalhar para pagar nossas contas, e os juros mais altos do planeta, que sustentam o American Way Of Life.

    https://blogdopedlowski.com/2024/11/06/donald-trump-de-novo-presidente-os-eua-em-sua-versao-original-ou-o-momento-waldo/

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