A Lava Jato e a história do empresário que espancava mulheres, por Luis Nassif

 

Faltam muitas peças na história do empresário Sérgio Thompson Flores que agredia a esposa Cristiane Machado, atriz da Globo (clique aqui). Na edição de hoje de O Globo, há informações de que o comportamento de Thompson Flores era recorrente (clique aqui).

Não se trata de episódio banal. Thompson Flores controla uma das empresas-chave do processo de eleição eletrônica no Brasil e do sistema de apuação de passagens de ônibus no Rio de Janeiro, alvo da Operação .

Muitos anos atrás, aliou-se ao empresário Nelson Tanure, que se associou à combalida Gazeta Mercantil. Depois, tentou uma tacada, de ficar com o controle da empresa. Foi uma briga empresarial pesada, em que ocorreram até denúncias de invasões de domicílios. Thompson Flores acabou derrotado pela maior tarimba de Tanure, e partiu para outras aventuras.

No auge da bolha do etanol, montou um fundo na Bolsa de Londres, o Infinity Bio-Energy, fundo destinado a adquirir usinas de açúcar no Brasil e a montar parcerias de negócio. Uma dessas parcerias ocorreu com o então fundador da Brenco – Brazil Renewable Energy Company, Henri Phillipe Reichstul, ex-presidente da Petrobras do governo Fernando Henrique Cardoso. Entre 2006 e 2007 adquiriu oito usinas inviáveis, devido à distância dos oleodutos e dos centros de consumo. O fundo quebrou.

Thompson Flores some por algum tempo do universo empresarial, e ressurge adquirindo a Modulo Security Solutions S/A, empresa responsável pela segurança das urnas eletrônicas, beneficiada por um histórico de favorecimento nas licitações das urnas (clique aqui) de 2000 a 2013.

Sempre houve mistério sobre os interesses despertados pela Módulo. Antes de Thompson Flores, ela foi adquirida por Wilson Brumel, ex-presidente da Usiminas, ex-Secretário no governo Aécio Neves e integrante do grupo de apoio a Aécio e Antonio Anastasia em Minas Gerais.

Além da Módulo, outra empresa, a Probank S/A, foi sucessivamente beneficiada por prorrogações nos contratos com o TSE. Em 2013, quando entrou em processo de liquidação, a Probank era de propriedade do mesmo Brumer, que vendeu a Módulo para Thompson Flores.

O nome da Módulo aparece em outro episódio polêmico, o esquema da Fetranspor, bancada por empresários de ônibus, e delatado em depoimentos de doleiros à Lava Jato, na Operação Ponto Final.

O esquema funcionava assim:

  1. Havia um processamento eletrônico das passagens dos ônibus do Rio de Janeiro.
  2. Em cima desse levantamento, era calculado o valor do subsídio bancado pela Prefeitura do Rio de Janeiro. Quanto mais passagens processadas, maior o valor do subsídio.
  3. Havia duas maneiras de montar um esquema de corrupção: ou superfaturar o valor da passagem; e/ou superfaturar a quantidade de passagens utilizadas. E quem calculava a quantidade de passagens emitidas era justamente a Módulo Solutions, de Thompson Flores (clique aqui).

A Operação Ponto Final, autorizada pelo juiz Marcelo Bretas, expediu nove mandados de prisão preventiva e três de prisão temporárias. Foram detidos o presidente da Federação das Empresas de Transportes do Estado (Fetranspor), Lélis Teixeira, o ex-presidente do Departamento de Transportes Rodoviários, que fiscaliza o setor, Rogério Onofre, e Marcelo Traça Gonçalves, presidente do Sindicato de Empresas de Transporte Rodoviário do Rio de Janeiro (Setrerj).

Nos desdobramentos da operação, foram presos deputados estaduais, conselheiros do Tribunal de Contas do Estado, secretários do governo Sérgio Cabral.

O nome da Módulo desaparece da cobertura e sequer aparece nos autos públicos da operação (clique aqui).

Apesar da boa reportagem de O Globo garantir que ´Lava Jato abre a caixinha preta da Fetranspor´, não abriu. O processamento das passagens dos ônibus não teve desdobramentos. Nem na Lava Jato, nem na mídia. E a reportagem informoa que ´a “caixinha da Fetranspor”, uma das suspeitas mais longevas do submundo da política fluminense´,
Há duas hipóteses para a falta de ação da Lava Jato contra Thompson Flores:

  1. Ter constatado que não havia irregularidades no cômputo das passagens. A hipótese é frágil. Para ter certeza sobre isso, no mínimo deveria ocorrer a investigação e o inquérito. Mas aparentemente nada foi feito.
  2. O parentesco com o principal avalista da Lava Jato no Paraná – seu primo Carlos Eduardo Thompson Flores, presidente do TRF 4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região). A assessoria do TRF4 esclarece que não tem parentesco direto e o desembargador não conhece Sergio Thompson Flores.

Com muito menos indícios de irregularidade, a Lava Jato no Rio de Janeiro ordenou a condução coercitiva de 40 funcionários do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social).

Links para consulta

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Atriz agredida por ex-diplomata diz que marido já fez mais vítimas

Xadrez do fator urna eletrônica nas próximas eleições, por Luis Nassif

O histórico de favorecimento e irregularidades nas licitações das urnas eletrônicas

Como se montam as fraudes eleitorais

Lava Jato abre caixinha preta da Fetranspor

Sobre os Thompson Flores

Segundo a Wikipedia, Carlos Thompson-Flores (1911-2011) foi Ministro do Supremo Tribunal Federal no governo Costa e Silva (clique aqui). É avô de Carlos Thompson-Flores, atual presidente do TRF4.

Segundo O Globo, Sérgio Schiler Thompson-Flores – da Módulo – é filho do diplomata Sérgio Thompson Flores. O pai é primo de Francisco Thompson-Flores. E ambos são netos de Carlos Thompson Flores (clique aqui).

Segundo a pagina do TRF4, Carlos Thompson Flores Lenz, presidente do TRF4, é neto de Carlos Thompson Flores, o Ministro do STF (clique aqui).

No Livro Genealogias Políticas do Judiciário (clique aqui), na relação de parantes de Carlos Eduardo Thompson Flores Lenz (o presidente do TRF4) é mencionado o embaixador Francisco Thompson Flores, o parente de Sérgio Schiler Thompson Flores, citado pelo Globo.

Ou seja, são parentes, sim. Mas não há informações mais precisas sobre ligação pessoal entre ambos.

Quanto à Módulo Security Solutions, há documentação mostrando a participação de Sérgio na sociedade (clique aqui)

Não há nenhuma explicação sobre o fato da Módulo não ser invesitgada. Mesmo com as discrepâncias na apresentação de contas pelas empresas de ônibus (clique aqui).

Luis Nassif

21 Comentários

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  1. Futura Ministra foi financiada por acusado de homicídio

    Ana Cristina, futura Ministra do Bolsonaro, foi financiado por um fazendeiro processado por acusação de ter mandado sequestrar, torturar e assassinar um indígena.

    Ela se justificou com as seguintes palavras:

    “Cabe esclarecer que ainda não há condenação. O fato de ser réu não quer dizer que tenha cometido qualquer crime”.

     

    O fato do Lula ser réu significa que ele tenha cometido algum crime?

     

    Tem um Cara que vivia sempre falando mal do Toffoli, afirmando que ele era corrupto e incompetente. Agora ele acabou de me dizer que o Toffoli tá com o Bolsonaro. Então eu perguntei: O Bolsonaro quer aliança com corruptos?

    Ele respondeu: O Toffoli é um Ministro honesto e honrado, diferentemente dos bandidos Gilmar Mendes e Lewandovski.

      1. Esperando Godot?

        Mas, perdoe minha ingenuidade:

        Quem define o que é ou não racional? Você?

        Ou seja, me parece que se o interlocutor trouxer ou emitir uma mensagem algo longe da sua isso poderá ser considerado “irracional”?

        Qual a distinção entre discordar e rotular de irracional ou racional?

        Quem detêm o monopólio dos modelos de racionalidade? Sua corrente política? 

        Há algo totalmente racional ou irracional?

        Godot virá ou não?

  2. Desmentiram “parentesco direto”.

    No link abaixo, entre outras coisas  é dito que

    Por meio da assessoria de imprensa do TRF-4, Carlos Thompson Flores informou que sua família não possui empresas e não conhece ou tem qualquer parentesco direto com o empresário. Segundo a Módulo, Sérgio Thompson Flores é sócio da empresa, mas não faz parte do quadro de executivos e não tem ligação com os serviços prestados pela companhia. No site da Módulo, ele também não é citado no quadro de funcionários.

    https://blogs.oglobo.globo.com/eissomesmo/post/e-falso-que-familia-do-desembargador-carlos-thompson-flores-seja-dona-de-fabrica-de-urnas-eletronicas.html

  3. pauta para a revista piaui (plágio da mental_floss)
    a nossa caixa preta é o judiciário. quer esconder as mais enfadonhas manobras?, dá-se o verniz via laudas processuais. alvarás são ótimos salvo-condutos a amigos, em sede de liminares, e armas violentíssimas aos que sequer possuem a chance de chegarem à Justiça. para tanto, basta a cobertura propagandística e subrreptícia de uma mídia refratária de tablóides estadunidenses. à encruzilhada, só resterá um constituinte bombástica. ou a nossa suberviciência vitalícia a uma elite entregue ao que há de mais rasteiro na face desse planeta. e ainda ousam criticar a Venezuela! ou o sufrágio a todos os poderes. ou a nossa desgraça!

  4. O TSE ainda tem muito a explicar

    Essa tal Modulo faz a segurança de urnas eletrônicas? Com ligações, mesmo mudando de mãos, com Anastasia e Aécio? E a Dilma que vencia em Minas até a véspera perde? E o Pimentel não passa para o segundo turno? E muitos outros casos estranhos com petistas…  Ja havia dito que alguns paises na Europa ja discutiram o uso de urnas eletrônicas e não a adotaram por chegarem à conclusão de que não são invioloveis como apregoa o TSE. O problema, por obvio, não são as maquinas. São os homens. 

      1. A Lava Jato so colocou ao sol o petismo

        Seguindo o modelo de se votar sem comprovante, pode ter havido fraudes em muitas eleições, em diferentes cidades, conforme os envolvidos. Em 2014 Marina deveria passar para o segundo turno e deu Aécio. Logo, pode ter ocorrido fraude. Como saber ? 

  5. Estado de Exceção

    As instituições brasileiras, particularmente o judiciário, continuam funcionando “normalmente”. Tanto isso é verdade que Lula, preso sem provas, aguarda uma nova condenação, e Haddad foi indiciado por lavagem de dinheiro. Alan Garcia, ex-presidente do Peru, solicitou asilo político em outro país. A pergunta que não quer calar: quando é que a esquerda brasileira vai acordar? 

  6. A Fetranspor e os passageiros da agonia.

    Que as empresas de ônibus, comumente ligadas aos descedentes e imigrantes portugueses se alimentaram dos instintos mais selvagens do capitalismo (se é que há algum que não seja) isso não é novidade.

    Desde o começo a coisa era no nível predatório aberto, e só quem militou em sindicatos de esquerda no setor sabe o que digo: o pau comia! E come!

    Truque manjado, empresas sugavam os funcionários, atrasavam tributos e contribuições sociais, e depois, “quebravam” e “renasciam” lá na frente com novos controladores (laranjas).

    Embolsam o lucro absurdo dos subsídios e os direitos trabalhistas devidos.

    Depois da era do GPS, não faz qualquer sentido (ou pior, faz sim) que as planilhas de custo para cálculo de tarifas e recebimento subsídios governamentais são tenham como base o quilômetro rodado, mas insistam nas “estimativas” de passageiros.

    Se houver a abertura da caixa preta da Fetranspor, quem sabe acham lá um retrato de Marielle Franco?

  7. Bem, se parece não haver

    Bem, se parece não haver qualquer tipo de curiosidade por parte do STF com relação ao “algoritmo” que determina a distribuição dos processos naquela casa, não é de se estranhar a também falta de curiosidades em outras instancias do nosso querido Judiciário.

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