Como a Lava Jato entregará a repatriação de empresas brasileiras ao mundo

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Entenda o jogo de interesses que mobiliza um aparente bem-intencionado acordo de cooperação internacional: todos os países e investigadores ganham, menos as empresas brasileiras
 

Lava Jato durante a apresentação da “Car Wash”, com procuradores suíços e dos EUA – Foto: Geraldo Bubniak / AGB
 
Jornal GGN – A Lava Jato de Rodrigo Janot está de olho no ex-procurador suíço Stefan Lenz, que se auto caracteriza como o “cérebro” das investigações no país sobre o esquema de corrupção envolvendo a Petrobras e Odebrecht. Por não se sentir reconhecido, financeiramente e por seus superiores, ele pediu demissão. Jornais alemães e suíços acessados pelo GGN dão conta, ainda, que Lenz poderia avançar nas investigações que fazem “estremecer políticos brasileiros e, inclusive, levar à prisão o ex-presidente Lula da Silva”.
 
A frase foi reproduzida de uma reportagem no periódico alemão “Aargauer Zeitung”, em outubro do último ano, quando Lenz abandonava a sua equipe de investigadores por aparentes conflitos internos. Lá, o investigador teria criado inimizade com o procurador-geral, Michael Lauber. E enquanto uma troca no grupo de delegados da força-tarefa no Brasil foi vista como um desmanche das investigações, o país europeu mostrou-se determinado a fortalecer as investigações que tem como mira as empresas brasileiras.
 

Reprodução reportagem jornal “Aargauer Zeitung”
 
Daqui, a força-tarefa de Curitiba e o procurador-geral, Rodrigo Janot, não demonstram preocupação com possíveis interferências de investigadores estrangeiros nas irregularidades ou ilícitos dentro das companhias nacionais, ao contrário, agradecem publicamente a mobilização de mais de uma dezena de pessoal, como advogados, procuradores especialistas em corrupção e técnicos forenses no país, exclusivamente para mirar a Petrobras.
 
Basicamente, tudo o que hoje já foi também descoberto pelos investigadores brasileiros é de conhecimento dos suíços. E a grande mobilização e esforço insistido pelos suíços tem motivo: o Ministério Público do país (OAG) condenou a Odebrecht, em dezembro do último ano, ao pagamento de mais de 200 milhões de francos suíços, e permitiu a entrada dos investigadores norte-americanos nas apurações, fechando uma parceria entre Suíça e Estados Unidos que proporcionou a ambos países a maior multa já acertada na história da corrupção mundial: US$ 800 milhões.
 
A cooperação internacional no caso Odebrecht também rendeu aos investigadores brasileiros. Foi graças a ela que, após um acordo de leniência com as autoridades dos três países, a nacional Odebrecht foi obrigada a pagar US$ 2,39 bilhões ao Brasil, com a condição de deixar US$ 93 milhões aos Estados Unidos e US$ 116 milhões aos suíços.
 
Reprodução comunicado das autoridades suíças
 
Neste cenário de repatriação aos cofres brasileiros, com a exigência de que as investigações no país europeu e norte-americano sigam, é que os suíços mandaram um recado recente ao Brasil de que, se a Polícia Federal da força-tarefa está sendo dissolvida, lá os trabalhos continuarão e com ainda mais investigadores, ainda que o suposto “cérebro” tenha deixado a equipe.
 
Em manifestação enviada ao Estadão, o procurador-geral suíço, Michael Lauber, informou há poucos dias que estavam “confiantes de que, baseado em um entendimento mútuo sobre a importância de combater crimes econômicos internacionais e lavagem de dinheiro, a atual cooperação entre as autoridades do Brasil e Suíça continuará a gerar resultados concretos”. O escritório de investigação do país anunciou ter ainda aumentado a equipe de investigadores da força-tarefa contra a Petrobras e seus desdobramentos relacionados ao Brasil.
 
A mais recente notícia que se soma ao cenário é a de que o procurador-geral da República brasileira, Rodrigo Janot, não apenas permitiu a entrada de investigadores de outros países nos ilícitos de empresas brasileiras, como também quer contratar o procurador suíço que diz ter mais revelações do esquema e que se sentia desvalorizado no país.
 
Se Lenz possibilitou o repasse de informações dos bancos suíços de diversos investigados, incluindo políticos como o ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB), e o ex-ministro Henrique Eduardo Alves, assim como de ex-diretores da Petrobras, como Nestor Cerveró, por outro demonstra alimentar um interesse dos investigadores nacionais: a validação de teses que poderiam ser consideradas frágeis, sobretudo para a prisão de políticos como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. 
 
Em sua página pessoal, Stephan Lenz se diz especialista em “crimes do colarinho branco” e com “bom trânsito” e “boas relações” junto a “procuradores-chefes de todo o mundo, especialmente na Europa, nos Estados Unidos, América do Sul e América Central”. “Mais ainda as valiosas relações com importantes representantes de agências de investigação do Banco Mundial e do Banco Europeu de Desenvolvimento”.
 

Reprodução página pessoal de Stefan Lenz
 
Como já é público, a Odebrecht, a Petrobras e diversas empresas brasileiras alvos da Operação Lava Jato mantem negócios por diversos países em todo o mundo. O pedido de Janot foi enviado à Advocacia-Geral da União para contratar Lenz como um consultor e investigador independente para os interesses da PGR na Suíça.
 
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

13 Comentários

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  1. Eu sei que foge ao assunto,

    Eu sei que foge ao assunto, ou talvez até não, posto que a questão da farsajato está imbricada com a manipulação da imprensa.

    Lí agora no site alemão DW reportagem sobre o que fez o maior jornal do país BILD e as providencias que pode ser tomada contra o mesmo em função de uma foto apenas, de manifestantes contra o G20. 

    Seria interessante alguem de lá que acomapanha o blogue acompanhar o desfecho.

     

    Quanta diferença com a nossa imprensa. Lá o Conselho de autoregulamentação de Imprensa vai investigar o jornal por ter publicado fotos de ativista. Na Alemanha o mal da lava jatao seria cortado pela raiz. http://www.dw.com/pt-br/bild-publica-procura-se-de-ativistas-anti-g20/a-39633375  ”No texto correspondente, o Bild pede aos leitores que ajudem a identificar os manifestantes, acusados pelo jornal de terem cometido crimes graves.”Consideramos que o caso deve ser debatido. A questão central é o que tem primazia, se o interesse público ou os direitos de personalidade”, afirmou um porta-voz do conselho.

    O sindicato DJV criticou o jornal, afirmando que a publicação é no mínimo questionável do ponto de vista da ética da imprensa. “Jornalistas e jornais têm a tarefa de noticiar, não de se transformarem em juízes”, comentou um porta-voz.” 

     

    Aqui jornais e jornalistas são polícias, promotores, juízes e excutores/carcereiros.

  2. Cooperação internacional

    Já estão aqui os enviados dos “states” supervisionando nossas (?) empresas e por elas remunerados a peso de ouro.. Agora virão os suiços. Por enquanto, só o procurador desenturmado da equipe da Suiça. Depois, talvez, novas contratações sejam efetuadas. Afinal, é o maior essquema de corrupção da história da terra.

  3. Trabalham todos p/ o mesmo Senhor.É o fim da linha p/ o Br

    Nossa! Todos eles unidos para assassinar o Br[tomar tudo!] e prender o Lula. Na verdade, o verdaderio cérebro desta empreitada [ uma elite global sinistra, também conhecida como Banca Maldita] está usando todos os seus testa-de-ferrro para levar a coisa do jeito que ela foi concebida para ser, por bem ou por mal,  porque a ordem é para ser cumprida ! O $ e a chantagem, a chantageme o $…  Não vão desistir. Um país não tem como sobreviver, não tem como respirar nem existir nas mãos imundas de uma gentalha dessas… Não adianta, ninguem dá o que não tem.   E a coisa é escancarada: “relações com importantes representantes de agências de investigação do Banco Mundial e do Banco Europeu de Desenvolvimento”. Precisa desenhar? Não, é só ler!

     

    1.  E o desenturmado procurador

       E o desenturmado procurador suiço, sabendo que os “heróis” nativos estão desesperados para trancafiar o Lula, faz saber, via jornal alemão,  que tem como dar um jeitinho pra suprir a investigação tupiniquim no quesito probatório e, de quebra, detonar mais alguns políticos. E com isso, sua remuneração,  a ser paga pelo falido estado brasileiro, vai pra estratosfera. 

      Entāo, estamos assistindo a transformação do esquema de cooperação internacional. Está entrando no ramo da picaretagem, aproveitando as facilidades de negócios no Brasil  pós golpe.

       

  4. Tem pra todo mundo

    É só vir pegar.

    Quem diria, a suruba tupiniquim sendo internacionalizada.

    Vai ter gringo de todos os tipos por aqui, tudo liberado, a vergonha fica no aeroporto, é só pegar na volta quando retornarem pros devidos lares.

    E o nosso Lula vai ter o reconhecimento que merece: um herói mundial num julgamento planetário.

     

     

  5. Colonia

       Nossos bravos membros concursados dos MPs, em tese funcionários do Estado, nestes acordos atuaram como satrapas de outros, entregando de bandeja nossas empresas de maior penetração internacional, a nossos concorrentes, alem de de “grátis”, ainda colaboraram para que elas paguem substanciosas multas a outros governos, praticamente as inviabilizando economicamente, como tambem em relação a possiveis novos negócios ( niguem negocia com dedo – duro ).

        É facil constatar, pois de dois anos para cá, desde o inicio mais explosivo da lava-jato, nossas empresas, mesmo as nunca envolvidas nesta deletéria operação, quando em contato externo, tornaram-se “tóxicas”, o Brasil tornou-se sinonimo de corrupção, tanto que a compliance de algum futuro comprador/parceiro/sócio, de cara nos renega.

         O que se constata – em minha opinião – é que na “divisão dos negócios internacionais”, nossa participação caminha para exclusivamente o comércio de produtos básicos, aqueles cujo preço é determinado pelo comprador , pois a pequena parte relativa aos lucrativos “serviços”, que custamos anos para conquistar, foi perdida, já era, acabou.

          A herança dos arautos inquisidores da Republica de Curitiba, para nossa engenharia, a nossa tecnologia, a nossos serviços, será terrivel, anos ( desde os anos ’80 ) foram ao lixo, irrecuperavel.

         BRICS : O ” B ” deste acronimo, desta sigla tanto propalada por anos, a seus parceiros hoje é inconfiavel, inseguro, pouco importa se com Temer ou outro, pois na visão estratégica dos “do grupo” ( principalmente o ” C ” ), nosso governo não tem a concepção de Estado, e tipo assim : A India como a Africa do Sul ( sócio menor ), tambem institucionalmente são uma bagunça, mas mesmo nestes paises, funcionarios de ESTADO entendem o que significa o jogo internacional,  defendem tanto o Estado que os paga, como as empresas que são participes do sistema economico estrategico deste Estado.

            Nem em filme de Hollywood, série da netflix, sequer em um delirio religioso do Pastor Deltan, pode-se imaginar um “procurador” indiano, sul-africano, acusando e dando de presente a suiços ( terceirizados por outros ) ou a americanos,ou a qualquer outro Estado, empresas nacionais a justiça destes, seria impossivel – casos existem, como o da DCNS X IKL -, quanto a russos ou chineses fazerem tal entrega : Nem comento, seria ridiculo comentar tal possibilidade.

             Portanto : Colonia.

  6. Eu não consigo imaginar, nem

    Eu não consigo imaginar, nem em sonho,  essas cifras de milhões e bilhões em  multas e indenização, cobradas de nossas empresas.  “A Odebrecht foi obrigada a pagar US$ 2,39 bilhões ao Brasil, com a condição de deixar US$ 93 milhões aos Estados Unidos e US$ 116 milhões aos suíços”. Isso existe?? Alguma empresa  suporta pagar isso e continuar existindo?? Como é que se chegam a essas cifras?? Quem estabelece esses valores???

    1. eu….

      Cara Maria Silva, esta é a cereja do bolo. O “X” da questão. Não pense que não era o resultado procurado e  esperado pelo nosso AntiCapitalismo Tupiniquim exercido pela nossa Esquerdopatia. Já fizemos isto na nossa história diversas vezes. Novamente agora. No inicio, nosso Poder, nossa Elite e Imprensa acusavam às Empresas e Empresários de corromperem o Poder Público. E não o contrário. Os Políticos foram tratados como vitimas. É Surreal e Inacreditável. Algo só possível na Ilha da Fantasia. Com o aumento da recessão na Economia e desempregos, começaram a constatar a inversão da verdade e a imbecilidade de nossa estrutura política que alimenta e sustenta bandidos. A destruição da Economia e, Soberania e Empresas Nacionais é pratica corriqueira da nossa Elite Esquedopata. Inclusive parte que agora rotulam como Direita. O resultado esta ai para quem quiser enxergar. É o Brasil de 2017. A culpa é de quem?   

  7. Janot e comparsas já deveriam estar presos

    Prezados leitores,

    Foui Luís Nassif quem colocou o guizo no gatuno Janot, ou seja, o primeiro jornalista a cravar: O PGR e a PGR são o alto comando local do golpe, a serviço do internacional – que fica nos EUA.

    Não fossem os militares e as FFAA brasileiras tão canlahas e golpistas quanto os vastos setores da PF, do MPF e do PJ que participam da trama golpista, pessoas como Rodrigo Janot e os lavajateiros curitibanos já estariam presos, pelos vários crimes continuados que vêm cometendo, dentre eles o de lesa-Pátria e lesa-soberania.

  8. Assustador é a falta de discernimento desse equipe de Curitiba

    Eles não tem o minimo de cultura e nem devem perceber que estão sendo usados para destruir a soberania nacional, embora seja obvio que como eleitores sejam tucanos, e os tucanos são lesa pátrias que vendem esse discurso neoliberal barato de “mises ” e a famosa meritocracia ( corrupção barata) onde a classe me(r)dia consegue todos os prêmio porque é unica com estrutura financeira e familiar capaz de encarar a competição que eles propõe ao “ensinar a pescar”, afinal para os pobres mesmo que aprendam a pescar sempre vai faltar anzol e isca não é?

  9. Tem domínio de fato na Suíça?

    Tem domínio de fato na Suíça? k k k k k k k k k k

    Alguém já foi condenado por convicção de um juiz? k k k k k k k k k k k

    Janot em fim de carreira tentar contratar o colega suíço não é o fim, mas é a tentativa de emparedar a Sra Dodge?

    A Lava Jato e seus membros já podem ser considerados os conquistadores do século XXI: vão fazer um estrago na nossa economia que levará muito tempo para repararmos.

     

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