Rússia pode tomar Kiev, mas insurgência ucraniana resistiria por 10 anos com apoio da OTAN, diz ex-agente da CIA

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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"Preparem-se para uma guerra longa", adverte a analista Emily Harding

militares ucranianos resistindo em Kiev
Foto: Dimitar Dilkoff via Getty Images (Reproduzida de Político.EU)

Mesmo com uma eventual vitória da Rússia na batalha de Kiev, o conflito com a Ucrânia tem potencial para se arrastar por cerca de uma década se a OTAN decidir continuar enviando ajuda para o governo ucraniano. É o que avalia a analista Emily Harding, ex-agente da CIA e atualmente membro do Programa de Segurança Internacional do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais.

Em artigo no site europeu Político, Harding repetiu o que muitos analistas brasileiros andam dizendo em programas televisivos: uma coisa é Vladimir Putin capturar Kiev; outra coisa é a Rússia conseguir manter controle sobre os territórios eventualmente conquistados militarmente e os ucranianos se submeterem às ordens do Kremlin. “Preparem-se para uma guerra longa”, advertiu Harding.

Nesta terça-feira, 1º de março, sexto dia de invasão na Ucrânia, a Rússia realizou bombardeios à infraestrutura de comunicação de Kiev, enquanto um comboio com 60 km de tamanho marcha a uma distância de 30 km da capital ucraniana.

Emily Harding, ex-analista da CIA. Ela liderou o Grupo do Iraque durante a tentativa de tomada do Iraque e da Síria pelo Estado Islâmico e participou das investigações sobre a intervenção russa na eleição americana de 2016

Para Harding, os militares e os civis ucranianos estão sendo “heróis” de guerra na defesa do País, mas se Putin vencer a batalha de Kiev, o próximo passo será depor imediatamente o presidente Volodymyr Zelensky e instalar uma “liderança mansa” em seu lugar.

Neste caso, os militares ucranianos terão uma escolha: podem “se render ao governo fantoche, sem saber se estão em uma suposta lista de ucranianos a serem mortos ou capturados; podem tentar fugir com milhares de outros refugiados, ou podem desaparecer nas sombras e continuar a luta como insurgentes.”

INSURGÊNIA

Harding afirmou no artigo que é comum que insurgências deste gênero durem cerca de 8 a 10 anos e, por isso, os membros da OTAN precisar estabelecer uma estratégia de longo prazo para lidar com a crise na Ucrânia.

“Os insurgentes ucranianos teriam vantagens distintas. Eles têm uma população que está mais do que disposta a apoiá-los e potências mundiais que estão ansiosas para ver Moscou pagar um preço por sua agressão. Se uma insurgência se desenvolver, os membros da OTAN devem se esforçar para fornecer apoio crítico aos combatentes, na forma de armas, treinamento, comunicações seguras e refúgios seguros. Se o controle de Moscou parar no rio Dnieper, essa insurgência pode ser baseada em um enclave protegido no oeste da Ucrânia. Mas se todo o país cair, os membros da OTAN no perímetro da Ucrânia precisarão estabelecer rotas de saída seguras para pessoas e rotas de entrada para armas”, defendeu Harding.

Na visão da ex-agente da CIA, “o objetivo dos membros da OTAN deve ser parar a agressão russa no Dnieper e se preparar para uma longa batalha para reconquistar a Ucrânia. A estratégia correspondente exigirá ataque, defesa e, acima de tudo, paciência.”

CONTRA-ATAQUE

“A ofensa incluirá sanções devastadoras em vigor para aumentar a oposição na Rússia ao aventureirismo de Putin, manter um governo ucraniano em funcionamento com apoio financeiro – e militar – e um conjunto robusto de ações demonstrando a solidariedade e o compromisso da OTAN.A defesa talvez seja mais crítica, principalmente na criação de resiliência e medidas de segurança adequadas no domínio cibernético. Putin tentará dissuadir o apoio da OTAN à Ucrânia de maneiras negáveis ​​e, ultimamente, as medidas cibernéticas têm sido sua ferramenta preferida”, advertiu.

Se a OTAN não colaborar com a resistência ucraniana, diz Harding, em vez de uma guerra longa, teremos Moscou ameaçando a Moldávia – antiga república soviética na fronteira entre Ucrânia e Romênia – e o flanco leste da OTAN.

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Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

1 Comentário

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  1. A região leste e sul da Ucrânia (às margens do Mar Negro) têm maioria falante de língua russa e afinidade com a Rússia. Bem diferente do Oeste do país, onde a maioria da população fala ucraniano e são mais hostis aos russos. Talvez o Putin esteja planejando emancipar as regiões onde os ucranianos falam russo e são menos hostis. Essa região que passa por Donbass até Odessa, passando por Mariupol têm movimento separatista há anos e pregam a criação de uma federação chamada Nova Rússia.

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