Estado definir sozinho o que é fake news é o primeiro passo rumo à censura na internet

Jornal GGN – Diogo Rais, advogado e professor de direito eleitoral, assina artigo divulgado na Folha desta segunda (25), sobre a tentativa de combater fake news na internet. Para proibir ou prevenir a prática, é preciso, segundo ele, primeiro defini-la. “Mas como definir fake news, sobretudo num momento em que tudo parece ser fake news?” E mais: há riscos em deixar o Estado sozinho fazer essa definição?
Rais analisa que o Estado entrou no debate sobre fake news preocupado com a mentira. O Tribunal Superior Eleitoral, por exemplo, faz debates e procura mecanismos para coibir a prática durante as próximas eleições presidenciais.
O professor chama atenção para o fato de que a mentira não é objeto central do direito.  “O direito não se preocupa, isoladamente, com a mentira, mas sim com o dano efetivo ou potencial” e “com a culpa ou com a vontade do agente em praticar aquele ato.” Para isso, caso a caso, já existem leis.
O que o Estado, por meio do Judiciário, parece querer fazer é não precisar analisar caso a caso, lançando um ordenamento para prevenir a criação de fake news. Ou seja, está se antecipando às publicações do gênero.
O problema é que, para atacar fake news na origem, é preciso analisar seu conteúdo e sua mensagem. E é um perigo que o Estado faça isso, na visão de Rais.
“Se fizer repressivamente pelo Judiciário, dependerá de uma análise caso a caso. Mas se fizer abstrata e preventivamente, a agressão à liberdade de expressão será ainda maior e não faremos nada diferente da censura.”
Para ele, “a vagueza e as múltiplas faces das fake news criam um paradoxo para seu enfrentamento em abstrato, impedindo a criação de uma lei efetiva sobre o tema.”
A lei se demonstra um caminho necessário porque, sem o que ela venha a especificar, corremos o risco de cada juiz decidir de um jeito. Porém, o Legislativo dizer o que é fake news provavelmente “impediria a liberdade, criando filtros impossíveis de serem” seguidos satisfatoriamente. Resultado: ou a lei não é usada ou a sociedade abraça o silêncio.
“Entre a ineficácia, o silêncio e a chave-mestra para trancar a palavra, prefiro que se busquem incentivos para a informação e, somente com ela, seria possível vencer a desinformação”, propõe.
A agenda positiva ideal é que Estado e sociedade, juntos, empoderem cada vez mais os usuário para que eles, sim chequem e escolham os conteúdos. “Isso só parece possível com mais informação, mais educação e mais liberdade.”
Leia mais aqui.
Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

View Comments

  • Acredito que a única solução

    Acredito que a única solução para tirar o poder dos que manipulam notícias falsas é o fim do monopólio da grande mídia, é  o fim do controle da grande mídia pelas corporações. Sem isso, toda discussão das fake news é inútil, ou melhor, é útil para os que querem o controle das informações nas mãos do poder econômico. Ou democracia popular ou plutocracia, ou informação livre ou fabricada.

Recent Posts

Choques políticos em série refletem bagunça institucional, por Antonio Machado

O chamado ativismo judicial provoca rusgas institucionais desde o tempo do mensalão, antecedendo os ataques…

15 horas ago

Lei de Alienação Parental: revogar ou não revogar, eis a questão

Denúncias de alienação descredibilizam acusações de violência contra menores e podem expor a criança aos…

16 horas ago

Papa Francisco recebe Dilma Rousseff no Vaticano

Os dois conversaram sobre o combate à desigualdade e à fome. Para Dilma, o papa…

19 horas ago

Exposição à poluição aumenta o risco de doenças cardíacas em moradores de São Paulo

Os pesquisadores constataram que pessoas que sofrem de hipertensão sofrem ainda mais riscos, especialmente as…

19 horas ago

Vídeo mostra a ação da polícia durante abordagem de Tiago Batan

Caso ganhou repercussão no interior de SP; jovem faleceu após ser baleado na região do…

20 horas ago

Roberto Campos Neto e o terrorismo monetário

É papel do Banco Central administrar as expectativas de mercado, mas o que o presidente…

21 horas ago