Criptografia barra investigações da Lava Jato sobre lista da Odebrecht

Chaves para acessar plataforma usada pela empreiteira para organizar pagamentos de propinas estão perdidas, adimitem investigadores  
 
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(Foto Agência Brasil)
 
Jornal GGN – A tecnologia está atrapalhando as investigações da lista de políticos favorecidos pela Odebrecht. Há um ano a empresa assinou junto ao Ministério Público Federal (MPF) um acordo de leniência no que ficou conhecida como a “Delação do fim do mundo”. Na ocasião foram entregues à MPF e à Polícia Federal cinco discos rígidos com cópia de dados do Mywebday, um dos dois softwares usados por funcionários do setor de Operações Estruturadas da Odebrecht que organizava o pagamento de propinas a políticos. 
 
Junto com esse material foram entregues dois pendrives que funcionariam como chaves de acesso ao sistema. Mas, segundo admitiu Carlos Fernando dos Santos, um dos coordenadores da Lava Jato ao jornal O Globo, “o sistema está criptografado com duas chaves perdidas, não houve meio de recuperar. Nem sei se haverá. Não houve qualquer avanço nisso”.
 
Além do Mywebday a empreiteira usava um sistema paralelo chamado Drousys, que o MPF e a PF conseguem ter acesso, mas algumas informações foram perdidas. Logo, as investigações seriam mais eficientes com o cruzamento de dados das duas plataformas. 
 
Vale destacar que após um ano do acordo de leniência, dos mais de 400 nomes de 26 partidos indicados na famosa lista da Odebrecht, a Procuradoria Geral da República (PGR) apresentou, até hoje, apenas a denúncia contra um nome: o do senador Romero Jucá (MDB-RR), por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, que está desde agosto aguardando decisão no Supremo Tribunal Federal (STF). A corte precisa avaliar se existem indícios mínimos de pagamentos indevidos para o senador e, a partir daí, dar início a uma ação penal tornando-o réu. Acompanhe a matéria a seguir. 
 
 
O Globo 
 
Chaves para abrir segredos da Odebrecht estão perdidas
 
Por Thiago Herdy
 
Investigadores podem jamais ter acesso a um dos sistemas de propinas da empreiteira
 
SÃO PAULO – Passado mais de um ano desde a assinatura do acordo de leniência da Odebrecht, o Ministério Público Federal (MPF) corre o risco de jamais acessar o Mywebday, um dos dois sistemas usados por funcionários do setor de Operações Estruturadas da Odebrecht — mais conhecido como setor de propina da empreiteira — para organizar pagamentos ilegais a políticos.
 
Cinco discos rígidos com cópia de dados do software foram entregues há quase seis meses aos investigadores, em atendimento ao acordo assinado com a empresa. Juntos, foram entregues dois pendrives que, em tese, permitiriam o acesos aos dados. Mas, até hoje, nem MPF nem Polícia Federal conseguiram navegar no sistema.
 
— O sistema está criptografado com duas chaves perdidas, não houve meio de recuperar. Nem sei se haverá. Não houve qualquer avanço nisso — admite um dos coordenadores da Lava-Jato em Curitiba, Carlos Fernando dos Santos.
 
O Mywebday era o sistema de comunicação usado por funcionários do setor de propina para controlar e organizar os pagamentos a agentes públicos. O programa detalhava, em códigos, desde o nome do executivo responsável pelo pedido de pagamento ilegal e o propósito do pagamento, até a cidade onde ele ocorreu, o destinatário de valores e o doleiro usado para viabilizar o repasse.
 
Nas investigações em curso, o MPF tem usado informações de outro sistema paralelo, também entregue pela Odebrecht: o Drousys. Este sistema era usado para comunicação entre funcionários do departamento e o mundo externo, isto é, operadores financeiros — como doleiros e controladores de contas mantidas no exterior.
 
O Drousys traz dados semelhantes aos disponibilizados pelo Mywebday, mas com algumas lacunas de informação. Quando fechou o acordo com a Odebrecht, o MPF esperava ter acesso aos dois sistemas — para conseguir cruzar dados de fontes distintas e corroborar informações de depoimentos dos 77 colaboradores.
 
Segundo Carlos Fernando, como não foi possível verificar os dados com os pendrives entregues pela empreiteira, as circunstâncias em que outros pendrives de acesso ao mesmo sistema foram destruídos ou apagados estão “sob investigação”. Ele admite que esta é uma situação delicada, em função do direito constitucional de qualquer investigado de “não se autoincriminar”.
 
O procurador admite que o caso pode ter repercussão nos benefícios concedidos à empresa. Mesmo posicionamento da cúpula da PF em Curitiba, que aguarda o desdobramento do episódio. O escritório de advocacia que monitora internamente o programa de compliance da Odebrecht apura, também, o caso. A empresa diz que sua colaboração com as autoridades é “ampla, detalhada e contínua”e que “todos os fatos estão sendo esclarecidos à Justiça”.
 
O GLOBO apurou que em reuniões preliminares à assinatura do acordo, representantes da Odebrecht informaram que outros pendrives de acesso ao Mywebday teriam sido destruídos. O responsável por explicar como isso aconteceu foi Maurício Ferro, então diretor jurídico da empresa, nos meses que antecederam a prisão do então presidente da empreiteira, Marcelo Odebrecht. O mesmo Marcelo disse, em depoimento à Polícia Federal, que Ferro é o único que poderia dar mais informações sobre os tokens. O diretor não figura na lista dos que fizeram acordo com a força-tarefa.
 
Os pendrives entregues pela empreiteira, em agosto do ano passado, pertenciam a dois funcionários do setor de propina e colaboradores da Lava-Jato: Luiz Eduardo da Rocha Soares e Ângela Palmeira Ferreira. Para funcionar, eles tinham que ser colocados no computador junto com uma senha.
 
Os dispositivos foram submetidos a perícia nos últimos meses, bem como outros que foram encontrados durante ações de busca e apreensão em endereços da empresa. Há suspeita de que dados dos dispositivos tenham sido subscritos — isto é, apagados e reescritos. Nem Odebrecht, nem MPF testaram os tokens no momento de entrega dos dados à Lava-Jato.
 
Apesar de ter entregue em agosto cópia do Mywebday extraída de servidor na Suíça, a empresa afirma que o sistema encontra-se atualmente “apreendido, custodiado e gerenciado pelas autoridades” daquele país.
 
“A determinação da Odebrecht é não deixar dúvidas sobre os atos que praticou e sobre a responsabilidade de todos os envolvidos. É por isso que a colaboração da empresa está resultando em desdobramento de investigações e ações judiciais no Brasil e em diversos países”, escreveu a empresa em nota oficial.
 
A Odebrecht afirma ainda que seu compromisso “é com a verdade e com o aprimoramento de práticas empresariais que combatam qualquer forma de corrupção e coloquem a empresa em nova trajetória de crescimento, com ética, integridade e transparência”.
 
 
Redação

23 Comentários

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  1. É assim,
     

    Se é para ferrar o Lula, pega a chave e abre logo.

    Se é contra os protegidos, esquece tudo e joga a chave fora, que o que tem lá “não vem ao caso”

     

    1. É porque é notícia velha…

      Isso só é novidade para quem não acompanha o Duplo Expresso:

      Provas em perigo: Globo, Lava Jato e Odebrecht soltam “vacina” depois de áudio-bomba revelado pelo Duplo Expresso

      29 de Janeiro de 2018Romulus Maya 10 Comments

      Por Romulus Maya, para o Duplo Expresso

      Há exatamente uma semana o Duplo Expresso publicava, com exclusividade, uma edição de 30min de parte das entrevistas gravadas com fonte de dentro da Odebrecht revelando a farsa que é a “investigação” – combinada – que a empresa “sofre” por parte da Lava Jato.

      De lá para cá, silêncio na rede. Não se enganem, contudo: todos o viram – e ouviram. Talvez em demasia, até: o número de acessos daquele artigo supera, com folga, a soma de todos os demais do mês de janeiro. O vídeo foi replicado por diversos outros canais no YouTube e no Facebook, de forma que o alcance total nos é desconhecido. Na sequência, publicamos ainda a transcrição do áudio, possibilitando uma difusão ainda maior do conteúdo.

      De lá para cá, todos testemunhamos um ponto de não retorno na dramática cena política brasileira: a confirmação, arbitrária, da condenação do Presidente Lula pelos três desembargadores do TRF-4. Pior: fizeram-no com votos combinados, a indicar colusão persecutória com finalidade política clara – a cassação dos seus direitos políticos com vistas às eleições de outubro próximo. Os desdobramentos dessa jogada, ousada, dos articuladores do golpe “juristocrático” – por enquanto ainda um blefe – restam uma incógnita. Para todos.

      O que é certo, contudo, é a vontade das bases sociais do lulismo de lutar com afinco pelo seu país. E isso se confunde, neste momento, com lutar pelo Presidente Lula. E, por consequência, lutar contra a Lava Jato. Por isso, urge dar sequência à pauta do áudio, conteúdo que mais desmoralizou o “método” Lava Jato desde as revelações de Tacla Durán. Aliás, os dois complementam-se e corroboram-se entre si.

      Surpreende que, uma semana depois, quem venha a “repercutir”as revelações do áudio-bomba – por meios tortos e indiretos – seja a trinca Globo/ Lava Jato/ Odebrecht. Todas elas agindo na vã tentativa de plantar uma “vacina” para as “lacunas” – mais que deliberadas – na “investigação” (tudo entre aspas mesmo).

      Continua aqui:

      https://www.duploexpresso.com/?p=87255

      https://www.duploexpresso.com/?p=86425

      https://www.duploexpresso.com/?p=86560

      1. Já ia escrever isto e

        Já ia escrever isto e perguntar porque a blogosfera não mencionou este fato denunciado nos 3 links citado do Duplo Expresso.

        “Há diversos pontos do relato da fonte que podem ser verificados de forma independente. Como, por exemplo, a destruição final das provas com a migração do sistema Oracle para o SAP, em nível global. O plano de migração nos foi confirmado, inclusive, pelos advogados de defesa de Lula, que estavam a par do movimento mas desconheciam a sua real motivação.”

  2. Deve ser aquela em que está

    Deve ser aquela em que está gente de outros poderes além dos protegidos de sempre,

     

    então deixa quieto e joga os pen drives fora, a vaja a jato já fez o que deveria, lvarrer a turma do PT e entregar o pre-sal….mas como são gulosos querem até a agua….

  3. Que conveniente. Agora não

    Que conveniente. Agora não será possível mostrar que o judiciário brasileiro inventou e mentiu sobre os seus alvos petistas e também não será possível mostrar a culpa dos verdadeiros criminosos que estavam listados no sistema.

    Conveniente.

  4. Será que em Harvard, Moro e cia ouviram falar de hacker?

    É, acho que a água ainda não chegou na bunda de muitos poderosos corruptos.

    Se o MPF e Moro forem cautelosos, podem começar com 1 milhão de reais, se não der em nada, mudam pra dolares.

    O perigo de hacker profissional contratado pelo FBI ter eventual acesso a dados terroristas deve ser menor que o perigo do hacker ter algum contato com milhões ou bilhões de reais da Odebrecht.

     

    http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2016/04/fbi-pagou-mais-de-us-1-milhao-para-acessar-iphone-de-atirador.html

    1. Pensei melhor

      Tanto por tá criptografado (e ter a burocracia BR de tentar hackear) quanto ao descriptografar, houver a chance de ser manipulado… Espero que os Suiços vão no original e acessem.

  5. Caro Nassif
    Quer mais

    Caro Nassif

    Quer mais critpografia sofisticada para pegar os da casa grande, do que as que foram inventadas pelo judiciáio?!

    O povo decifra essa criptografia.

    Simples.

    Saudações

  6. o compromisso de comprovar …
    Sei que em outros países, alguém que se diz culpado de um crimes tem que provar a sua culpa, pelo que entendi do texto, no Brasil também existe essa necessidade, os delatores conseguiram provar suas culpas ? Um acusado por um delator poderia pedir a justiça que o delator prove sua culpa para depois validar a delação ?

  7. …..
    Perderam a chave, um tanto conveniente, como já se chegou ao alvo, pra ser preocupar com Chaves ? no mínimo tem muito tucano na história, será que tem juízes ? Promotores ? Pq a delação mais esperada não vão mostrar ? Uma queda do tamanho da Odebrecht, com certeza tem nomes de juízes e promotores, a estação do metrô de sp, como está essa história ?

  8. Lei: delator tem que entregar tudo

    Aí vamos nós, dando linha para mais papo furado. Isso é mera desculpa preventiva. Alguém contou que teve um sonho, mais ou menos assim: Foi combinado; que para salvar a arca de Noé dos 77 (!!!) delatores (capitaneada por Marcelino, paizinho e avôzinho), esconder todos os que não vinham ao caso, livrar uma outra empresa do grupo a B_, evitar que a LJ ficasse atolada em centenas de investigações indesejadas, viabilizar acordos muito lucrativos para a patotinha de Curitiba (primeiro amigo inclusive), etc.; a “empresa” entregaria somente o acertado, a LJ fingiria que apreendeu e recebeu tudo, originalzinho. Só que, a partir das revelações do Tacla Duran (que conseguiu não entrar no calabouço do dr.morão) começou a dar m_. Vendo que a bomba vai explodir em breve, começaram a soltar desculpas preventivas. Mas foi só um sonho.

  9. Criptografia barra investigações da Lava Jato sobre lista da Ode

    Como já foi dito.

    Temos que estancar essa sangria com stf e tudo…

    E o processo do citado segue parado naquele tribunal, antes conhecido como STF.

    Mercadoria entregue,é hora de tirar a lona do circo.

    Os palhaços fizeram a alegria dos paneleiros.

    O povo paga a conta. 

    Sem novidades no front.

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