Vaticano é acusado pela ONU de ‘sistema de ocultação’ de abusos contra crianças

Do Estadão
 
ONU acusa Vaticano de ‘sistema de ocultação’ de abusos contra crianças
 
Sacerdote diz que crimes sexuais contra menores na Igreja ‘não têm desculpas’
 
Jamil Chade – Correspondente – O Estado de S. Paulo
 
GENEBRA – A Organização das Nações Unidas (ONU) acusa o Vaticano de manter um “sistema de ocultação” de crimes sexuais contra crianças, de não colaborar com a Justiça e pede que a Santa Fé revele qual a dimensão dos casos envolvendo padres pelo mundo.

Nesta quinta-feira, 16, o papado de Francisco enfrenta seu primeiro grande teste internacional ao ser examinado pelas Nações Unidas sobre o que tem feito para proteger crianças contra abusos sexuais.

O Vaticano admitiu a existência de abusos sexuais cometidos pelo clero contra crianças e alertou que os crimes “não podem ser ignorados por outras prioridades ou interesses”.

Mas os relatores querem mais transparência por parte do Vaticano. Sara Oviedo Fierro, relatora da ONU, foi uma das que lideraram o questionamento. Segundo ela, a Igreja mantém 200 mil escolas pelo mundo, com 50 milhões de alunos.

“O que tem sido implementado de fato? Quantas pessoas foram consideradas culpadas? Quantos padres foram entregues para a Justiça?”, questionou.

Fierro apontou que sanções adotadas pelo Vaticano são vistas como não sendo da mesma magnitude do crime e que o “interesse do clero parece ser mais importante do que o interesse da criança”. “Existe um sistema de ocultação dos crimes”, afirmou.

A relatora ainda acusa o Vaticano de não estar divulgando os números reais do problema. “Vocês estão dispostos a expor a dimensão do problema ao mundo? Vocês sabem o número de casos. Por que não difundir?”

Já Silvano Tomasi, núncio do Vaticano na ONU, nega que o Vaticano esteja escondendo dados. Segundo ele, desde 2006, a Santa Sé publica o número de casos de abusos sexuais que chegaram até a Igreja. “Em 2012, temos informação sobre 612 casos de abusos sexuais, dos quais 418 deles envolvem crianças”, declarou. O Vaticano, porém, admite que não tem e não publica o número final de casos de pessoas que tenham sido punidas ou colocadas na prisão. “O processo não é público”, declarou.

 

Entre 2006 e 2012, o Vaticano confirma que recebeu mais de 3 mil casos de abusos sexuais cometidos pelo clero. Mas não informa quantos foram punidos e nem se os responsáveis foram impedidos de praticar suas missões religiosas.

Para Kirsten Sandberg, presidente do Comitê da ONU, a falta de punição no Vaticano impera. “A maioria dos padres tem se beneficiado da impunidade”, acusou. “As leis canônicas impõe o silêncio sobre as vítimas e existem inúmeros casos nos quais a Santa Sé se recusou a colaborar com a Justiça local”, completou.

Ativista e vítima de abusos sexuais, Miguel Hurtado também contestou a avaliação do Vaticano: “Os dados estão escondidos. O Vaticano concentra todos esses dados. Publicá-los seria uma forma de prevenir novos casos.”

Silvano Tomasi alagou que a Santa Sé tem modificado suas leis e, nos últimos meses, abriu um processo contra um funcionário por abusos sexuais contra crianças fora do território da Cidade do Vaticano. “Não há desculpas. Esses crimes não têm justificativa nas estruturas da Igreja”, insistiu.

Usando dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o núncio do Vaticano indicou que 150 milhões de meninas pelo mundo são alvo de abusos sexuais em diferentes instâncias da sociedade, além de 73 milhões de garotos, numa tentativa de mostrar que o problema não é apenas da Igreja. Tomasi pediu que a ONU faça sugestões para “ajudar” na luta contra o problema e garantiu que novas medidas estão sendo tomadas.

“Os abusos são cometidos pelo clero e outros funcionários da Igreja. Isso é muito sério, porque estão em posição de confiança e devem proteger a criança”, disse. “Essa relação é de confiança e por isso é crítica”, acrescentou.

O Vaticano aderiu ao tratado que protege menores em 1990 e, em 1994, apresentou uma série de informações para a ONU. Mas passou a permanecer em silêncio até que, em 2012, voltou a dar satisfações para a entidade.

A ONU pediu agora que o Vaticano entregue detalhes de todos os casos conhecidos de abusos sexuais contra crianças. O número estimado seria de 4 mil. Mas a Santa Sé aponta que é responsável pela implementação do tratado de proteção a menores apenas dentro do seu território, a Cidade do Vaticano, onde vivem 31 crianças.

Casos relatados de abusos sexuais para a Santa Sé:

2006 – 362 casos

2007 – 365 casos

2008 – 224 casos (191 deles contra menores)

2009 – 223 casos

2010 – 643 casos

2011 – 599 casos (404 contra menores)

2012 – 612 casos (418 contra menores)

Total: 3029

Fonte: Vaticano

Redação

11 Comentários

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    1. “as igrejas devem ser

      “as igrejas devem ser proibidas de receber menores de idade em suas atividades e cultos!!!”

      Elas devem ir para o partido lá serão condicionadas para um mundo melhor.

      Pela sua lógica não devemos deixar as crianças irem para a escola já que a categoria profissional com mais casos de pedifilia é a dos professores, seguida dos médicos e enfermeiros.

       

      1. E segundo um estudo americano

        E segundo um estudo americano publicado recentemente sobre o tema (não estou a fim de procurá-lo agora) contatou-se que a classe artística (teatro, dança, cinema, tv, diretores, agentes e etc…) é campeã em pedofilia.  

  1. Ridículo, profundamente ridículo o post…

    Os abusos sexuais, geralmente cometidos por clérigos gays, tendo em vista que a maioria das vítimas são meninos, ocorridos fora do Estado do Vaticano não dependem de autorização da igreja para que os tarados sejam processados, condenados e punidos. Padres, frades, bispos, cardeiais, etc. não possuem imunidade contra investigações e processos.

     

    1. Absurdo mesmo

      O que me deixa mais p… da vida é a constatação de que ocorrem duas omissões por parte de estados. Uma no país de origem do caso, a outra do estado do vaticano. Haja saco para tolerar taman ha miséria.

  2. “O Povo de Deus quer o pão da vida, e não pão envenenado”

    2014-01-16 Rádio Vaticana

    Cidade do Vaticano (RV) – Os escândalos da Igreja ocorrem porque não existe uma relação viva com Deus e com a sua Palavra. Assim, sacerdotes corrompidos, ao invés de dar o pão da vida, dão um alimento envenenado ao santo povo de Deus: foi o que afirmou o Papa Francisco na sua homilia matutina, durante a Missa presidida na Casa Santa Marta.

    Matéria completa em:  http://www.news.va/pt/news/homilia-de-francisco-na-santa-marta-o-povo-de-deus

    Paz e Bem.

  3. Tudo em nome do Pai.

    Prezados e prezadas,

    Eu ia comentar algo, mas depois que li nos comentários uma associação da pedofilia com orientação sexual (gays), ou que a omissão da Igreja não contribui para a impunidade dos criminosos, e enfim, que um “estudo” comprovando que artistas são campeões em pedofilia eu desisti.

    Não tem nada que valha a pena dizer depois disto.

    Por Tutátis, se este deus cristão realmente existir, e se é a Igreja de Roma a que detém as chaves da interlocução com este deus, ele deve ser um cara bem sádico.

    Amén.

  4. Fim dos tempos.

    Quando, pois, virdes que a abominação da desolação, de que falou o profeta Daniel, está no lugar santo; quem lê, entenda;
    Mateus 24:15

    Daniel 9:27: “Ele fará firme aliança com muitos, por uma semana; na metade da semana, fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares; sobre a asa das abominações virá o assolador, até que a destruição, que está determinada, se derrame sobre ele”.

     

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