As descobertas da Lava-Jato e próximas etapas

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Jornal GGN –  Apesar dos vazamentos seletivos na véspera das eleições, as apurações da Operação Lava Jato – nas mãos do juiz Sergio Moro – estão sendo amplas e abrangentes, abarcando empresas, partidos políticos da base e da oposição, conforme comprova o relatório divulgado esta semana pela reportagem da Carta Capital.

“O relevante aí não são as delações, mas o fato de terem sido obtidas por conta de farta prova de fatos delituosos, apurados pelos agentes policiais, por conta do trabalho eficiente e em equipe com o MP, e com o respaldo do Judiciário”, afirmou o advogado e colunista Pedro Serrano.

Ainda em fase de diligências, a Justiça do Paraná tenta descobrir novas provas para o esquema. Entre as próximas etapas está, por exemplo, entender os pagamentos das empreiteiras no valor total de R$ 53 milhões para as empresas do doleiro Alberto Youssef.

Mas a instância deve focar os doleiros, empreiteiras e empresas públicas. Já os envolvidos políticos estão nas mãos do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que paralelamente à investigação local, busca provas para conduzir o caso dos detentores de foro privilegiado ao Supremo Tribunal Federal (STF).

Entenda, a seguir, o esquema de corrupção, os nomes envolvidos, partidos políticos e as denúncias contra as empreiteiras.

O esquema: As empreiteiras decidiam, previamente, quem executaria cada obra licitada. Em cima do valor oferecido, acrescentavam um percentual desviado para funcionários públicos e partidos políticos. Essa verba era repassada pelas empreiteiras à quadrilha por empresas laranjas, que faziam a lavagem de dinheiro. A Polícia Federal aponta Alberto Youssef como operador financeiro do esquema, Paulo Roberto Costa como operador político. Mas a sétima fase da Operação revelou outros operadores políticos em setores diferentes da estatal, como Renato Duque, ex-diretor de Serviços da Petrobras.

Quantia: Movimentou até R$ 10 bilhões, sem informações confirmadas de quanto foi desviado, podendo atingir “milhões ou até mesmo bilhões de reais”, segundo despacho do juiz federal Sergio Moro.

Empresas públicas: O foco na operação é na Petrobras. Mesmo assim, foi encontrada com Youssef uma lista de 750 obras que envolviam grandes construtoras e obras públicas, não só da Petrobras. Outras empresas públicas estão envolvidas, como a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), uma das principais concessionárias de energia elétrica do Brasil, que teria firmado contrato com empresa de fachada de Youssef.

Partidos: Segundo os depoimentos de Costa e Youssef, o dinheiro foi repassado aos cofres do PT (por meio do tesoureiro do partido, João Vaccari Neto), PMDB (cujo operador seria Fernando Soares) e PP. Leonardo Meirelles, um dos donos da Labogen, laboratório para lavagem de dinheiro usado por Youssef, afirmou que o PSDB e possíveis padrinhos políticos também foram beneficiados do desvio.

Políticos:

Eduardo Campos: Costa afirmou que intermediou o pagamento de R$ 20 milhões para o caixa 2 da campanha de reeleição do candidato do PSB ao governo de Pernambuco, em 2010.

Gleisi Hoffmann: Paulo Roberto Costa também apontou o desvio da estatal de R$ 1 milhão para campanha da candidata do PT ao Senado.

Sérgio Guerra: Costa teria pago propina ao ex-presidente do PSDB em 2009, para que esvaziasse uma CPI da Petrobras naquele ano. Sérgio teria o procurado e cobrado R$ 10 milhões para que a CPI aberta fosse encerrada. O pagamento teria sido feito pela Queiroz Galvão.

Data: O esquema de cartel das empreiteiras em obras da Petrobras existe há pelo menos 15 anos, disse o MPF. E as indicações para as diretorias da Petrobras sempre foram políticas, disse Paulo Roberto Costa, que foi indicado pelo PP. “Quer seja no governo Collor, quer seja no governo Itamar Franco, quer seja no governo Fernando Henrique, quer seja nos governos do presidente Lula, foram sempre por indicação política”, disse.

Empreiteiras e contratos:

– Camargo Corrêa: foram encontradas irregularidades em obras como a reforma e a ampliação da Refinaria Getulio Vargas, em Araucária, no Paraná, e na construção da Refinaria Abreu e Lima, em Ipojuca, Pernambuco. Quatro executivos tiveram pedidos de prisão preventiva na sétima fase da Operação. Além da Camargo Corrêa, a refinaria pernambucana tem suas obras, a um custo estimado em R$ 35 bilhões, comandadas pelas empresas Queiroz Galvão, Iesa, Odebrecht e OAS, que integram os consórcios.

– OAS: O MPF encontrou estreita relação entre a construtora e empresas do doleiro Alberto Youssef, além de indícios de que a OAS também participava do cartel. Cinco executivos tiveram mandados de prisão e dois engenheiros obrigados a depor. A licitação para a conversão da refinaria Presidente Getúlio Vargas, no Paraná, está a cargo da OAS, Odebrecht e UTC, orçada em R$ 8,7 bilhões.

– UTC: O MPF também coletou provas de que empresas do grupo, incluindo a Constran, participavam do cartel, com repasses a partidos políticos, por intermédio de Youssef. Três executivos tiveram mandato de prisão.

– Odebrecht: A denúncia  é que seus executivos participavam das reuniões que formavam a lista de empresas que venceriam os processos licitatórios, entregue a Paulo Roberto Costa. A companhia tem contrato orçado em R$ 26 bilhões, na construção da estrutura do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro.

– Mendes Júnior: Também é alvo de indícios na formação de cartel em contratações da Petrobras, além de desvio de dinheiro de licitações de obras, como a da Refinaria Presidente Vargas. O pedido de prisão preventiva foi para o vice-presidente do grupo, Sergio Cunha Mendes, e três executivos tiveram condução coercitiva.

– Engevix: Documentos mostram o repasse de verba da empreiteira para empresas fantasmas de Youssef, além de ser apontada na delação do doleiro e de Costa a participação no esquema de corrupção. Três executivos foram presos e dois intimados a depor. Do mesmo grupo, só no Rio Grande do Sul, a empresa Ecovix Engenharia fechou contratos nos Estaleiros Rio Grande (ERG) 1 e 2, que chegaram a R$ 15,1 bilhões.

– Queiroz Galvão: A mesma denúncia foi dirigida à Queiroz Galvão, como participante do esquema e repasse de dinheiro ao doleiro e a Paulo Roberto Costa, por meio de empresas fantasmas. Dois executivos tiveram prisão temporária decretada. Também no Rio Grande do Sul, o consórcio com a Iesa é responsável por duas plataformas em construção no Honório Bicalho, em Rio Grande, em contratos no valor de R$ 3 bilhões. Em 2013, o grupo também entregou três plataformas à Petrobras no valor de R$ 12,8 bilhões. No Maranhão, a empreiteira ganhou a licitação da Refinaria Premium I, a R$ 41 bilhões.

– Iesa Óleo & Gás: A Polícia Federal apreendeu documento e tabelas com Alberto Youssef, nas quais constava o nome da empresa repetidas vezes. A Iesa é investigada no cartel por meio do Consórcio CII, que também incluía a Queiroz Galvão. Dois diretores tiveram prisão decretada.

– Galvão Engenharia: A construtora integrava o cartel de licitações, segundo a Polícia Federal, que também identificou vários repasses da Galvão para empresas de fachada que desviava o dinheiro. O diretor presidente de Engenharia Industrial, Erton Medeiros Fonseca, teve pedido de prisão preventiva. 

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

21 Comentários

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  1. … a próxima etapa é fazer

    … a próxima etapa é fazer bastante espuma… espuma que não acaba mais… vc olha para o carro e só vê espuma; carrão escultura de espuma densa…

  2. Muito estranho…

    Os vazamentos nunca indicam os nomes dos que pertencem aos partidos “alguns mais”.  Somente dos que já morreram. E no início dos vazamentos existiam outros nomes…

  3.  “Movimentou até R$ 10

     “Movimentou até R$ 10 bilhões, sem informações confirmadas de quanto foi desviado..”

    Na verdade, devido dificuldades de rastreamento, periodo longo de tempo das falcatruas, destruição ou camuflagem de provas e vestigios antes, durante e até mesmo após as investigações, a real soma desviada é muito superior à documentada.  

    1. Me parece que a matematica

      Me parece que a matematica dos delegados de merda ta certa, Toni -ate delegados de merda que nao conseguem apontar um unico feito de Aecio Neves sabem fazer contas.

      O que nao ta certo eh os vazamentos dirigidos, selecionadissimos por delegados de merda da NIgeria.

      Porque eh que eles nao conseguem admitir que os tucanos queridinhos do coracao deles estao muito mais envolvidos em vazamento de dinheiro pro estrangeiro do que eles estao dispostos a confessar?

          1. Acho que no ranking Angola é

            Acho que no ranking Angola é mais. De todo modo, nível de corrupção pode ser difícil de comparar. Nem todas as práticas escabrosas são descobertas.

  4. Assunto do conhecimento geral

    Este esquema da Petrobras, como outros na construção de rodovias, barragens, hidroéletricas, portos, e outras mais, são de conhecimento geral dos executivos que trabalham com este tipo de negócios e com estas empresas, mesmo não participando do seleto grupo dos “bocas largas”, desde longo tempo. Os esquemas vêm desde o tempo do governo militar, onde foram criados abertamente. Tanto naquela época, como hoje, tambem foram  associado a grupos internacionais in teressados, desde aos “pacotes financeiros do Delfim” para projetos escolhidos, até aos cartéis para os projetos, serviços e equipamentos, seguindo as com destinação de verbas aos governos estaduais onde este projetos seriam construidos, até prefeituras e mordedores menores. Nos últimos anos entrou a turma do meio ambiente.   

    Tempos que convir, somente hoje no governo do PT da Dilma, tiveram coragem de mexer no angú. Sempre houve engavetamentos de CPIs, advogado geral da República conhecido com o “engavetador mor da república”, MPF bloqueando, governos estaduais e federal interferindo e na época dos milicos ninguem ousava abrir a bôca!

    Para mim a PF, que está acéfala, está numa pizzaria pensando que o fôrno é de padaria, e ruminando no que vai dar tudo isto. O que “vai sobrar” agora ou mais tarde para os caras que sonharam em pegar a Dilma e pegaram os donos do dinheiro, niguem sabe.

    Aguardamos!

    1. Petrobras, Ultragás & Boilesen

      Há o exemplo do depoimento do filho do cidadão dinamarquês, Henning Albert Boilesen, dado expontaneamente no filme “Cidadão Boilesen”, no quel ele afirma textualmente, como se fora a coisa mais normal do mundo, que a empresa de seu pai, a Ultragás, tinha um contrato fixo de fornecimento de petróleo importado para a Petrobras, pelo qual esta lhes pagava, a vista, aquele petróleo que eles compravam a prazo.

      Como se sabe, isso ocorreu durante a época da ditadura na qual não havia denúncias de corrupção.

      Ou seja, naquela época, uma mão lavava a outra. Por isso todos tinham as mãos limpas.

    2. Esquemas dede o Governo

      Esquemas dede o Governo Militar? A construção de Brasilia foi de uma pureza impar, as empreiteiras não ganharam nada com Brasilia não é mesmo?

      A Refinaria de Cubatão (Presidente Bernardes) tem capacidade quase igual a de Abreu e Lima, 178 mil barris/dia contra 200 mil barris/dia, a construção foi dirigida pelo General Stenio de Albuquerque Lima, que entrou e sai dessa mega obra com o mesmo carro, casa e padrão de vida, conheço a familia, compare com o que se ganhou na refinaria de Pernambuco

      construida em um governo de esquerda. Se houve corrupção no regime militar, não chega a 1% do que veio depois da “”Constituição cidadã””.

  5. Lava jato

    Nassif: alguns blogs andaram criticando o Juiz Moro. Artigo na Carta Capital da semana passada apresenta currículo desse juiz, indicando tratar-se de profissional sério e que não gosta de holoflotes. Até que ponto não permitir que nos depoimentos sejam nomeadas pessoas com foro especial, o que levaria o processo para o STF, pode ter origem no caso Daniel Dantas, com a afirmação que o “problema” estava na primeira instância, leia-se incorruptibilidade do juiz Fausto De Santis? Se for isso, acho que podemos acreditar que, pelo menos alguns corruptores serão punidos e que os corrompidos também, independentemente do partido a que pertençam. Entretanto, algumas informações e comentários nos “blogs sujos” tem me deixado encabulada. Por exemplo, os vazamentos seletivos: qual deveria ser a conduta jurídica de Moro, uma vez que se trata de depoimentos sigilosos? Temo que a Lava-jato siga o mesmo destino de outras operações da PF, ou pior, que desague em processo seletivo para virar o jogo a favor dos derrotados nas eleições presidenciais, antes mesmo do início do segundo mandato da Presidenta Dilma Roussef e, como ocorreu na famigerada AP 470, puna seletivamente “petistas e associados”. E que os grandes corruptores continuem livres, leves e soltos a espoliar nosso país, como vem fazendo há décadas.  

  6. Favor corrigir, a Queiroz

    Favor corrigir, a Queiroz Galvão não foi a reponsável pela obra da refinaria do Maranhão e sim a Galvão Eng em consórcio com a Serveng.

  7. A Globo continua seu

    A Globo continua seu sistemático ataque somente contra o PT. Hoje foi a vez da cunhada do tesoureiro do PT ter sua imagem demolida na reportagem da Globo. Todo dia, um novo bombardeiro, sempre contra o PT, tal como acontecia no mensalão. A matéria que abriu o post do GGN mostra, sem paixão, o envolvimento de todos os partidos (à exceção talvez do PSTU e do PSOL), de várias empreiteiras, de lideranças políticas do governo e da oposição, e de uma extensão muito maior do que a Petrobras. A Cemig pode estar envolvida no esquema do doleiro bandido. Parece-me que a Copasa (cia de saneamento de Minas) e a Sabesp (SP), também. Mas, para a Globo – e Veja, e Folha e afins – somente o PT é citado e associado diariamente ao escândalo da Petrobras. É duro viver num país cuja mídia, que tem a cara de pau de falar mal de Cuba e da Venezuela, exerce a maior ditadura monoplizada e golpista dos meios de comunicação. Quando é que vamos conseguir uma real democracia no Brasil, que passa necessariamente pelo fim desta tirania da mídia golpista?

  8. Mídia: a vilã travestida de mocinha
    Essa é a nossa admirável imprensa: é um participante ativo no processo de cobertura dos poderes, um papel importantíssimo, tanto é que é considerada o quarto poder. Não fosse assim, não teríamos a massiva manipulação da opinião pública como vemos hoje. Só que é bom ressalvar que esse papel não é incorporado responsavelmente. É, em primeira análise, um exercício enviesado e podre de jornalismo. A imprensa se coloca como intocável, uma vez que qualquer denúncia contra seus abusos é prontamente caracterizada como “ameaça à liberdade de imprensa”. Qualquer tentativa de regular minimamente o comportamento dela, com vistas a causar nos jornais mínimas doses reflexão e conscientização antes de estampar nas capas  Isso porque o indivíduo mediano se deixa levar pelo que ele vê ou lê imediatamente. É difícil quantificar, mas quer parecer que o medíocre espectador, quando bombardeado por eventos que a imprensa insiste em repisar, ruminar e exagerar, emite seus juízos de valor calcados nesses eventos. É esse efeito nocivo e duradouro causado pela imprensa, tão moralmente corrupta quanto aqueles que pretensamente acusa. Com tudo isso, nossa imprensa parcial, tendenciosa e partidária, publica o que bem entende, como quer, com a forma que lhe apraz. Quando o alvo é considerado inimigo, se inocente, converte-se o em suspeito e, se suspeito, em condenado. Quando há evidências de paridade, ou seja, outro envolvido qualificado pertencente ao partido considerado aliado, as críticas são poupadas e diminuídas. E isso quando não desmentidas cinicamente. É usado todo tipo de eufemismo para desviar o foco. Os nomes dos envolvidos não são divulgados, especialmente quando se trata de gente graúda. Sim, estou falando do PSDB. Por má-fé a imprensa não aguarda resultados de julgamentos (quando não tenta desqualificar os julgadores). Ela própria emite seus valores e pareceres. As diferenças na escolha e tratamento dados aos envolvidos da Lava Jato é um exemplo perfeito do que descrevi: a operação envolve o financiamento de inúmeros partidos. Os envolvidos são gente do PT, do PSDB, do PSD, do PSB, etc, etc. Mas a imprensa – leia-se Globo, Veja, Estadão, Folha, entre outros – vendem a todo custo a ideia de que o envolvimento nas denúncias é exclusivo de gente do PT. E ponto. Não há espaço para inserções de outro tipo. Não há o outro lado, as outras versões. Não há a cobertura limpa e abrangente, que seria de alguma valia se as intenções não fossem unicamente difamatórias e golpistas. É esse tipo de jornalismo-mentira que deve, a toque de caixa, ser extinto. É esse denuncismo seletivo disfarçado de jornalismo investigativo que merece ser revisto e condenado. Quem sabe, um dia, tenhamos uma real motivação em limpar a classe política e uma verdadeira moralização do poder público. Aí, sim, a imprensa estará desempenhando o papel que lhe cabe e que lhe é digno: de informar, somente. De evidenciar as sujidades. Mas, sonhos são sonhos. Hoje, as únicas sujidades que ela se presta a denunciar são aquelas que lhe convêem. E omitem as demais que lhe causam incômodo. Constatação triste e desesperançosa.

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