Em inquérito, PGR diz que Aécio seguiu tratativas de “estancar” Lava Jato

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Negociações iniciadas antes do impeachment de Dilma Rousseff para “estancar a sangria” da Lava Jato seguiram até hoje com caciques do PMDB e PSDB, mostra inquérito
 

Foto: José Cruz/Agência Brasil
 
Jornal GGN – A conclusão da Procuradoria-Geral da República é que não há dúvidas de que Aécio Neves (PSDB-MG) atuou para barrar o avanço da Operação Lava Jato. Além das já divulgadas conversas grampeadas de Aécio com Joesley Batista, elaborando um plano para frear as investigações, com o conhecimento de Michel Temer e pressionando pela troca do ministro da Justiça e do diretor da Polícia Federal, o senador aparece articulando a obstrução com o senador Romerto Jucá (PMDB-RR).
 
Até agora já foram liberados os trechos em que Aécio conversa com Joesley Batista, dono da JBS, em encontro no Hotel Unique, em São Paulo, no dia 24 de março. Na ocasião, o tucano revelou ao empresário que pressionou o presidente Michel Temer, juntamente com outros empresários, para modificar a direção da PF, substituindo o diretor-geral Leandro Daiello.
 
Aécio também narrou ter comentado com Temer para que o governo fizesse uma ‘mea culpa’ durante a deflagração da Operação Carne Fraca, junto aos frigoríficos. A intenção do parlamentar era limitar as investigações, aproveitando a oportunidade dos apontados abusos dos delegados que impactaram as empresas nacionais naquele mês, e tirar o diretor-geral do órgão.
 
Logo que as informações de Joesley Batista foram tornadas públicas, a Procuradoria-Geral da República já indicava outras tratativas de Aécio, junto ao Ministério da Justiça, logo que o então ministro de Temer, Alexandre de Moraes, assumiu as sessões de julgamentos no Supremo Tribunal Federal (STF). Tanto Temer, quanto Aécio teriam trabalhado para que as investigações da Lava Jato fossem controladas.
 
Agora, mais um áudio dá conta de que Aécio atuou para obstruir a Justiça. O senador tucano articulou com um dos nomes forte do governo Temer no Congresso, Romero Jucá, para que alguma medida fosse tomada. “Eu acho que é agora ou nunca, né?”, disse Aécio ao parlamentar. “Passou do limite, porra. Já devia ter sido”, respondeu Jucá.
 
Leia o trecho da gravação transcrito pela Polícia:
 
Aécio – Eu tive com o Eunício ontem e falou um pouco da conversa que vocês tiveram aquele dia… (incompreensível) a última. Eu vou fazer o possível para chegar segunda aí mais no início da noite. 
Jucá – Tá. 
Aécio – Me dá uma ligada pra marcar alguma coisa. 
Jucá – Tá, tá. 
Aécio – Também eu acho que é agora ou nunca, né? 
Jucá – Não, não. Deixa eu te falar, passou do limite, porra. Já devia ter sido. 
Aécio – Claro.
Jucá – Agora vamos discutir tudo isso, né? Tá? É importante. 
Aécio – Você vê, mas você vê condições? 
Jucá – Vejo, vejo.
Aécio – Também vejo. Também acho que essa forma como está sendo feito isso aí, essa banalização banalização geral da política. 
Jucá – Vejo, vejo… é.
 
Fora de contexto, o áudio não revela indícios de que se tratava de uma interferência à Justiça. Entretanto, a conversa ocorreu dois dias depois da divulgação pela Operação Lava Jato no Supremo das delações premiadas da Odebrecht, que atingiram diversos políticos. 
 
Em inquérito contra Aécio Neves, a Procuradoria-Geral da República (PGR) mostra que o diálogo com o Jucá tem relação com a conversa do ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, em que caciques do PMDB articulavam “estancar a sangria” da Operação Lava Jato. Machado conversou com os parlamentares no último ano, gravou e, em seguida, após entrar para a mira dos investigadores, entregou as mídias como provas.
 
Um ano depois, os novos indícios contra Aécio Neves revelam a continuidade da articulação iniciada pelos parlamentares da ex-oposição desde o impeachment de Dilma Rousseff. A conversa de Machado mostrava que a saída de Dilma era um dos primeiros passos para se conseguir paralisar a Lava Jato. Agora, mostra a PGR, Aécio, Jucá e outros políticos seguiram na articulação para obstruir.
 
Ainda dentro do contexto deste diálogo, no dia 20 de abril, uma semana depois da conversa de Aécio com Jucá, o senador José Serra (PSBD-SP) liga para Aécio. Os dois conversam sobre a mudança do ministro da Justiça, retirando Osmar Serraglio, e nomeando outro com o objetivo de controlar a Polícia Federal.
 
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Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

5 Comentários

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  1. Janot cometeu o mesmo erro de Teori

    Há quanto tempo a PGR recebe denúncias contra aécio e nada faz?

    Age como Teori, que levou uma eternidade para destituir eduardo cunha, só o fazendo após a retirada de Dilma. 

    Quem contempla com bandido se expoe ao risco.

    Não tem do que reclamar.

  2. Tudo muito bem, tudo muito

    Tudo muito bem, tudo muito bom, mas, sabem as ostras, que nas mãos e gavetas do ministro MA dormitam processos antiquíssimos, que farão companhia a esse e tantos mais receber tendo por objeto o mesmíssimo aético. O aético pode festejar a vontade que a vez dele “estancou”.

  3. Suspeito

    Tudo que sai da boca do Mineirinho é suspeito e deve ser considerado prova. Ele não é um cidadão qualquer, ele é um gângster, um narcotraficante, um extorsionista profissional, um machista que agride mulheres físicamente, um facínora, um bandido, um homicida. Ele concentra no trapo humanóide que é toda a maldade que existe desde sempre. É perigosíssimo, a tal ponto que os maiores criminosos da humanidade podem ser considerados reles trombadinhas quando comparados ao Mineirinho:

    https://limpinhoecheiroso.com/2014/10/23/denuncia-tassia-camargo-apresenta-boletim-de-ocorrencia-de-ossada-encontrada-em-claudiomg/

    https://olhonotexto.wordpress.com/2017/05/20/tudo-o-que-voce-queria-saber-sobre-aecio-neves-o-mineirinho/

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